DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL DO SANEAMENTO NO BAIRRO DO CORDEIRO, MUNICÍPIO DE RECIFE/PE

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DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL DO SANEAMENTO NO BAIRRO DO CORDEIRO, MUNICÍPIO DE RECIFE/PE Diogo Henrique Fernandes da Paz 1 * & Gérsica Moraes Nogueira Silva 2 & Maria do Carmo Martins Sobral 3 & Marianny Monteiro P. de Lira 4 Resumo O objetivo do presente estudo foi identificar e avaliar as condições do saneamento ambiental no bairro do Cordeiro, localizado no município de Recife, utilizando a ferramenta de Sistema de Informações Geográficas (SIG) para georreferenciar pontos de lançamentos de efluentes e o sistema de drenagem no presente bairro. Utilizou-se as informações do Censo 2010 do IBGE para obtenção de dados acerca dos setores censitários, nº de domicílios, nº de habitantes, renda média familiar, coleta de esgoto e abastecimento de água. Os dados analisados permitiram determinar o consumo per capita de água, estimar o aumento do consumo até o ano de 2020 e calcular a vazão média de esgotos para todos os 54 setores censitários. O consumo de água per capita estimado para o bairro (177 L/hab.dia) encontra-se dentro da média para as grandes cidades. Dois canais estudados são responsáveis pelo escoamento de grande parte dos esgotos gerados no bairro, pelo fato de não haver um sistema de tratamento de esgoto no bairro do Cordeiro. Palavras-Chave Recursos Hídricos, Gestão ambiental, Georreferenciamento. ENVIRONMENTAL SANITATION DIAGNOSIS IN CORDEIRO NEIGHBORHOOD, MUNICIPALITY OF RECIF/PE Abstract The aim of this study was to identify and evaluate the environmental sanitation conditions in Cordeiro neighborhood, located in the city of Recife, using the Geographical Information System (GIS) tool to geo-reference points of sewer releases and the drainage system in this neighborhood. It was used the IBGE Census 2010 information to obtain data on census tracts, number of households, number of inhabitants, average family income, sewage collection and water supply. The analyzed data allowed to determine the per capita water consumption, estimate the increased consumption by the year 2020 and average flow of sewage for all 54 census tracts. The consumption of water per capita estimated for the neighborhood (177 L/inh.day) is about average for large cities. Two studied channels are responsible for the flow of most of the sewage generated in the neighborhood, because there is not a sewage treatment system in the neighborhood. Keywords Water resources, Environmental management, Georeferencing INTRODUÇÃO O aumento da população e a consequente ampliação das cidades deveriam ser sempre acompanhados do crescimento de toda infraestrutura urbana (MOTA, 2011). Algumas das implicações deste processo inadequado de crescimento, principalmente nas regiões metropolitanas, 1 Doutorando do Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil do Departamento de Engenharia Civil da UFPE, diogo.henriquepaz@gmail.com 2 Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil do Departamento de Engenharia Civil da UFPE, gersicamns@hotmail.com 3 Professora do Departamento de Engenharia Civil da UFPE, msobral@ufpe.com.br 4 Mestranda do Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil do Departamento de Engenharia Civil da UFPE, marianny.monteiro@gmail.com XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1

