Procº de Insolvência n.º 2108/15.9 T8AVR Insolventes: DULCE MARIA FERREIRA REBELO E LUIS MIGUEL CUNHA SOUSA Comarca de Aveiro Instância Central 1ª Secção de Comércio Juiz 3 AVEIRO (ANADIA) RELATÓRIO O presente RELATÓRIO é elaborado nos termos do disposto no artigo 155º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas CIRE. A NOTA INTRODUTÓRIA: Para a elaboração do presente relatório foram efectuados trabalhos de pesquisa informativa nos serviços públicos: finanças, segurança social e conservatórias, tendo sido efectuada uma deslocação à Travessa da Quinta do Casal, n.º 2, Bloco C4, 424, freguesia de Aradas e concelho de Aveiro, morada fixada aos insolventes na douta sentença. Pela parte dos insolventes, que acompanhados pela ilustre mandatária, Drª Telma Rocha, nos receberam aquando das diligências relativas ao arrolamento e apreensão de bens, foi prestada a colaboração solicitada e necessária à elaboração do presente Relatório, sendo certo que grande parte dessa informação já constava dos autos. Foram inventariados os elementos patrimoniais conhecidos e já constantes dos autos e ali devidamente documentados, tudo de acordo com as disposições legais na matéria. Estes elementos estão devidamente identificados no anexo 1 do presente Relatório. - 1 -
O objectivo do presente Relatório, segundo o disposto no artigo 155º do CIRE, é apenas o de servir de ponto de partida para uma apreciação do estado económicofinanceiro dos insolventes. In casu, os dados obtidos permitem-nos cumprir o desiderato legal, sem restrições. O presente processo iniciou-se com requerimento apresentado pelos próprios insolventes, os quais, reconhecendo a sua frágil situação económica, requereram a declaração da sua insolvência, que veio a ser decretada por douta sentença proferida em 23 de Junho de 2015, entretanto já transitada em julgado. Os insolventes são casados entre si, no regime de comunhão de adquiridos e têm uma filha com 15 anos de idade que se encontra a estudar. Os insolventes vivem na morada fixada na douta sentença, que é habitação arrendada a Ana Maria Matias Damas Nunes e marido, pagando a renda mensal de 400,00, sendo que os bens móveis existentes na habitação são pertença do senhorio, conforme contrato de arrendamento que me foi exibido aquando da diligência de arrolamento e apreensão de bens. Actualmente ambos os insolventes estão desempregados, sendo que o insolvente marido está a desenvolver esforços para conseguir emprego; por outro lado, a insolvente mulher não aufere qualquer subsídio ou pensão social, tendo já sido ultrapassado o prazo para a sua concessão. Pelo que nos é dado a conhecer os insolventes não possuem quaisquer activos, nomeadamente PPR s, saldos bancários, participações sociais ou outros activos, à excepção do imóvel apreendido sob a verba n.º 1 do auto de arrolamento e apreensão de bens, tendo já procedido à entrega das chaves do imóvel à signatária, encontrando-se o mesmo livre e devoluto. - 2 -
Ponto um Análise dos elementos incluídos no documento referido na alínea c) do nº 1, do artigo 24º do CIRE: Os documentos conhecidos são os que se encontram nos autos, nomeadamente as declarações anuais de rendimentos dos anos de 2012, 2013 e 2014, bem como as reclamações de créditos rececionadas e respectiva documentação de suporte. Ora, em face dos documentos juntos, verifica-se o montante das obrigações vencidas e a situação de incumprimento generalizado com que se deparam, actualmente, os insolventes. As obrigações reclamadas e relacionadas pelos insolventes mais relevantes, provêm da falta de pagamento de créditos contraídos junto de Instituições Bancárias, nomeadamente no que concerne à aquisição do imóvel constante do auto de arrolamento, bem como de outros créditos