ECONOMIA SOLIDÁRIA E AGRICULTURA FAMILIAR: TECENDO LAÇOS PARA A INSERÇÃO DE UM COMÉRCIO JUSTO E SUSTENTÁVEL

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Transcrição:

RELATO DE EXPERIÊNCIA ECONOMIA SOLIDÁRIA E AGRICULTURA FAMILIAR: TECENDO LAÇOS PARA A INSERÇÃO DE UM COMÉRCIO JUSTO E SUSTENTÁVEL OLIVEIRA, Bárbara Lourena de Sousa Santos¹; SANTOS, Deborah Murielle de Sousa¹; CRUZ, José de Jesus¹; MOREIRA, Antônio Domingues¹ ¹ Instituto Federal de Tecnologia e Ciências IF Baiano Campus de Bom Jesus da Lapa barbarariacho@hotmail.com; murystar@hotmail.com; jose.cruz.casagbi@gmail.com; tony.dom1987@gmail.com RESUMO: O principal objetivo deste trabalho é apresentar as experiências em Economia Solidária da Associação de Pequenos Produtores Rurais de Pau Branco e da Associação do Movimento de Mulheres Camponesas de Riacho de Santana-BA. Estas associações através de sua capacidade de organização, produtividade e relações sociais encontraram no Programa de Aquisição de Alimentos PAA, forma de investir na produtividade de maneira saudável e diversificada, gerando melhoria na qualidade da alimentação dos produtores, como dos consumidores que passaram a ter acesso mais frequente aos produtos da agricultura familiar isentos de aditivos químicos. Assim, as referidas associações têm se tornado referência no município de Riacho de Santana por investirem na produção de alimentos orgânicos de maneira sustentável visando não somente a renda, como saúde, qualidade de vida e bem estar social. Palavras-chave: PAA, Agricultura Familiar, Aquisição, Alimentos, Renda. INTRODUÇÃO O Programa de Aquisição de Alimentos PAA é uma política pública do programa do Governo Federal, que tem como objetivo fortalecer a agricultura familiar, dar oportunidade para os agricultores comercializarem seus produtos de forma segura e responsável, vendido diretamente para o governo através da CONAB- Companhia Nacional de Abastecimento de forma a evitar os atravessadores. Criado a partir de uma articulação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional- CONSEA. Instituído pelo artigo 19 da lei 10.696/2003, o PAA é desenvolvido com recursos do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome MDS e Ministério do Desenvolvimento Agrário- MDA. Desde a primeira aquisição em 2003, o programa teve significativos avanços, sendo que já foram investidos mais de 3,5 bilhões de reais na aquisição de alimentos mais de 3,1 milhões de toneladas de alimento envolvendo uma média de 160 mil agricultores familiares por ano em mais de 2.300 municípios brasileiros. Os alimentos adquiridos contribuem para o abastecimento em média de 25 mil entidades por ano, que atendem acerca de 15 milhões de pessoas. Elemento de política pública, o PAA- Programa de p. 107

Aquisição de Alimentos vem sendo um instrumento de estruturação do desenvolvimento da agricultura familiar, pois o mesmo propicia a aquisição de alimentos produzidos por agricultores familiares com isenção de licitação, a preços compatíveis com os mercados regionais, segundo Ortega et al., 2006 p. 59 apud (RICHARD, 2012 P.147). Garantir o direito humano à alimentação conforme os hábitos culturais locais, para os segmentos populacionais que vivem em situação de vulnerabilidade social e de insegurança alimentar e nutricional que são assistidos por entidades e programas sociais; garantir a compra e o escoamento de produtos da agricultura familiar e de assentados da reforma agrária com remuneração adequada; aumentar em quantidade e qualidade o abastecimento de gêneros alimentícios aos restaurantes populares, cozinhas comunitárias e bancos de alimentos, tendo em vista ampliar o número desses equipamentos e a capilaridade de distribuição de alimentos e refeições, em especial, nas áreas metropolitanas e capitais, para atender as populações com déficits de consumo alimentar-nutricional; potencializar o atendimento dos programas e entidades sociais locais, com a doação de alimentos e refeições balanceadas, para melhorar a dieta alimentar das populações em situação de insegurança alimentar e nutricional; eliminar a carência nutricional da população vulnerável à fome, respeitando as diferenças de hábitos regionais; capacitar os beneficiários do projeto para a gestão empreendedora de negócios em caráter associativo e cooperativo; fortalecer as economias locais com a geração de trabalho e aumento da renda na agroindústria familiar; e promover ações de educação alimentar voltada à segurança nutricional, preservação e resgate da cultura gastronômica, combate ao desperdício e promoção da saúde (ORTEGA et al.,2006, p. 59). Sendo esses benefícios reconhecidos, em Riacho de Santana- BA cidade localizada no sudoeste baiano à 720 km de Salvador. Duas associações se destacam na produtividade orgânica devido à implantação do Programa de Aquisição de Alimentos, a Associação de Pequenos Produtores Rurais de Pau Branco e a Associação do Movimento de Mulheres Camponesas. Essas associações encontraram no programa uma alternativa de rentabilidade visando à produtividade sustentável, alimentação de qualidade livre de produtos químicos o que favoreceu a distribuição de seus produtos para um maior número de pessoas, a citar as entidades beneficiadas: ABEPARS, AQUIPAINE, APAAE, COTEVIDA, SECRETARIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL que repassa para os grupos de convivência CRAS, GRUPO DA 3º IDADE, GRUPO MULHERES, GRUPO DE GESTANTES E CAPS. Segundo MANCE, 1999: 13 a seleção do que consumimos é feita não apenas considerando o nosso bem-viver pessoal, mas também o bem-viver coletivo, uma vez que é no consumo que a produção se completa e este tem impacto sobre [...] a sociedade em geral. Para autora Hespanhol. p. 108

