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Transcrição:

A PROXIMIDADE DOS CORPOS: UM OLHAR SOBRE A PRÁTICA EDUCATIVA QUE SE DESENVOLVE EM UMA ESCOLA DO CAMPO NO ESTADO DO PARANÁ MACHADO, Carmem UTP carmemmachado@pop.com.br GT-03: Movimentos Sociais e Educação Agência Financiadora: CNPq Este trabalho faz parte de uma pesquisa de Mestrado em Educação, em andamento, tendo a seguinte interrogação de estudo: Como a expressividade dos corpos em âmbito da prática educativa de uma escola localizada no campo pode indicar o grau de democratização disponível neste contexto? O olhar direcionado à prática educativa no campo voltou-se primeiramente para o contexto de inserção dos sujeitos, a formação de classe, a convicção política do movimento e as formulações que partem do pensamento do MST. A discussão e a análise em âmbito da prática educativa fazem parte desse universo complexo onde as relações servem para ressignificar os sujeitos da história, ou seja, as práticas que partem de uma educação problematizadora. A pesquisa de teor qualitativo está localizada no interior de uma escola de assentamento, envolvendo entrevistas, observação e análises dos dados coletados. O propósito deste trabalho consiste em apresentar a análise preliminar da investigação em âmbito da prática educativa no contexto de uma escola do campo, que parte de uma pedagogia envolta pelas ligações de origem entre os sujeitos comprometidos, ou seja, o fato de pertencimento a uma classe social comum de assentados, trabalhadores e filhos de trabalhadores rurais. A observação feita no interior da sala de aula, em ambientes e possíveis eventos de cunho escolar, e ou comunidade escolar, tem o sentido de construir e tecer uma análise individualmente como ação coletiva de ensino e aprendizagem que relacione a expressividade dos corpos no e do cotidiano escolar. Para compreender a prática educativa em uma escola do campo, foi imprescindível selecionar o sujeito da pesquisa a partir do entendimento da relação de parceria que incide neste contexto, portanto a seleção partiu da compreensão da dimensão de inserção, origem e formação. A sinergia na forma de cooperação que envolve e está comprometida no contexto campesino pelas relações conjuntas entre professor - aluno e comunidade, bem como as interações sociais partem destas relações

2 com o trabalho e, portanto, evidenciadas na escola e na prática educativa imbuída do proceder cotidiano. A análise implicada com a realidade de uma escola de assentamento rural localizada no Estado do Paraná envolve tanto o embasamento teórico para esclarecer os aspectos históricos e as possíveis imbricações sobre a educação do campo, quanto o pensamento acerca da prática educativa, mencionadas neste trabalho, como prática ressignificada. Sendo assim, a análise trata do disciplinamento e das práticas mais ou menos democráticas do professor em seu proceder cotidiano de trabalho e trazem o pressuposto quanto ao envolvimento do corpo nesse proceder. Os dados coletados e analisados nesta pesquisa vêm sinalizando para uma maior proximidade entre os sujeitos, que possivelmente relacione esta aproximação dos corpos nas práticas diárias como possibilidade de recriar por si mesmos a realidade, ou seja, que o corpo necessita expressar-se na escola e que as marcas significativas de origem, pertencimento, atitude diante das situações e possíveis soluções, também partem da sinergia que os corpos proporcionam nas relações entre alunos-professores-escola e comunidade. Portanto, implica no reconhecimento da expressividade dos corpos como um dos indicadores do grau de democratização, embora se saiba que a expressividade corporal não seja o único indicador desse grau, pois a democracia guarda estreita relação com a prática social na sociedade -, que pode ser mais ou menos democrática, dependendo da conjuntura política. Em especial, quando da realização do trabalho de campo, durante a primeira visita à escola, foi percebida a necessidade de um referencial teórico que desse conta de aspectos concretos da relação humana e menos da essência do humano. A necessidade de direcionar o olhar para o pensamento Foucaultiano sobre corpo e poder, ficou clara. Dessa forma, foi utilizado o ideário de Michel Foucault (2007), por ser um autor que faz pensar algumas situações as quais os indivíduos podem ser submetidos em função do exercício de circularidade do poder. Ao entender que a sala de aula é um espaço de relações sociais e que ela tem hierarquias instituídas há longo tempo, a intenção analítica consiste em compreender em que medida o corpo pode ser percebido pelo professor como um dos elementos do processo pedagógico e que pode indicar práticas mais ou menos democráticas, conforme já exposto.

3 O pensamento Foucaultiano trata do corpo como um reflexo da sociedade e suas relações com o trabalho e deste como uma inter-relação com o meio através das influências do capitalismo sobre as ações humanas. No capítulo Poder-Corpo, Foucault (2007, p.145) afirma que: [...] Não há um corpo da República. Em compensação, é o corpo da sociedade que se torna, no decorrer do século XIX, o novo princípio. É este corpo que será preciso proteger, de um modo quase médico; em lugar dos rituais através dos quais se restaurava a integridade do corpo do monarca, serão aplicadas receitas, terapêuticas como a eliminação dos doentes, o controle dos contagiosos, a exclusão dos delinqüentes. A eliminação pelo suplício é, assim, substituída por métodos de assepsia: a criminologia, a eugenia, a exclusão dos degenerados. A análise das manifestações corporais expressivas faz-se necessária na prática educativa, considerando o transporte do disciplinamento ou a liberdade dos corpos que se expressam em prol do aprendizado nessa relação, bem como a relevância das teorizações de Foucault (1977), que adjetiva a sociedade como disciplinar. O poder e suas ramificações que incidem no contexto brasileiro de educação e, portanto, em âmbito da prática educativa envolta por possíveis características de disciplinamento, vem sendo analisado a partir de Moraes (2005), Veiga Neto (2004), Rago (2006), que possibilitam esta discussão à luz do pensamento Foucaultiano. A expressão corporal como um elo entre conhecimento e entendimento (compreendidos como um fluxo entre professores e alunos, parceria que compartilha fatos, compartilha espaços, presença, ausência) vê no outro a parte ou vê na parte o todo, um fluxo constante ao qual pressupomos o envolvimento da expressão corporal na prática educativa e do trato direto da relação professor-aluno-escola. Na intenção de analisar a prática educativa no contexto de uma escola do campo no Estado do Paraná, faz-se necessário o entendimento de uma pedagogia que parte das ligações de origem entre os sujeitos envolvidos, ou seja, o fato de pertencimento a uma classe social comum. Incide neste pressuposto uma grande escala de aproximação corporal entre os sujeitos, em que possivelmente a proximidade entre os sujeitos de direitos vêm sinalizando a prática educativa em uma escola de Reforma Agrária, como possibilidade de recriar por si mesmos a realidade, portanto, a hipótese parte dos teóricos que

