Temporais provocam prejuízos e mortes em Pelotas-RS Durante a tarde e noite do dia 28/01/2009, áreas de baixa pressão, associadas à formação de uma onda frontal com características subtropicais, atuaram sobre a Região Sul do país e provocaram chuvas e ventos fortes que causaram transtornos à população, principalmente no sul do Estado do RS. Na madrugada da quinta-feira (29/01), a chuva forte causou transtornos e prejuízos à população e deixou ainda cerca de duas mil pessoas desabrigadas, tráfego obstruído pela queda de pontes e pelo afundamento do asfalto em rodovias da zona sul do Estado gaúcho e cidades ilhadas. Os estragos foram maiores nos municípios de Pelotas, Capão do Leão, Turuçu e Cristal, todos no RS. Além do RS, o Estado de SC também foi atingido pelo volume de chuva. Segundo dados das estações meteorológicas monitoradas pela EPAGRI/CIRAM, os maiores volumes de chuva foram registrados nos municípios de Timbé do Sul (236,5mm), Anita Garibaldi (86,5mm), São José (52,4mm) e Joaçaba (34mm). As áreas de instabilidade ainda foram intensificadas pela presença da forte componente termodinâmica e por ventos de quadrante norte em baixos níveis que alimentava a Região com calor e umidade transportados de latitudes mais baixas para esta parte do país. O Grupo de Previsão de Tempo do CPTEC, utilizando ferramentas operacionais próprias, conseguiu com certa antecedência identificar tal condição adversa de tempo emitindo e enviando, às autoridades competentes, boletins de alertas para as áreas atingidas. Análise Verifica-se um cavado que estende seu eixo entre o norte e o nordeste da Argentina em 250 hpa. Este sistema favoreceu o levantamento nas camadas mais baixas da troposfera. Na vanguarda deste cavado pode-se notar, tanto na análise do dia 28/01 às 18z como na análise do dia 29 às 00z (Figura 01 A e B), forte difluência no escoamento sobre o Rio Grande do Sul (RS) e Santa Catarina (SC). Este padrão contribuía para o movimento vertical ascendente favorecendo a formação de nuvens de grande desenvolvimento vertical associada a chuva intensa sobre parte do RS, principalmente no centro-sul do Estado. A B Figura 01 A e B Carta sinótica dom dados de linhas de correntes, altura geopotencial e jatos no nível de 250 hpa em 28/01/2009-18z e 29/01/2009-00z, respectivamente.
No nível de 500 hpa (Figura 02) verifica-se o aprofundamento do cavado observado na alta troposfera, intensificado neste nível, pos isso, percebe-se um Vórtice Ciclônico (VC) que na análise do dia 28 atuava entre o norte da Província de Buenos Aires e o sul do Uruguai e na análise do dia 29, este VC, cujo núcleo mantinha temperatura de -9C, atuava entre o Uruguai e o extremo sul do Brasil. Este sistema reforçava ainda mais o levantamento da massa úmida que atuava na camada mais baixa da troposfera fazendo com que esta massa ao se elevar na coluna troposférica se resfriasse, condensasse formando nuvens e provocando chuvas entre o Uruguai e o sul do RS, principalmente. Ou seja, este sistema foi determinante para que altos volumes de chuva ocorressem no sul do RS. A B Figura 02 A e B Carta sinótica com dados de linhas de correntes, altura geopotencial e jatos e temperatura em 500 hpa em 28/01/2009-18z e 29/01/2009-00z, respectivamente. Nota-se em superfície (Figura 03) a atuação da Alta Subtropical do Atlântico Sul (ASAS) cujo padrão de circulação auxilia a advecção de umidade de leste sobre o Uruguai e RS, ou seja, este sistema, proporcionava a alimentação de umidade do Atlântico em direção ao continente. Por outro lado, nota-se, embebido no escoamento anticiclônico, a presença de cavados atuando entre o Paraguai e o sudoeste do RS e outro sobre o Atlântico, próximo ao litoral leste do RS. Verifica-se também, neste nível, uma ampla área de baixa pressão entre o norte da Argentina, Paraguai, Bolívia, oeste das Regiões Centro-Oeste e Sul do Brasil. O padrão de circulação associado a este sistema reforçava o transporte de massa úmida e quente advectada de latitudes mais baixas em direção ao Sul do Brasil. A combinação destes fatores descritos contribuiu para aumentar os índices de instabilidade sobre o RS, em especial sobre o centro, sul, sudeste e leste do Estado gaúcho.
A B Figura 03 A e B Carta sinótica de superfície com dados de pressão (hpa), espessura na camada 1000-500 hpa e synop em 28/01/2009-18z e 29/01/2009-00z, respectivamente. Na figura 04 observa-se valores significativos de SWEAT e K em parte do sul e sudeste do RS. Os valores dos índices indicavam uma área com forte potencial para a ocorrência de evento severo de tempo sobre parte do RS, principalmente. Figura 04 Índice K (linhas contínuas) e SWEAT (sombreado).
Na Figura (05) pode-se notar o alto teor de umidade na coluna atmosférica entre 850-500 hpa associado, principalmente, a advecção associada a ASAS e ao padrão de ventos do quadrante norte na baixa troposfera o que reforça a convergência de umidade para o sul/sudeste do RS. Percebem-se, também, valores relativamente significativos de LIFTED. Estes dois parâmetros mostram, novamente, um padrão atmosférico típico de ocorrência de chuva significativa. Figura 05 Umidade relativa média na camada 850-500 hpa (sombreado) e LIFTED4 (linhas contínuas) No nível de 500 hpa (Figura 06) nota-se em grande parte da faixa leste do RS, incluindo o extremo sul e sudeste, alto teor de umidade e ômega negativo indicando uma área de intenso levantamento principalmente no sul e sudeste do RS este padrão novamente mostra o quão instável estava a atmosfera sobre parte do Sul do Brasil, em especial sobre a região de Pelotas, sul do RS. Figura 06 geopotencial, umidade relativa e ómega em 500 hpa.
Todas as condições sinóticas descritas acima na alta, média e baixa troposfera associadas ao padrão de instabilidade contribuiram para deixar a atmosfera favorável a formação de nuvens de grande desenvolvimento vertical com topos bastante frios (Figura 07), altamente carregada que vieram a provocar chuva forte, acompanhada de descargas elétricas (Figura 08) e rajadas de vento, favorecendo também a ocorrência de acumulados significativos em pelotas (Figura 09) e municípios adjacentes e áreas do Uruguai. Em algumas cidades do Uruguai o acumulado chegou a 350 mm em 48 horas. Toda esta condição adversa de tempo provocaram alagamentos, em ruas, transbordamento de rios, queda de barreiras e de pontes, deixaram milhares de pessoas desalojadas/desabrigadas, provocaram muitos transtornos e prejuízos á população e causaram a morte de 14 pessoas segundo a Defesa Civil. Além de Pelotas, cidades como Capão do Leão, Turuçu e Cristal foram atingidas pelas pelos chuvas neste mesmo período. Figura 07 Imagem do satélite Goes10 realçada Figura 08 descargas elétricas acumulada no dia 28/01/2009 onde as cores indicam o horário das descargas elétricas. Roxo (início do dia), verde (meio do dia) e vermelho (final da noite).
Figura 09 Dados observados (METAR) da estação meteorológica da aeronáutica em Pelotas-RS. Elaborado por Olivio Bahia do Sacramento Neto