CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
A pessoa que possui apenas o desejo de praticar um fato típico não pode ser considerada criminosa, motivo pelo qual não são punidos os atos preparatórios do crime.
Excepcionalmente, o CP pune no art. 288 a formação de bando ou quadrilha, e quem fabrica ou possui objetos destinados a produção de moeda falsa (art. 291).
Na lei especial pune-se o porte ilegal de arma (art. 14 da Lei 10.826/03).
Só terá relevância jurídica e, portanto, poderá gerar punição o fato consumado ou tentado. A intenção, por si só, é irrelevante.
CONSUMAÇÃO Art. 14: Diz-se o crime: I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;.
Conceito: É a realização completa dos elementos do tipo. Para saber se o crime foi consumado é necessário confrontar o fato com o que dispõe o tipo penal, mormente o seu núcleo (verbo).
Consumação nos crimes: - materiais, omissivos impróprios e culposos: quando o resultado ocorre. - omissivos próprios: quando ocorre a abstenção - mera-conduta: com o comportamento previsto no tipo
- formal: com a prática da conduta, independente da ocorrência do resultado. - qualificado pelo resultado: quando ocorre o resultado agravador.
- permanente: desde que configurados os seus requisitos até que cesse a conduta do agente. - Habituais: quando houver reiteração dos atos que configuram o crime.
Crimes materiais tributários: se o crime é tributário ou previdenciário, somente se consuma quando encerrado o procedimento administrativo o débito é incluído em dívida ativa.
Isto porque antes da inscrição em dívida ativa o crédito não possui exigibilidade.
Súmula Vinculante nº 24: Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.
Exaurimento O exaurimento (post factum impunível) é uma etapa posterior à consumação, caracterizando um indiferente penal.
Mas quando atinge novo bem jurídico pode configurar crime autônomo, uma qualificadora ou uma causa de aumento de pena (majorante).
TENTATIVA Art. 14: Diz-se o crime: I - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente..
Conceito: É a interrupção do crime por fato estranho à vontade do agente, após o início da execução.
O Código Penal não prevê a tentativa em cada tipo penal. Portanto, trata-se de uma norma complementar. Deve-se associar o art. 14, II, da Parte Geral ao crime consumado previsto na Parte Especial.
ITER CRIMINIS: Conceito: É o percurso percorrido pelo agente para a consumação do delito.
O Iter criminis tem duas fases: - Interna - Externa
Fase interna: Cogitação: idéia de praticar o delito. Deliberação: ponderação dos prós e contras. Resolução: quando decide praticar o delito.
Fase Externa: manifestação: quando o agente fala o que pretende fazer. Preparação: quando exterioriza a idéia através de atos. No Brasil não é punido.
execução: realização da conduta típica através de atos idôneos e adequados para produzir o resultado.
Atos preparatórios X Atos executórios
Teoria subjetiva:não tem diferença, porque a vontade do agente é que determina a punição. Então será punido em ambos os casos, seja no ato preparatório ou na execução.
Teoria objetiva: O início da execução constitui o ato que permite a concretização do tipo. Não há punição da cogitação e dos atos preparatórios, mas apenas daquele adequado a produzir o resultado criminoso.
A teoria objetiva se subdivide em: Teoria objetivo-formal: atos executórios são os que fazem parte do núcleo do tipo. Dentro desta teoria há, ainda, a teoria da hostilidade ao bem jurídico.
O ato executório seria aquele que ataca o bem jurídico protegido pelo tipo penal. Diferencia-se o ato preparatório do executório na análise: houve ou não uma agressão direta ao bem.
Teoria objetivo-material: são atos executórios não apenas os que atacam o bem jurídico ou dizem respeito ao núcleo, mas também os imediatamente anteriores ao início da prática do verbo típico.
Teoria objetivo-individual: Segundo Zaffaroni e Pierangeli, não basta ser um ato que dá início à prática do verbo do tipo para caracterizá-lo como executório. Deve-se verificar o plano do agente.
No Brasil adota-se a teoria objetiva,mais especificamente a teoria objetiva-formal, com a hostilidade ao bem jurídico, mas já há jurisprudências adotando a teoria objetivo-individual.
Ex: aquele que efetua um disparo de arma de fogo estará praticado ato executório de homicídio porque apertar o gatinho é o único ato capaz de atacar o bem jurídico protegido, segundo a teoria objetivo-formal.
Já para a teoria objetivo-material e objetivo-individual, só o fato de pegar a arma já configuraria ato executório porque demonstra claramente a intenção do agente de efetuar um disparo, colocando em risco o bem jurídico tutelado.
Trata-se do ato imediatamente anterior ao disparo, que realiza o verbo núcleo do tipo. Não se estaria punindo a intenção porque é um ato que demonstra claramente a vontade de matar.
Em caso de dúvida, deve-se analisar o ato como preparatório.
REQUISITOS DA TENTATIVA: - Conduta dolosa - início de execução - ausência de consumação
Tentativa perfeita: O agente esgota todos os meios que tinha ao seu alcance. Tentativa imperfeita: O agente é interrompido.
Tentativa branca ou incruenta: tentativa sem lesões ao bem jurídico.
CRIMES QUE NÃO ADMITEM A TENTATIVA
Culposos: o resultado é involuntário. Preterdolosos: o resultado é involuntário.
Contravenção Penal: disposição legal. art. 4º da LCP Dec-lei 3688/41: Não é punível a tentativa de contravenção.
Habituais: os atos isolados são irreleventes, configurando o crime somente em caso de reiteração. ex: Casa de Prostituição art. 229, Rufianismo art. 230, Curandeirismo art. 284.
Delito condicionado: é necessária a ocorrência de uma condição para estar caracterizado o crime. Ex: art. 122: induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio. a lei pune somente quando ocorre o resultado (lesão corporal ou morte).
Crime de atentado: Quando a tentativa é punida com a mesma pena do crime consumado. Ex: Art. 352 Evasão mediante violência contra a pessoa.
Art. 352: Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa: Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena correspondente à violência.
Permanentes na forma omissiva: não há como fracionar (cárcere privado por omissão de autoridade em liberar o preso)
Unissubsistente: porque se consuma com o ato, não admitindo iter criminis (injúria) Omissivo Próprio: não admite fracionamento. Ou o agente faz o seu dever e não é punido, ou deixa de fazer e comete crime.
Crimes com condutas abrangentes: O tipo penal menciona que de qualquer modo poderá ser praticado o delito.
DIMINUIÇÃO NA TENTATIVA Considera-se para fins de redução pela tentativa o percurso que foi percorrido pelo agente. Quanto menor o iter criminis maior a redução, ou seja, quanto mais longe da consumação maior a diminuição da pena.
Considerações A manifestação do agente não é punida quando se refere à tentativa daquele crime, mas pode configurar crime autônomo, como é o caso da ameaça (art. 147 do CP).
A preparação não é punida no Brasil, mas pode configurar crime autônomo.
A análise da tentativa deve ser feita no caso concreto, diante das circunstâncias do delito.