Diagnóstico do gerenciamento interno dos resíduos de serviços de saúde em hospital de médio porte no município de São Carlos, SP

Documentos relacionados
TERMO DE REFERÊNCIA PARA APRESENTAÇÃO DO PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE NO MUNICÍPIO DE PARANAVAÍ ESTADO DO PARANÁ

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO NA SAÚDE

Manejo dos resíduos gerados na assistência ao paciente com suspeita ou confirmação de contaminação pelo vírus Ebola. Enfª Marília Ferraz

SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

RSS CLASSIFICAÇÃO (CONAMA 358/2005)

PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE PGRSS IPTSP/UFG

8. Gestão de Resíduos Especiais. Roseane Maria Garcia Lopes de Souza. Há riscos no manejo de resíduos de serviços de saúde?

PANORAMA ATUAL DO GERENCIAMENTO DE RESIDUOS SÓLIDOS NO RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO DA UFRB EM CRUZ DAS ALMAS

QUANTIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS GERADOS NO RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO DO CAMPUS DE RIO CLARO-UNESP: AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE COMPOSTAGEM

HOSPITAL PUC-CAMPINAS PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS COM IMPACTO AMBIENTAL E FINANCEIRO EM SERVIÇOS DE SAÚDE

BRASIL 30/05/2019. RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE (RSS)-Conceito e Bases para seu Gerenciamento DENOMINAÇÃO RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE

BRASIL RSS - GRUPOS 04/04/2017. RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE (RSS)-Conceito e Bases para seu Gerenciamento DENOMINAÇÃO

RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE: CONHECIMENTO DOS AGENTES DE LIMPEZA

26 a 29 de novembro de 2013 Campus de Palmas

IMPLANTAÇÃO DO PLANO DE GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DO SERVIÇO DE SAÚDE NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO SÃO FRANCISCO DE PAULA - MELHORIAS PARA QUALIDADE

Resíduos de Serviços de Saúde RSS

TERMO DE REFERÊNCIA PARA APRESENTAÇÃO DO PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE NO MUNICÍPIO DE CURITIBA

11º ENTEC Encontro de Tecnologia: 16 de outubro a 30 de novembro de 2017

MÓDULO 2. Prof. Dr. Valdir Schalch

Serviço Gerenciamento Ambiental HCFMRP-USP

Aula 2 Resíduos Sólidos

Administração e Gestão Farmacêutica. Josiane, Mônica, Tamara Agosto 2014

III A INFLUÊNCIA DA SAZONALIDADE NA GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE (RSSS)

Plano de Gerenciamento de Resíduos

RSS - TERMINOLOGIA - GERENCIAMENTO INTRA - ESTABELECIMENTO ABNT NBR ABNT NBR Angela Maria Magosso Takayanagui

Os métodos e procedimentos de análise dos contaminantes gasosos estão fixados na Norma Regulamentadora - NR 15.

Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde - RSS Robson Carlos Monteiro

DIAGNÓSTICO DAS UNIDADES DE SAÚDE DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA PB QUANTO AOS SEUS RESÍDUOS

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

ANÁLISE QUALI-QUANTITATIVA DOS RESÍDUOS GERADOS EM ENFERMARIA DO HOSPITAL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE VITÓRIA, ESPÍRITO SANTO RESUMO

Gerenciamento de Resíduos Perigosos. Ednilson Viana/Wanda Risso Gunther

DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO ATUAL DOS RESÍDUOS GERADOS NA UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, CAMPUS FRANCISCO BELTRÃO

PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS SERVIÇO DE SAÚDE/BIOTÉRIO BIOTÉRIO BIODINAMICA INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS CAMPUS DE RIO CLARO/SP

CONTROLE AMBIENTAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE NO SEMIÁRIDO: ESTUDO DE CASO EM UMA MATERNIDADE PÚBLICA

SAÚDE E LIMPEZA PÚBLICA

CARACTERIZAÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA DOS RESÍDUOS DE SERVIÇO DE SAÚDE GERADOS EM HOSPITAL DE MÉDIO PORTE NO MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS, SP