são: a falta de infraestrutura sanitária, ocupações de áreas inadequadas, degradação dos recursos hídricos, poluição do meio ambiente, e consequentemente impactos à saúde humana. A falta de uma estrutura adequada de saneamento básico ainda é um problema nacional no Brasil (SILVA et al., 2013). Segundo o censo de 2011 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 71,8% dos municípios brasileiros sequer possuíam política municipal de saneamento básico e apenas 20% da população do estado de Pernambuco possui cobertura de redes de esgoto, que não recebem nenhum tipo de tratamento. Righetto (2009) define o saneamento ambiental como sendo um conjunto importante de sistemas físicos presentes na cidade e que está intimamente associado com a saúde da mesma e ressalta que os indicadores referentes ao saneamento básico por si só mostram o estágio de desenvolvimento da localidade e vislumbram a qualidade de vida de seus habitantes. A Organização Mundial de Saúde (OMS) acrescenta à definição de Saneamento, como o controle de todos os fatores do meio físico onde o homem está inserido, que exercem ou podem exercer efeito deletério sobre o seu bem estar físico, mental ou social. Conforme a Lei 11.445 de janeiro de 2007 que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico todos os municípios têm como obrigação a elaboração do Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSA). O PMSA deve abranger o abastecimento de água potável, o esgotamento sanitário, o manejo de resíduos sólidos e a drenagem e manejo das águas pluviais urbanas. O documento, após aprovado, torna-se instrumento estratégico de planejamento e de gestão participativa (BRASIL, 2007). Na região metropolitana do Recife (RMR) são verificados graves problemas de saneamento, pois, há mistura da rede de esgoto com o sistema de drenagem, com dejetos a céu aberto desembocando em canais espalhados pelo município e grande parte deste sistema encontra-se desativado ou simplesmente inexiste, devido ao seu estado obsoleto e falta de manutenção. Consequentemente, grande parte do esgoto doméstico coletado na RMR é lançado direta ou indiretamente nos rios e corpos d água, sem seu devido tratamento (PINTO, 2006). Pra um controle sanitário compatível aos grandes centros urbanos, além dos processos relacionados à coleta e tratamento dos esgotos domésticos, também estão inclusos o sistema de drenagem e a disposição adequada dos resíduos sólidos. Os problemas de alagamentos e inundações que foram se intensificando nas grandes cidades com o grau de impermeabilização da área de drenagem é consequência da expansão territorial sem uma legislação e fiscalização que garanta o disciplinamento adequado do uso e ocupação do solo (RIGHETTO, 2009). Diante deste contexto o estudo tem como objetivo identificar e avaliar as condições do saneamento ambiental no bairro do Cordeiro, localizado no município de Recife/PE, assim como identificar pontos de lançamentos de efluentes e o sistema de drenagem. MATERIAIS E MÉTODOS Caracterização da área de estudo O Recife possui 1.537.704 habitantes, sendo a cidade mais populosa do Estado de Pernambuco, representando cerca de 20% da população estadual e 45% da Região Metropolitana. CONDEPE (2001) apud Lucena (2004) complementa que com uma taxa de crescimento de 1,02%, também é um dos municípios com maior densidade demográfica (6.528,89 hab/km 2 ), à exceção apenas da vizinha Olinda que apresenta uma densidade de 9.727,33 hab/km 2. É uma cidade totalmente urbana e é dividida em 94 bairros. O presente trabalho foi realizado no bairro do Cordeiro, em Recife/PE (Figura 1), pertencente à 4ª Região Político-Administrativa do Recife (RPA-4), a Oeste da Cidade. Segundo dados do XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 2

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), o bairro possui uma população de 41.164 habitantes, área de 344,2 hectares e densidade de 162,80 habitantes/km². Seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) atualmente é de 0,912. Figura 1 - Localização do bairro do Cordeiro, Recife/PE. De acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), através da estação localizada no Curado, o índice médio pluviométrico na região é de 2400 mm/ano, com média mensal de 200 mm, sendo o período de maior precipitação no inverso durante os meses de maio a julho. Coleta de dados A coleta de informações para a realização do diagnóstico socioeconômico do saneamento foi realizada de duas formas: a partir de dados qualitativos e dados quantitativos. A coleta de dados qualitativos se iniciou a partir de revisão bibliográfica e realização de visitas exploratórias ao bairro para identificar as fontes de poluição e áreas de alagamento. Foram identificados os canais que atravessam o bairro e mapeou-se os pontos de lançamento de esgoto nesses canais. Os pontos foram fotografados, e todos os dados foram inseridos em um Sistema de Informações Geográficas SIG, onde foi criado um banco de dados com as informações coletadas. Para a manipulação dos dados, utilizou-se o software QGIS 2.8.1, bem como o Google Earth. Em relação à drenagem urbana, foi realizado um levantamento das áreas onde haviam pontos de alagamento de água e/ou esgoto no bairro após um dia chuvoso no bairro do Cordeiro. Os locais também foram fotografados, georreferenciados e incluídos no SIG. Para o levantamento dos dados socioeconômicos, utilizou-se as informações do Censo 2010 do IBGE. Dados como setores censitários, nº de domicílios, nº de habitantes, renda média familiar, coleta de esgoto e abastecimento de água foram plotados em planilha eletrônica. Com esses dados foi possível estimar o consumo de água e vazão média de esgotos. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 3

