CASA EM IBIRAPITANGA CASA EM TIBAU CASA EM CATALÃO Local: Santa Isabel, Local: Tibau do Sul, Local: Catalão, SP Ano: 2009 RN Ano: 2011 GO Ano: 2011 Escritório Yuri Vital Autoras: Brena M. de Oliveira, Cristina Piccoli, Ana Elísia da Costa ANÁLISE COMPARATIVA: CASA EM IBIRAPITANGA, CASA EM TIBAU E CASA EM CATALÃO Implantação e Partido Formal Apesar de as casas terem sido planejadas com objetivos diferentes e para ambientes distintos, observa-se que todas foram implantadas em terrenos de geometria e topografia irregulares. A casa em Ibirapitanga, de final de semana, está em um condomínio fechado às margens da reserva florestal de mesmo nome. A casa em Tibau, de veraneio, também está implantada em um condomínio fechado, este na exuberante praia da Pipa - RN. Já a casa em Catalão, de uso regular, foi projetada para ser construída em zona suburbana da cidade de Catalão - GO. A topografia, a despeito da diferença de níveis ser grande ou pequena, condicionou em todos os casos a criação taludes, ora de inclinação suave, ora fortemente pendentes, originando platôs onde as casas estão assentadas. (Figura 1) Figura 1: Implantação e esquemas de manipulação da topografia (a) Casa em Ibirapitanga,2009; (b) Casa em Tibau, 2011; (c) Casa em Catalão, 2011. Escritório Yuri Vital O partido decomposto, com duas alas claramente identificáveis, é adotado nas três residências. Condicionados pela geometria do terreno, as alas se articulam entre si de diferentes maneiras perpendicularmente (Ibirapitanga); paralelamente, com um pátio no meio (Tibau); e com angulação irregular (Catalão). Por outro lado, a topografia íngreme condiciona nos três casos que uma ala se apoie diretamente no terreno e o outra sobre pilotis. (Figura 2)
Figura 2: Esquema composição volumétrica (a) Casa em Ibirapitanga,2009; (b) Casa em Tibau, 2011; (c) Casa em Catalão, 2011. Escritório Yuri Vital O arranjo volumétrico sugerido na composição é tensionado por elementos planares verticais que possuem forte expressão formal. Estes planos podem funcionar como elemento conector entre os volumes (Tibau e Catalão) ou para evidenciar um componente estrutural do conjunto (Ibirapitanga). Ainda evidenciam o desejo de imprimir uma expressão planar à composição o uso recuado de planos verticais de vedação em relação às lajes de piso e cobertura. (Figura 3) Figura 3: Esquema da volumetria apoiada sobre o terreno e sobre pilotis (a) Casa em Ibirapitanga,2009; (b) Casa em Tibau, 2011; (c) Casa em Catalão, 2011. Escritório Yuri Vital O tratamento dado a cada uma das alas sugere as suas funções, bem como o grau de exposição a ser submetido o usuário. O vidro é usado sem reservas nas alas sociais, buscando sempre explorar visuais privilegiadas (Tibau e Ibirapitanga). Quando isto não ocorre, como na casa em Catalão, um ripado de madeira cobre a fachada voltada para a rua. Já nas fachadas das alas íntimas e de serviço, há o predomínio dos cheios sobre os vazios, através da utilização do concreto ou de painéis de madeira. (Figura 4) Figura 4: Perspectiva: ala social e íntima (a) Casa em Ibirapitanga,2009; (b) Casa em Tibau, 2011; (c) Casa em Catalão, 2011. Escritório Yuri Vital
Configuração funcional A organização do programa é realizada em dois blocos e, com exceção da casa em Catalão, em dois níveis. É notável, nos três casos estudados, a segregação total da área social em um pavimento ou bloco. Em função disso, percebe-se que em residências com um programa mais extenso (Catalão e Ibirapitanga) a criação de um segundo grau de ambientes sociais, mais familiar, que acaba sendo acolhido dentro do bloco que abriga os setores íntimo e de serviço. (Figura 5) Figura 5: Zoneamento (a) Casa em Ibirapitanga,2009; Casa em Tibau, 2011; Casa em Catalão, 2011. Escritório Yuri Vital Nos setores sociais, não há compartimentação dos ambientes, configurando sempre uma planta livre em que a circulação é sugerida na sua periferia, quer seja longitudinal (Ibirapitanga e Tibau) ou transversal (Catalão). Já o arranjo dos outros setores íntimo e de serviços não obedece a uma regra norteadora, podendo se apresentar de duas maneiras distintas: a) em alas independentes, organizadas ao redor de um pátio, e com eixos de circulações periféricos aos ambientes e tangentes ao pátio (Ibirapitanga e Tibau); b) em uma única ala, com faixas organizadas ao longo de um corredor periférico (Catalão). (Figuras 5 e 6)
