PROJETO MIRACEMA: ESTRUTURAÇÃO E FUNCIONAMENTO

Documentos relacionados
Psicopedagogia: Teoria e Prática. Elizabeth Araújo Barbosa Enfermeira, Pedagoga e Psicopedagogia

PEDAGOGIA HOSPITALAR: A PRÁTICA EDUCATIVA ALIADA À ASSISTÊNCIA A SAÚDE

2º CAMPANHA DE INCENTIVO À ESCOLARIZAÇÃO DE CRIANÇAS E JOVENS EM CONTÍNUO TRATAMENTO DE SAÚDE EM HOSPITAIS, AMBULATÓRIOS E DOMICÍLIOS.

TÍTULO: PEDAGOGIA HOSPITALAR: O EFEITO ESTÉTICO E COGNITIVO DO ATENDIMENTO PEDAGÓGICO NO AMBIENTE HOSPITALAR

EDUCAÇÃO INCLUSIVA. Julho de 2018

A CRIANÇA HOSPITALIZADA

A Criança Hospitalizada

PEDAGOGIA HOSPITALAR- UMA EXPERIÊNCIA NA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE JAGUARÃO/RS AUTORAS: CAROLINA SIOMIONKI GRAMAJO¹;

Semana de Ciência e Tecnologia IFMG - campus Bambuí VI Jornada Científica 21 a 26 de outubro de 2013

Palavras-chave: Deficiência Intelectual, aluno, inclusão. Introdução

PERCURSO LEGAL PARA A IMPLANTAÇÃO DA CLASSE HOSPITALAR NO BRASIL

CUIDADO DE ENFERMAGEM A CRIANÇA HOSPITALIZADA POR MEIO DA BRINQUEDOTECA E A CONTRIBUIÇÃO DO BRINQUEDO TERAPEUTICO

O ATENDIMENTO PEDAGÓGICO HOSPITALAR GARANTIDO COMO DIREITO DO ALUNO ENFERMO

PEDAGOGIA HOSPITALAR FAVORECENDO A CONTINUIDADE ESCOLAR DA CRIANÇA HOSPITALIZADA

BRINCAR NO HOSPITAL: A CONTRIBUIÇÃO DO LÚDICO NA RECUPERAÇÃO DE CRIANÇAS HOSPITALIZADAS 1

A ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA PARA CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL CONGÊNITA E ADQUIRIDA ATRAVÉS DE JOGOS PEDAGÓGICOS.

FAMÍLIA E ESCOLA: UMA PARCERIA DE SUCESSO

PEDAGOGIA HOSPITALAR E SUA CONTRIBUIÇÃO COM A QUALIDADE DE VIDA

ORIENTADOR(ES): LIGIANE RAIMUNDO GOMES, SIMONE PENTEADO SILVA DE JESUS

INTERNAÇÃO PEDIÁTRICA

LEI Nº DE 30 DE DEZEMBRO DE 2009 TÍTULO I PRINCIPAIS BASES DE ORDEM LEGAL TÍTULO II CONCEITUAÇÃO E ÓRGÃOS DO SISTEMA MUNICIPAL DE ENSINO

MODELO DE PARECER DE UMA CRIANÇA COM NECESSIDADES ESPECIAIS. Autora : Simone Helen Drumond (92) /

PEDAGOGIA HOSPITALAR: O LÚDICO COMO UM CONSTRUCTO DA PSICOMOTRICIDADE

PROGRAMA DE DISCIPLINA

aprendizagem significativa

Material Para Concurso

AS BASES LEGAIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL: UM PANORAMA NACIONAL

EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA: CONSTRUINDO CONHECIMENTOS COM PROFESSORES DA REDE PÚBLICA FUNDAMENTAL DE ENSINO

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL MANOEL GUEDES Escola Técnica Dr. Gualter Nunes Habilitação Profissional de Técnico em Enfermagem

Capacitação Multidisciplinar Continuada. EDUCAÇÃO INCLUSIVA e NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS (NEE)

