O amor e a mulher. Segundo Lacan o papel do amor é precioso: Daniela Goulart Pestana
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- Orlando Back Stachinski
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1 O amor e a mulher O que une os seres é o amor, o que os separa é a Sexualidade. Somente o Homem e A Mulher que podem unir-se acima de toda sexualidade são fortes. Antonin Artaud, Daniela Goulart Pestana O texto procura investigar as dimensões do amor para uma mulher, mais precisamente: Qual é o lugar do amor para uma mulher? E, porque o amor tem uma função tão particular no psiquismo feminino? Procuraremos sustentar o texto com essas interrogações. Sabemos que o amor e a devastação tem uma relação estreita na vida de uma mulher, ambos possuem o mesmo princípio, tendo a ver com o ilimitado do gozo feminino. Queremos dizer, com isso, que o enlaçamento entre gozo e amor é de suma importância para a mulher, porque, aceitar ficar na posição de objeto causa de desejo para um homem, é o que caracteriza a posição feminina. E como é isso? O que significa para uma mulher, aceitar ser colocada, ou colocar-se como objeto causa de desejo para um homem. Tem a vem com passividade? O homem ao se inscrever na fantasia da mulher, toca em seu gozo suplementar, deste modo, ele dá à mulher acesso a seu gozo ao mesmo tempo, que introduz um limite. Essa é uma função mediadora do homem em relação à mulher apontando um limite para o seu gozo, pois, esse em excesso, pode devastá-la. O papel do amor na vida de uma mulher tem seu peso, não é a toa, que as mulheres se prendem ao amor. Existe uma função de amarração desempenhada pelo gozo fálico que faz com que a mulher não se perca no ilimitado de seu gozo suplementar. Segundo Lacan o papel do amor é precioso: 1
2 Não se está mais sozinho. E é nisso que o amor é precioso,... raramente realizado, como todos sabem... enfim, que se trata não há relação sexual. 1 Assim, a presença fálica torna-se responsável por fornecer uma consistência significativa. Onde, a mulher só pode assumir a sua feminilidade, aceitando ser colocada na posição de objeto na fantasia de um homem. Em contrapartida, o homem só vai assumir a sua masculinidade se for capaz de fazer de uma mulher, objeto em sua fantasia. Tanto a posição masculina, como a posição feminina apresentam como fundamento à razão fálica. Segundo Lacan: O problema do amor é o da profunda divisão que se introduz no interior das atividades do sujeito. A questão de que se trata, para o homem, segundo a própria definição do amor dar o que não se tem -, é dar aquilo que ele não tem, o falo, a um ser que não o é. 2 O amor apresenta uma função particular no psiquismo feminino porque, ele medeia a relação da mulher com o homem, de cuja presença fálica precisa para obter alguma consistência significativa para seu ser. Portanto, prescindir do homem como algumas mulheres pretendem, ao dizerem-se assim, modernas é o que não dá, pois, é, através do amor por um homem, que as mulheres vão se servir dele para dar conta do lado não todo fálico que as caracteriza, esse é o ponto capital. O gozo que o homem tem da mulher, a divide. Em gozo fálico e gozo suplementar, o gozo não fálico. Um homem se torna mediador entre a mulher e seu gozo, quando há um ajustamento, por parte do homem e da mulher, da posição de objeto que ela ocupa. Um homem pode melhor servir uma mulher dando acesso a esse seu gozo, que não permite que ela seja toda sua. Quando uma mulher em posição feminina aceita ser objeto na fantasia de um homem, na verdade, o que ele está oferecendo a ela, é a sua castração 1 LACAN, J. O Seminário, R.S.I. p LACAN< J. O Semin;ario, livro 5, p
3 e o seu gozo fálico. É do gozo fálico do seu parceiro que a mulher faz a causa do desejo. O gozo fálico de seu parceiro é o ponto de abertura, o consentimento ou a recusa de uma mulher de instalar-se nesse lugar de objeto causa de desejo para um homem, que vai diferenciar a solução feminina da solução histérica. Cabe então a pergunta: O que seria a mulher adotar uma posição feminina? A mulher que aceita a posição feminina em sua condição de semblante além, de objeto de gozo na fantasia masculina, não se sente ameaçada em retornar à posição de objeto do desejo que um dia foi para o Outro em sua condição de vivente, é aí, que localizamos a posição feminina. O prestar-se ao semblante sem estar sujeito a ele, implica a dimensão do consentimento, da aceitação, certeza de que por detrás, não há nada. O semblante consiste em fazer crer que ali onde não há nada, há algo. Tem a função de velar o que não há, ele captura o olhar pela imagem, que vai ser ordenada pelo simbólico. A teoria do semblante trás a idéia de parecer, de fazer de conta. A mulher na falta de significante que diga do gozo do Outro sexo, como o parceiro que, não tem, faz alguma coisa desse não ter, é nisso que dizemos que a mulher tem uma afinidade especial com o semblante. No inconsciente, não há inscrição de significantes que poderiam trazer uma elaboração de saber sobre a relação entre um homem e uma mulher. O que há no inconsciente é uma hiância um buraco estrutural, um significante que falta, no lugar dessa falha se inscreve uma função que não varia, tanto para homem quanto para mulher, a função fálica. Homens e mulheres são regidos pelo falo de forma diferente, distinção que influencia a maneira pela qual cada sujeito aborda a relação sexual. Ambos entram nessa relação através de um parecer, ele protegendo seu ter e ela escondendo sua falta. 3 3 LACAN, J A significação do falo, p