O PAA também contribui para a constituição de estoques públicos de alimentos produzidos pelos agricultores familiares. Além disso, o programa promove o abastecimento alimentar por meio de compras governamentais de alimentos; fortalece circuitos locais e regionais e redes de comercialização; valoriza a biodiversidade e a produção orgânica e agroecológica de alimentos; incentiva hábitos alimentares saudáveis e estimula o cooperativismo e o associativismo. Diante dessas considerações, é mister informar como a Associações de Pequenos Produtores Rurais de Pau Branco e a Associação do Movimento de Mulheres Camponesas encontraram no PAA forma de investir na produtividade agroecológica gerando conforto, renda, saúde e melhor qualidade de vida para os produtores, pois partindo das capacitações tiveram ciência dos riscos que eram expostos ao usar agrotóxicos em suas lavouras, encontrando alternativas ecológicas para controle das pragas e insetos, dando maior valorização e investimento na sua produtividade como ao consumo de produtos orgânicos. Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Pau Branco A Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Pau Branco iniciou suas atividades em abril de 1990, com o objetivo de promover o desenvolvimento das famílias agricultoras da comunidade através do fortalecimento socioeconômico, cultural e político, apoiando os direitos dos seus associados bem como o de profissionalizar as atividades produtivas e a comercialização dos produtos por meio das feiras livres no município de Riacho de Santana e das vendas institucionais, acessando o Programa de Aquisição de Alimentos- PAA e o Programa Nacional de Alimentação Escolar PNAE. Ao fazer a adesão ao PAA e PNAE em 2003, os associados passaram por uma capacitação para construir subsídios visando melhor desempenho das ações do programa. Antes as principais atividades sempre foram a produção de feijão, milho, mandioca e a criação de bovinos. Entretanto, em 2009, a Associação resolveu investir na agregação de valor aos derivados da mandioca, na qual homens e mulheres se dedicaram ao cultivo dessa raiz. E, então, por meio de cursos e oficinas oferecidos pelo Território Velho Chico, os moradores/as foram capacitados/as para o processamento da matéria prima, como o a produção de fabricação de farinha, retirada da fécula para a utilização na culinária, no preparo de diversos pratos a exemplo dos bolos que são distribuídos nas escolas do município. A partir dessas capacitações percebe-se a promoção do desenvolvimento da comunidade, pois elas viabilizaram a socialização de conhecimentos motivando a Associação a investir na produção com p. 109

valor agregado à compra. Iniciativa esta que vem tornando a comunidade referência na organização e produtividade para outras associações que estão sendo reativadas. Por esse e outros benefícios o PAA vem contribuindo para o desenvolvimento da comunidade como um todo, não só dos associados uma vez que parte da matéria prima usada na produção dos bolos é produzida na própria comunidade havendo um benefício mutuo. Associação do Movimento de Mulheres Camponesas A Associação do Movimento de Mulheres Camponesas do Município de Riacho de Santana- BA foi fundada em setembro de 2005 com a finalidade de estimular o associativismo, assegurando os interesses das associadas através da participação da comunidade, dos governos: Municipal, Estadual, Federal e do setor privado com vistas ao desenvolvimento do potencial das mulheres camponesas, a valorização de sua arte, a melhor comercialização dos produtos e a promoção da igualdade de gênero e busca de opção de renda. A associação tem como proposta atuar em todo município de Riacho de Santana-BA. Promove reuniões ordinárias, capacitação em cursos diversos, oficinas, reuniões, treinamentos e fabricação de bolos, extração de polpas, sendo que essa é uma prática louvável, pois o município tem abundância de frutas nativas e de época a citar ciriguela, umbu, acerola, banana, manga que dessa forma são valorizadas pela população. Assim, buscando um melhor desempenho de suas ações a AMMC realiza as seguintes atividades: Luta pela conquista dos direitos da mulher camponesa: educação (coordenação do programa TOPA em 2009), saúde (resgate dos medicamentos caseiros), melhoria habitacional, melhoria alimentar com agregação de valores aos alimentos (aproveitamento das frutas nativas para suco, doces, consumo in natura), de forma a buscar a autonomia financeira da mulher através dos projetos de vendas da sua produção no mercado e ultimamente para PAA e PNAE; participação em feiras municipais, estaduais e nacionais, resgate das sementes crioulas; participação em reuniões, encontros, cursos de formação, capacitações, visitas às comunidades, construção de caixas de água para famílias carentes através do programa CASA; incentivo do plantio de mudas nos pequenos quintais, organização da produção tanto para o consumo, como para a comercialização. Toda essa potencialidade tem impulsionado a AMMC a buscar integração e parceria com outras entidades e órgãos tanto da esfera municipal, estadual, federal e ONGs através de projetos. p. 110