AS TECNOLOGIAS LUDICAS COMO INSTRUMENTO DE CUIDADO PARA A ENFERMAGEM NA ONCOLOGIA PEDIÁTRICA

O PAPEL DO PEDAGOGO NO ESPAÇO NÃO ESCOLAR: CLASSE HOSPITALAR

POLÍTICA DE ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO DO UNIBAVE

PEDAGOGIA HOSPITALAR NO BRASIL: ATUAÇÃO DOCENTE NAS CLASSES HOSPITALARES

LDB-LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL

A EDUCAÇÃO ESPECIAL NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO NO PERÍODO DE 2007 A 2013

A FORMAÇÃO INICIAL DO PEDAGOGO PARA ATUAR NO AMBIENTE HOSPITALAR: LIMITES E PERSPECTIVAS

RELATÓRIO FINAL. Endereço: Avenida Délio Silva Brito, 630, Ed. Corumbá, 302, Coqueiral de Itaparica, Vila Velha-ES

AÇÔES REALIZADAS PELA SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO NO ATENDIMENTO AOS ALUNOS COM DEFICIÊNCIA

LEGISLAÇÃO PARA ALUNOS COM ALTAS HABILIDADES OU SUPERDOTAÇÃO. Sócia-Proprietária do Instituto Inclusão Brasil. Consultora em Educação

A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NA GESTÃO NÃO ESCOLAR LUDICIDADE NA PEDIATRIA

CLASSE HOSPITALAR: REFLEXÕES ACERCA DA ATUAÇÃO DO PEDAGOGO

A FORMAÇÃO DO PEDAGOGO EM CONTEXTO HOSPITALAR: reflexões e práticas na garantia do direito a educação da criança e do adolescente hospitalizado RESUMO

DIREITOS HUMANOS E INCLUSÃO: UMA BREVE REFLEXÃO

REUNIÃO COM OS EDUCADORES DO 2º SEGMENTO

82 TCC em Re-vista 2012

EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO ENSINO MÉDIO EM UMA ESCOLA PARTICULAR: VISÃO DA COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA.

ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO HOSPITALAR NO TRATAMENTO DE CRIANÇAS COM CÂNCER: uma revisão bibliográfica.

Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 ISBN

EMENTÁRIO DAS DISCIPLINAS DO CURSO DE PEDAGOGIA, CURRÍCULO INICIADO EM 2018:

O TRANSTORNO GLOBAL DO DESENVOLVIMENTO NA PERSPECTIVA DA INCLUSÃO ESCOLAR: ANALISE, REFLEXÃO E FORMAÇÃO EM FOCO.

Este Baralho contém: 49 cartas no total. 11 cartas referentes a Eventos, sendo uma delas coringa;

(CESGRANRIO)Segundo a LDB, o regime de progressão continuada nas escolas é: A) ( ) obrigatório em todas as redes de ensino. B) ( ) obrigatório na

EDUCAÇÃO INCLUSIVA E DIVERSIDADE JUSTIFICATIVA DA OFERTA DO CURSO

Me. JOANNE LAMB MALUF

Da inclusão: Incluir por incluir?

A atuação pedagógica de docentes e acadêmicos no Projeto Pedagogia Hospitalar da Universidades Estadual de Maringá

A INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA NO ENSINO DE CIÊNCIAS E A NECESSÁRIA FORMAÇÃO DE PROFESSORES. Emília Gomes Santos 1 Ana Cristina Santos Duarte 2

Seminário Educação Básica no Brasil: Desafios e possibilidades dos ensinos infantil e médio

Perspectivas em Diálogo: Revista de Educação e Sociedade

CLASSE/ESCOLA HOSPITALAR: UM DIREITO PARA TODAS AS CRIANÇAS HOSPITALIZADAS?