4 evidenciam o entendimento do ato de aprender e ensinar como forma de forjar a realidade. Para inserir a pesquisa na realidade das propostas educacionais no Paraná, com peculiaridades distintas de outras regiões do Brasil, fazem-se necessárias as pesquisas de Souza (2006) que desde 1990 se dedica a estudos envolvendo educação e movimentos sociais do campo. A autora localiza no setor de educação do MST a racionalidade comunicativa como educação dialógica, através de algumas frentes, a saber: o conhecimento é resultado da prática social discutida nos assentamentos; a metodologia utilizada nas oficinas, cursos e seminários valorizam o diálogo, os textos estudados em grupos são seguidos de debate, freqüentemente referidos nos espaços educativos, ou seja, uma ação feita com os outros e não para os outros. Para analisar e esclarecer questões do ponto de vista da Praxis Humana em sua totalidade, o ideário de Vasquez (1977), veio ao encontro desse assunto, presente na Obra Filosofia da Praxis, especificamente no capítulo que trata da Praxis criadora, a incidência determinante do enfrentamento às necessidades por intermédio de novas soluções. Para o autor, ao se partir do pensamento marxista em relação à produção humana e desta enquanto trabalho, a possibilidade de entendimento diante das novas exigências validadas envolve generalização e repetição, enquanto essa validação seja mantida, portanto, repetida, envolvendo criação enquanto a vida assim reclamar. A proximidade dos corpos, numa relação da prática educativa no ambiente campesino, com as características de classe; permite compreender a ruptura entre o corpo docilizado em conformidade com as teorias de Foucault (2007), a partir das descrições do autor quando trata do poder que circula por todo espaço e extensão do tecido social, inclusive na escola. As teorizações de Foucault (2007) têm servido como ferramentas para o entendimento da circularidade do poder na forma de disciplinamento dos corpos na escola, na tentativa de incrementar seus efeitos, o poder disciplinário, sobre tudo, segundo o autor, investe no corpo como novo mecanismo de produção desenvolvido pelo capitalismo. A partir das análises referentes aos dados coletados em âmbito da Prática educativa desenvolvida em uma escola de assentamento, envolvendo o corpo neste proceder cotidiano, percebe-se: 1) os indicadores de que as soluções e os

5 direcionamentos fazem-se presentes na forma de maior proximidade entre os sujeitos; 2) o código de sinais corporais envolve cumplicidade e sinergia como quebra do corpo docilizado descrito nas teorizações Foucaultianas. E que a expressividade do corpo como suporte em prol do aprendizado propõese imbuída de respostas a questões, a saber: 1) envolvimento da prática educativa e o primado que compõe a escola do campo como um lugar de formação humana, 2) percepção da perspectiva esperançosa de escola, intermediada pelos sujeitos de direitos: professores, alunos e comunidade, 3) possibilidade de superação em prol de uma prática educativa, consciente que reflita a perspectiva de autonomia dos sujeitos, 4) o exercício e atuação do corpo no espaço da escola como plenitude humana, ou seja, a existência do corpo na prática educativa como um elemento expressivo e histórico. Nesta escola do Campo, localizada num assentamento de reforma agrária, organizado no MST, foi observada uma série de manifestações corporais: gestos, gritos de guerra, rituais da mística, faces marcadas pela idade e pelas intempéries sociais e climáticas, sorrisos tímidos, olhares curiosos e esperançosos. No contexto das práticas educativas nesta escola é possível observar as brincadeiras no pátio da escola, o incentivo às atividades físicas competitivas (coletivas), às produções artísticas e musicais que demonstram a difícil trajetória daqueles que intencionam fortalecer as raízes na terra. A Análise da prática educativa envolta pela proximidade dos corpos neste contexto permite o entendimento acerca da manifestação do corpo como uma busca da construção do homem e da mulher pelas características de valorização de suas identidades. E que os caminhos de luta e sonhos compõem o contexto escolar, da prática educativa, do corpo, que vem simbolizando a história dos rostos que, marcados pelo esquecimento de outros, erguem-se orgulhosos de suas conquistas. REFERÊNCIAS FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 23. ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2007.. Vigiar e punir. 33. ed. Petrópolis: Vozes, 2007.

6 RAGO, Margareth. (org.). Figuras de Foucault. Belo horizonte: Autêntica, 2006. SOARES, Carmen Lúcia. Notas sobre a educação no corpo. Educar, Curitiba: Ed. da UFPR, n.16, p. 43-60, 2000. SOUZA, Maria Antonia de. Educação do campo: propostas e práticas pedagógicas do MST. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Filosofia da práxis. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. VEIGA NETO, Alfredo. Foucault & a educação. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.