O LUCRO NOS NEGÓCIOS AGROPECUÁRIOS (Planejamento de safra) Odilio Sepulcri 1 Curitiba, 26/08/2015 1. O LUCRO A desvalorização do real frente ao dólar nos últimos 12 meses foi de cerca de 53%, perdendo apenas para as moedas da Rússia e da Colômbia, segundo estudo realizado pela TOV Corretora. Esta desvalorização favorece a competitividade dos produtos exportáveis brasileiros, por outro lado, aumenta significativamente os custos de produção da agropecuária, uma vez que a maioria dos insumos (fertilizantes, inseticidas, fungicidas e herbicidas) é importada e respondem por cerca de 30% dos custos totais de produção. Se não bastasse isto, dados médios da Conab mostram que nos últimos 15 anos a produtividade da soja está estagnada, saiu de 51,5 para 52,1 sacas por hectare, limitando a sua rentabilidade. O que está salvando a atividade é o câmbio, porém as margens tornam-se cada vez mais estreitas pelo aumento do custo de produção. É fundamental identificar quais os fatores que estão limitando o crescimento da produtividade, muitos deles já apontados pela Aprosoja - MT. Diante desse quadro, quais as alternativas que sobrariam para os agricultores? 2. VARIÁVEIS QUE INTERFEREM NO LUCRO Na figura 1 estão as variáveis que interferem no aumento do lucro de um negócio (produtividade, custo, tecnologia, capital e receita). Destas, capital e custo devem ser puxados para baixo e as outras três, produtividade, tecnologia e receita, devem ser alavancadas. Das 5 variáveis, três são financeiras (custo, receita e capital). 2.1. CUSTO TOTAL DE PRODUÇÃO O primeiro raciocínio do gestor é cortar custos, mas que custos devem ser cortados? Com um olho no mercado e outro na produção analisam-se todas as variáveis que afetam o lucro, para mais e para menos, numa visão de conjunto 1 Engenheiro Agrônomo. M.Sc. Extensionista da EMATER. odilio@emater.pr.gov.br; www.odiliosepulcri.com.br
(custo, produtividade, tecnologia, capital e receitas). Nesse aspecto é prudente que se faça um bom planejamento do negócio, antes durante e após a produção, considerando-se todas estas variáveis. No momento do planejamento não se têm custos e é um momento importante e estratégico de reflexão e tomada de decisão sobre o que fazer. AUMENTO DO LUCRO PRODUTIVIDADE TECNOLOGIA RECEITA CUSTO CAPITAL Figura 1 representação esquemática das variáveis que afetam o lucro. Quais os itens que compõem o custo total de produção que agregam valor ao produto (aumentam a produtividade) e quais não? Dentre os custos que agregam produtividade na cultura da soja e outras estão sementes (genética), fertilizantes, calcário, manejo e conservação do solo, tecnologia aplicada corretamente e assistência técnica. Estes itens devem ser utilizados nas dosagens e quantidades conforme a recomendação da pesquisa e da assistência técnica. Não se podem cortar estes custos ou parte deles, sob pena de afetar a produtividade final, com reflexos no lucro. São os denominados custos bons. Os demais itens do custo de produção não agregam produtividade ao produto. Muitos itens de custos são indispensáveis e, portanto deverão ser utilizados o mínimo possível. Quando o agricultor decide executar um calendário fixo de controle de pragas e doenças, sem utilizar o manejo delas, ele está onerando demasiadamente os custos, além de causar danos ao meio ambiente. Muitos 2
custos são dispensáveis, tais como armazenagem, juros, perdas, desperdício, retrabalho, operações mal feitas por não ter seguido a recomendação técnica e outras. Portanto, os custos nunca devem ser cortados linearmente. Procedendo dessa forma, está reduzindo os custos, utilizando a melhor tecnologia disponível e potencializando a produtividade (figura 1). 2.2. REDUZINDO O CAPITAL O capital é composto do capital de giro 2 e do capital fixo ou imobilizado. Ele irá interferir diretamente no custo. Pode-se diminuir o capital de giro reduzindo as operações que não agregam produtividade e valor ao produto, como visto no item anterior, bem como trabalhando com explorações de ciclo mais curto, fazendo com que os recursos retornem mais cedo ao caixa da empresa, encurtando o seu tempo de uso e, consequentemente, o seu custo. O capital fixo ou imobilizado poderá ser minimizado com a substituição de aquisições por arrendamentos (terras, máquinas, equipamentos, benfeitorias), parcerias e terceirização de atividades, moderando significativamente o uso de capital próprio, diminuindo os juros e os custos de depreciação e o custo da atividade, com reflexos no aumento de lucro. Nesse contexto da figura 1, o planejamento da atividade é fundamental e estratégico, podendo ser subdividido em três etapas: antes, durante e após o processo produtivo. 