GESTÃO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE

CATEGORIA: Apresentação Oral Eixo Temático - Tecnologias

O GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS PERFURO CORTANTES NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DO MUNICÍPIO DE PORTO VELHO - RO

ESTIMATIVA E QUANTIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS HOSPITALARES DAS UNIDADES DE SAÚDE DE BARREIRAS - BAHIA

MODELO SIMPLIFICADO PARA CLÍNICA OU CONSULTÓRIO ODONTOLÓGICO

Como estamos fazendo a gestão dos RSS no Centro de Assistência Odontológica à Pessoa com Deficiência (CAOE): reflexão e orientação

GRUPO A Resíduos INFECTANTES

Sistemas de Gestão Ambiental. Gestão de Resíduos. Vídeo. Contextualização. Soluções. Instrumentalização. Aula 5. Prof. Esp.

Hsa GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS. Resíduos Sólidos. PROFa. WANDA R. GÜNTHER Departamento Saúde Ambiental FSP/USP

O resíduo é problema meu?!?!?

DIAGNÓSTICO DOS RESÍDUOS DE SERVIÇO DE SAÚDE NOS LABORATÓRIOS DE ANÁLISE CLÍNICA DO MUNICÍPIO DE CRUZ DAS ALMAS, BAHIA

RESÍDUOS SÓLIDOS DE SAÚDE: COMPARAÇÃO ENTRE A GESTÃO PÚBLICA E PRIVADA EM HOSPITAIS DO INTERIOR DE SÃO PAULO

Métodos de Segregação e Tratamento de Resíduos: A Rotina de um Hospital da Região Norte do Brasil. Belém, 2017

Procedimento Operacional Padrão FMUSP - HC. Faculdade de Medicina da USP Diretoria Executiva da FMUSP e Diretoria Executiva dos LIMs

Análise do gerenciamento dos resíduos dos estabelecimentos públicos de atendimento básico a saúde do município de aparecida de Goiânia, Goiás, Brasil

Diagnostic of solid waste service hospital for small generator

3.2. COLETA SELETIVA DE RESÍDUOS É a sistemática de segregar os resíduos de acordo com suas classes de risco nas áreas geradoras.

1. Apresentação Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de

Biol. Regina Maris R. Murillo

RECEPÇÃO DE CALOUROS COLETA SELETIVA DE RESÍDUOS SÓLIDOS UFES Campus ALEGRE

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS

O que são PérfuroP. rfuro-cortantes? Todo material que possa provocar cortes ou perfurações.

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS

Bioética e Biossegurança

2. LOCAL DE APLICAÇÃO

PALAVRAS-CHAVE: Caracterização, Resíduos de Serviços de Saúde, Gerenciamento de Resíduos.

DIAGNÓSTICO DO GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DE SERVIÇO DE SAÚDE DO MUNÍCIPIO DE PARNAGUÁ-PI

SEGURANÇA E MANUSEIO DE PRODUTOS DE USO DOMICILIAR. Profª Luzimar Rangel Moreira

MÉDICO ORTOPEDISTA. - Atendimento ambulatorial em pacientes ortopédicos pediátricos encaminhados pela Central de Regulação;

ENFERMAGEM BIOSSEGURANÇA. Parte 12. Profª. Tatiane da Silva Campos

PGRSS PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE SERVIÇO DE SAÚDE

DIFICULDADES E DESAFIOS NO GERENCIAMENTO INTEGRADO DOS RESÍDUOS DE SERVIÇO DE SAÚDE 1

Ref: RDC 306 de 07 de dezembro de 2004, publicada no D.O.U. (Diário Oficial da União) em 10/12/2004.

