HERBICIDAS. Prof. Dr. Leonardo Bianco de Carvalho. DEAGRO CAV/UDESC

Documentos relacionados
Dinâmica fisiológica de herbicidas

RESISTÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS A HERBICIDAS. Eng Agr Dr. Leandro Vargas

Resistência de plantas daninhas à herbicidas. no Brasil e no mundo

O que é resistência de plantas daninhas a herbicidas?

RESISTENCIA DE PLANTAS DANINHAS AO HERBICIDA GLYPHOSATE REVISÃO DE LITERATURA

Referências próxima aula - Impacto ambiental - Regulagem de pulverizadores

TENDÊNCIA DA RESISTÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS AOS HERBICIDAS NO BRASIL E NO MUNDO.

O que é resistência de plantas daninhas a herbicidas?

BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS MANEJO DA RESISTÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS. Soluções para um Mundo em Crescimento

Daninhas. Plantas. buva. capimamargoso. buva. buva. buva. buva. Manejo de. buva. buva. buva. buva. buva. buva

Resistência de plantas daninhas a herbicidas e resultados do primeiro levantamento em áreas algodoeiras de Mato Grosso

Dinâmica fisiológica de herbicidas

CONSIDERAÇÕES SOBRE PLANTAS DANINHAS RESISTENTES SEMEANDO O FUTURO

"Estratégias de manejo de plantas

Métodos de Controle de Plantas Daninhas

MANEJO DE PLANTAS DANINHAS RESISTENTES A HERBICIDAS NA CULTURA DO TRIGO. Leandro Vargas Pesquisador Embrapa Trigo

HERBICIDAS INIBIDORES DO FSI

Capítulo 7 HERBICIDAS: RESISTÊNCIA DE PLANTAS

Entender a necessidade do manejo de plantas daninhas resistentes Conhecer a situação atual da resistência de plantas daninhas a herbicidas

XXX CONGRESSO BRASILEIRO DA CIÊNCIA DAS PLANTAS DANINHAS RESISTÊNCIA ANTES E DEPOIS DA SOJA RR

MANEJO DE AZEVÉM RESISTENTE A GLYPHOSATE SEMEANDO O FUTURO

5/24/2011. Padrão de ocorrência de plantas daninhas resistentes a herbicidas no campo. Resistência de plantas daninhas a herbicidas

DESSECAÇÃO Preparando a semeadura. Mauro Antônio Rizzardi 1

MANEJO DE BUVA (Conyza spp.) E DE AZEVÉM (Lolium multiflorum) RESISTENTES AO GLIFOSATO

Características e manejo de azevém resistente ao glyphosate

Autores: considerado como não seletivo, atuando apenas em pósemergência

Referências próxima aula - Impacto ambiental - Regulagem de pulverizadores

FiberMax. Mais que um detalhe: uma genética de fibra.

Amaranthus palmeri: novo desafio para a agricultura do Brasil.

8º Congresso Brasileiro de Algodão & I Cotton Expo 2011, São Paulo, SP 2011 Página 822

UM PROGRAMA COMPLETO PARA CONTROLAR AS DANINHAS RESISTENTES.

RESISTÊNCIA A HERBICIDAS NO BRASIL. Leandro Vargas Dirceu Agostinetto Décio Karam Dionisio Gazziero Fernando Adegas

ESTRATÉGIAS DE MANEJO DE PLANTAS DANINHAS COM PERDA DE SENSIBILIDADE AO GLYPHOSATE NA CULTURA DO MILHO RR

Plantas Daninhas Resistentes em Mato grosso. Edson R. de Andrade Junior (Eng. Agr., M.Sc.) Pesquisador IMAmt

Objetivos da palestra

RESISTÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS A HERBICIDAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL CAMPUS DE LARANJEIRAS DO SUL CURSO DE AGRONOMIA

Material didático do Prof. Leonardo Bianco de Carvalho UNESP - Câmpus de Jaboticabal MATOLOGIA. Introdução à Matologia (conceito e importância)

Resistência e tolerância. Plantas daninhas de difícil controle com glifosato

da soja (Glycine max (L). Merrill) Histórico

ESALQ/USP Christoffoleti, P.J.

