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ANÁLISE E PREDISPOSIÇÃO À OCORRÊNCIA DE ESCORREGAMENTOS UTILIZANDO ROTINAS DE APOIO À DECISÃO COMO BASE PARA O PLANEJAMENTO URBANO Berenice Bitencourt Rodrigues * Lázaro Valentim Zuquette ** Região urbanizada pode ser definida como o conjunto dos componentes de um ecossistema onde as atividades humanas estão interligadas aos outros componentes, enquanto o sistema evolui dinamicamente. Qualquer alteração espacial e/ou estrutural em uma parte ou elemento desse sistema provoca uma reação em cadeia que atinge as outras partes e/ou elementos de maneira direta ou indireta, cumulativamente ou não. A construção de sistemas para auxílio no processo de tomada de decisão para áreas sujeitas a movimentos de massa gravitacionais pode levar em consideração desde aspectos ambientais e construtivos até aspectos sociais e econômicos. A maioria desses sistemas baseia-se em relações complexas entre os componentes ambientais. Quando o tomador de decisão se depara com esses tipos de sistema, quanto melhor for seu entendimento do processo, melhor será sua previsão ou decisão. O Método de Análise Hierárquica é uma sistemática que permite a utilização de dados qualitativos e quantitativos na análise de tais sistemas e vem sendo mundialmente utilizado para auxiliar os processos de decisão considerando os mais diversos fins. Pretende-se apresentar neste trabalho os resultados obtidos pelo emprego do Método de Análise Hierárquica (AHP) para o estudo da vulnerabilidade de uma parcela da área urbana de Ouro Preto/MG (Foto 1) à ocorrência de escorregamentos, considerando 24 atributos do meio ambiente como base para o planejamento urbano. * Faculdade de Engenharia de Minas Gerais Feamig; e-mail: berenicerodrigues@yahoo.com.br. ** Universidade de São Paulo. Escola de Engenharia de São Carlos; e-mail: lazarus1@sc.usp.br. 99
Rodrigues, B. B.; Zuquette, L. V. Foto 1. Localização da área de estudo: Serra de Ouro Preto, Ouro Preto (MG). ABORDAGEM METODOLÓGICA A caracterização das áreas favoráveis à ocorrência de movimentos de massa gravitacionais foi definida com base na individualização da área de estudo em 736 celas de dimensões regulares (50m X 50m), onde foram determinados os atributos (naturais e antrópicos) que influenciam direta ou indiretamente na ocorrência dos eventos. Foram considerados 24 atributos relativos aos sete componentes selecionados para a análise (material inconsolidado, relevo, uso do solo, vegetação, litologia e características de instabilidade das encostas) e, para cada atributo, foram definidas as classes (ou características) que melhor refletem a instabilidade do terreno. Para a aplicação da Sistemática de Análise Hierárquica (AHP), foram definidos quatro níveis de hierarquização (Fig. 1) MOVIMENTOS DE MASSA GRAVITACIONAIS META C1 C2 C7 COMPONENTES A1 A2 A24 ATRIBUTOS NÍVEIS DE INFORMAÇÃO CL1 CL2 CL3 CL4 CL36 CLASSES Figura 1. Tratamento das Informações Sistemática AHP. 100
utilizados na análise do problema: o primeiro nível é ocupado pela meta ou pela favorabilidade à ocorrência de movimentos de massa gravitacionais; o segundo, pelos componentes do meio físico ou antrópico que favorecem (menos ou mais) a ocorrência dos eventos; o terceiro, ocupado pelos atributos referentes a cada um dos componentes selecionados, e o quarto, ocupado pelas classes dos atributos definidos para a área em estudo. A adequabilidade das informações foi analisada com base na proposta de Rodrigues (2003), constituída por 10 etapas seqüenciais que incluem desde a análise básica dos dados existentes até o gerenciamento e o armazenamento das informações relacionadas à tomada de decisão, o que permitiu identificar as possíveis alterações que ocorrem na classificação, quanto à favorabilidade à ocorrência de