- TERMO DE REFERÊNCIA - PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS HOSPITALARES: ANÁLISE DE UM HOSPITAL BRASILEIRO

PROCEDIMENTO PARA ACONDICIONAMENTO E SEGREGAÇÃO DE RESÍDUOS DOS GRUPOS A e E Prefeitura do Campus USP Fernando Costa (PUSP-FC)

Os candidatos interessados devem encaminhar currículo no corpo do para:

Resíduos de Laboratório

REALIZAÇÕES DO PROGRAMA USP RECICLA/FSP Janeiro a Dezembro de 2014

EBOLA COMUNICADO N 1. prefeitura.sp.gov.br/covisa. 01 de setembro de 2014

ANEXO I. PLANO SIMPLIFICADO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DA SAÚDE PARA MÍNIMOS GERADORES Até 30 Litros/semana

COPEIRO. - Manter o ambiente de trabalho higienizado e organizado, de modo a facilitar a operação e minimizar o risco de contaminação alimentar;

Grandes Geradores: São obrigados, por lei, a dar destinação adequada a seus resíduos : Todos devem fazer a. segregação na fonte.

PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO PARA MANIPULAÇÃO DE PRODUTOS QUÍMICOS E AMOSTRAS BIOLÓGICAS

GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS EM ESTRATEGIA DE SAÚDE DA FAMILIA

MÉDICO INTENSIVISTA PEDIÁTRICO

GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS HOSPITALARES: Benefícios Para o Meio Ambiente

Itens mínimos de um Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos PGIRS

ASPECTOS DO MANEJO DE RESÍDUOS QUÍMICOS EM INSTITUIÇÃO DO ENSINO SUPERIOR

Carência no armazenamento, gerenciamento e destinação do lixo hospitalar em um Município da região de Maringá-PR

Ambiência: Manuseio do Lixo e Material de Descarte

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SOLÍDOS DOS SERVIÇOS DA SAÚDE - ANÁLISE DE UM HOSPITAL PÚBLICO E UM PRIVADO DE TERESINA- PI

Revista Científica Hermes E-ISSN: Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa Brasil

SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE

PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS

Eixo Temático ET Saneamento Ambiental GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS HOSPITALARES NA MICRORREGIÃO DA CHAPADA DO APODI-RN

COPEIRO. - Manter o ambiente de trabalho higienizado e organizado, de modo a facilitar a operação e minimizar o risco de contaminação alimentar;

Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos

NORMAS GERAIS PARA DESCARTE DE RESÍDUOS NO ICB

COPEIRO. - Manter o ambiente de trabalho higienizado e organizado, de modo a facilitar a operação e minimizar o risco de contaminação alimentar;

WORKSHOP RESÍDUOS SÓLIDOS DESAFiOS PARA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA SAÚDE E LIMPEZA PÚBLICA

Resíduos Biológicos. Gerenciamento dos Resíduos

PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA SECRETARIA MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE. Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde

Transcrição:

Diagnóstico do gerenciamento interno dos resíduos de serviços de saúde em hospital de médio porte no município de São Carlos, SP Érica Pugliesi a* Tatiana Novis Lopes Gil a e Valdir Schalch a a Núcleo de Estudo e Pesquisa em Resíduos Sólidos, Departamento de Hidráulica e Saneamento. Universidade de São Paulo, Av. Trabalhador São Carlense, 400. pugliesi@sc.usp.br *Autor para a correspondência: +55 16 91542840. pugliesi@sc.usp.br Palavras chave: caracterização de resíduos; gestão e gerenciamento Título abreviado: gerenciamento de resíduos de serviços de saúde ABSTRACT The generation of medical waste has become the subject of great concern due to their composition and potential dangers. The presence of contaminated materials prepared with non-contaminated material and possible of reuse is one of the main issues involved, making it clear the need for submission of alternatives for managing such wastes in order to protect the quality of life and environment. Then, there was a study to assess the composition of the medical waste and check your potential for danger. The study was conducted in the hospital, in the municipality of São Carlos, SP, Brazil. It was performed to characterize qualitative and quantitative by sector of the institution for three consecutive weeks, with each sector and turn chosen randomly. RESUMO A geração de resíduos de serviço de saúde tornou-se alvo de grande preocupação devido a sua composição e potencial periculosidade. A presença de materiais contaminados dispostos 1