A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NA ESCOLARIZAÇÃO HOSPITALAR E DOMICILLIAR

SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS INTEGRADAS DA UNAERP CAMPUS GUARUJÁ. Alfabetização bilíngüe para surdos:uma prática a ser investigada

CONSTRUÇÃO DE SABERES: POLÍTICAS E PRÀTICAS PEDAGÓGICAS EM CLASSES HOSPITALARES

O ENSINO MÉDIO INTEGRADO NO CONTEXTO DA ATUAL LDB. Nilva Schroeder Pedagoga IFB Campus Planaltina Abr. 2018

A INCLUSÃO DA CRIANÇA COM TEA NA ESCOLA SOB O OLHAR DE PROFESSORES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO

343 de 665 VIII SEMINÁRIO DE PESQUISA EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS ISSN

A INCLUSÃO DOS ALUNOS COM DEFICIÊNCIA NO CAMPUS NATAL-CENTRAL E A QUALIFICAÇÃO DOS PROFESSORES: DESAFIOS E PROPOSTAS

COMUNICADO 04/2018 Edital 118/2018

ESCOLAS INCLUSIVAS. Susana Bagatini

Palavras-chave: Educação Matemática. Educação Inclusiva. Formação de professores.

IDENTIFICAÇÃO CÓDIGO DISCIPLINA OU ESTÁGIO SERIE IDEAL EES71 Prática de Ensino aos Deficientes Físicos 4º ano OB/OPT/EST PRÉ/CO/REQUISITOS ANUAL/SEM

AS CONTRIBUIÇÕES PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO DE SURDOS POR MEIO DE RECURSOS DIDÁTICOS: UMA ANÁLISE DO CURSO DE PEDAGOGIA DA FACULDADE PITÁGORAS MA.

REGULAMENTO DO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA CAPITULO I - DA NATUREZA E DOS OBJETIVOS

O BRINCAR: A IMPORTÂNCIA E AS CONTRIBUIÇÕES NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Normas de Estágio Curricular Não Obrigatório Remunerado. Instituto de Ciências Humanas, Letras e Artes - ICHLA. - Curso de Psicologia -

ESTRATÉGIAS EDUCATIVAS SOBRE DIABETES PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA

A IMPORTÂNCIA DO PSICOPEDAGOGO NAS CLASSES/ESCOLAS HOSPITALARES

XVII ENCONTRO de PSICOPEDAGOGIA do CEARÁ

POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO EDUCACIONAL EM AMBIENTES HOSPITALARES. GT7. Educação e direitos humanos, diversidade cultural e inclusão social

BNCC e a Educação Infantil

GLOSSÁRIO. Veja a seguir um glossário das necessidades especiais/educação Especial, segundo o Instituto Ethos (2005).

CURSO PÓS-GRADUAÇÃO EM DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR

2. HISTÓRIA DO PROJETO (Descrever resumidamente os aspectos históricos do projeto):

TGD - O POSICIONAMENTO DA ESCOLA REGULAR NA INCLUSÃO DE ALUNOS COM AUTISMO. PALAVRAS - CHAVE: Autismo. Ações pedagógicas. Escola inclusiva.

CLASSE HOSPITALAR: A CRIANÇA NO CENTRO DO PROCESSO EDUCATIVO

Palavras-chaves: Hospital. Atendimento Escolar. Formação.

PEDIDO DE CREDENCIAMENTO DO SEGUNDO ANO NA ÁREA DE ATUAÇÃO NUTROLOGIA PEDIÁTRICA

03/04/2017. Departamento de Psicologia Psicologia da Aprendizagem aplicada à área escolar Profª Ms. Carolina Cardoso de Souza

PEDAGOGIA HOSPITALAR: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO PARA ALÉM DA SALA DE AULA

Palavras-chave: Classe hospitalar. Prática pedagógica hospitalar. Socialização por um processo de inclusão.

