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Transcrição:

Page 1 of 8 Acórdãos TRL Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa Processo: 632/10.9TMLSB.L1-6 Relator: OLINDO GERALDES Descritores: ACÇÃO DE DIVÓRCIO SENTENÇA DESISTÊNCIA DO PEDIDO VALIDADE HOMOLOGAÇÃO Nº do Documento: RL Data do Acordão: 24-05-2012 Votação: MAIORIA COM * DEC VOT E * VOT VENC Texto Integral: S Meio Processual: APELAÇÃO Decisão: PROCEDENTE Sumário: Decisão Texto Parcial: Decisão Texto Integral: I. É admissível a desistência do pedido, nomeadamente na acção de divórcio por mútuo consentimento, mesmo tendo já sido proferida sentença a decretar o divórcio, mas ainda não transitada em julgado. II. A desistência do pedido por mútuo consentimento pode provir apenas de um dos cônjuges. III. Não obstante a sentença a decretar o divórcio, não está esgotado o poder jurisdicional do juiz, para homologar a desistência do pedido e declarar extinta a instância. ( Da responsabilidade do Relator) Acordam no Tribunal da Relação de Lisboa: I RELATÓRIO A e B requereram, em 1 de abril de 2010, nos termos do art. 1778.º-A, n.º 1, do Código Civil, no 3.º Juízo de Família e Menores da Comarca de Lisboa, ação de divórcio por mútuo consentimento, com a falta apenas do acordo quanto à relação especificada dos bens comuns. Realizada a tentativa de conciliação dos cônjuges, que não se mostrou possível, foram os mesmos notificados para alegar o que tivessem por conveniente quanto aos bens comuns a relacionar, o que ambos fizeram, indicando ainda provas. Depois da realização de uma tentativa de conciliação, para os bens comuns a relacionar, que saiu gorada, foram tomadas breves declarações aos cônjuges, na sequência das quais, em 12 de dezembro de 2011, foi proferida sentença, que homologou os acordos sobre o destino da casa de morada de família e o exercício das responsabilidades parentais e decretou o divórcio por mútuo consentimento dos cônjuges, dissolvendo o casamento, com efeitos a partir da data de entrada da ação. Em 16 de dezembro de 2011, a própria Requerente veio, aos autos, revogar o consentimento prestado para o divórcio por mútuo consentimento e requerer a extinção da instância, por inutilidade superveniente da lide (fls. 227/228). O Requerente pronunciou-se no sentido da desistência do pedido dever ser indeferida, dada a sua extemporaneidade.

Page 2 of 8 Em 17 de janeiro de 2012, foi proferido despacho, no qual se declarou nada haver a determinar quanto à desistência do pedido, a não ser o oportuno cumprimento da sentença, com o fundamento de se mostrar esgotado o poder jurisdicional com a prolação da sentença (fls. 234). Inconformada com a sentença e o despacho de fls. 234, a Requerente interpôs recurso, no qual formulou as conclusões constantes de fls. 267 a 272, pedindo que fosse declarado nulo aquele despacho e extinta a instância, nos termos dos artigos 299.º e 1421.º do CPC, ou, subsidiariamente, revogada a sentença. O Requerente contra-alegou, no sentido da total improcedência do recurso. Cumpre, desde já, apreciar e decidir. Neste recurso, está essencialmente em discussão a desistência do pedido de divórcio por mútuo consentimento formulada por um dos cônjuges e, subsidiariamente, o divórcio decretado na sentença. II FUNDAMENTAÇÃO 2.1. Descrita a dinâmica processual relevante, interessa então conhecer do objeto do recurso, definido pelas respetivas conclusões, e começando pela impugnação do despacho de fls. 234, já que a eventual procedência do recurso, nessa parte, prejudicará o conhecimento da impugnação da sentença, que decretou o divórcio por mútuo consentimento dos cônjuges. Na verdade, com a instauração da ação, os cônjuges pretenderam obter o divórcio por mútuo consentimento, nomeadamente ao abrigo do disposto no art. 1778.º-A, n.º 1, do Código Civil (CC), na redação introduzida pela Lei n.º 61/2008, de 31 de outubro, sendo certo que entre os cônjuges faltava o acordo quanto à relação especificada dos bens comuns, a que se refere a alínea c) do n.º 1 do art. 1775.º do CC. Nesse contexto, caberia ao juiz fixar as consequências do divórcio, quanto à relação especificada dos bens comuns, de harmonia com o disposto no n.º 3 do art. 1778.º-A do CC, depois da produção de prova, sendo necessária, e, seguidamente, decretar o divórcio, procedendo-se ao respetivo registo (art. 1778.º-A, n.º s 4 e 5, do CC). No entanto, a fixação das consequências do divórcio e o seu decretamento está dependente de se manter, na ação, o pedido de divórcio por mútuo consentimento formulado pelos cônjuges. De harmonia com o disposto, especificamente, no n.º 2 do art. 299.º do Código de Processo Civil (CPC), é livre a desistência do pedido nas ações de divórcio e de separação de pessoas e bens. Em termos gerais, a desistência pode ser feita em qualquer altura do processo, como decorre do disposto no n.º