Curso de graduação em ENGENHARIA AGRONÔMICA MATOLOGIA. Origem e evolução de plantas daninhas

Painel - Controle de plantas daninhas no ambiente de novos Traits

ACCase. - Papuã/marmelada (Brachiaria plantaginea) em Mangueirinha e Guarapuava (PR) ALS

Banco de sementes. Evitar novas introduções de sementes ( chuva de sementes ):

MECANISMOS DE AÇÃO DOS HERBICIDAS

Curso de Agronegócio Prof. Etiane Skrebsky Quadros

SOJA E MILHO RESISTENTES AO GLIFOSATO NOS SISTEMAS AGRÍCOLAS DE PRODUÇÃO SEMEANDO O FUTURO

Manejo de Plantas Daninhas para a Cultura de Milho

Manejo de plantas daninhas em arroz

Identificação e controle de biótipos resistentes de Digitaria insularis (L.) Fedde ao glyphosate 1

Desafios atuais da transgenia

HERBICIDAS NO SISTEMA PLANTIO DIRETO

Na Era das Plantas Transgênicas. Felipe Ridolfo Biology Team Leader to Enlist

ESALQ USP - Departamento de Produção Vegetal PROVA FINAL LPV0671 CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS Data: Quarta feira 24/06/2015 Nome Assinatura

Tecnologias de Manejo Soja e Milho Resistentes ao Glifosato. Sérgio Alexandrino

Diretor do Levantamento Internacional sobre Plantas Daninhas Resistentes a Herbicidas

CONCURSO PÚBLICO PARA PROVIMENTO DE CARGO EFETIVO PROFESSOR DE ENSINO BÁSICO, TÉCNICO E TECNOLÓGICO Edital 06/2015 Campus Manhuaçu FOLHA DE PROVA

Introdução. Soja e milho tolerantes ao glifosato em áreas com plantas daninhas resistentes

RESISTÊNCIA AOS INIBIDORES DE ACCASE (BRASIL)

Avaliação de dose resposta em biótipos de buva resistentes ao glifosato 1

MATOCOMPETIÇÃO EM MILHO SAFRINHA

MANEJO DE AZEVÉM RESISTENTE AO GLYPHOSATE EM POMARES DE MAÇÃ COM HERBICIDA SELECT (CLETHODIM)

RESISTÊNCIA DE AZEVÉM (Lolium multiflorum) AO HERBICIDA GLYPHOSATE 1

Tolerância de genótipos de sorgo biomassa a herbicidas préemergentes

Maurício C. Fernandes, Dr. Gerente de Stewardship

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Campus Luiz de Queiroz

POPULAÇÕES DE CORDA-DE-VIOLA (Ipomoea spp.) DA REGIÃO SUDOESTE DO PARANÁ: PRINCIPAIS ESPÉCIES E TOLERÂNCIA AO GLYPHOSATE

CIRCULAR TÉCNICA. Alternativas para controle químico e identificação molecular de Amaranthus palmeri

Controle químico de doenças fúngicas do milho

BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS. Soluções para um Mundo em Crescimento

Overview sobre Plantas daninhas resistentes aos herbicidas no Brasil e as Ações HRAC-BR

CIRCULAR TÉCNICA. Levantamento de plantas daninhas com resistência a herbicidas em áreas algodoeiras de Mato Grosso INTRODUÇÃO

de Plantas Daninhas Leandro Vargas

Inovação no manejo de plantas daninhas RUDOLF WOCH

HERBICIDAS ALTERNATIVOS PARA O CONTROLE DE BUVA RESISTENTE AO GLYPHOSATE EM DIFERENTES ESTDIOS DE DESENVOLVIMENTO

RESISTÊNCIA AO GLYPHOSATE EM BIÓTIPOS DE BUVA (Conyza spp.) DAS REGIÕES OESTE E SUDOESTE DO PARANÁ 1

8º Congresso Brasileiro de Algodão & I Cotton Expo 2011, São Paulo, SP 2011 Página 788

PRINCIPAIS ASPECTOS DA RESISTÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS AO HERBICIDA GLYPHOSATE 1

BUVA 15 A 20% DO CUSTO ANUAL DO CAFEZAL (MATIELLO, 1991) Bidens pilosa. Commelina spp

Resistência de Insetos a Inseticidas

Manejo de Plantas Daninhas na Cultura do Café Fundamentos Técnicos

RESISTÊNCIA AO GLYPHOSATE EM BIÓTIPOS DE Conyza bonariensis

HERBICIDAS. Prof. Dr. Leonardo Bianco de Carvalho.