FACULDADES DOS GRANDES LAGOS - UNILAGO

Caderno 2 de Prova AE02. Educação Especial. Auxiliar de Ensino de. Prefeitura Municipal de Florianópolis Secretaria Municipal de Educação

A ALFABETIZAÇÃO DA PESSOA IDOSA: UM OLHAR PSICOPEDAGÓGICO

A COMUNICAÇÃO ENTRE ENFERMEIRO E O BINÔMIO CRIANÇA/FAMÍLIA NA INTERNAÇÃO PEDIÁTRICA 1

A ATUAÇÃO DO PROFESSOR PEDAGOGO NA BRINQUEDOTECA HOSPITALAR

PÓS-GRADUAÇÃO EM DISCIPLINA

NORMAS PARA TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS MENTAIS

ATENDIMENTO PEDAGÓGICO AO ESCOLAR HOSPITALIZADO OU EM TRATAMENTO DE SAÚDE APEHTS EM CURITIBA APRESENTAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO

A LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS E A SUA IMPORTÂNCIA NO ÂMBITO EDUCACIONAL E SOCIAL: A Prática De Educacional e Social.

Transcrição:

PROJETO MIRACEMA: ESTRUTURAÇÃO E FUNCIONAMENTO Jucélia Linhares Granemann Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Três Lagoas juclia313@yahoo.com.br Eixo Temático: Rede de apoio na constituição do processo escolar inclusivo Palavras-chave: Brinquedoteca. Criança. Hospital 1 Introdução A hospitalização é um processo complexo para qualquer indivíduo, pois pode afastá-lo de sua vida cotidiana, do ambiente familiar e promover um confronto com a dor, a limitação física e a passividade, aflorando sentimentos de culpa, punição e medo da morte. A literatura norte-americana explica que, até 1930, a assistência mundial à criança hospitalizada tinha por finalidade exclusivamente de curar doenças com um tratamento rigoroso. Hoje, porém, muitas mudanças já foram concretizadas. A transformação no conceito de criança, agora vista como um serem crescimento e desenvolvimento, não só com necessidades biológicas, mas também psicológicas, sociais, cognitivas e emocionais, é um dos grandes exemplos. Outro marco observado nessa rede de assistência foi a publicação do Relatório Platt (Ministry Of Health), em 1959, na Inglaterra. Esse documento trouxe à tona a preocupação com o bem-estar da criança internada em instituições hospitalares e levou pais e profissionais a discutirem e analisarem o processo de hospitalização, procurando alternativas para humanizar essa experiência (LIMA; ROCHA; SCOCHI, 1999). Anteriormente, já pensando nessa problemática, em 1935, Henri Sellier, em Paris, funda a primeira escola para crianças inadaptadas (termo na época empregado para se referir aos alunos que apresentavam deficiências e/ou demais limitações nas diversas áreas de seu desenvolvimento). Seguidamente, esse atendimento expandiu-se para a Alemanha, a França e os Estados Unidos, com a finalidade de suprir as dificuldades escolares em crianças em tratamento de tuberculose. Pode-se dizer, no entanto, que a partir da Segunda Guerra Mundial é que esse atendimento às crianças e aos adolescentes mutilados e impossibilitados de frequentar a escola teve origem oficial e esses atendimentos, gradativamente, foram se alocando nas brinquedotecas e nas chamadas classes hospitalares. No Brasil, o Ministério da Educação e Cultura implantou, a