2.3. ANTES DA PRODUÇÃO Nesta fase de tomada de decisão, entre os itens a serem considerados estão: definição da tecnologia a ser adotada; seleção e negociação com os fornecedores (preços, qualidade, forma de pagamento, prazo de entrega); negociação com os agentes financeiros; elaboração do custo meta 3 de produção; como será vendida a produção e para quem, formalização dos contratos e outras, conforme a oportunidade. 2 Capital de giro - compreende o dinheiro aplicado em recursos próprios ou de terceiros (financiado), utilizados pela empresa para financiar o giro dos negócios (produção, vendas, estoque, etc.). 3 Custo meta: usa-se o preço de mercado como foco para verificar o custo que esse mercado irá admitir. O preço de mercado conduz aos custos, ao contrário do conceito anterior onde os custos levavam ao preço. 3
2.4. DURANTE O PROCESSO DE PRODUÇÃO Na implantação da lavoura ou criação, é quando ocorrem realmente os custos, os desembolsos, portanto eles devem ser monitorados com rigor, para que as ações planejadas sejam executadas corretamente. O objetivo é se aproximar do erro zero. Cerca de 64,0% dos custos, no caso da soja, acontecem na implantação da lavoura, o que requer um caixa reforçado, com uma boa disponibilidade financeira para fazer frente a esses dispêndios concentrados. Nessa fase da operação, monitoram-se os indicadores dos principais gargalos e corrigir durante a operação se necessário, quando estão fora do padrão desejado. Como exemplo, pode-se monitorar toda a aplicação de insumos, como a dosagem de fertilizantes, calcário, agroquímicos, e regulagens de máquinas em geral. Enfim, as varáveis de controle e de monitoramento dependem do processo produtivo do produto. Na agricultura de precisão, cujo processo de gestão visa a eliminação da variabilidade espacial e temporal das operações, a maioria dos equipamentos possui mecanismo para fazer as correções automáticas, conforme os mapas de produtividade previamente elaborados, aplicando os insumos à taxa variável, conforme a necessidade de cada talhão. Ressalta-se que todas as fases de implantação do projeto são importantes e deverão ser executadas sem erros. Entretanto, se o agricultor errar ou negligenciar na fase mais crítica da produção, isso irá refletir diretamente na produtividade, comprometendo o lucro final. 2.5. APÓS O PROCESSO PRODUTIVO Terminado o jogo, o que não foi feito não se faz mais. Depois de realizadas as vendas da produção, fecham-se as contas, procede-se a apuração final do resultado, analisando todas as variáveis e verificando se houve lucro ou prejuízo. Essa análise e reflexão servirão como aprendizado para o planejamento da próxima safra, corrigindo-se e melhorando todo o processo, conforme verificado, como também fruto da inovação tecnológica. 4
2.6. AUMENTO DA RECEITA O aumento da receita é decorrente dos preços de mercado, fruto de uma boa produtividade e qualidade do produto, amarrado a bons contratos. Quando o mercado permite, parte da produção deverá ser comercializada no mercado futuro, como estratégia de diminuição do risco da atividade. Finalmente, As ações gerenciais de um empreendimento ou de um negócio para maximizar o lucro 4 devem estar focadas na gerência das cinco variáveis básicas: otimização da produtividade, da tecnologia e da receita e redução do capital e do custo total. REFERÊNCIAS http://www.odiliosepulcri.com.br/textos.php. Acesso em 25/08/2015. https://www.tov.com.br/assessoriainvestimento.aspx. Acesso em 25/08/2015. SILVEIRA, G. Repensando a agricultura do futuro. In : Revista A Granja, nº 800, agosto 2015. p. 24. 4 Maximização de lucros: uma empresa maximiza os seus lucros quando ela está produzindo a um nível em que a receita marginal seja igual ao custo marginal. Lucro = Volume Produzido x Preço Custos Totais 5