RESISTÊNCIA DE Cyperus difformis A HERBICIDAS INIBIDORES DA ALS EM LAVOURA DE ARROZ IRRIGADO EM SANTA CATARINA 1

PRODUTIVIDADE FATORES QUE AFETAM A MANEJO INADEQUADO DE NEMATOIDES QUALIDADE NAS OPERAÇÕES AGRÍCOLAS PROBLEMAS NUTRICIONAIS NO SOLO

I SIlVIPÓSIO INTERNAClüNALSOBRE

Avena fatua RESISTENTE AO HERBICIDA CLODINAFOPE-PROPARGIL: PRIMEIRO CASO NO BRASIL

CAPÍTULO 2 CRITÉRIOS PARA RELATO DE NOVOS CASOS DE RESISTÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS A HERBICIDAS

MANEJO DO MILHO TIGUERA RR SEMEANDO O FUTURO

CIRCULAR TÉCNICA. Amaranthus palmeri em Mato Grosso: características da espécie, situação atual e controle

Deterioração: altamente perecíveis f (% H 2

CONTROLE QUÍMICO. Variedades com bom desempenho agronômico X suscetibilidade a doenças

Provence: parceiro ideal no. em todas as épocas. Augusto Monteiro. Agr. Desenv. Mercado - Bayer

Herbicidas alternativos no controle de Bidens pilosa e Euphorbia heterophylla resistentes a inibidores de ALS na cultura do algodão 1

ADOÇÃO DE MELHORES PRÁTICAS AGRONÔMICAS

VISÃO DO FUTURO: NOVAS TECNOLOGIAS PARA O MANEJO DA RESISTÊNCIA. Eng. Agr., Dr., Mauro Antônio Rizzardi Universidade de Passo Fundo

Interferência das plantas daninhas em cana Estratégias de manejo. Tendência utilizadas pelos fornecedores.

RESPOSTA DE BIÓTIPOS DE Borreria latifolia DO SUDOESTE DO PARANÁ E NORTE DE SANTA CATARINA AO HERBICIDA GLYPHOSATE

IMPERIAL ESTAÇÃO AGRONÔMICA 1887

Transcrição:

BMPDA54 Biologia e Manejo de Plantas Daninhas HERBICIDAS Prof. Dr. Leonardo Bianco de Carvalho DEAGRO CAV/UDESC leonardo.carvalho@udesc.br http://plantasdaninhas.cav.udesc.br

Cronograma da aula Conceitos Histórico Evolução e mecanismos Diagnóstico e prevenção Conclusões da aula Recomendações de leitura

Conceitos Susceptibilidade: incapacidade de sobrevivência das plantas após exposição ao herbicida, desde que aplicado em doses e condições recomendadas pelo fabricante. Tolerância: capacidade inata da espécie em sobreviver e se reproduzir após exposição ao herbicida, desde que aplicado em doses e condições recomendadas pelo fabricante.

Conceitos Resistência: capacidade adquirida por determinado grupo de indivíduos dentro da população (biótipo) em sobreviver e se reproduzir após exposição ao herbicida que controla outros indivíduos da mesma espécie...desde que aplicado em doses e condições recomendadas pelo fabricante.

Tolerância Resistência Fonte: GASSEN, 2012

Tipos de Resistência Simples ou isolada: resistência a um herbicida específico de um mecanismo de ação. Cruzada: resistência a dois ou mais herbicidas do mesmo mecanismo de ação. Múltipla: resistência a dois ou mais herbicidas de mecanismos de ação diferentes.

Histórico 1957: Commelina diffusa (EUA) e Daucus carota (Canadá) mimetizadores de auxina 1970-80: Senecio vulgaris, Amaranthus spp. e Chenopodium spp. (EUA) simazine e demais triazinas (Inibidores do FS II)

Fonte: HEAP (weedscience.com)

Fonte: HEAP (weedscience.com)

Fonte: HEAP (weedscience.com)

Fonte: HEAP (weedscience.com)

Evolução da Resistência Pressão de seleção (variabilidade genética) Mutações genéticas???

População susceptível Biótipo susceptível Biótipo resistente

População susceptível Pulverização do herbicida Biótipo susceptível Biótipo resistente

Remanescentes resistentes Biótipo resistente Semente

População ainda susceptível Biótipo susceptível Biótipo resistente

População ainda susceptível Pulverização do herbicida Biótipo susceptível Biótipo resistente

Remanescentes resistentes Biótipo resistente Semente

Após algumas pulverizações População moderadamente susceptível Biótipo susceptível Biótipo resistente

Após várias pulverizações População pouco susceptível Biótipo susceptível Biótipo resistente

Após muitas pulverizações População resistente Biótipo susceptível Biótipo resistente

Caso continue pulverizando... População muito resistente Biótipo susceptível Biótipo resistente

Caso não sejam tomadas medidas apropriadas População extremamente resistente Biótipo susceptível Biótipo resistente

Estabelecimento inicial do biótipo resistente ~ 200 000 SEMENTES

Fatores que Afetam a Evolução Genéticos: frequência inicial da resistência, dominância e número dos alelos de resistência, tipo de polinização; Bioecológicos: espécie, agressividade da espécie, grau de infestação, grau de susceptibilidade da espécie ao herbicida; Manejo: herbicida, tecnologia de aplicação, MIPD, uso repetido e frequência de uso do herbicida, sistema de cultivo.