juntamente com material não-contaminado e possível de reutilização é umas das principais questões envolvidas. Isto torna evidente a necessidade de apresentação de alternativas para o gerenciamento de tais resíduos a fim de proteger a qualidade de vida e o meio ambiente. É necessário realizar um estudo mais detalhado das características e composição dos resíduos de serviços de saúde para auxiliar a escolha de alternativas mais adequadas para o tratamento e disposição final. O presente trabalho objetivou a caracterização quantitativa e qualitativa dos resíduos gerados em um hospital de médio porte no município de São Carlos, SP. A partir dos resultados encontrados foram propostas algumas ações visando o melhor manejo e destinação final para os resíduos gerados. INTRODUÇÃO A história da humanidade revela que o homem vem evoluindo do ponto de vista: cultural, social, biológico e tecnológico, através de uma estreita relação com a natureza. Um dos grandes problemas em todos os municípios brasileiros e, em geral, em todos os países, principalmente nos grandes centros urbanos, é o que fazer com a imensa geração de lixo, ou seja, uma preocupação que envolve toda a sociedade em busca de uma alternativa que seja mais viável financeiramente e menos danosa ao meio ambiente. Um dos componentes representativos dos resíduos gerados em áreas urbanas é o resíduo de serviços de saúde (RSS), que mesmo constituindo pequena parcela do total dos resíduos produzidos, são particularmente importantes pelo risco potencial que apresentam, sendo fonte de microrganismos patogênicos, substâncias químicas perigosas e rejeitos radioativos, cujo manejo inapropriado pode acarretar a disseminação de doenças infectocontagiosas, contaminação do solo, água e ar. 2

Segundo a World Health Organization WHO (1998), CONAMA (2005) e ANVISA (2004), os resíduos de serviço de saúde podem ser provenientes de hospitais, clínicas, laboratórios, centros de pesquisas, bancos de sangue, necrotérios, centros de autópsia, pesquisas em animais, clínicas odontológicas, atendimento médico a domicílio, serviços funerários, instituição para pessoas inválidas, clínicas psiquiátricas, acupunturistas, locais de tatuagem, colocação de piercings e barreiras sanitárias. A heterogeneidade que caracteriza a composição destes resíduos, como a presença freqüente de materiais perfurantes e cortantes e a existência eventual de quantidades menores de substâncias radioativas de baixa intensidade, contribui para o incremento dos riscos e problemas que podem acarretar tanto intra como extra-estabelecimento de saúde. Além disto, o uso cada vez maior de materiais descartáveis nestes estabelecimentos resulta num volume crescente de resíduos gerados que são diretamente arremetidos ao lixo, sem passarem por um processo de segregação e tratamento. Um dos fatores de risco associado aos RSS está relacionado à sua potencial patogenecidade, porém uma grande parte destes resíduos não está infectada e são passíveis de reutilização e reciclagem. Assim, a necessidade de uma boa segregação dos resíduos na fonte permite reservar os tratamentos especiais e de alto custo somente a uma pequena parcela. Porém, a falta de uma abordagem mais específica em alguns estabelecimentos de saúde, com base na caracterização dos resíduos gerados nesses serviços, faz com que medidas extremas sejam tomadas, ou seja, resíduos são incinerados desnecessariamente, ou são dispostos em locais inadequados, não favorecendo a aplicação de tecnologias que poderiam servir para minimizar a geração dos resíduos, evitando, com isso, o aumento de impactos negativos no meio ambiente. 3