Page 3 of 8 1 do art. 293.º do CPC. Por isso, mesmo que já tenha sido proferida sentença, mas ainda não transitada em julgado, e porque o processo continua pendente, pode haver desistência do pedido. No mesmo sentido, era já o ensinamento de ALBERTO DOS REIS, quando comentava que pouco importa, pois, que já tenha sido proferida sentença sobre o mérito da causa, uma vez que tal sentença ainda não haja transitado em julgado (Comentário ao Código de Processo Civil, Vol. 3.º, 1946, pág. 479). Por sua vez, também a jurisprudência, do mesmo modo, teve oportunidade de se pronunciar, nomeadamente no acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 15 de dezembro de 1998, ao entender que a desistência do pedido, em ação de divórcio, pode ocorrer mesmo depois de proferida a decisão sobre o mérito da causa, desde que ainda não transitada (BMJ, n.º 482, pág. 298). A regra geral da livre desistência a qualquer altura do processo pode, porém, ser excluída em certos casos específicos, como sucede, nomeadamente, no processo especial de insolvência, em que o requerente da declaração de insolvência, que não se tenha apresentado à mesma, pode desistir do pedido ou da instância até ser proferida sentença (art. 21.º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas, aprovado pelo DL n.º 53/2004, de 18 de março). Admitida em termos gerais a desistência do pedido, em qualquer altura do processo, naturalmente que, tendo de ser validada nos termos do n.º 3 do art. 300.º do CPC, o juiz tem de pronunciar-se sobre a desistência do pedido, tendo em conta o seu objeto e a qualidade da pessoa que nela interveio, para a poder homologar, não estando, para esse efeito, esgotado o poder jurisdicional, tanto mais que o juiz não vai pronunciar-se sobre o mérito da causa, mas apenas sobre a extinção da instância, por efeito da desistência, entretanto, apresentada alínea d) do art. 287.º do CPC. Em face das precedentes considerações, é, pois, admissível a desistência do pedido, nomeadamente na ação de divórcio por mútuo consentimento, mesmo tendo já sido proferida sentença a decretar o divórcio, mas ainda não transitada em julgado, podendo a desistência provir apenas de um dos cônjuges, como se admite no art. 1421.º, n.º 1, do CPC. A Apelante, ao manifestar, nos autos, a revogação do consentimento prestado para o divórcio por mútuo consentimento, ainda sem a sentença que decretara o divórcio ter transitado em julgado, veio, desse modo, desistir do pedido formulado na ação, sendo como tal entendido pelo Apelado. Como se referiu, podia fazê-lo ao abrigo da lei processual aplicável, sendo tempestiva a sua formulação, e

Page 4 of 8 independentemente da sua motivação. Sendo ainda a desistência livre e realizada formalmente por quem tinha capacidade, a desistência do pedido foi válida, quer quanto ao seu objeto, quer quanto à qualidade da interveniente, nada obstando à sua homologação. Por isso, justificava-se que tivesse sido homologada a desistência do pedido de divórcio por mútuo consentimento, formalizada pela Apelante, em 16 de dezembro de 2011, e declarada extinta a instância, ao abrigo do disposto na alínea d) do art. 287.º do CPC. Nestas condições, não pode subsistir o despacho recorrido, devendo ser revogado e substituído por decisão que, homologando a desistência do pedido, declare extinta a instância. Com a procedência do pedido principal do recurso, ficou prejudicada a declaração de divórcio por mútuo consentimento, decretada por sentença de 12 de dezembro de 2011, como prejudicado ficou, também por isso, o conhecimento do recurso, relativamente do divórcio decretado naquela sentença (art. 660.º, n.º 2, do CPC). 2.2. Em conclusão, pode extrair-se de mais relevante: I. É admissível a desistência do pedido, nomeadamente na ação de divórcio por mútuo consentimento, mesmo tendo já sido proferida sentença a decretar o divórcio, mas ainda não transitada em julgado. II. A desistência do pedido por mútuo consentimento pode provir apenas de um dos cônjuges. III. Não obstante a sentença a decretar o divórcio, não está esgotado o poder jurisdicional do juiz, para homologar a desistência do pedido e declarar extinta a instância. 2.3. O Apelado, ao ficar vencido por decaimento no recurso, é responsável pelo pagamento das custas, em conformidade com a regra da causalidade consagrada no art. 446.º, n.º s 1 e 2, do CPC. A Apelante, porém, é responsável pelo pagamento das custas da ação, por efeito da desistência do pedido, nos termos do art. 451.º, n.º 1, do CPC. III DECISÃO Pelo exposto, decide-se: 1) Conceder provimento ao recurso, revogando o despacho de fls. 234, e, em consequência, julgando válida a desistência do pedido quer quanto ao seu objeto, quer à qualidade da interveniente, formalizada a fls. 227/228, declarar extinta a instância. 2) Condenar o Apelado no pagamento das custas do recurso e a Apelante das custas da ação. Lisboa, 24 de maio de 2012

