434 PRONAF: MATERIALIZAÇÕES E PERCEPTIVAS FUTURAS Samantha Cosme Rodrigues samantha.cosme.rodrigues@gmail.com Geografia Universidade Federal de Uberlândia Alan Roberto dos Santos santos.alanr@outlook.com Geografia Universidade Federal de Uberlândia Introdução Com a intenção de fomentar o desenvolvimento dos pequenos produtores rurais, que historicamente vem sendo sucateado no ordenamento do território brasileiro, o Governo Federal implementa o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). Este programa visa viabilizar a produção agropecuária e não agropecuária instalada em espaços rurais através de financiamentos com taxas reduzidas. O financiamento é exclusivo para pequenos proprietários agrícolas e/ou industriais, sendo necessário o enquadramento nas demandas exigidas pelas instituições financiadoras e, também, que possua a Declaração de Aptidão ao PRONAF, documento expedido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário. O programa possui diversas linhas de crédito específicas, como é o caso da PRONAF Agroindústria, que, entre outras intenções, fornece recursos para a implantação de pequenas e médias indústrias ligadas ao setor agropecuário. Outra linha oferecida pelo programa é a PRONAF Semiárido, onde um dos objetivos é possibilitar que o produtor da região semiárida do país adapte as técnicas de produção, de forma que esta seja viável. Há também a linha PRONAF Jovem que visa incentivar jovens com idade entre 16 e 29 anos, que tenham participado de algum programa governamental de capacitação para trabalho na área agropecuária, e pretendam iniciar sua própria produção. A estrutura do programa funciona de forma hierárquica, que se apresenta em faixas, tendo a faixa principal, denominada A de beneficiários que o programa almeja atingir é a de agricultores familiares que possuam cadastro no Programa Nacional de
Crédito Fundiário, mas ainda não tenham utilizado nenhum limite de financiamento, ou que foram assentados pelo Programa Nacional de Reforma Agrária. A faixa B é constituída de beneficiários que sejam pequenos produtores, com renda bruta anual de até R$20.000,00 e que não possuam empregado com vínculo. Há também a faixa C, na qual os beneficiários são agricultores familiares que já adquiriram algum crédito destinado ao desenvolvimento de sua produção. O programa ainda segura uma gama de outros beneficiários, como silvicultura, pesca, extrativistas artesanais. 435 Objetivos O objetivo principal desta pesquisa é analisar as viabilidades e entraves do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que é colocado como protagonista da política orientada para o desenvolvimento rural. Para isso é preciso compreender e avaliar uma série de preposições que competem essa gama de elementos levantados nos objetivos específicos, que são: Compreender as linhas de créditos e burocracia do programa; Analisar a gestão de monitoramento, as medidas que qualificam o acesso e a estabilidade dos agricultores familiares; Analisar as diretrizes do Pronaf sobre a modernização da produção agrícola familiar e da sociedade rural; Estabelecer cenários futuros. Fundamentação teórica O debate sobre a expressão agricultura familiar vem sendo ao longo do tempo um importante passo para o estudo da geografia agrária, pois este se redescobre em um meio rural cada vez mais distante do estereótipo, admitindo novas relações. As marcas deixadas no espaço rural no Brasil representa uma parcela muito importante da historia, da composição da sociedade e da cultura, mas também imprime modos de produções que influencia nas demandas politicas e econômicas do território. Assim a agricultura familiar dotada de grande complexidade se torna passível de várias interpretações, como exemplifica ABRAMOVAY (1997, p. 3) citado por SCHNEIDER (2003 p. 41): A agricultura familiar é aquela em que a gestão, a propriedade e a maior parte do trabalho vêm de indivíduos que mantêm entre si laços de sangue ou de casamento. Que esta definição não seja unânime e muitas vezes tampouco operacional é perfeitamente compreensível, já que os diferentes atores sociais e suas representações constroem categorias científicas que servirão a certas finalidades práticas.
Porém, o que se busca nessa pesquisa, de fato, é a compreensão das politicas de incentivos realizadas pelo governo aos agricultores familiares, já que estes são cada vez mais exilados de seus espaços. De acordo com SCHNEIDER (2003, p.35) [...] no Brasil destacam-se dois modelos de produção agrícola: o patronal e o familiar. Essa concepção da dinâmica do espaço agrário nos remete a fragilidade da conjuntura, como expressa OLIVEIRA, (1994, p.56): Podemos afirmar com segurança que a estrutura fundiária brasileira herdada do regime das capitanis/sesmarias muito pouco foi alterada ao longo dos 400 anos de história do Brasil e, particularmente na segunda metade deste século, o processo de incorporação de novos espaços [...] tem feito aumentar ainda mais a concentração das terras em mãos de poucos proprietários. 436 O ingresso do projeto Pronaf, que jazido a status de protagonista no setor de incentivo de crédito para a agricultura familiar, de modo a alavancar esse modo de produção, é definido por ABRAMOVAY E VEIGA. (1990, p.6) da seguinte maneira: O PRONAF-M visa promover investimentos baseados em compromissos negociados entre os beneficiários, os poderes municipais e estaduais e a sociedade civil organizada para possibilitar: (i) a implantação, ampliação, modernização, racionalização e relocalização de infraestrutura necessária ao fortalecimento da agricultura familiar; e (ii) a ampliação e cobertura de serviços de apoio, a exemplo da pesquisa agropecuária e da assistência técnica e extensão rural. Porém o processo de materialização do programa não garantiu uma manobra de grande sucesso, embora tenha alcançado bons resultados, demostra falhas estruturais que dificultam o progresso, como aponta GUANZIROLI (2007): Metodologia Um dos pontos críticos do programa diz respeito à capacidade de pagamento de crédito por parte dos beneficiados, que não parece ter sido assegurada convenientemente pelas autoridades, já que precisaram conceder contínuas renegociações e resseguros dos empréstimos que ficaram em atraso ou estavam ficando inadimplentes. Para a realização dessa pesquisa instrumentos como trabalho de gabinete e levantamento de dados em trabalho de campo foram essenciais para a análise pretendida. Desse modo procedemos sobre a ação investigativa de levantamento bibliográfico como referencial teórico que abastecesse condições para as refutações, assim como, também, foi utilizada a pesquisa documental acerca da implantação do Pronaf. Os levantamentos prévios ao campo foram responsáveis pela compreensão das principais ferramentas do crédito rural destinado aos agricultores familiares no Brasil.