Figura 6: Circulação vertical e acessos - (a) Casa em Ibirapitanga,2009; (b) Casa em Tibau, 2011; (c) Casa em Catalão, 2011. Escritório Yuri Vital Nos três casos, os acessos social e de serviço são independentes, não havendo, contudo, um hall social que distribua os fluxos internos e que dê autonomia de uso aos setores. Assim, para acessar os setores de serviço e íntimo, é necessário transpor o setor social. Transposto o social, o sistema de circulação se explicita claramente e ganha expressão formal ao se articular com os pátios gerados entre as alas. (Figura 6) De modo geral, se observa que as plantas não são regidas por uma modulação rígida, bem como a disposição dos elementos irregulares de composição também não parece seguir uma padronização, estando algumas vezes internalizados e, em outras, na periferia da planta e, sempre que possível, agrupados. (Figura 7) Figura 7: Circulação e elementos irregulares - (a) Casa em Ibirapitanga,2009; (b) Casa em Tibau, 2011; (c) Casa em Catalão, 2011. Escritório Yuri Vital
Espacialidade O observador é sempre conduzido ao ingresso através de uma escada ou passarela. Ao final deste percurso, depara-se com um espaço de transição entre exterior e interior configurado pelo recuo dos planos de vedação em relação às empenas laterais e da laje do piso. Este espaço faz as vezes de hall que, nas casas Tibau e Ibirapitanga, pelo plano envidraçado, permite antever o interior da sala, ao contrário da casa Catalão, na qual a superfície envidraçada está camuflada sob uma trama de madeira. (Figura 8). Figura 8: Acesso - (a) Casa em Ibirapitanga,2009; (b) Casa em Tibau, 2011; (c) Casa em Catalão, 2011. Escritório Yuri Vital
Nas salas de estar, as experiências vivenciadas são repletas de relações abertas e dinâmicas, promovidas pela planta livre e pelos extensos planos de vidro que favorecem a permeabilidade visual, configurando assim tensões multidirecionais. Na casa Catalão, entretanto, há um certo unidirecionamento promovido pelas empenas laterais opacas. (Figura 9) Figura 9: Estar e jantar - (a) Casa em Ibirapitanga,2009; (b) Casa em Tibau, 2011; (c) Casa em Catalão, 2011. Escritório Yuri Vital
É curioso notar como as circulações entre blocos, pavimentos e alas são tratados de forma peculiar. Nas três residências elas têm papel relevante não só funcional, mas também na fruição da edificação. Na casa Ibirapitanga, o usuário é convidado a percorrer uma longa passarela ao ar livre antes de ingressar no setor social. Também nesta residência, o pátio articula a passagem de uma ala a outra promovendo um passeio pelo interior da casa. Da mesma forma, na casa em Tibau, um conjunto de escadas preenchem o pátio entre os dois blocos, obrigando um deslocamento nada convencional. Na casa em Catalão um corredor envidraçado, conecta os dois blocos e permite experimentar, assim como nas situações anteriores, relações abertas e tensões multidirecionais. (Figura 10) Figura 10: Transição entre as alas - (a) Casa em Ibirapitanga,2009; (b) Casa em Tibau, 2011; (c) Casa em Catalão, 2011. Escritório Yuri Vital
Nos percursos que conduzem aos dormitórios, os corredores estreitos e profundos sugerem um unidirecionamento que é tratado de maneira distinta em cada residência. Na Casa em Ibirapitanga, o unidirecionamento é rompido pelo plano vertical envidraçado que delimita o corredor para o pátio interno. Na Casa em Tibau, o observador se depara com um corredor que separa os dormitórios de solteiro e de casal, causando forte tensão unidirecional. Já na Casa em Catalão, o corredor que leva aos dormitórios, com suas pequenas janelas verticais, possui um caráter ambíguo - quando as aberturas estão obscurecidas pelas venezianas, a sensação é de unidirecionamento, mas quando estas são abertas, as tensões passam a ser multidirecionais. (Figura 11) Figura 11: Corredor íntimo - (a) Casa em Ibirapitanga,2009; (b) Casa em Tibau, 2011; (c) Casa em Catalão, 2011. Escritório Yuri Vital
Nos dormitórios, a experiência é primordialmente estática, causada pela geometria regular dos ambientes. Contudo, tensionam a estaticidade dos quartos as grandes aberturas que os dilatam visual e/ou fisicamente para o exterior. De qualquer modo, configura-se uma tensão unidirecional, onde as aberturas se consolidam com pontos focais destes ambientes. (Figura 12) Figura 12: Dormitório - (a) Casa em Ibirapitanga,2009; (b) Casa em Tibau, 2011; (c) Casa em Catalão, 2011. Escritório Yuri Vital