NEUROSE OBSESSIVA E RELIGIÃO O OBSESSIVO E SUA RELAÇÃO COM O PAI NA RELIGIÃO

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Transcrição:

NEUROSE OBSESSIVA E RELIGIÃO O OBSESSIVO E SUA RELAÇÃO COM O PAI NA RELIGIÃO Carlos Eduardo Rodrigues Neurose obsessiva: uma religião particular Falar em neurose obsessiva hoje em dia pode parecer ultrapassado, uma vez que esse modo de subjetivação foi conceituado por Freud em 1894, isso faz com que muitos pensem que este assunto está esgotado, que não existe mais neurose obsessiva. Gazzola (2005) nos diz que a neurose obsessiva ainda existe e trata-se de uma neurose contemporânea por excelência. Ou seja, não só devemos lançar mão de toda teoria construída acerca da neurose obsessiva, como devemos contribuir para que esta construção continue se elevando. Quando estudamos a neurose obsessiva ou escutamos um paciente obsessivo, não é difícil perceber que os cerimoniais fazem parte de sua vida cotidiana e que nesses cerimoniais existe algo que se assemelha aos cerimoniais religiosos. Numa tentativa de evitar que algo de ruim lhe aconteça ou até mesmo a um de seus afetos, o obsessivo tende a realizar suas atividades rigorosamente e muitas vezes na mesma ordem. Mesmo parecendo meras formalidades privadas de sentidos, o paciente é incapaz de renunciar a elas, pois a qualquer afastamento do cerimonial manifesta-se uma intolerável ansiedade, que o obriga a retificar sua omissão (FREUD, 1907/2006, p.109). Algo parecido acontece com os religiosos, que tendem a sentir uma ansiedade por não estarem realizando seus rituais frequentemente, são tomados por um sentimento de culpa e um medo de um castigo divino que os obrigam a cumprirem suas tarefas religiosas cotidianamente. A religião serve ao sujeito como um curativo, como algo que recobre sua ferida. Lacan (2005) diz que a religião é feita para isso, para curar os homens, isto é, para que não percebam o que não funciona (LACAN, 2005, p.72). Contudo, entre as semelhanças da

neurose obsessiva com a religião, a relação do sujeito com o pai glorificado é a que mais nos interessa no momento. Do pai ao deus pai: uma suposição necessária O texto de Freud Totem e Tabu (1912) nos ajuda a entender a relação do sujeito com o pai. Nas tribos citadas nesse texto, havia apenas um homem que poderia ter acesso a todas as mulheres e para manter seu gozo privilegiado, esse pai agressivo, imaginarizado, tem que expulsar seus filhos adolescentes do convívio da tribo para não correr o risco de perder o acesso a todas as mulheres daquela horda. Unindo suas forças, os filhos conseguem assassinar o pai, o que não abre o acesso ao gozo, que está reservado agora ao pai que está morto. O pai morto, como nos diz Porge (1998), se apresenta como sendo signo do impossível: com a morte do pai, o acesso, tanto ao gozo quanto ao pai que o tem sob sua guarda, se torna impossível. Daí surge o pai simbólico, os filhos anteciparam a morte do pai e agora ele está conservado, protegido da hostilidade. O pai morto está mais vivo que nunca, e sempre cobrando a dívida dos filhos. Lacan (1995) diz que eles o mataram para interditarem a si mesmos e que esse ato serviu para mostrar que o pai é incapaz de ser morto. O pai simbólico é uma necessidade da construção simbólica, que só podemos situar num mais-além, diria quase que numa transcendência (LACAN, 1995, p. 225). Ele é o que surge no mito freudiano, no mito do filho que crê no pai. A dimensão do pai simbólico é transcendental e é essencial para que seja estruturado o ordenamento psíquico do obsessivo qualificando-o como sujeito. Quando o pai é elevado à condição simbólica e se torna o Nome-do-Pai, pode haver nisso tudo a busca por uma proteção mais eficaz e permanente, há aí a criação de um mito muito poderoso, a criação de um Deus, o homem nesse sentido é o pai do Deus pai. O homem