particulares, destacando-se ainda a existência de uma dívida junto do Instituto de Segurança Social, I.P. Como causa da sua actual situação económica, os insolventes alegam que a precariedade financeira que hoje atravessam, teve como origem principal um negócio detido conjuntamente pelo insolvente marido e pela sua irmã, respeitante a um salão de cabeleireiro, o qual determinou o endividamento dos insolventes, quer junto de credores públicos, quer junto de credores bancários, o que, coadjuvado com a situação de desemprego com que a insolvente mulher se viu confrontada em 2011, culminou na instabilidade económico-financeira dos insolventes, gerando o incumprimento das obrigações contratuais estabelecidas e a situação de insolvência que hoje atravessam. Assim, Existem dívidas reclamadas e reconhecidas no montante total de 150.458,65, tendo já terminado o prazo para apresentação de reclamações de créditos. - 3 -
Relativamente a credores públicos, existe uma dívida reclamada pelo INSTITUTO DE SEGURANÇA SOCIAL, no valor global de 5.100,00, referente a prestações sociais indevidamente pagas ao insolvente marido. Por outro lado, e até ao momento, não são conhecidas quaisquer dívidas ao AUTORIDADE TRIBUTÁRIA E ADUANEIRA Ora, Analisado o auto de arrolamento de bens, é mister concluir que o passivo acima referido é manifestamente superior ao activo, pelo que a situação de insolvência é, em nossa opinião, irreversível. No momento, segundo as informações prestadas pelos mesmos, ambos os insolventes estão desempregados, sendo que o insolvente marido esteve a trabalhar até Junho de 2015, conforme informações e extracto de remunerações enviados pela Segurança Social, e a insolvente mulher não aufere qualquer subsídio ou pensão social. Ponto dois Análise do estado da contabilidade dos devedores e opinião sobre os documentos de prestação de contas dos insolventes: Trata-se da insolvência de pessoas singulares, que não estavam obrigadas a prestação de contas de acordo com o exigido para as sociedades comerciais, pelo que parte do disposto no presente artigo não é aplicável. Os insolventes juntaram aos autos os documentos necessários e comprovativos da sua situação económica. Requeridos elementos complementares ao Serviço de Finanças de Aveiro 1, recebemos como resposta que as informações solicitadas estão abrangidas pelo sigilo fiscal, pelo que não poderão ser fornecidas a não ser mediante autorização judicial. - 4 -
Por outro lado, requeridos elementos complementares ao ISS, I.P. - Centro Distrital de Aveiro, foram recebidas as informações solicitadas, que confirmam os dados já existentes no processo e os fornecidos à signatária pelos insolventes, no que concerne aos rendimentos auferidos pelos mesmos. seguinte: Analisadas as declarações de rendimentos de 2012, 2013 e 2014, constata-se o Em 2012 os insolventes apresentaram um rendimento bruto de 10.029,55 ; Em 2013 o rendimento bruto apresentado foi de 10.407,13 ; Em 2014 o rendimento anual bruto foi de 14.147,63. Verifica-se que os rendimentos dos insolventes são, in casu, por contrapartida dos empréstimos existentes e das elevadas taxas de juros cobradas, manifestamente insuficientes para solver as dívidas contraídas, pelo que, é mister concluir que o passivo indicado é inadequado à débil situação económica em que actualmente se encontram os insolventes. Os insolventes apresentaram pedido de exoneração do passivo restante, tendo sido entregues todos os documentos necessários à avaliação do seu pedido, com excepção dos seus certificados de registo criminal, desconhecendo a signatária se entretanto foram já juntos aos autos. Ponto três Indicação das perspectivas de manutenção da empresa devedora, no todo ou em parte, e da conveniência de se aprovar um plano de insolvência: De acordo com o acima exposto, não é de aplicar a primeira parte deste normativo, pois inexiste qualquer estabelecimento comercial ou industrial. - 5 -
