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Transcrição:

462 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A GESTÃO PARTICIPATIVA DOS RECURSOS NATURAIS: INTERRELAÇÃO NECESSÁRIA PARA O SURGIMENTO DE UM NOVO PARADIGMA BRUNO SOARES DE ABREU Economista, professor do Instituto de Educação Superior da Paraíba IESP, Mestre e Doutorando em Recursos Naturais pela Universidade Federal de Campina Grande UFCG. IRENEIDE GOMES DE ABREU Pedagoga, professora da Universidade Federal de Campina Grande UFCG, Mestra em Educação pela Universidade Federal da Paraíba UFPB, Doutoranda em Recursos Naturais pela Universidade Federal de Campina Grande UFCG. POLLYANA SOARES DE ABREU MORAIS Fisioterapeuta, professora do Centro Universitário de João Pessoa UNIPÊ, Mestra e Doutoranda em Recursos Naturais pela Universidade Federal de Campina Grande UFCG. CATYELLE MARIA DE ARRUDA FERREIRA Assistente Social, Mestranda em Recursos Naturais pela Universidade Federal de Campina Grande UFCG. Resumo: Nas últimas décadas, a preocupação com a problemática ambiental vem merecendo atenção, em toda parte do planeta. Neste sentido, vê-se na educação ambiental uma ação imprescindível, capaz de subsidiar a compreensão das inter-relações entre o homem e o meio ambiente, objetivando, assim, a conquista de novas relações socioambientais. Desse modo, o presente artigo consiste em um ensaio teórico que tem como objetivo refletir acerca de quanto a Educação Ambiental pode contribuir na formação da cidadania crítica e responsável, capaz de participar de forma democrática das decisões políticas, econômicas do desenvolvimento das presentes e futuras gerações. Para isso, recorreu-se ao diálogo com autores considerados referência nas pesquisas sobre educação ambiental e gestão participativa: Freire (2005); Reigota (2006, 2007); Leff (2001, 2006) e outros. Ao final, percebe-se que a interrelação da gestão participativa dos recursos naturais e a educação ambiental crítica, ética e emancipatória é de fundamental importância, no exercício da cidadania e na preservação e solução dos problemas ambientais. Palavras-Chave: desenvolvimento sustentável, educação ambiental, gestão participativa ENVIRONMENTAL EDUCATION AND PARTICIPATORY MANAGEMENT OF NATURAL RESOURCES: REQUIRED INTERACTION FOR THE EMERGENCE OF A NEW PARADIGM Abstract: In recent decades, concern about environmental issues deserving attention is everywhere on the planet. In this sense, we see an action in environmental education essential, able to support the understanding of the interrelationships between man and the environment, aiming thus the conquest of new social and environmental relationships. Thus, this article consists of a paper that aims to reflect on how environmental education can contribute to the formation of critical and responsible citizens, able to participate in a democratic political decisions, economic development of present and future generations. For this we used to dialogue with the authors considered a reference in research on environmental education and participatory management: Freire (2005); Reigota (2006, 2007), Leff (2001, 2006) and others. At the end, one realizes that the interrelationship of participatory management of natural resources and critical environmental education, ethics and emancipatory is of fundamental importance in the exercise of citizenship and the preservation and solving environmental problems. Keywords: sustainable development, environmental education, participatory management

463 Introdução Sabe-se que, atualmente, a problemática ambiental está cada vez mais em evidência, em todo planeta, tendo em vista a crescente degradação ambiental que assola o homem contemporâneo, forçando-o a repensar a forma de ser, agir e pensar. A diversidade de recursos existentes na natureza levou as sociedades ao errôneo entendimento de que estes seriam inesgotáveis (BECK, et. al., 2009). Os desequilíbrios ambientais globais atuais já demonstram que este erro de percepção requer a necessidade de mudança de comportamento e paradigmas no que se refere à visão econômica, empresarial, social e ecológica (LIRA; CÂNDIDO, 2008). Assim, acredita-se na Educação Ambiental e que seu grande desafio seja desenvolver novos conhecimentos e habilidades, valores e atitudes, objetivando a melhoria da qualidade ambiental e efetivamente a elevação da qualidade de vida para as gerações presentes e futuras. Por isso, é indispensável tratá-la a partir de sua vinculação direta com a ética e a cidadania, situando-a numa reflexão mais ampla que envolve uma visão sociológica e uma visão política de mundo. Nesse sentido, este artigo tem como objetivo, estimular o debate ambiental e refletir o papel da educação ambiental na construção do conhecimento por parte da sociedade que gerenciará as ações de seus atores em relação ao meio ambiente.