Pelo exposto, a caracterização dos RSS funciona como um instrumento básico para o gerenciamento dos mesmos. MATERIAIS E MÉTODOS A metodologia utilizada para investigação foi o estudo de caso. Estudos de caso são investigações em profundidade, sendo que neste caso, aplicado a uma instituição. O objeto de estudo foi um hospital de médio porte no município de São Carlos, SP. A pesquisa foi executada em duas etapas. Na primeira etapa realizou-se uma avaliação preliminar do local com a realização de entrevistas e questionários para caracterizar a área de estudo e verificar: o grau de conhecimento com relação à produção de resíduos, locais de geração, formas de segregação e acondicionamento, rotas e freqüência de coleta, locais de armazenamento, destino dos resíduos gerados e percepção de periculosidade de resíduos. Na segunda etapa foi realizada a caracterização quantitativa e qualitativa dos resíduos do estabelecimento. Com estes resultados foi possível analisar a sua real composição e as principais fontes de geração de cada material. As duas etapas deste trabalho serão descritas a seguir. - Primeira etapa: avaliação preliminar Realizaram-se diversas visitas à instituição com o intuito de apresentar o projeto de pesquisa aos encarregados, avaliando a sua viabilidade técnica e demonstrando os benefícios adquiridos pela instituição. Após aprovação da provedoria do estabelecimento de saúde e encaminhamento da mesa diretora da instituição, realizaram-se reuniões com o funcionário responsável pelo serviço de limpeza do hospital, a fim de estabelecer a melhor maneira de realizá-lo e, para futuras apresentações mediante o corpo clínico, serviço de enfermagem, auxiliares de limpeza e pessoal relacionado ao andamento do projeto. 4

Foram necessárias várias visitas para observação da rotina de trabalho das auxiliares de limpeza do hospital em cada setor, uma vez que estas são as responsáveis por coletar, lacrar e conduzir os sacos de lixo ao local de armazenamento temporário. Este procedimento tornou-se indispensável para o dimensionamento da coleta de dados e a realização da caracterização dos resíduos. Foram, então, aplicados questionários aos funcionários da área administrativa, área de limpeza e desinfecção, que possuem maior proximidade com os RSS, sendo aplicados até a coincidência das representações no ponto em que ofereceu contribuições originais relevantes (SILVA, 2004). Estes questionários foram de caráter voluntário e não privilegiou a identificação da pessoa em questão. As entrevistas, por sua vez, foram realizadas com funcionários que ocupam postos-chave dentro da instituição, sendo estas gravadas e transcritas para melhor interpretação. - Segunda etapa: Caracterização Uma vez conhecida a rotina de limpeza do hospital foi realizada a caracterização dos resíduos. A caracterização foi realizada semi-qualitativa e quantitativamente por setor da instituição durante três semanas consecutivas, sendo cada setor e turno escolhido aleatoriamente, sem a necessidade de realizá-la em dias de maior volume de internação. Procedeu-se, então, da seguinte forma: antes do saco ser lacrado pela funcionária da limpeza seu conteúdo era detalhado em uma planilha e após o fechamento, o saco era pesado. Para a pesagem foi utilizada uma balança, luvas, avental e máscaras em todos os setores exceto no centro cirúrgico, UTIs e isolamentos onde foi necessário utilizar uma paramentação complementar adequada ao setor, gorro e protetores para o sapato. Também foi realizada uma caracterização dos resíduos gerados pela cozinha e refeitório de funcionários do hospital. A cozinha fornece alimentação para os funcionários 5

(refeitório) e para os pacientes internados. Seus resíduos foram caracterizados por três dias alternados em uma semana, em três horários diferentes, de acordo com os turnos de alimentação. Os resíduos gerados na cozinha e refeitório são encaminhados para a coleta regular tendo como destino final o aterro sanitário. RESULTADOS - Primeira Etapa O hospital é uma instituição filantrópica e foi fundado em 1 de novembro de 1891. Possui uma área total de 2683,10m 2 e uma área construída de 23540,77m 2. Conta com 322 leitos para atendimento da população de São Carlos, Porto Ferreira, Descalvado, Ibaté e Santa Rita do Passa Quatro pelo Sistema Único de Saúde (SUS), convênio (Unimed) ou atendimento particular. A instituição oferece os serviços de maternidade, médico de urgência, diagnóstico por imagem, oncologia, serviços de hemodinâmica e cirurgia cardíaca, terapia intensiva neonatal e pediátrica, terapia intensiva geral e cardíaca e, hemodiálise, quimioterapia e radioterapia que são serviços terceirizados. O serviço de radiologia também é oferecido e trata-se de uma parceria entre o hospital e uma empresa privada. A instituição possui quatro blocos com três andares cada para acomodar os serviços prestados além de um prédio principal para a administração. Há também os blocos antigos que abrigam a cozinha, arquivo e serviço de hemodinâmica. Possui também a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) e a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) que são responsáveis pelo manejo dos RSS e também pelo monitoramento dos riscos associados como os acidentes de trabalho internos e externos. O hospital apresenta funcionários treinados para realizar a coleta e transporte interno além de locais para armazenamento temporário interno e externo. Possui coleta seletiva de 6

