A PRÁTICA PEDAGÓGICA ESCOLAR NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL

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Transcrição:

00717 A PRÁTICA PEDAGÓGICA ESCOLAR NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL Resumo Maria Goreth da Silva Vasconcelos- UFAM Christiane da Costa Bruce- UFAM Andréia Paula Ferreira de Araújo- IFAM O trabalho apresenta os resultados parciais de um estudo que objetiva identificar as práticas pedagógicas escolares desenvolvidas junto a crianças e adolescentes em situação de acolhimento institucional, analisando-as no contexto das políticas públicas de assistência e inclusão social. Trata-se de um estudo de caso com aporte dialético e abordagem qualitativa, realizada junto à instituição de acolhimento institucional: Casa Mamãe Margarida na cidade de Manaus. A técnica de coleta de dados utilizada foi à observação livre, a qual não se restringe a simplesmente olhar, e sim destacar algo específico de um conjunto, prestando atenção em suas características (TRIVIÑOS, 2010). Ainda, entrevistas semiestruturadas aplicadas junto a profissionais da instituição, a saber: sete professores, dois assistentes sociais, um psicopedagogo, dois psicólogos, dois pedagogos, um gestor educacional e dez arte educadores. Através dos resultados percebermos a importância que a referida instituição presta aos trinta e cinco sujeitos nela acolhidos em situação de proteção social especial. No contexto das políticas públicas sociais cumpre papel de significativa importância, trabalhando a inclusão social dos mesmos e ainda mantendo diálogo com outros setores da sociedade. Referente à prática pedagógica escolar alguns elementos precisam ser repensados de modo a considerar as reais situações dos sujeitos (crianças e adolescentes) e as demandas educacionais emergentes em tempos de contemporaneidade, isto envolve a formação docente, constituição do projeto político pedagógico, currículos escolares, conteúdos, metodologias, motivação para o estudo e o entendimento deste para formação e desenvolvimento humano. A pesquisa continua em andamento com previsão de conclusão para junho de dois mil e quinze. Palavras chave: Acolhimento, prática pedagógica, inclusão social Introdução A atualidade se inscreve para nós como um momento dinâmico que estabelece novas vivências, novas formas de interação social cujas consequências resultam em novas demandas sociais. A rede de complexidade instaurada na contemporaneidade torna-se um universo sem precedentes. O paradigma inclusivo é um dos posicionamentos que emerge e se destaca em tempos de contemporaneidade. O projeto inclusivo demanda apoio das instituições sociais. É assim que os abrigos de crianças e adolescentes em situação de proteção social especial se apresentam para os dias de hoje, ou seja, como um contexto que visa promover mediante processos socioeducativos a reintegração social de sujeitos que por direitos fundamentais violados precisaram se retirar de seus contextos primários de proteção. Tais sujeitos, à medida que acolhidos precisam manter relação direta com os demais setores básicos de apoio entre eles o escolar.