4 Cada um dos parceiros desempenha uma parte na comédia dos sexos, o homem está constantemente querendo parecer ter, fazendo de tudo para assegurar-se de sua virilidade, a prova disso, é, que ficam o tempo todo, se cerificando, conferindo a pertinência. Lacan nos diz que não há virilidade a não ser aquela validada pela castração. É somente nessa condição que ele vai ao encontro do desejo da mulher. Segundo Lacan: (...) para o homem, a menos que haja castração, quer dizer, alguma coisa que diga não à função fálica, não há nenhuma chance de que ele goze do corpo da mulher, ou, dito de outro modo, de que ele faça amor... isto não impede que ele possa desejar a mulher de todas as maneiras. 4 Lacan demonstra que o enigma do gozo feminino é algo que não se enquadra nos limites implicados pela função fálica. Ele nos diz que é um gozo que tem a ver com o falo mas, não-todo. Descreve como um gozo que não se submete a norma fálica, sendo enigmático, participa do falo mas, está fora do sentido e do que se pode representar, um significante que falta ao outro. Diz Lacan: As mulheres se atêm, qualquer uma se atêm por ser não-toda, ao gozo de que se trata e, meu Deus, de modo geral, estariam bem erradas em não ver que, contrariamente ao que se diz, de qualquer modo são elas que possuem os homens 5 Para Lacan a dualidade dos gozos é própria do feminino. A feminilidade se revela como dividida diante da castração: o feminino tem uma relação tanto com o significante fálico, como com o significante que falta ao Outro. Podemos dizer que a relação das mulheres com seus amores é paradoxal: se por um lado, se fazem de objeto do gozo do Outro, submetendo-se, por outro lado, são esses amores que as tiram da relação arcaica com a mãe. 4 LACAN, J. O Seminário, livro 20 mais, ainda, p Ibidem, p
5 Colette Soler constata que o lugar da mulher no casal sexual, não tem como causa direta seu desejo próprio, tocando, sempre, o desejo do outro. A mulher se deixa desejar, ficando em suspenso a questão de seu desejo. Nessa lógica, é ela quem fica no lugar daquela que banca ser o objeto para o homem. As mulheres de um modo geral se fazem de escravas de um homem por um bocado de amor. Engodo que podem se perder aí, segundo o modo de relação mestre escravo, cuja alternância vida e morte, é o que impera. Podemos afirmar que a mulher é feita de amor e de aparência, pois ela precisa de um verdadeiro arsenal que sustente a ausência de significante que lhe diria quem é como mulher. A mascarada implica em um saber fazer com a falta que é da estrutura, se coloca para todo sujeito feminino. Por mascarada, entendemos o conjunto de recursos aos quais as mulheres recorrem para dissimular de maneira enganosa, sua falta, a saber; a falta especificamente de uma identidade feminina. Na comédia dos sexos, percebemos, que cabe ao homem mostrar-se homem, em contrapartida, a mascarada evidencia que cabe à mulher, fazer-se mulher. Se a sexuação é a forma pela qual o sujeito subjetiva seu sexo, ela também, é definida por sua relação com o outro sexo. No qual cada sexo tem relação com o significante fálico, sendo que o que se coloca é, ter ou não ter. Homens e mulheres se definem tanto pelo lugar em que cada um destina ao sexo em sua subjetividade, como também pelo lugar fantasmático ocupado na economia psíquica. Segundo Lacan: É por isso que, em qualquer relação do homem com uma mulher a que está em causa é, sob o ângulo do Uma-a-menos que ela deve ser tomada. 6 6 Ibidem, p
6 Aí, que entra o semblante, como a via que melhor conduz a resposta para que a mulher encontre o acesso que conduz a sexualidade feminina. Referências Bibliográficas: FREUD, S. Sexualidade Feminina. (1931). In: Obras Completas. Rio de Janeiro. Imago. LACAN, J. O Seminário, livro 3 as psicoses Rio de Janeiro. Jorge Zahar Ed., O Seminário, livro 20 mais, ainda Rio de Janeiro. Jorge Zahar Ed., O Seminário, R.S.I., livro 22. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Ed.. Escritos. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Ed MOREL, Geneviève. La loi de La mère, Essai sur Le sinthome sexual Paris, Anthropos. 6
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