Page 5 of 8 Olindo dos Santos Geraldes Fátima Galante Manuel José Aguiar Pereira (*) (*) Vencido de acordo com a declaração anexa Declaração de Voto Votei no sentido de que o requerimento apresentado pela requerente a 16 de Dezembro de 2011 deveria ter sido apreciado na primeira instância e indeferido na medida em que a declaração nele contida, posterior à notificação da sentença homologatória do pedido de divórcio por mútuo consentimento, não pode produzir o pretendido efeito de extinção da instância. Estamos em presença de uma acção de divórcio por mútuo consentimento instaurada no Tribunal dada a inexistência de acordo entre os cônjuges acerca do teor da relação de bens comuns a apresentar (artigo 1778 -A do Código de Processo Civil). Na primeira instância, após a realização de diligências para fixação das consequências do divórcio (1778 -A n 3 do Código Civil na redacção da Lei 6í/2008, de 31 de Outubro), teve lugar uma tentativa de conciliação e uma diligência de tomada de declarações aos requerentes no âmbito da qual foi obtido o acordo dos requerentes também quanto à apresentação da relação de bens, que ficou a constar da respectiva acta. Não existindo qualquer questão para decidir foi então, em 12 de Dezembro de 2011, proferida sentença que decretou o divórcio, como requerido e homologou os acordos legais a que os requerentes tinham chegado acerca da atribuição da casa de morada de família, da regulação do exercício das responsabilidades parentais e dos alimentos entre eles. Tal sentença foi imediatamente notificada aos requerentes da presente acção de divórcio por mútuo consentimento, que se encontravam presentes. A 16 de Dezembro de 2011, porém, a requerente mulher, manifestando discordância em relação ao trecho da sentença que fixou os efeitos do divorcio a partir da entrada da acção em juízo e alegando diminuição de garantias processuais na tramitação da acção que ela própria instaurou, veio "expressamente revogar o consentimento prestado para que o divórcio se processe por mútuo consentimento e por conseguinte requerer a extinção da instância por inutilidade superveniente da lide". O requerente marido pronunciou-se no sentido de a "desistência do pedido" dever ser indeferida, por ser extemporânea face ao disposto no artigo 1421 do Código de Processo Civil.

Page 6 of 8 Foi então proferido despacho a considerar nada haver a determinar por se encontrar esgotado o poder jurisdicional do tribunal em relação à matéria da causa com a prolação da sentença. A requerente interpôs então recurso da sentença que decretou o divórcio, invocando a respectiva nulidade por omissão e excesso de pronúncia e também por ausência de fundamentação; Interpôs igualmente recurso da decisão referida no parágrafo anterior alegando que a falta de acordo de um dos cônjuges quanto ao divórcio por mútuo consentimento determina a imediata extinção do processo por inutilidade superveniente da lide, louvando-se no disposto nos artigos 299 n 2 e 1421 n 1 do Código de Processo Civil. Fez vencimento o entendimento que deveria ser revogado o despacho recorrido, proferido a fls 234, e julgada válida a desistência do pedido, declarando-se extinta a instância, do que resultou prejudicada a apreciação do recurso interposto da sentença. Não pude concordar com o teor de tal deliberação. A decisão impugnada incorre, de facto, em erro, ao considerar que o poder jurisdicional do juiz se esgotou com a prolação da sentença, parecendo confundir a disponibilidade das partes sobre a instância, que se mantêm até ao trânsito em julgado da decisão (artigo 293 n 1 do Código de Processo Civil) com a disponibilidade (possibilidade) de pronúncia do juiz (poder jurisdicional) acerca das questões relevantes que sejam entretanto suscitadas. Impunha-se, pois, a meu ver, a apreciação do requerimento em causa. Porém o requerimento apresentado pela ora apelante não poderia ser deferido. Começará por dizer-se que a fórmula equívoca utilizada pela requerente no requerimento/declaração de 16 de Dezembro esquece que a requerente não se limita a dar o seu consentimento a quem quer que seja para que o divórcio seja decretado por mútuo consentimento. Na verdade a requerente pratica, por si e em seu nome, todos os actos de que depende o normal desenrolar do processo de divórcio por mútuo consentimento. Do que se trata agora é de emitir declaração contrária a toda a actividade processual que desenvolveu. Sabido como é serem diferentes os respectivos regimes, a requerente não esclarece - nem sequer em sede de alegações de recurso - se pretende desistir da instância ou do pedido, alegando apenas haver inutilidade superveniente da lide e requerendo seja declarada a "extinção dos autos". A invocada revogação do consentimento para o divórcio por mútuo consentimento depois de ter sido proferida sentença a decretar o divórcio poderia ser analisada processualmente na