O segundo momento desta pesquisa se atém a práticas empíricas e a pesquisa social, in loco, aos beneficiados do Pronaf, que dão condições a abrangência da fundamentação normativa do programa. Buscando não somente especificar, de modo sistemático, mas investigar as condições sociais, econômicas, institucionais e políticas da realização desses diversos roteiros do programa ao longo do tempo, de modo a compreender as melhorias e deformações emergentes desse processo e, similarmente, alertar a alternativas possíveis de melhorias e emancipação do cenário atual. 437 Resultados Apesar da pesquisa ainda se encontrar em fase de desenvolvimento, tendo somente realizado a primeira parte do proposto, foi possível verificar que o PRONAF cumpriu, em partes, o seu objetivo. O programa foi se adaptando às mudanças que ocorreram tanto no campo quanto no mercado, e acabou por atingir os pequenos produtores de forma mais abrangente. Mas entedemos que o simples fato de o pequeno produtor ser público-alvo de uma linha de crédito específica para desenvolvimento da produção já o torna um programa de grande importância. Nos primeiros anos do programa, notou-se que a maior parte dos recursos liberados, se destinavam as regiões Sul e Centro-Oeste. Ainda que parte fosse distribuída para outras áreas do país, estas eram as pioneiras no acesso ao crédito do PRONAF. Após a criação de diferentes linhas de crédito no programa, houve uma mudança neste cenário, contudo, não suficiente para reduzir o destaque das regiões supracitadas. A inserção do diálogo a respeito das carências do campo, na atual conjuntura da agropecuária no Brasil, faz com que surja uma expectativa de melhorias para o pequeno produtor. A efetivação do programa tornará este beneficiário não apenas desenvolvido, do ponto de vista econômico, incentivando a sua produção, mas também acarretará um impacto nas relações sociais do mesmo. A melhoria da qualidade de vida, do produtor e sua família, são mais um produto positivo gerado pelo programa. Há muito que se aperfeiçoar no programa, visto que o alcance ainda não compreende todos os produtores que necessitam deste fomento, no entanto, na breve pesquisa realizada, nota-se que o potencial do PRONAF ainda é grande. Da mesma forma que qualquer outro programa governamental, o PRONAF tem uma série de obstáculos para superar e de fato atingir seu objetivo de forma efetiva. Um dos problemas mais recorrentes é a questão burocrática. De acordo com os beneficiários, a lista documentação exigida pelos bancos é grande, o que acaba por
atrasar a liberação do recurso. Outro grande entrave é a necessidade de vincular à operação algum tipo de garantia, seja ela através de bens do próprio beneficiário, ou por meio de um avalista. Há também queixas acerca das taxas de juro fixadas, que nem sempre se enquadram na realidade do faturamento referente à safra. Esta sucinta pesquisa foi capaz de explanar as ideias base do programa e situar a forma com que ele se dá no Brasil. É válido ressaltar que a pesquisa aqui proposta está em fase inicial, e há muito que ser desenvolvido. Não é possível apresentar como resultados as percepções iniciais, pois precisaremos realizar uma investigação mais profunda sobre a materialização do programa. Ainda assim, é perceptível que são necessárias mudanças no PRONAF, para que ele atenda de forma mais apropriada os anseios do pequeno produtor. Pretende-se, após evolução da pesquisa, encontrar quais os pontos fracos do programa e estabelecer propostas de melhoria. 438 Referências bibliográficas ABRAMOVAY, R. & DA VEIGA, J. E. Novas instituições para o desenvolvimento rural: o caso do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). Brasília: IPEA, Texto para discussão. 1998, p. 9. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. SAF. Disponível em: <http://www.mda.gov.br/sitemda/node/24667>. Acesso em: 09 nov. 2015. GUANZIROLI, Carlos E. PRONAF faz dez anos depois: resultados e perspectivas para o desenvolvimento rural. Revista de Economia e Sociologia Rural, [s.l.], v. 45, n. 2, p.301-328, jun. 2007. FapUNIFESP (SciELO). Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s010320032007000200004&script=sci_arttext&tl ng=pt>. Acesso em: 15 jan. 2016. OLIVEIRA, A. U. O campo brasileiro no final dos anos 80. In: STÉDILE, J.P. (Org). A questão agrária hoje. Porto Alegre: Ed. Da UFRGS, 1994, p. 6. SCHNEIDER, S. A pluriatividade no Brasil: proposta de tipologia e sugestão de políticas. In: Congresso da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural, 44, Fortaleza, CE. Anais... Fortaleza, CE: SOBER, 2003.