Data: Título: 09-10-2008 Pub: Tipo: Internet Secção: Nacional Investigador espanhol Pedro Alonso criticou hoje, no Porto, a pouca atenção dada a esta doença :: 2008-10-09 Por Marlene Moura Se a malária afectasse mais os países ricos do que os pobres o esforço de se encontrar uma vacina já teria sido muito maior. Embora não seja fácil Pedro Alonso: o insustentável peso das enfermidades transmissíveis admiti-lo, Pedro Alonso, director do Centro de Barcelona para a Investigação na Saúde Internacional e notabilizado pelo seu trabalho em torno de um programa de vacinação contra a doença, referiu hoje durante um seminário, na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, que enfermidades transmissíveis têm um peso maior sobre as populações desfavorecidas por razões financeiras. Existem pessoas a viver com menos de um dólar por dia (0,73 euros) que não têm dinheiro para vacinas e, muitas vezes, nem para se alimentarem. Pedro Alonso aventou que, apesar disso, nos últimos 50 anos, a saúde melhorou significativamente, pois morreram menos crianças com idade inferior a cinco anos. O círculo vicioso da pobreza/ doença verifica-se mais significativamente nos casos de HIV, em que 40 milhões de pessoas vivem infectadas e a grande maioria situa-se em países subdesenvolvidos. ID: 2343359 A malária é responsável pela morte de uma pessoa a cada 30 segundos que passam especialmente em África. Chegaram recentemente 1233 novos fármacos ao mercado e só 13 eram para tratar doenças tropicais. Como disse o orador, desde há 50 anos, muita coisa mudou. Passou-se da televisão a preto e branco para as cores do grande plasma, dos telefones para os telemóveis, de equipamentos médicos rudimentares para outros mais avançados e computorizados, mas no combate à malária, a técnica é a mesma: a pulverização insecticida. Pedro Alonso é director de uma unidade que coordena a definição de uma agenda global para a 09-10-2008 INTERNET 1 de 2
Data: Título: 09-10-2008 Pub: Tipo: Internet Secção: Nacional erradicação do Paludismo e membro do Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (Moçambique) e centraliza os seus esforços na missão de salvaguardar a saúde das crianças africanas. O primeiro passo foi criar um plano de vacinação e tentar impedir que o mosquito pique as suas vítimas recorrendo ao uso de redes mosquiteiras. A vacina em que o director clínico espanhol tem trabalhado tem a capacidade para proteger a criança ou recém-nascido até ao primeiro ano de vida e pode reduzir a malária até 65 por cento, com a combinação de estratégia em mulheres grávidas. É, portanto, mais eficaz e moderada, embora seja ainda um passo de bebé para chegar à erradicação. Prevê-se para 2025 o objectivo de desenvolver uma vacina que dure até cinco anos. ID: 2343359 09-10-2008 INTERNET 2 de 2
Doença é responsável por 20% a 30% das mortes de crianças Primeira vacina contra a malária dentro de três anos Em 2011 poderá já estar disponível uma vacina contra a malária. 0 composto, que agora chega à fase 111 de ensaios clínicos, deverá reduzir em 65% a incidência em recém-nascidos e fazer descer quase para metade o número de casos graves da doença Paula Mourão Gonçalves A primeira vacina contra a malária deverá estar disponível dentro de menos de três anos. A notícia foi avançada por Pedro Alonso, director do Barcelona Center for International Health Research (CRE- SIB), unidade que coordena a definição de uma agenda global para a erradicação da malária, na mais recente edição das «Grand Rounds em Saúde Global», que teve lugar na Faculdade de Medicina do Porto, no passado dia 9. «Se tudo correr bem, daqui a dois ou três meses podemos iniciar os estudos de fase 111 e registar a primeira vacina lá para o final de 2010, princípios de?o1 1» afirmou «Se as conseguirmos proteger [as crianças] durante os primeiros quatro ou cinco precisaremos anos não de fazer nenhum tipo de reforço», diz Pedro Alonso «Se a malária afectasse os países ricos já teríamos vacina critica há mais tempo», Pedro Alonso