00718 No intuito de identificar as práticas pedagógicas escolares desenvolvidas junto a crianças e adolescentes em situação de acolhimento institucional, analisando-as no contexto das políticas públicas de assistência e inclusão social, realizamos o referido estudo. Neste artigo explicitamos os resultados parciais obtidos. Na primeira parte, apresentamos uma breve discussão em torno do entendimento da dinâmica contemporânea e sua relação com a construção do projeto social inclusivo; mencionamos considerações em torno da escola inclusiva, suas práticas pedagógicas e o atendimento de crianças e adolescentes em situação de acolhimento institucional, situando neste contexto os resultados parciais da pesquisa. Por fim fazemos as considerações finais sobre este momento de estudo. Contemporaneidade e a construção da perspectiva educacional inclusiva A atualidade se inscreve para nós como um momento envolto por novas transformações e novas vivências cuja configuração se complexifica na dinâmica social, nas interações sociais, na relação dos sujeitos com a sociedade, com seus pares e com ele mesmo. Podemos mencionar que as modificações presentes na sociedade contemporânea imprimem novos significados no cotidiano dos sujeitos nos quais os conflitos se tornam condição de reapropriação dos sentidos da ação social e individual. (BRITO, 2002, p.108). O sujeito passou a ser referência central neste momento, sendo marcado pela individualização da vida. Neste quadro a escola de nosso tempo se inscreve com a difícil tarefa de repensar seus fundamentos, redefinir suas práticas, apresentando uma resposta educativa capaz de acompanhar a demanda instaurada. Como instância de mediação que é além de contribuir para o desenvolvimento pleno do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (Art. 2º da LDBEN- 9394/96), precisa estabelecer quando de sua prática pedagógica posicionamentos de respeito à subjetividade humana, ao direito dos sujeitos e de seus pares, promovendo assim a tão desejada educação inclusiva. A escola na perspectiva da inclusão é um espaço aberto à promoção de uma educação comum a todos independente de sua posição social, etnia, credo religioso, gênero, sexualidade, faixa etária entre outros [...] A educação inclusiva constitui um paradigma educacional fundamentado na concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis, [...] (BRASIL, 2007, p.1)

00719 Neste contexto situamos a educação de crianças e adolescentes em situação de acolhimento institucional, considerando-os como pertencentes ao quadro de luta por inclusão, tendo na escola espaço para tanto. É importante considerar que os mesmos fazem parte de um quadro decorrente de exclusão social. Ao se encontrarem fragilizadas, as bases de apoio muita das vezes deixam de cumprir sua função protetiva, o que pode resultar em violação de direitos daqueles a quem deveriam proteger. Daí necessidade de acolhimento, (...) acolhimento institucional é uma das respostas de proteção do Estado a situações específicas de violação de direitos, quando esgotadas as possibilidades de resolução no ambiente familiar e comunitário da criança e do adolescente em questão (...) (BERNARDI, 2010, p. 20). Refere-se assim às experiências de cuidados prestados as crianças e aos adolescentes fora de sua casa e que deve ocorrer em caráter excepcional e temporário. Os mesmos precisam se constituir em um espaço de proteção e de desenvolvimento, o que sugere pensar na qualidade de interações ali vivenciadas, entre elas a educação escolar. Não basta retirar os sujeitos do seu contexto primário, mas assegurarlhes à plena vivência dos seus direitos, entre eles à educação. Como Sobre a pesquisa (...) uma comunidade que fundamenta e orienta sua ação no reconhecimento do valor da pessoa rumo a uma escola de todos e para todos, num autêntico processo inclusivo da diversidade e das diferenças, apoiando a aprendizagem, propiciando as interações suscetíveis de encorajar os menos habilitados, promovendo a reflexão, discussão e questionamento de suas práticas de ensino e utilizando práticas pedagógicas que satisfaçam as necessidades educativas de todos os alunos e que, acima de tudo, estes se sintam aceitos, compreendidos e respeitados em seus diferentes estilos de aprender, conviver e ser. (PIRES, 2006 p, 85) Constitui-se em um estudo de caso com aporte dialético e abordagem qualitativa, realizado junto a instituição de acolhimento institucional Casa Mamãe Margarida na cidade de Manaus. O método qualitativo é aquele capaz de incorporar a questão do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos, às relações, e às estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas tanto no seu advento quanto na sua transformação, como construções humanas significativas. (MINAYO, 1994, p.10). A técnica de coleta de dados utilizada foi à observação livre. Para Triviños (2010), esta é uma técnica que privilegia a pesquisa qualitativa, sendo que observar não é simplesmente olhar, e sim destacar algo específico de um conjunto, prestando atenção em suas características, no estudo em destaque as práticas pedagógicas escolares. Utilizamos ainda entrevistas semi- estruturadas junto a profissionais da referida instituição, a saber: sete professores,

