VIABILIDADE DE Bacillus subtilis E DE Bacillus clausii EM SUCO DE CAJU (Anacardium occidentale L.) J.A. Cruz 1, N.J.P. Souza 2, A.L.C. Souza 3, R.R. Souza 4, R.C.M. Cavalcante 5, L.P. Lobato 6 1- Departamento de Farmácia Universidade Federal de Sergipe (Campus Prof. Antônio Garcia Filho) CEP: 49400-000 Lagarto SE Brasil e-mail: (joselmafarmacia@gmail.com) 2- Departamento de Nutrição Universidade Federal de Sergipe (Campus Prof. Antônio Garcia Filho) CEP: 49400-000 Lagarto SE Brasil e-mail: (njrdm@hotmail.com) 3- Departamento de Nutrição Universidade Federal de Sergipe (Campus Prof. Antônio Garcia Filho) CEP: 49400-000 Lagarto SE Brasil e-mail: (alnutri@gmail.com) 4- Departamento de Engenharia Química Universidade Federal de Sergipe (Cidade Universitária José Aloísio de Campos ) CEP: 49100-000 São Cristovão SE Brasil e-mail: (rrsouza@ufs.br) 5- Departamento de Farmácia Universidade Federal de Sergipe (Campus Prof. Antônio Garcia Filho) CEP: 49400-000 Lagarto SE Brasil e-mail: (rafaelciro@gmail.com) 6- Departamento de Farmácia Universidade Federal de Sergipe (Campus Prof. Antônio Garcia Filho) CEP: 49400-000 Lagarto SE Brasil e-mail: (lucianalobato.11@gmail.com) RESUMO: A maioria dos produtos probióticos é produzida em matrizes lácteas, impossibilitando o consumo por pessoas que têm alguma restrição ao uso do leite. Contudo, os sucos de frutas têm sido testados como matriz para a adição de bactérias probióticas, além de serem alimentos ricos em vitaminas e minerais que trazem benefícios à saúde. A partir disso, o objetivo deste trabalho foi avaliar a viabilidade de bactérias do gênero Bacillus em matriz alimentar não láctea: suco de caju. O monitoramento foi realizado através de ensaios microbiológicos para contagem dos microrganismos durante 60 dias. Os microrganismos probióticos avaliados demonstraram viabilidade durante o armazenamento com contagens acima de 10 9 UFC ml -1, sendo este número desejável e preconizado pela legislação brasileira. Conclui-se que os sucos de caju inoculados com estes microrganismos do gênero Bacillus têm um grande potencial para tornarem-se uma alternativa saudável, saborosa e isenta de lactose e caseína no mercado de alimentos funcionais. ABSTRACT: Most probiotic products are produced in dairy matrices, making it impossible to use by people who have some restrictions on the use of milk. However, fruit juices are have been tested as a template for addition of probiotic bacteria, and they are foods rich in vitamins and minerals that provide health benefits. From this, the objective of this study was to evaluate the viability of bacteria of the genus Bacillus in non-milk food matrix: cashew juice. The monitoring was performed by microbiological assays for counting microorganisms for 60 days. The evaluated probiotic microorganisms demonstrated viability during storage with counts above 10 9 CFU ml -1, which is desirable and recommended number by Brazilian law. It follows that cashew juices inoculated with these microorganisms of the genus Bacillus have a great potential to become a healthy alternative, tasty and free of lactose and casein in the functional food market. PALAVRAS-CHAVE: Alimento Funcional; Probiótico; Anacardium occidentale L. KEYWORDS: Functional food; Probiotic; Anacardium occidentale L.