Risco de Evolução da Resistência Manejo Baixo Médio Alto Mecanismo usado > 2 2 1 Mistura de herbicidas Método de controle > 2 mecanismos 2 mecanismos 1 mecanismo Cultural, mecânico e químico Cultural e químico Químico Rotação de culturas Completa Limitada Nenhuma Infestação Baixa Média Alta Controle nos últimos 3 anos Bom Declinando Ruim

Mecanismos de Resistência Alteração do local de ação = perda de afinidade pelo local de ação Metabolização = detoxificação Compartimentalização = redução da concentração do herbicida no local de ação

Alteração do Local de Ação Refere-se a mutações que ocorrem no local de ação do herbicida A molécula herbicida não consegue mais inibir o local de ação devido a alterações na estrutura deste local HERBICIDA ENZIMA DA PLANTA SUSCEPTÍVEL ENZIMA DA PLANTA RESISTENTE

Alteração do Local de Ação Refere-se a mutações que ocorrem no local de ação do herbicida A molécula herbicida não consegue mais inibir o local de ação devido a alterações na estrutura deste local HERBICIDA ENZIMA DA PLANTA SUSCEPTÍVEL Interrupção do Metabolismo HERBICIDA ENZIMA DA PLANTA RESISTENTE Metabolismo Normal

Metabolização Refere-se à degradação do herbicida pelas plantas Participação importante de três enzimas - citocromo P450 monooxigenses (cyt P450 MO) - glutationa-s-transferase (GST) - superóxido desmutase (SOD) Enzimas envolvidas em reações de oxidação e conjugação

Compartimentalização Refere-se à ligação do herbicida na cutícula ou na parede celular......ou armazenamento em locais inativos (vacúolo)...reduzindo a absorção e/ou translocação e, consequentemente, a quantidade de herbicida que atinge o local de ação

Diagnóstico FALHA DE CONTROLE (é resistência???) Tecnologia de aplicação está adequada? Falha no controle de uma espécie apenas? Plantas não são resultados de reinfestação (novos fluxo de emergência)? Todas respostas afirmativas...

Diagnóstico Usa repetitivamente herbicidas do mesmo mecanismo de ação? Há perda de eficiência no controle? Há casos de resistência já relatados para este herbicida? Não há perda de eficiência para outras espécies? Resposta a uma ou mais perguntas afirmativas...

Confirmação Testes de dose-resposta Coletar sementes das plantas que não morreram com a aplicação do herbicida a campo Coletar sementes de plantas de uma população nunca exposta ao herbicida Semear em vasos Aplicar doses crescentes do herbicida (X): X/16, X/8, X/4, X/2, X, 2X, 4X, 8X e 16X

Confirmação Em duas ou quatro semanas, dependendo do produto, avaliar o controle e a biomassa produzida Processar as regressões segundo modelos logísticos/sigmoidais Calcular a dose necessária para reduzir o crescimento em 50% (DL50, ED50, GR50...) Calcular o fator de resistência (FR) FR = GR50(R) / GR50(S)

GR50(S) GR50(R)

GR50(S) GR50(R) FR = 3,7

FALTA DE CONTROLE (é resistência???)

Conyza sp. resistente ao glyphosate

Azevém (Lolium multiflorum) e leiteiro (Euphorbia heterophylla) resistentes aos herbicidas inibidores de ALS Fonte: VARGAS, 2012

Evitando a Evolução da Resistência Rotacionar mecanismos de ação; Realizar aplicações sequenciais; Usar misturas de herbicidas com diferentes mecanismos de ação e de destoxificação; Usar herbicidas de menor pressão de seleção (baixo residual e amplo espectro); Rotacionar culturas e sistemas de cultivo; Realizar monitoramento e MIPD (prevenção).

Conclusões Tolerância não é resistência; Falha de controle não implica em resistência; A pressão de seleção é o fator mais importante na evolução da resistência; A rotação de mecanismos de ação é essencial para prevenção da evolução de populações resistentes; O MIPD é o que garante menor pressão de seleção e, assim, menor risco de resistência.

RECOMENDAÇÃO DE LEITURA Capítulo 5 do livro HERBICIDAS Disponível para download em: http://plantasdaninhas.cav.udesc.br Obs.: todas as imagens foram retiradas do Google Images

MUITO OBRIGADO