alguns resíduos como papel (provenientes de setores administrativos), papelão, garrafas de álcool e galões de produtos de limpeza. Os resíduos, após a geração são segregados em sacos plásticos brancos ou pretos (de acordo com o tipo de resíduo gerado) e armazenados em recipientes plásticos (lixeiras) até o momento da coleta pelos auxiliares de limpeza. A coleta dos resíduos em cada setor é realizada em uma escala de três turnos para os setores de internação e de quatro turnos para o Centro Cirúrgico, visando a não acumulação dos resíduos nos setores. As refeições dos pacientes são entregues em quatro horários diferentes e são recolhidas por uma funcionária da cozinha em sacos brancos. É realizado o descarte tanto dos restos da alimentação quanto os recipientes (embalagens metálicas). A rotina de coleta dos resíduos do armazenamento temporário até o armazenamento externo é realizada por funcionário capacitado e, em intervalos de duas horas sendo que a primeira coleta é realizada às 7:00 horas e a última às 19:00 horas. Os resíduos gerados durante o período noturno são armazenados em local temporário interno até a coleta das 7:00 horas do dia seguinte. As áreas designadas para o armazenamento temporário dos resíduos nos setores são por vezes compartilhadas com áreas de armazenamento de produtos de limpeza, pela inexistência de locais exclusivos para esta finalidade na planta original do estabelecimento. A coleta final é realizada por uma empresa contratada pela prefeitura que recolhe os resíduos diariamente exceto aos domingos e feriados. Os resíduos potencialmente infectantes e perfurocortantes (grupos A e E) são encaminhados a um abrigo para resíduos de serviços de saúde localizado no aterro sanitário e ficam armazenados até o momento do transporte para o tratamento térmico no município de Campinas, SP. Após a 7

descaracterização dos resíduos (tratamento), os resíduos retornam ao aterro sanitário onde são co-dispostos com os resíduos sólidos domiciliares. Os questionários aplicados forneceram uma visão geral do conceito de risco pelos funcionários. Pode-se avaliar que todos os interrogados reconhecem a necessidade da utilização de equipamentos de proteção individual (EPIs) em todas as funções do seu trabalho, assim como o risco associado a ele quer seja por contração de doença ou por ferimentos com perfurocortantes. Aproximadamente 58.3% dos interrogados já sofreram algum tipo de acidente de trabalho e, em 100% dos casos tratou-se de ferimentos com perfurocortantes. Nestes casos, a instituição oferece o auxílio estabelecido por lei, encaminhando o funcionário ao médico que indicará a necessidade de algum medicamento e, são realizados exames de sangue periódicos a fim de verificar alguma possível contaminação. Todos os entrevistados consideram os RSS perigosos (risco de contaminação, inalação, acidente de trabalho) e a limpeza hospitalar boa. Todos têm conhecimento de que o hospital possui CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) e CCIH (Comissão de Controle de Infecção Hospitalar) assim como os aspectos de segregação, acondicionamento, transporte e armazenamento interno dos resíduos gerados. - Segunda Etapa A caracterização dos resíduos em cada setor permitiu uma avaliação da quantidade gerada em cada tipo de descarte (saco branco, saco preto e caixa descartex) e suas características conforme detalhado na Tabela 1. 8