Posteriormente, foi realizada a estimativa do consumo de água no bairro e vazão média de esgotos, a partir da análise dos dados dos setores censitários, fornecidos pelo IBGE (IBGE, 2010). Para a determinação do consumo per capita de água (QPC) no bairro, realizou-se um levantamento do consumo mensal de água em um edifício residencial, composto de 6 apartamentos, localizado em setor censitário com renda média familiar de R$ 1.672,00. Após da determinação do QPC, estimou-se o consumo de água no bairro, e também realizouse uma estimativa do aumento do consumo até o ano de 2020, através de uma projeção populacional. RESULTADOS E DISCUSSÃO O Bairro do Cordeiro possui 54 setores censitários cadastrados no IBGE A Figura 2 apresenta a renda média familiar desses setores. Figura 2 - Renda média familiar de cada setor censitário. Observou-se que a média em cada setor é de 251 domicílios, totalizando 12.797. Em relação à quantidade, a média por setor é de 801 moradores, com um total de 40.872. Para a renda média familiar, a média foi de R$ 1.796,00. Identificou-se que na maioria dos casos os setores que possuem a maior quantidade de moradores, possuem a menor renda média familiar, que são em áreas de maior densidade populacional e com falta de infraestrutura adequada. Em relação ao abastecimento de água, dados do IBGE (2010) mostram que 93% dos domicílios são abastecidos pela rede geral de abastecimento da Companhia Pernambucana de Saneamento (COMPESA), enquanto que 6% possuem poço ou nascente na propriedade. A cidade do Recife conta com as seguintes Estações de Tratamento de Água (ETA), de acordo com a COMPESA: Presidente Castelo Branco, Jangadinha, Várzea do Una e Botafogo (SILVA, 2011). Para a estimativa do consumo de água no bairro do Cordeiro, utilizou-se como referência a QPC de um edifício residencial, localizado em um setor censitário com renda média familiar de R$ 1.672,00, próximo ao valor médio de renda do bairro. Posteriormente, analisou-se o consumo de água medido no hidrômetro através das contas da COMPESA, no período de jan/14 a fev/15. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 4

Durante esse período, não houve alteração no número de moradores nos apartamentos. O consumo per capita mensal de água, e a média do período, foi de 177 L/hab.dia. De acordo com Von Sperling (2005), o consumo per capita de água para grandes cidades (População > 250.000 hab.) se encontra entre 150-300 L/hab.dia. Dessa forma, o consumo per capita de 177 L/hab.dia se encontra dentro da faixa prevista para grandes idades, como é o caso de Recife. A partir deste indicador, estimou-se o consumo de água no bairro do ano de 2010 a 2020. Verificou-se que o consumo de água atual no bairro do Cordeiro é de 21,1 m 3 /dia totalizando 7714 m 3 até o fim do ano de 2015. Esse valor irá aumentar em 2020 para 22,2 m 3 /dia, totalizando 8107 m 3. No caso da coleta de esgoto, os dados (IBGE, 2010) mostram que 56% dos domicílios tem conexão com a rede geral de esgoto do município, enquanto que 29% utilizam fossa séptica pra tratamento de esgoto. As outras formas incluem os dejetos sem tratamento, em vala, rio, lago, mar, etc, enquanto que alguns domicílios sequer dispõem de instalações sanitárias. Dessa forma, estimou-se também a geração de esgotos do ano de 2010 a 2020. Verificou-se que a geração atual de esgotos é de 71 L/s, devendo aumentar para 75 L/s em 2020. Em relação ao tratamento de esgoto, existem 30 ETE s na cidade do Recife, com destaque para as ETE Cabanga, ETE Peixinhos e ETE Janga, consideradas de grande porte (SILVA, 2011). Observou-se, porém que os esgotos gerados no bairro do Cordeiro não são tratados em ETE, apenas coletados. Ou seja, acabam sendo lançado em canais e rios. Dessa foma, está sendo construído no bairro a ETE Cordeiro, que devem elevar o percentual de saneamento da cidade de 33% para 45%. O projeto beneficiará mais de 100 mil pessoas dos bairros do Cordeiro, Iputinga, Prado, Torre, Madalena, Engenho do Meio, Zumbi e Ilha Retiro, e está previsto para conclusão em 2015 (JORNAL DO COMMERCIO, 2014). A partir destas informações, realizou-se um levantamento de campo para identificar os locais de lançamento de esgotos no bairro. Foram encontrados dois canais que recebem os efluentes dos domicílios, sem nenhum tratamento: o canal do Cavouco e o canal da Av. Professor Estevão Francisco da Costa. Com a utilização de um GPS, os pontos de lançamento foram georreferenciados e inseridos no software QGIS 2.8.1. As Figuras 3 e 4 apresentam, os pontos de lançamentos de esgotos do Canal do Cavouco, onde foram cadastrados 15 pontos. Figura 3 - Pontos de lançamento de esgotos no Canal do Cavouco. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 5