1-INTRODUÇÃO A Resolução nº 18 de 30 de abril de 1999, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Brasil (ANVISA) delibera sobre alegações de propriedade funcional e de saúde e diz que todo aquele alimento ou ingrediente que, além das funções nutricionais básicas, quando consumido como parte da dieta usual produz efeitos metabólicos e/ou fisiológicos e/ou efeitos benéficos à saúde. Entre os alimentos funcionais que podem utilizar estas alegações há os probióticos, desde que cumpridos os requisitos para tal. Os probióticos são geralmente definidos como microrganismos vivos, preferencialmente de origem humana que, mediante a ingestão em quantidades específicas e suficientes, afetam beneficamente o hospedeiro (Vandenplas et al., 2014). Uma gama de microrganismos é utilizada como probióticos, sendo que os Lactobacillus e Bifidobacterium, bactérias gram positivas produtoras de ácido lático, ganham destaque por serem microrganismos que já fazem parte da microbiota do trato gastrintestinal e agem como probióticos, aderindo ao epitélio intestinal e colonizando o trato (Awaisheh, 2005). No entanto, há outros microrganismos comprovadamente probióticos, como alguns do gênero Bacillus. Komatsu et al. (2008) mostra em seu trabalho, assim como inúmeros outros autores, que as culturas probióticas têm sido acrescentadas, preferencialmente, a iogurtes e outros produtos lácteos fermentados. Por outro lado, a introdução destes microrganismos em produtos não lácteos permitiria o seu consumo por pessoas impossibilitadas de fazer uso da proteína do leite, intolerantes à lactose, hipercolesterolêmicas, que se recusam a ingerir produtos lácteos por razões particulares ou quando estes produtos não são acessíveis (Rivieira-Espinoza et al., 2010). Contudo, os sucos têm sido visualizados como veículo ideal para ingredientes funcionais, visto que, são inerentemente ricos em nutrientes benéficos, além disso, em sua composição contém produtos que lhes confere sabor e flavor agradáveis a todas as idades (Vasudha e Mishra, 2013). A partir disso, o presente trabalho teve por objetivo verificar a viabilidade do Bacillus subtilis, Bacillus subtillis var. natto e do Bacillus clausii em suco de caju durante 60 dias. 2-MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi realizada nos laboratórios do Departamento de Farmácia da Universidade Federal de Sergipe, Campus Lagarto. Os sucos de caju foram comprados em um supermercado do Povoado Colônia 13, município de Lagarto- SE. O Bacillus clausii foram adquiridos comercialmente (Enterogermina ) com 10 8 UFC (unidades formadoras de colônia) do microrganismo, segundo instruções do fabricante. Bacillus subtilis foram adquiridos através de cepas cultivadas no laboratório de pesquisa. A ativação dos Bacillus foi realizada em meio BHI por 24h a 37 C numa incubadora sob agitação de 200 rpm (shaker). Bacillus subtilis var. natto foi isolado a partir do natto, alimento tradicional japonês, comercializado no CEAGESP em São Paulo. Os Bacillus subtilis e do Bacillus subtilis var. natto passaram por um tratamento prévio antes da inoculação segundo descrito por Tavares et al. (2013). Após esse tratamento, os microrganismos foram adicionados aos sucos de caju, que foram conservados sob refrigeração, conforme mostra a Tabela 1.
Tabela 1 - Formulação dos sucos de caju in natura e probióticos. PRODUTO SUCO 1 SUCO 2 SUCO 3 SUCO 4 FORMULAÇÕES Suco in natura Suco + B. subtilis Suco + B.clausii Suco + B. subitilis var. natto Em tempos determinados (24h, 48h, 72h, 7 dias, 15 dias, 20 dias, 40 dias e 60 dias) foram retiradas alíquotas das preparações potencialmente probióticas no intuito de se inferir acerca do número de UFC viáveis ao longo do tempo. As alíquotas dos sucos de caju foram diluídas em solução salina a 0,9% em diferentes diluições e posteriormente plaqueadas (espalhamento em placa) em ágar nutriente. As placas foram levadas invertidas para a incubadora a 32 C por 24h para leitura das colônias. 