464 Contextualização histórica global da questão ambiental Sabe-se que os progressos científicos e tecnológicos, a globalização da sociedade, a transformação dos processos de produção e suas consequências na educação, trouxeram à tona novas exigências à conscientização das pessoas objetivando reverter o atual quadro de crise em que se encontra a questão ambiental. Para Leff (2001), a crise ambiental que a humanidade se depara tornou-se mais evidente, a partir do século XX, refletindo-se na irracionalidade ecológica dos padrões dominantes de produção e consumo, marcando os limites do crescimento econômico e iniciando um debate teórico e político para valorizar a natureza e integrar as externalidades socioambientais ao sistema econômico. No final da década de 60 e início da década de 70, a problemática ambiental passou a ser avaliada de forma mais global, tornando-se tema de inquietação entre autoridades governamentais de diversos países, desencadeando a realização de uma série de encontros e conferências que tinham como foco a temática ambiental. Apesar da realização de várias conferências nacionais e internacionais sobre o meio ambiente, com propostas e estratégias para a implantação da educação ambiental para a melhoria da qualidade de vida no planeta, é possível perceber que a EA é um campo de conhecimento que ainda se encontra em construção. Por ser um poderoso instrumento político para o desenvolvimento de um mundo sustentável, objetivando a melhoria da qualidade de vida da população mundial, acredita-se que a EA é um fazer pedagógico que se realiza aos poucos, sendo organizada dentro de uma visão histórica, respeitando as necessidades naturais e os valores culturais de cada período. Para Reigota (2007), a educação ambiental deve estabelecer uma nova aliança entre a humanidade e a natureza que deverá ser baseada no diálogo entre gerações e culturas, na procura da tripla cidadania: local, continental e planetária, e da liberdade na sua mais completa tradução, tendo subentendida a perspectiva de uma sociedade mais justa, tanto em nível nacional quanto internacional. A inserção da educação ambiental em todos os níveis de ensino, como proposto pela Constituição Brasileira, assim como Política Nacional de Educação Ambiental, a nova Lei de

465 Diretrizes e Bases da Educação e o Parâmetros Curriculares Nacionais PCN, apontam que o Brasil tem demonstrado empenho de que a educação ambiental seja estabelecida em todo território nacional. Os parâmetros definidos nos PCN vêm fortalecer a importância de se trabalhar a educação ambiental como forma de transformação da conscientização dos indivíduos. Assim, é plausível entender a educação ambiental como um processo de construção de valores sociais, de conhecimentos e atitudes voltadas para alternativas sustentáveis de desenvolvimento, por todos os indivíduos e pela coletividade no decorrer da história. Neste sentido, o pensar e fazer sobre o meio ambiente está diretamente vinculado ao diálogo entre os saberes, à participação, aos valores éticos como valores essenciais para fortalecer a complexa interação entre a sociedade e a natureza. Nesse contexto, a educação ambiental pode contribuir de forma significativa com a interdisciplinaridade e a formação da cidadania crítica e responsável, capaz de participar de forma democrática das decisões políticas, econômicas do desenvolvimento das presentes e futuras gerações. Gestão participativa dos recursos naturais A gestão dos recursos naturais é um dos componentes essenciais do processo de regulação das interrelações entre os sistemas socioculturais e o meio ambiente biofísico (VIEIRA; WEBER, 2000; GODARD, 2002). Evidencia-se que ela envolve a diversidade de representações dos atores sociais e a variabilidade nas diferentes escalas espaciais (do local ao global) e temporais (do curto ao longo prazo). Para tanto, a gestão participativa dos recursos naturais configura-se como uma ação importante no estabelecimento mais harmônico entre a sociedade e o meio ambiente, buscando compromissos diversos de atuação coletiva, seja no âmbito da sociedade civil ou pública (VIEIRA, 2005). Desta forma, a gestão, pautada numa relação dialógica, pode ser identificada como uma das possibilidades para contribuir na construção de uma sociedade, que vai do plano individual para o coletivo, cooperando para uma nova forma de uso, proteção, conservação e