Figura 4 - Dois pontos de lançamento de esgotos no Canal do Cavouco. As Figuras 5 e 6 apresentam os pontos de lançamentos de esgotos no canal da Av. Estevão Francisco da Costa. Foram cadastrados 12 pontos de lançamento. Figura 5 - Pontos de lançamento de esgotos no canal da Av. Estevão Francisco da Costa. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 6

Figura 6 - Dois pontos de lançamento de esgotos no Canal da Av. Estevão Francisco da Costa. Quanto aos pontos de alagamento, foram identificados 13 pontos críticos dentro do bairro do Cordeiro, sendo muitos deles misturados com esgoto a céu aberto, conforme apresentado nas figuras 7 e 8. Figura 15 - Pontos de alagamento no bairro do Cordeiro, Recife. CONCLUSÕES Figura 16 - Dois pontos de alagamento no bairro do Cordeiro. A realização do diagnóstico qualitativo e quantitativo permitiu uma análise mais aprofundada sobre a gestão da água no bairro do Cordeiro. A utilização do SIG como ferramenta de apoio à decisão mostrou-se bem adequada para a pesquisa realizada, pois com o banco de dados gerado é possível tomar decisões corretas acerca da gestão adequada das águas e efluentes no bairro do Cordeiro. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 7

O consumo de água per capita de água estimado para o bairro (177 L/hab.dia) encontra-se dentro da média para as grandes cidades, de acordo com dados apresentados por Sperling (2005). Porém, é necessária a realização de campanhas de conscientização quanto ao consumo de água, visto que o bairro em sua grande maioria é composto de residências unifamiliares, e geralmente tem-se a prática de utilizar água para lavagem de quintais e calçadas, enquanto que os edifícios da região não possuem medição individualizada de água, o que favorece o aumento no consumo. Os dois canais estudados são responsáveis pelo escoamento de grande parte dos esgotos gerados no bairro, pelo fato de não haver um sistema de tratamento de esgoto que abrange o Cordeiro. Dessa forma, esses canais apresentam-se bastante poluídos e gerando maus odores e poluição visual. REFERÊNCIAS BRASIL. (2007). Lei nº. 11.445 de 5 de janeiro de 2007. Estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico e para a política federal de saneamento básico. Brasília (DF): Diário Oficial União. BRASIL. (2015a). Ministério da Saúde. OMS Organização Mundial da Saúde. Disponível em: <portal.saude.gov.br/.../saude/visualizar_texto.cfm?> Acesso em: Mai. 2015. BRASIL. (2015b ) Plano diretor do recife (Municipal). 2008. Acesso em: 11 Mai 2015 Disponível em: < http://www.recife.pe.gov.br/pr/secplanejamento/planodiretor/> Acesso em: Mai. 2015 IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2010). Censo 2010. Disponível em:<www.ibge.gov.br>. Acesso em 20 abr. 2015. JORNAL DO COMMERCIO. (2015). Saneamento e asfalto para a zona oeste. Disponível em:<http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cidades/geral/noticia/2014/03/28/saneamento--e-asfaltopara--a-zona-oeste-122991.php>. Acesso em 20 abr. 2015. LUCENA, L.F.L. (2004). Análise do custo-benefício da reciclagem dos resíduos sólidos urbanos no Recife e Jaboatão dos Guararapes. Tese de doutorado. Programa de Pós-graduação em Economia. Universidade Federal de Pernambuco, Recife-PE. MOTA, S (2011). Urbanização e meio ambiente. 4 ed. atual. rev. ABES Rio de Janeiro-RJ, 380 p. RIGHETTO, A. M (2009). Manejo de Águas Pluviais Urbanas. Projeto PROSAB. ABES Rio de Janeiro-RJ, 396 p. SILVA, R. F. (2011). Avaliação da presença de contaminantes emergentes em Estações de Tratamento de Esgoto do Estado de Pernambuco e sua degradação por POA. 2011. 90 p. Dissertação (Mestrado em Química) Centro de Ciências Exatas e da Natureza, Universidade Federal de Pernambuco, Recife-PE. VON SPERLING, M. (2005). Princípios do tratamento biológico de águas residuárias. Vol.1. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. 3 ed. Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental UFMG Belo Horizonte-MG, 452 p. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 8