partir da Política Nacional de Educação Especial (1994), o serviço de classe hospitalar, que garante, com professores formados e capacitados, a continuidade escolar do aluno da educação infantil, do ensino fundamental e médio. Nessa perspectiva, o art. 214 da Constituição federal de 1988 afirma, além disso, que as ações do Poder Público devem conduzir à universalização do atendimento escolar. Entretanto, diversas circunstâncias podem interferir na permanência escolar ou nas condições do conhecimento ou, ainda, impedir a frequência, temporária ou permanente. Por outro lado, o direito à saúde, segundo a Constituição (BRASIL, 1988, art. 196), deve ser garantida mediante políticas econômicas e sociais que visem ao acesso universal e igualitário às ações e aos serviços, tanto para a sua promoção, quanto para a sua proteção e recuperação. Concomitantemente, a exigência do reconhecimento do direito à educação especial para o conjunto das crianças que, em algum momento de sua escolaridade, requerem apoio adicional ou recurso especial, de forma temporária ou contínua, partiu de uma intensa luta política internacional pelo reconhecimento do direito fundamental de toda criança à educação e à oportunidade de atingir e manter um nível adequado de aprendizagem, que culminou na Declaração de Salamanca, em 1994, sobre princípios, política e prática em educação especial. Nela encontramos alicerçada a defesa do acesso à educação para toda e qualquer criança, independentemente de quaisquer condições temporárias ou contínuas que apresentem. Já na Política Nacional de Educação Especial (PNEE) (BRASIL, 1994), a educação em hospital aparece como modalidade de ensino e de onde decorre a nomenclatura de classe hospitalar. Sua oferta educacional não se resume às crianças e aos adolescentes com transtornos do desenvolvimento como foi no passado (de 1950 a 1980), mas também àqueles em situação de risco no lar, uma vez que a hospitalização impõe limites à socialização e às internações, o afastamento da escola, dos amigos, da rua e da casa, além de regras sobre o corpo, a saúde, o tempo e os espaços. Em função de tais intercorrências, o direito à continuidade dos estudos escolares durante a internação hospitalar foi também reconhecido pela Declaração dos Direitos da Criança e do Adolescente Hospitalizados (BRASIL, 1995), e o Ministério de Educação (MEC), por intermédio da Secretaria Nacional de Educação Especial, propiciou o atendimento educacional deles nos hospitais, criando como já citado, o serviço de classes hospitalares (BRASIL, 2002). De modo geral, essa exigência do reconhecimento do direito à Educação no Brasil em enfermarias pediátricas partiu de uma das principais associações científicas brasileiras na área

da pediatria - a Sociedade Brasileira de Pediatria. Esse procedimento, que teve ampla repercussão nas organizações não governamentais de luta pelos direitos da criança, foi matéria de deliberação específica dos direitos da criança e do adolescente hospitalizado, pela Resolução n 41, de 13 de outubro de 1995, do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, com a chancela do Ministro da Justiça (BRASIL, 1995). Esse documento dispõe que a criança internada deve receber amparo psicológico, quando necessário, e desfrutar de alguma forma de recreação, de programas de educação para a saúde e de acompanhamento do currículo escolar de acordo com a fase cognitiva, durante sua hospitalização. A Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996, de Diretrizes e Bases da Educação, define a educação especial como uma modalidade da Educação Escolar, um conjunto de recursos e procedimentos específicos do processo de ensino e aprendizagem colocados à disposição dos alunos com necessidades especiais, em respeito as suas diferenças, para que eles tenham acesso ao currículo e, consequentemente, conquistem sua integração social (BRASIL, 1996). A mesma Lei, em seu capítulo V, art. 58 2, determina que: "O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular" (BRASIL, 1996). 2 Objetivos Nessa organização, será buscado, por meio da participação de acadêmicos, matriculados nos cursos de licenciaturas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, construir um modelo pedagógico-educacional para atuar na brinquedoteca e nos leitos do Hospital Auxiliadora, localizado na cidade de Três Lagoas, Estado de Mato Grosso do Sul, utilizandose de jogos, brincadeiras, atividades escolares e recreativas, previamente planejadas por esses acadêmicos. 3. Metodologia Nessa perspectiva, esse projeto parte do pressuposto de que toda deficiência, quanto qualquer patologia, seja qual for, pode caracterizar-se como uma condição de risco ao