criou seu nominador, essa criação está a priori, sendo, portanto, o que criou todas as criaturas e aparentemente não foi criado. Existe muito mistério em relação ao nome de Deus, na conversa da sarça ardente, o que Deus faz ao dizer para Moisés que ele é aquele que é (BÍBLIA..., 1973), foi justamente não se nomear, deixando para Moisés essa tarefa que é impossível. Não revelando seu verdadeiro nome, Deus se apresenta como não sendo um sujeito, pois o sujeito é nomeado e nunca é Deus que se designa ele mesmo assim (PORGE, 1998, p. 15). O eu, de eu sou o que sou, mostra a incompatibilidade, a impossibilidade de o sujeito coincidir com seu eu. O pai simbólico não pode ser apreendido, ele não está em lugar algum, e só existe um que pode preencher o lugar do pai simbólico. Lacan (1995) destaca que o Deus do monoteísmo é o único que poderá responder absolutamente a essa posição. O pai na religião serve bem ao obsessivo A formação da religião, como Freud (1907) nos apresenta, parece ter sua base em uma supressão da pulsão, assim como a exigência de renúncia na neurose. Nas duas, uma divindade é temida. Na neurose, o pai garante um papel de protetor e ao mesmo tempo é temido pelas proibições que ele anuncia. Na religião, a relação com o Pai é semelhante. Há aí uma necessidade de abrir mão da hostilidade para não ficar sem a proteção divina. Se o compromisso assumido perante a divindade não for cumprido, uma ansiedade expectante aparece sob a forma de temor da punição divina, que surge para o sujeito de forma inesperada, ela fica suprimida até encontrar uma forma de se aflorar e deixar o sujeito a mercê do perigo que ela provoca. Para que isso não ocorra, os cerimoniais deverão ser executados. Assim o cerimonial surge como um ato de defesa ou de segurança, uma medida protetora (FREUD, 1907/2006, p.114).

Na religião, assim como na neurose obsessiva, o sujeito está fixo em uma condição infantil de desamparo e que carece da proteção de um pai. A religião, por fixar as pessoas num estado de infantilismo psicológico e arrastá-las a um delírio de massa, ela consegue poupar a muitos uma neurose individual (FREUD, 1930/2006, p.92). Em certa medida, o desamparo faz com que o obsessivo busque um pai a quem ele possa sacrificar sua satisfação pulsional. O Deus pai dos religiosos está também nesse lugar intocável e sabe das intenções dos filhos, pronto para punir qualquer deslize ou para acolher àqueles que a Ele sacrificam suas pulsões. Ao final, todo bem é recompensado e todo o mal, punido, se não na realidade, sob esta forma de vida, pelo menos em existências posteriores que se iniciam após a morte (FREUD, 1927/2006, p.28). O ritual talvez venha no lugar de algo que o obsessivo teve intenção e não pode efetuar, pois estava sendo vigiado; então, tomado pelo medo do desamparo, poderá oferecer a Deus seus sacrifícios, seus rituais, para continuar a ter proteção e clemência. O pai que serve ao obsessivo é um nome que implica fé, é preciso crer para que ele exista, a fé do filho na existência desse pai vai além do saber, é transcendental, esse pai só irá aparecer em uma construção mítica, morto como ser para ser conservado como um significante. O obsessivo pode buscar na religião o Outro da fase adulta para promulgar as leis, sem as quais ele não caminha, mas também para garantir o sentido. O Outro, além de ser aquele que dita as leis que o sujeito deverá seguir, também é garantidor do sentido. O sujeito não precisará supor o pai noutro lugar, ele está aí, no centro de uma neurose universal, e o obsessivo poderá fazer uso dessa paternidade. Desse modo, Deus serve ao neurótico da mesma maneira que aos religiosos, como um pai, um significante, aquele que está presente o tempo todo e do qual o sujeito não poderá