RESULTADOS As inquietações que guiam este trabalho surgem da necessidade de debater o Desenvolvimento Sustentável, com foco na Agricultura Familiar, partindo do conceito ético da relação humana com o seu meio, na perspectiva de uma Agricultura que potencialize o local, em que os saberes (re)produzidos pelos ancestrais estejam vinculados aos saberes, fazeres e necessidades presentes na comunidade. Sendo assim, a questão ambiental é uma emergência, vemos que ações, mesmo que pontuais, deverão ser mais recorrentes nas práticas cotidianas, em todos os modelos de produção. Além disso, discutir a oferta de alimentos saudáveis, garantindo a soberania alimentar, produzir de forma socialmente justa, economicamente viável, respeitando principalmente o meio ambiente, é de fundamental importância. Do empobrecimento de artesãos provocado pela difusão das máquinas e organização da produção é que aparece a economia solidária reagindo contra o capitalismo industrial, sendo ela compreendida como um conjunto de atividades econômicas de produção, distribuição e consumo, as mesmas realizadas de forma solidária e coletiva por trabalhadores e trabalhadoras inspirados por valores culturais e que colocam o ser humano como sujeito que faz da atividade econômica um meio sustentável, justo e privilegiado pela autogestão. Tudo isso é possível expressar concretamente nas ações do Programa de Aquisição de Alimentos PAA (doação simultânea), através do qual trabalhadores e trabalhadoras rurais, agricultores familiares da Associação do Pequeno Produtor Rural de Pau Branco e da Associação do Movimento de Mulheres Camponesas, estão tendo a oportunidade de melhorar as condições de vida, pela geração de trabalho e renda, favorecidos pelo programa aos seus beneficiários. As experiências cooperativas mostram [...] que os trabalhadores têm capacidade de organizar atividades econômicas segundo princípios próprios, socialistas [...] (SINGER, 1999: 113). Assim, percebe-se que a economia solidária é um dos caminhos para colaborar no fortalecimento das instituições congregando seus membros na perspectiva de torná-los sujeitos dignos de viver e conviver de forma fraterna e solidária, valores que estão adormecidos em nossa sociedade pela presença do capital que às vezes tornam as pessoas egocêntricas. Face a essa reflexão, conclui-se que a agricultura familiar apresenta em quantidade, qualidade e diversidade, por isso precisa culminar a sua autonomia, pois o seu cultivo traz grande contribuição para o desenvolvimento sustentável, tendo em vista que quem a produz trabalha com o poli cultivo e p. 111

procura preservar a produção e o meio ambiente de qualquer insumo químico. Daí a relação do PAA com o desenvolvimento sustentável: porque o que se tem observado na prática é que o programa dá total preferência pela produção do agricultor familiar, que por sua vez passa por uma capacitação em diversos setores como organização da associação, infraestrutura, produção de forma orgânica e sustentável de maneira preservar o meio ambiente, agro industrialização dos produtos, economia solidária, elaboração de projetos, enfim toda logística necessária para o bom desempenho do programa. REFERÊNCIAS ARAÚJO, Richard Medeiros de. Programa de aquisição de alimentos (2003-2010): avaliação da implementação pela CONAB no Rio Grande do Norte / Richard Medeiros de Araújo. Natal, RN, 2012.331f. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Economia solidária. Disponível em: http://www.mte.gov.br/index.php/2015-08-18-14-29-24 Acesso em: 05 de outubro de 2015. CONAB. Companhia Nacional de Abastecimento. Programa de Aquisição de Alimentos Disponível em: http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1125 Acesso em: 05 de outubro de 2015. Companhia Nacional de Abastecimento. Agricultura Familiar Disponível em: http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1125 Acesso em: 05 de outubro de 2015. HESPANHOL, R. A. M. Programa de Aquisição de Alimentos: limites e potencialidades de políticas de segurança alimentar para a agricultura familiar, (p.470, 2013) MANCE, E.A revolução das redes: a colaboraçãosolidária como uma alternativa pós-capitalistaà globalização atual. Petrópolis: Vozes. 1999. SINGER, Paul. Uma utopia militante: repensando o socialismo. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 1999. p. 112