3-RESULTADOS E DISCUSSÃO Nas Figuras 1, 2 e 3 estão apresentadas graficamente a viabilidade dos microrganimos avaliados em suco de caju durante 60 dias. Pode ser observado que durante o período de armazenamento as contagens dos Bacillus mantiveram-se acima de 10 9 UFC/mL, concentração esta determinada pela legislação brasileira para um produto ser considerado probiótico, tanto para B. clausii, B. subtilis quanto para B. subitilis var. natto. Figura 1 - Viabilidade de B. clausii por 60 dias no suco de caju armazenado sob refrigeração a 4 ºC. Segundo Pereira et al. (2010) a viabilidade de microrganismos probióticos em suco de fruta é imperativa a partir de um ponto de vista de saúde. No entanto, para ser selecionado como cepas probióticas para uso comercial, o microrganismo deve se manter viável e com atividade funcional ao longo do período de vida útil do produto. E isto foi alcançado no acompanhamento da contagem dos
microrganismos avaliados em suco de caju, ou seja, houve manutenção da viabilidade durante os 60 dias de testes. Figura 2 - Viabilidade do B. subtilis (natto) por 60 dias no suco de caju armazenado sob refrigeração a 4 ºC. Figura 3 - Viabilidade do B. subtilis por 60 dias no suco de caju armazenado sob refrigeração a 4 ºC Comparativamente, experimentos realizados por Pereira et al. (2010) mostram que o Lactobacillus casei, manteve-se viável em suco de caju por um período de 42 dias em refrigeração de 4º C. No entanto, os autores relatam que foram inoculados 8,41 ± 0,04 Log UFC/mL, sendo que, ocorreu um aumento durante o período de 21 dias de armazenamento, chegando 8,72 ± 0,07 Log UFC/mL. A partir do período de 35 dias, houve uma pequena diminuição, mesmo assim, o microrganismo se manteve viável, e dentro do limite determinado pela legislação, para um produto
probiótico. Contudo, o estudo demonstrou que, o uso do suco de caju como substrato para crescimento probiótico e para o desenvolvimento de produtos com alegação funcional é uma boa escolha. 4-CONCLUSÃO A partir dos resultados obtidos, pode-se concluir que há viabilidade de microrganismos do gênero Bacillus na matriz alimentar suco de caju, mesmo que seja um meio rico em metabólitos secundários típicos dos materiais vegetais, que poderiam inibir os microrganismos ou mesmo diminuir a quantidade, tornando-os fora dos padrões estabelecidos na legislação para considerar um alimento probiótico. Esta possibilidade de inovação tecnológica na ciência de alimentos pode favorecer a comercialização de produtos probióticos isentos de lactose, atendendo ao público especial intolerante à lactose ou alérgico à caseína ou intolerante a componentes do leite, ou ainda aqueles que optaram, devido aos seus hábitos de vida, por não consumirem leites e derivados. No entanto, é necessária a continuidade das pesquisas para confirmar os resultados iniciais obtidos e determinação da vida útil do produto. 5-REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Awaisheh, S. S., Haddadin, M. S. Y., & Robinson, R. K. (2005). Incorporation of selected nutraceuticals and probiotic bacteria into a fermented milk. International Dairy Journal, 15, 1184-1190. Brasil, Ministério da Saúde. (1999). Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Aprova o Regulamento Técnico que estabelece as Diretrizes Básicas para a Avaliação de Risco e Segurança dos Alimentos. (Resolução nº 17, de 30 de abril 1999). Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Komatsu, T. R., Buriti, F. C. A., & SAAD, S. M. I. (2008). Inovação, persistência e criatividade superando barreiras no desenvolvimento de alimentos probióticos. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, 44(3), 329-347. Pereira, A. L. F., Maciel, T. C., & Rodrigues, S. (2010). Probiotic beverage from cashew apple juice fermented with Lactobacillus casei. Food Research International, 44(3), 1276-1283. Rivera-Espinoza, Y., & Gallardo-Navarro, Y. (2010). Non-dairy probiotic products. Food Microbiology, 27(1), 1-11. Tavares, M. B., Souza, R. D., Luiz, W. B., Cavalcante, R. C. M., Casaroli, C., Martins, E. G., Ferreira, R. C. C., & Ferreira, L. C. S. (2013). Bacillus subtilis Endospores at High Purity and Recovery Yields: Optimization of Growth Conditions and Purification Method. Current Microbiology, 66, 279-285. Vandenplas, Y., Huys, G., & Daube, G. (2015). Probiotics: na update. Jornal de Pediatria, 91(1), 6-21. Vasudha, S., & Mishra, H. N. (2013). Non dairy probiotic beverages. International Food Research Journal, 20(1), 7-15.