fugir. O neurótico, tendo o pai como um Deus, não ficará difícil para ele, que está sempre em busca de um pai que lhe atenda bem, aceitar, assumir o Deus do monoteísmo como o seu pai simbólico. Considerações finais Longe de chegarmos a um fim diante da amplitude do tema proposto, devemos concluir nossa questão, não esquecer que para a psicanálise a neurose obsessiva é uma posição estrutural, é uma modalidade de gozo. Tendo isso em vista, teremos também a noção do quão difícil se torna a decifração dessa neurose, pois cada sujeito é único e está sempre se ajustando às exigências da nossa cultura e às pressões morais e recriminatórias do supereu. Para dar conta das dificuldades da vida, o obsessivo precisa do amparo de um pai glorificado, transcendente, que se sustente para além da mãe, uma vez que ela é quem dá ao pai o lugar de lei, de nomeador. A mãe para o obsessivo é a figura do Outro da infância, esse Outro que deixa seu gozo transbordar sobre a criança. Aí se faz necessária a suposição de um pai para ser o verdadeiro portador da lei e, como Nome-do-Pai, barrar o Desejo intrusivo da Mãe, tornando-se o grande Outro da fase adulta. Para a psicanálise, o pai vai além do pai real, biológico, ele tem ainda duas funções, o pai imaginário, que é o pai a quem o sujeito quer se identificar por ele ter acesso ao gozo, com ele se está em rivalidade fraterna. Já o pai simbólico, com este não há disputa, ele é intocável e guarda o gozo como reserva para si, o pai simbólico não foi submetido à castração, ele é esteio da fantasia de um gozo absoluto que é tão inatingível quanto a si próprio. O pai simbólico só pode ser alcançado numa construção mítica, no qual ele se torna um deus para o sujeito. O único que poderá ocupar o lugar de pai simbólico é o Deus do monoteísmo.

O pai simbólico é uma noção de linguagem, é um significante que nomeia e que, juntamente com o falo, ordena a cadeia de significantes para que o sujeito possa fazer ligações simbólicas e estabelecer laços sociais. Assim sendo, o obsessivo tem que supor o pai simbólico, tem que supor o grande Outro da fase adulta para que ele possa, além de nomear o sujeito e ser suporte verdadeiro da lei, ser um pai que sirva para ser servido. O obsessivo quer um pai que lhe ordene, lhe cobre os rituais, as renúncias e que o ampare e o proteja das tão temidas forças da natureza, e da civilização. BIBLIOGRAFIA BÍBLIA SAGRADA. A. T. Êxodo. São Paulo: Edições Paulinas, 1973, cap. 3, p. 109. FREUD, Sigmund. Atos Obsessivos e Prática religiosa (1907) In: Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v.9. Rio de Janeiro: Imago, 2006. Totem e tabu. (1912) In: Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v.13. Rio de Janeiro: Imago, 2006. O Futuro de uma Ilusão (1927) In: Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v.21. Rio de janeiro: Imago, 2006. O Mal-Estar na Civilização (1930) In: Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v.21. Rio de janeiro: Imago, 2006. GAZZOLA, Luiz Renato. Estratégias na Neurose Obsessiva. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. LACAN, Jacques. Sobre o complexo de Édipo In: O Seminário, livro 4: A relação de objeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995, p.203-219. O Triunfo da Religião: Precedido de Discurso aos Católicos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. A ciência e a verdade. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p.869-892. PORGE, Erik. Os nomes do pai em Jacques Lacan. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 1998.

SOBRE O AUTOR Carlos Eduardo Rodrigues, psicólogo (UEMG), especialista em gestão de recursos humanos (UNINTER). E-mail: kadurz@yahoo.com.br, membro do PESC, grupo de pesquisa vinculado à UEMG/INESP.