indivíduo, pois sua instalação o predispõe a uma série de dificuldades para a adaptação e evolução escolar, nesse e após esse período. Estudar e/ou entender tais situações, torna-se imprescindível para que profissionais lotados nas áreas de educação, da saúde e/ou de áreas afins, além de acadêmicos em formação, possam através da operacionalização de diversos projetos, reuniões de estudos, formações e/ou demais discussões, mapear um quadro mais autêntico desse processo, bem como indicar estratégias para avaliar e minimizar seus impactos na escolaridade, como também nas demais áreas do desenvolvimento. 4. Resultados e Discussões Por intermédio de estudos e discussões, construiu-se no hospital um programa educacional-pedagógico, onde pode-se verificar que a hospitalização em nada impede que novos conhecimentos e informações possam ser adquiridos pela criança ou pelo jovem e venham a contribuir tanto para seu desenvolvimento escolar quanto para amenizar sua doença e para recuperar sua saúde. Nesse processo, a criança deve ser trabalhada integralmente de modo a dispor de um atendimento que corresponda a seu ciclo vital de desenvolvimento e de aprendizagem, levando-a a um desejo de cura (FONSECA, 2003). Nesse processo, Porto (2007) explica que essa aprendizagem possui uma função integradora, estando diretamente relacionada ao desenvolvimento psicológico, denotando as possibilidades de interação e adaptação da pessoa à realidade ao longo da vida, sofrendo múltiplas influências de fatores ambientais e individuais. Nessa trajetória, em muitas vezes, as crianças não são capazes de expressar nem de reproduzir o que as faz temer, desenvolvendo angústias, fazendo surgir depressão, revolta ou desespero, ou ainda a possibilidade de regressão no nível de desenvolvimento. Mais uma vez, o professor fará a diferença, observando, avaliando e trazendo o sentimento de valorização da vida, amor próprio, autoestima, aceitação e segurança, recuperando esses prazeres e garantir a construção dos conhecimentos que estariam acontecendo em ambiente escolar. Pois, segundo Appel (2000, p. 15), "ter um aluno nessas condições gera também no docente, diversas reações. Haverá momentos em que este não se sentirá apto para trabalhar e se deprime com a situação da criança. 5. Conclusões

Nesse processo, ao a criança compartilhar suas preocupações com outros membros da escola, assistentes sociais, psicólogos, médicos pode ajudar a diminuir a angústia. Então, em sua relação com o ambiente é que ele aprende, modifica seu comportamento, e esse aprendizado ocorre com as consequências de sua resposta, mesmo sem estar sendo ensinado formalmente. Gonçalves e Valle (1999) referem que, realizando as atividades pedagógicoeducacionais propostas pelas classes hospitalares, se atenuam as expectativas de prejuízos causadas por uma internação hospitalar, que na infância é bastante significativa. Esse projeto, em geral tem amenizado ao aluno, o impacto da doença, diminuindo o estresse dela e da hospitalização e as dificuldades de aprendizagem e de escolarização, colaborando nos processos de formação e capacitação de profissionais atuantes na área e/ou com essa clientela. Referências APPEL, S. Siempre es tiempo de aprender. Declarado do Interés Educativo. Mansilla, Argentina; Buenos Aires, Capital Federal: Ministerio del Interior Subsecretaria de Relaciones con la Comunidad; Ministerio de Cultura y Educacion de la Nación, 2000. BRASIL. Constituição (1988). República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. 16. ed. atual. ampl. São Paulo: Saraiva, 1998.. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, dez. 1996.. Ministério da Educação e Cultura. Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente Resolução n 41, de 13 de outubro de 1995. Direitos da criança e do adolescente hospitalizados. Brasília: Imprensa Oficial, 1995... Política nacional de educação especial. Brasília: MEC/SEESP, 1994. Livro 1... Secretaria de Educação Especial. Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações. Brasília: MEC; SEESP, 2002. FONSECA, E. S. Educador em plantão: aulas em hospitais asseguram continuidade dos estudos e desempenham papel fundamental na recuperação de alunos internados (entrevista). Revista Educação, v. 6, n. 7, p. 18-22, 2003. GONÇALVES, C. F.; VALLE, E. R. do. A criança com câncer na escola: a visão das professoras. Acta Oncológica Brasileira, 1999. LIMA, R. A. G.; ROCHA, S. M. M.; SCOCHI, C. G. S. Assistência à criança hospitalizada: reflexões acerca da participação dos pais. Rev. latino-am. enfermagem, Ribeirão Preto, v. 7, n. 2, p. 33-39, abr. 1999. PORTO, O. Psicopedagogia institucional: teoria, prática e assessoramento psicopedagógico. São Paulo: Wak Editora, 2007.