Por outro lado, não é de propor qualquer plano de insolvência, já que os insolventes não apresentam rendimentos actuais que permitam a elaboração de Plano e o nível de endividamento existente, não se compadece com um qualquer Plano de Insolvência, pelo que, a proposta de Plano de Insolvência é desajustada à realidade e inviável. A única solução que nos parece adequada será a venda dos activos existentes in casu o imóvel arrolado sob a verba n.º 1 do auto de arrolamento e apreensão de bens - pelo valor de avaliação que vier a ser obtido. B DA EXONERAÇÃO DO PASSIVO RESTANTE: DÁ-SE PARECER FAVORÁVEL À EXONERAÇÃO DO PASSIVO RESTANTE, nos termos e com os seguintes fundamentos: 1. Do vencimento dos créditos: Identificação do credor Proveniência do Data de Constituição da Montante do Data de início do Crédito Dívida Crédito incumprimento Banco Comercial Mútuo com Hipoteca 23-04-2010 32.618,67 05-05-2014 Português, S.A. Descoberto Bancário 09-02-1998 92,00 23-12-2014 Banco de Investimento Imobiliário, S.A. Mútuo com Hipoteca 05-02-1997 39.009,11 05-05-2014 Barclays Bank PLC, Sucursal em Portugal Contrato de Crédito 06-12-2012 5.454,54 Não indicada. - 6 -
Caixa Económica Descoberto D/O 30-12-2013 123,51 06-01-2014 Montepio geral Mútuo 27-12-2013 68.060,82 27-03-2014 Cartão de Crédito Não indicada. 2.833,63 02-05-2015 Não reconhecido. Instituto da Segurança Social, I.P. Prestações Sociais De: 01-10-2010 a 12-12-2011 5.100,00 01-10-2010 2. Das condições exigíveis para a concessão da exoneração: - Dos documentos analisados, incluindo reclamações de créditos, declarações de rendimentos dos anos de 2012 a 2014, nada existe que nos permita concluir que a falta de apresentação mais atempada foi praticada com dolo, em qualquer das suas vertentes, ou que tenha agravado a situação dos credores (à excepção dos juros, sendo já abundante a jurisprudência dos tribunais superiores que desconsideram esta vertente); - Os insolventes não alienaram património e colaboraram em tudo que lhes foi solicitado; - Devem ser previamente conferidos os certificados de registo criminal de ambos os insolventes; - Pelo que, face ao exposto, e em nossa opinião, a eventual falta de apresentação nos ditos seis meses, não deve relevar nesta sede. 3. Das condições pessoais dos insolventes: - Os insolventes apresentaram-se ao processo em 15 de Junho de 2015; - Os requerentes têm os seguintes rendimentos: O insolvente marido está desempregado, sendo que está a desenvolver esforços para conseguir emprego; - 7 -
A insolvente mulher não aufere qualquer subsídio ou pensão social, tendo já sido ultrapassado o prazo para o seu recebimento. - Alegam que têm as seguintes despesas: Residem em habitação arrendada a Ana Maria Matias Damas Nunes e marido, pagando a renda mensal de 400,00. 4. Do montante do rendimento disponível: - Entendemos também que, tendo em conta o agregado familiar dos insolventes, composto por ambos, e por uma filha menor com quinze anos de idade, por estes devem ser entregues, ao futuro fiduciário, todas as quantias que excedam, em cada mês, o montante correspondente a dois salários mínimos nacionais e meio. C SOLUÇÃO PROPOSTA: Face ao exposto, propõe-se: Não haver lugar à proposta ou apresentação de qualquer plano de insolvência; Com vista à liquidação do bem apreendido, promover a sua avaliação, já requerida nos autos; Dar parecer favorável à admissão liminar do pedido de exoneração do passivo restante. D ANEXOS JUNTOS: Um Inventário. Dois Lista de créditos reconhecidos e não reconhecidos. P.D. A Administradora da Insolvência, - 8 -