movimentos de massa gravitacionais, quando não são considerados ou são suprimidos um ou mais dos componentes ambientais, definidos na análise de susceptibilidade. A definição dos pesos relativos para cada um dos componentes, em relação à meta, para cada um dos atributos em relação aos componentes e para cada uma das classes em relação aos atributos, tomou como base a proposta de Saaty (1990b), que objetiva determinar, em termos numéricos, dentro de uma escala de valores predefinidos (Fig. 2), as prioridades dos elementos de um nível em relação a um nível superior, permitindo, ainda, a análise quanto à importância de cada um dos componentes selecionados, mostrando seu grau de influência na ocorrência do evento. Espessura do Material Inconsolidado < 2m 2 a 10m > 10m Ausência Peso relativo Normalizado < 2m 1 3 5 9 0.594156 2 a 10m 1/3 1 2 4 0.222078 > 10m 1/5 1/2 1 3 0.129221 Ausência 1/9 1/4 1/3 1 0.054545 AVMáx.=4.034 I.C= 0.011 R.C= 0.012 Figura 2. Exemplo da matriz de definição dos pesos para as classes do atributo espessura do material inconsolidado e seus respectivos cálculos de consistência. O conjunto das informações utilizadas na análise foi obtido nos trabalhos de Souza (1996); Bonuccelli (1999) e Zenóbio (2000), com atualiza- 101
Rodrigues, B. B.; Zuquette, L. V. ção, em campo, das informações que não apresentaram validade amostral e temporal adequadas. O estudo possibilitou a classificação de cada célula quanto ao grau de predisposição para escorregamentos (Foto 2 e 3), assim como a medida mais adequada para controle ou prevenção. 1 3 2 Foto 2. Destaque da área de estudo onde podem ser observadas três áreas com cicatrizes de movimentos de massa gravitacionais. 1 2 3 Foto 3. Destaques ampliados da Foto 2, apresentando as cicatrizes dos eventos já ocorridos, mostrando a fragilidade da área. 102
CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao se estudar determinado tipo de evento natural ou antrópico (como no caso da predisposição à instabilidade das encostas), é necessária a avaliação dos eventos com base em todos os componentes que caracterizam e/ou influenciam a ocorrência de tal evento, uma vez que a supressão de um ou mais componentes pode vir a alterar a definição do grau de instabilidade de todo o terreno ou de partes dele. Isso pode ser altamente prejudicial, já que essa definição pode levar a classificar uma área que apresenta alta predisposição à instabilidade em áreas que apresentam média e até baixa predisposição à instabilidade. Referências BONUCCELLI, T. Estudo dos movimentos gravitacionais de massa e processos erosivos com aplicação na área urbana de Ouro Preto/MG Escala 1:10.000. 1999. 3v. Tese (Doutorado) Universidade de São Paulo, Escola de Engenharia de São Carlos, São Carlos, 1999. INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS APLICADAS. Desenvolvimento ambiental de Ouro Preto: microbacia do Ribeirão do Funil. Belo Horizonte: IGA, 1995. RODRIGUES, B. B. Proposta de sistemática para tomada de decisão relativa a movimentos de massa gravitacionais: aplicação em Ouro Preto (MG). 2003. 359f. 3v. Tese (Doutorado) Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2003. SAATY, T. L. How to make a decision: the analytic hierarchy process. European Journal of Operational Research, Amsterdam, n. 48, p. 9-26, 1990b. SOUZA, M. L. Mapeamento geotécnico da cidade de Ouro Preto/ MG Escala 1:10.000: susceptibilidade aos movimentos de massa e processos correlatos. 1996. 2v. Dissertação (Mestrado) Universidade de São Paulo, Escola de Engenharia de São Carlos, 1996. ZENÓBIO, A. A. Avaliação geológico-geotécnica de encostas naturais rochosas: área urbana de Ouro Preto (MG) escala 1:5.000. 2000. 2v. Dissertação (Mestrado) Universidade de São Paulo, Escola de Engenharia de São Carlos, São Carlos, 2000. 103