466 gerenciamento dos recursos naturais, proporcionando, assim, a melhoria da qualidade de vida para todos os cidadãos (LOUREIRO, et al. 2005). Assim, o processo de gestão dos recursos naturais deve envolver uma nova cultura, uma nova consciência que nos leve a pensar e adotar outras maneiras de viver o agora, pensando o amanhã. Os recursos naturais dependem de atos e ações responsáveis que devem ser conduzidas por uma ação coletiva das instituições, dos governos e da sociedade civil organizada. Educação ambiental como instrumento de gestão participativa dos recursos naturais Segundo Phillippi Jr. et al (2004), uma gestão pode ser compreendida como um processo que se origina a partir de adequações ou modificações no ambienta natural, de modo a adequá-lo às necessidades individuais ou coletivas, gerando, dessa forma, ambientes nas suas mais diversas variedades de adaptação e escala e admitindo aos atores sociais e às comunidades participarem na elaboração de novos valores éticos e sociais, desenvolvendo mudança de atitudes, habilidades e competências direcionadas à preservação e utilização sustentável dos recursos naturais. Nesse contexto, a educação ambiental é entendida como um dos instrumentos básicos e indispensáveis à sustentabilidade dos processos de gestão dos recursos naturais, tendo em vista que a eficiência da gestão de uma área depende do grau de educação da sociedade envolvida. Daí, afirma Philippi Jr. (2004, p.468) a educação é a transformação do sujeito que ao transformar-se, transforma o seu entorno. Por isso, a educação deve fazer parte da prática da gestão, como um conhecimento indispensável ao tratamento da questão ambiental. Nessa perspectiva, Reigota (2006, p.10) afirma que a educação ambiental deve ser entendida como educação política, no sentido de que ela reivindica e prepara os cidadãos para exigir justiça social, cidadania nacional e planetária, autogestão e ética nas relações sociais e com a natureza. Sendo assim, compreender a importância da educação ambiental voltada, principalmente, para a sustentabilidade dos recursos planetários é o novo desafio de todos os atores envolvidos no processo de gestão participativa dos recursos naturais.

467 Considerações Finais Este estudo teve o seu foco centrado na educação ambiental e na gestão participativa dos recursos naturais. Diríamos que a educação ambiental fundamentada em uma gestão dos recursos naturais responsável tem por objetivo o desenvolvimento de uma cidadania por parte de todos os atores sociais. Nessa perspectiva, pode-se dizer que o novo paradigma a ser desenvolvido na busca de uma educação direcionada para uma gestão participativa dos recursos naturais exige uma nova cultura de envolvimento individual, coletivo e comprometido de toda a sociedade.

468 Referências BECK, CG; et. al. Problemática dos Resíduos Sólidos Urbanos do Município de João Pessoa: Aplicação do Modelo P-E-R. Qualit@s, v.8. n. 3, 2009. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 29. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. GODARD, O. A gestão integrada dos recursos naturais e do meio ambiente: conceitos, instituições e desafios de legitimação. In: VIEIRA, P. F., WEBER, J. (Orgs.). Gestão de recursos renováveis e desenvolvimento: novos desafios para a pesquisa ambiental. São Paulo: Cortez, 2002, p. 201-26 LEFF, E. Saber Ambiental: sustentabilidade, racionalidade, Complexidade, Poder. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. 343p. LEFF, E. Epistemologia Ambiental. 4ed. São Paulo: Cortez, 2006. 239p. LIRA, WS.; CÂNDIDO, GA. Análise dos Modelos de Indicadores no Contexto do Desenvolvimento Sustentável. Revista Perspectivas Contemporâneas, Campo Mourão, v. 3, n. 1, p. 31-45, 2008. LOUREIRO, CFB. et al. Educação Ambiental e gestão participativa em unidades de conservação. 2 ed. (revisada e atualizada). Rio de Janeiro: IBAMA, 2005. 44p. PHILLIPPI JR, A. et al. Uma introdução à questão ambiental. In: Curso de Gestão Ambiental. Barueri: Manole, 2004. 1050p. REIGOTA, M. Meio Ambiente e representação social. 7 ed. São Paulo: Cortez, 2007.coleção Questões de nossa época. 87p.

469 REIGOTA, M. O que é educação ambiental. São Paulo: Brasiliense, 2006. Coleção primeiros passos. 62p. VIEIRA, PF.; WEBER, J. (Orgs.) Introdução geral: sociedades, natureza e desenvolvimento viável. In: P. F. Vieira e J. Weber (Orgs.). Gestão de recursos naturais renováveis e desenvolvimento: novos desafios para a pesquisa ambiental. São Paulo: Cortez, 2000, p. 17-49. VIEIRA, PF. et al. Gestão integrada e participativa de recursos naturais: conceitos, métodos e experiências. Florianópolis: Secco/APED, 2005. 416p. Recebido: 05/2012 Aceito: 05/2012