Page 7 of 8 perspectiva de uma desistência da instância, fazendo terminar o processo por essa via nos termos do artigo 295 n 2 do Código de Processo Civil, ou como uma desistência do pedido. Sendo, por definição, o divórcio por mútuo consentimento requerido por ambos os cônjuges, iniciada a instância por seu impulso conjunto, não poderia uma das partes dela dispor livremente. Nem contra isso concorre a liberdade de desistência nas acções de divórcio prevista no artigo 299 n 2 do Código de Processo Civil cujo alcance é apenas o de consagrar uma excepção à regra geral da impossibilidade de confissão, desistência ou transacção quando estejam em causa direitos indisponíveis (como são os relativos ao estado das pessoas), sem colocar em causa outros principias e regras adjectivas ou substantivas relativas à especial configuração e natureza da relação jurídica controvertida. Tal como nos demais casos de litisconsórcio necessário (e unitário) activo, a instância resulta da vontade conjunta dos dois titulares da relação controvertida, a qual é incindível. A liberdade sem restrições de desistência, no caso das acções de divórcio só tem, por isso, aplicação nos casos em que a acção é instaurada sem o consentimento do outro cônjuge. Ora sendo manifesto que estamos perante uma situação de litisconsórcio necessário activo, haveria que considerar-se o disposto no artigo 298' n 2 do Código de Processo Civil que declara irrelevante a desistência da instância, a não ser quanto a custas. A manifestação do abandono da intenção inicial de requerer o divórcio por mútuo consentimento não basta para extinguir a instância, tal como não bastaria a existência da vontade exclusiva de um dos cônjuges para requerer o divórcio com recurso a esse modelo processual. Nesta perspectiva o requerimento da apelante, analisado como traduzindo intenção de desistência da instância, não podia ter como consequência a pretendida extinção da instância. Assim como não poderia ter o resultado que veio a ser decretado nesta instância de recurso caso fosse, como foi, pelo outro requerente e por este tribunal, entendido como desistência do pedido. Mais uma vez se pondera que o artigo 1421 nº1 do Código de Processo Civil contêm uma regra excepcional que permite que, no caso de divórcio por mútuo consentimento, apenas um dos cônjuges desista válida mente do pedido formulado conjuntamente com o outro cônjuge. Tal normativo, próprio do regime da acção de divórcio por mútuo consentimento, afasta também a aplicação do regime regra do artigo 293º, nº 1 do Código de Processo Civil no que

Page 8 of 8 tange ao momento até quando pode ser apresentada a desistência do pedido. E dele resulta que a desistência do pedido tenha que ser feita até à ou na conferência ou diligência em que, estando os cônjuges presentes ou representados, o juiz os interpela acerca do pedido de divórcio e homologa a desistência ou decreta o divórcio. É esse o momento que marca o limite temporal concedido aos cônjuges para tomarem a decisão final em relação à vontade de porem, ou não, termo ao seu casamento e de submeterem essa sua vontade à decisão homologatória do juiz que preside a tal diligência. Depois dessa decisão homologatória de que, em princípio, não caberá recurso - até por manifesta falta de legitimidade dos requerentes que viram homologada a sua vontade -, não é lícito aos requerentes, salvo situações certamente excepcionais e não alicerçadas em alterações infundadas da vontade expressa (no limite em puras variações de humor), desistir do pedido. Pelo exposto votei no sentido de que o requerimento apresentado pela apelante deveria ser indeferido, ou por ineficaz em relação à pretendida extinção da instância (se considerado como de desistência da instância) ou por extemporaneidade (se considerado como desistência do pedido), não sendo, em qualquer caso, declarada a extinção da instância. Manuel José Aguiar Pereira