00720 dois assistentes sociais, um psicopedagogo, dois psicólogos, dois pedagogos, um gestor educacional e dez arte- educadores. Os dados obtidos nos possibilitaram perceber que na instituição existe compromisso com a proteção e inclusão social de trinta e cinco crianças e adolescentes em acolhimento. A gestão procura realizar um trabalho participativo junto à comunidade local e escolar. Busca parcerias com outros setores da sociedade para questões relacionadas à saúde, educação e assistência social, atendendo satisfatoriamente os abrigados. Mantem em suas dependências em parceria com a Secretaria Municipal de Educação salas de aulas de Ensino Fundamental (1º a 5º anos), recebendo ainda das Obras Sociais Católicas parte dos recursos para suas as atividades. Sobre a prática pedagógica escolar percebemos na fala dos educadores disposição em promover ações que atendam as demandas socioeducativas da instituição. Que existe compromisso e identificação com a causa. Contudo identificamos ambiguidades e confusão na articulação teoria e prática pedagógica. Destacamos ainda o fato de que certas temáticas sociais imprescindíveis para o esclarecimento, reflexão, fortalecimento psicossocial, construção de posturas de aceitação, respeito, senso de pertencimento, protagonismo social e valor humano, deixam de ser trabalhadas de modo processual, sendo utilizadas em situações pontuais. Há prioridade ao conhecimento historicamente acumulado, em detrimento as temáticas transversais e transdisciplinares. Quanto à metodologia utilizada nas salas de aula, há predomínio das aulas expositivas com a utilização de recursos tecnológicos atuais e do livro didático. A relação professor e alunos se desenvolvem satisfatoriamente com posturas de respeito entre ambos. Destacamos como ponto positivo a inclusão na dinâmica escolar, em horários específicos de atividades como: oficinas de artesanato, aulas de música, reforço escolar, atividades culturais, físicas e outras que contribuem para o desenvolvimento integral dos sujeitos. Considerações finais Percebermos a importância que as instituições de acolhimento institucional como a referida neste estudo exercem na vida de crianças e adolescentes em situação de proteção social especial. Entendemos que estas no contexto das políticas sociais cumprem papel de significativa importância no sentido da emancipação social de sujeitos oriundos de contextos de exclusão social.

00721 No que se refere ao trabalho escolar promovido nestes contextos ou em parceria com os mesmos acreditamos que alguns elementos relativos à prática pedagógica precisam ser repensados de modo a considerar as reais situações e as demandas educacionais emergentes em tempos de contemporaneidade. É preciso se pensar na organização curricular, nos conteúdos e metodologias de trabalho a serem desenvolvidas junto aos referidos sujeitos de modo a promover não apenas acesso ao conhecimento, mas a sua significação social e uso na realidade. A motivação dos sujeitos para o estudo e o entendimento deste para sua formação e desenvolvimento humano. Entendemos a necessidade de contínuos processos de formação docente continuada, os quais possibilitarão reflexão sobre a prática e planejamento de novos horizontes bem como a continuidade do trabalho interdisciplinar planejado coletivamente como ali já vem ocorrendo, o que assim consideramos um grande avanço. Referências BERNARDI, Dayse C. F. (Coord) Cada caso é um caso : estudos de caso, projetos de atendimento. São Paulo : Associação Fazendo História : NECA Associação dos Pesquisadores de Núcleos de Estudos e Pesquisas sobre a Criança e o Adolescente, 2010. -- (Coleção Abrigos em Movimento) BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. LDB 9.394, de 20 de dezembro de 1996. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial. Brasília: MEC/SEESP, 1994. MEC/ SEESP, 2007, p.1) BRITO. Luiz Carlos Cerquinho de Brito, Formação, socialização e construção do conhecimento adolescente. Tese de doutorado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: 2002. MINAYO, Maria Cecília de Souza, DESLANDES, Suely Ferreira, GOMES, Otávio Cruz Neto Romeu. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 21ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. PIRES, José. Por uma ética da inclusão, In: MARTINS, Lúcia de Araújo Ramos [et al.] organizadores. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo da Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação, São Paulo: Atlas, 2010.