O composto, que será testado em 16 mil voluntários de seis países africanos ao todo, estão envolvidos oito centros de Moçambique, Gana, Gabão, Quénia, Tanzânia e Burkina Faso, demonstrou já ter capacidade para proteger recémnascidos e crianças de 1 a 4 anos, reduzindo os episódios clínicos em 30%. A vacina provou ser eficaz também na redução das formas mais graves de malária em 40% e de reduzir em 65% a incidência em recém-nascidos. «E a primeira vez que estamos tão perto de ter uma vacina», disse o especialista ao «Tempo Medicina», lembrando que a ideia é vacinar todos os recém-nascidos e crianças até aos 4 anos de idade, nos países afectados pela doença. «Se os conseguirmos proteger durante os primeiros quatro ou cinco anos não precisaremos de fazer nenhum tipo de reforço», já que, «não tendo uma protecção total, continuam a ser estimulados e, durante o período em que estiverem parcialmente protegidos pela vacina, continuarão a desenvolver a imunidade natural». O também director do Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM), Moçambique, falou do trabalho desenvolvido e lembrou que, naquele país, tal como na grande maioria das nações africanas, nomeadamente a sul do Saara, entre 20% a 30% das mortes em crianças são devidas à malária. «Temos muitas mortes porque não há uma boa prevenção e porque as pessoas tardam muito a procurar tratamento». Mas também, quando o procuram, «muitas vezes não há medicamentos suficientes para o fazer», isto quando se sabe que, se detectada rapidamente, «quase não teríamos mortes por malária». Complexa como uma nave espacial O especialista regozijou-se com o avanço que esta vacina poderá trazer no combate a uma doença que mata entre um a três milhões de pessoas por ano, admitindo, no entanto, que a medida peca por tardia. «Se afectasse os países ricos, já teríamos feito um esforço muito maior para pesquisar e tratar bem a doença», acusou. «Nos últimos 25 anos do século XX chegaram ao mercado 1233 novos fármacos e só 1 3 eram para tratar doenças tropicais», criticou, aludindo ao «gap dos 10/90», uma equação que ilustra a disparidade entre os gastos em saúde e a percentagem da população a que se destinam. O atraso, acrescentou, não se deve apenas à falta de interesse da comunidade científica ou da Indústria Farmacêutica por esta patologia, tem a ver também com a complexidade da mesma. «É uma doença muito complexa», porque o agente responsável pela infecção é um parasita. «O vírus é como uma bicicleta, as bactérias são um carro e os parasitas são naves espaciais», disse, usando a metáfora para dar conta da dificuldade em compreender o ciclo biológico da doença. «Perante um parasita tão complexo não vamos conseguir em pouco tempo uma vacina que resolva todos os problemas. A ideia é que esta venha contribuir, juntamente com as outras ferramentas existentes, para melhorar o controlo da malária», referiu Pedro Alonso, acrescentando que será uma «vacina de eficácia moderada», não uma solução mágica. «As vacinas que temos agora são quase todas de vírus e apenas algumas de bactérias. Não temos são muito mais com- nenhuma de parasitas, porque plexos», sublinhou. Bill Gates patrocina vacinação O especialista em Saúde Pública revelou ainda pormenores sobre outros projectos em curso no CISM, no que respeita ao desenvolvimento de vacinas. «Estamos a trabalhar noutros ensaios, mas estão ainda em fases muito iniciais», como é o caso das pesquisas no VIH e na tuberculose», disse, mostrando não depositar grande esperança nos projectos existentes no campo do VIH. «Há um impulso muito grande para desenvolver a vacina contra o VIH, mas não acredito que vá haver grandes resultados», admitiu, lembrando a «machadada» do fracasso na mais recente experiência nesta área: a utilização dos adenovírus no desenvolvimento de uma vacina contra o VIH. Propriedade da GlaxoSmithKline, a nova vacina deverá ser distribuída com a ajuda dos financiadores do CISM, nomeadamente a Fundação Bill Gates. Recentemente agraciado com o Prémio Cooperação Internacional da Fundação Príncipe das Astúrias, o CISM é um centro de investigação em Biomedicina que resulta da cooperação bilateral entre os governos de Moçambique e de Espanha, representados pelo Ministério da Saúde de Moçambique e a Faculdade de Medicina da Universidade Eduardo Mondlane; e em Espanha pela Fundação Clínic per Ia Recerca Biomédica e pela Agencia Espanola de Cooperación Internacional para el Desarrollo.