Setor Tipo de Nº Nº Nº Pacientes Saco Saco Perfuro Total Branco Preto cortantes atendimento Quartos Leitos (kg/dia) Manhã Tarde (kg/dia) (kg/dia) (kg/dia) Bloco C Térreo SUS 6 23 23 23 20.60 8.00 0 28.60 Bloco B 2º Particular 13 13 3 5 2.40 4.30 0 6.70 Bloco E1º SUS 8 33 33 33 32.50 9.80 2.40 42.30 Bloco E 2º SUS 8 32 26 26 9.60 6.50 0 16.10 Pediatria SUS 9 36 23 29 2.60 9.90 0 12.50 SMU SUS 2 12 + macas 13 17 13.20 32.10 3.00 45.30 Reverso Isolamento SUS 4 4 4 4 9.00 1.00 1.40 10.00 MI Isolamento SUS 4 4 4 4 7.80 1.40 2.40 9.20 UTI Adulto SUS / Unimed 1 UTI Coronariana UTI Neonatal e Infantil 10 +1 extra 11 11 5.50 7.10 0 12.60 SUS / Unimed 1 9 9 8 3.80 7.50 0 11.30 SUS / Unimed 2 14 6 8 6.20 6.60 0 12.80 Centro Cirúrgico SUS / Unimed 11 10 12 10 30.70 4.70 0 35.40 Total geral 69 201 167 178 143.90 98.90 9.20 242.80 Tabela 1- Caracterização dos resíduos por tipo de descarte e setor do hospital Existe uma maior geração de resíduos acondicionados em sacos brancos. Estes sacos, porém, contém além dos resíduos pertencentes ao Grupo A (Infectantes), alguns do Grupo D (Comuns) aumentando assim o volume a ser tratado. Essas ocorrências devem-se muitas vezes a fatores diversos como: rotina de trabalho, ausência de lixeiras, má informação, entre outros. É necessário ressaltar que a pequena quantidade gerada de materiais do Grupo E (Perfurocortantes) deve-se muitas vezes ao fato de a caixa Descartex não ter sido lacrada no dia da caracterização, porém, sua geração é constante. A caracterização também foi essencial para a percepção dos diversos componentes dos resíduos, podendo assim avaliar qual a maior geração e se é viável conduzi-lo a um outro tipo de destino. A composição dos resíduos é demonstrada na Tabela 2. 9

Setor Algodão Gaze c/ sangue Algodão Gaze s/ sangue Grupo A Grupo D Grupo E Nº Plástico Sacos Luva Bolsa Equipo Papel CP Papel Metal Vidro MFD Tecido Gesso Banheiro Fralda Bloco C Térreo 1 1 5 2 0 10 7 7 4 0 4 2 0 5 4 0 11 Bloco B 2º 1 5 5 0 0 15 7 5 0 1 2 4 0 1 0 0 17 Bloco E1º 1 6 15 0 3 22 13 16 11 1 10 2 0 14 10 0 30 Bloco E 2º 6 7 14 2 2 23 6 16 8 0 8 0 0 14 4 0 28 Pediatria 0 1 8 0 4 15 16 10 6 0 11 2 0 8 10 0 25 SMU 5 7 10 1 3 22 17 15 9 0 7 7 2 13 1 2 36 Reverso 0 1 2 1 0 4 3 3 3 0 2 0 0 2 0 1 5 MI 1 1 4 0 1 3 2 2 2 0 3 2 0 2 0 1 5 UTI Adulto 3 2 4 2 2 12 8 5 1 0 0 1 0 1 1 0 13 UTI Coronariana UTI Neonatal e Infantil Centro Cirúrgico 0 0 2 1 3 7 6 0 0 0 0 0 0 2 0 0 7 0 2 5 0 6 8 9 6 4 0 2 1 0 2 4 0 11 12 12 24 0 9 29 33 4 2 0 4 9 3 0 0 0 35 Total 30 45 98 9 33 170 127 89 50 2 53 30 5 64 34 4 223 Total (%) 13.5 20.2 43.9 4.0 14.8 76.2 57.0 39.9 22.4 0.9 23.8 13.5 2.2 28.7 15.2 1.8 100 Tabela 2 - Ocorrência de grupos de resíduos nos setores Os materiais com maior número de ocorrências são: papel (76.2%), plástico (57.0%), luvas cirúrgicas (43.9%), copos plásticos descartáveis - CP - (39.9%), papel utilizado no banheiro (28.7%) e restos de comida ou matéria facilmente degradável - MFD - (23.,8%). Essa constatação remete-nos, então, ao fato de que grande parte dos resíduos não possui um alto nível de periculosidade podendo, portanto, receber um outro tipo de destino ou tratamento. Vale ressaltar que o papel aqui contabilizado não está incluso na coleta seletiva interna do hospital. Os valores encontrados através da caracterização dos resíduos gerados na cozinha e refeitório de funcionários são demonstrados na Tabela 3. 10

1ª amostragem 2ª amostragem 3ª amostragem Horário MFD Recicláveis MFD Recicláveis MFD Recicláveis Horário Horário (kg) (kg) (kg) (kg) (kg) (kg) 07:30 20.4 4.0 07:30 30.0 1.0 07:30 42.2 2.4 13:30 39.6 5.5 13:30 70.0 5.0 13:30 108.4 10.0 18:30 65.4 16.8 18:30 36.4 15.0 18:30 26.6 21.4 Total 125.4 26.3 Total 136.4 21.0 Total 177.2 33.8 Tabela 3: Caracterização dos resíduos da cozinha e refeitório Os recicláveis correspondem aos copos descartáveis e papel, assim como o MFD corresponde aos restos de comida. Pode-se perceber que há uma geração média de aproximadamente 146 kg de material facilmente degradável e 27 kg de recicláveis, que são destinados ao aterro sanitário da cidade. CONCLUSÕES Com base nos resultados encontrados concluiu-se que: A instituição possui funcionários treinados para realizar a coleta e transporte dos resíduos e cientes de alguns riscos que seu trabalho apresenta. O investimento em treinamentos e constante revisão das técnicas de limpeza permitem que os funcionários realizem suas atividades laborais com segurança e melhora a imagem do estabelecimento pelos funcionários e público. O estabelecimento já possui algum tipo de segregação dos resíduos para posterior reciclagem (papel administrativo, papelão, embalagens de álcool e produtos de limpeza) sendo que este serviço pode ser ampliado para outros setores/atividades sem prejuízo da segurança dos funcionários e pacientes. Ocorre uma maior geração de resíduos acondicionados em sacos brancos, porém, estes contêm tanto resíduos do Grupo A (Infectantes) quanto do Grupo D (Comuns), não 11

havendo ainda uma segregação adequada e concordante com o preconizado pela ANVISA RDC 306/2004 e Resolução CONAMA 358/2005. A segregação inadequada é responsável pela contaminação cruzada de resíduos assim como o tratamento desnecessário e aumento dos custos do processo. As ocorrências de papel comum, plástico e luvas cirúrgicas foram as maiores encontradas demonstrando que os RSS não possuem um alto índice de resíduos infectados e sim, um alto índice de resíduos comuns similares aos resíduos domiciliares. Os resíduos gerados pela cozinha e refeitório de funcionários poderiam ser segregados de maneira mais adequada e, encaminhados para tratamento específico como reciclagem dos materiais plásticos e, compostagem da matéria orgânica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BRASIL. Poder Executivo Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, Resolução nº 358, de 29 de abril de 2005. Dispõe sobre o tratamento e a destinação final dos resíduos dos serviços de saúde e dá outras providências. 9 p 2. BRASIL. AGENCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA ANVISA, Resolução RDC nº 306, de 7 de dezembro de 2004. Regulamento Técnico para o Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder executivo, Brasília, DF, 10 dez. 2004. 3. SILVA, M.F.I. Resíduos de serviço de saúde. Gerenciamento no centro cirúrgico, central de material e centro de recuperação anestésica de um hospital do interior paulista. Tese de doutoramento, EERP-USP, Ribeirão Preto, SP, 2004. 4. (WHO) WORLD HEALTH ORGANIZATION. Safe Management of wastes from health-care activities. Geneva, 1998. 12