EFEITO DA TEMPERATURA E ESCARIFICAÇÃO NA GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE Euterpe oleracea (MART.) (ARECACEAE).

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Transcrição:

REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 Volume 13 - Número 1-1º Semestre 2013 RESUMO EFEITO DA TEMPERATURA E ESCARIFICAÇÃO NA GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE Euterpe oleracea (MART.) (ARECACEAE). Kathia Fernandes Lopes Pivetta 1, Petterson Baptista da Luz 2 Euterpe oleracea Mart, originária do Brasil, é uma palmeira que apresenta grande valor ornamental e para produção de palmito. A propagação das palmeiras, de modo geral, é considerada lenta, desuniforme e influenciada por vários fatores, como dormência física e temperatura. Devido à sua importância e à falta de informações na literatura sobre a propagação da espécie, este trabalho teve como objetivo estudar o efeito da escarificação física e da temperatura na germinação de sementes de Euterpe oleracea. Realizou-se um experimento cujo delineamento experimental foi inteiramente casualizado em esquema fatorial 2 x 6 (2 para escarificação e 6 para temperatura), com quatro repetições de 25 sementes. Frutos foram despolpados e os diásporos, colocados em caixas plásticas (tipo gerbox) contendo vermiculita como substrato, nas temperaturas de 25, 30, 35, 20-30 e 25-35 ºC e ambiente, com fotoperíodo de 16 h de luz e 8 h de escuro, utilizando-se câmaras incubadoras tipo BOD com controle de temperatura e fotoperíodo. Pelos resultados, conclui-se que não é recomendado o uso de escarificação ou do controle de temperatura para a germinação das sementes de Euterpe oleracea. Palavras-chave: Palmeira, açaí, ornamental. ABSTRACT EFFECTS OF TEMPERATURE AND SCARIFICATION ON SEED GERMINATION OF Euterpe oleracea (MART.) (ARECACEAE). Euterpe oleracea Mart, is a palm tree of great ornamental value on palm heart producing, native to the Brazil. Its commercial propagation is done by sexual means and there are only few studies on seed germination under the influence of various factors such as mechanical scarification and temperature. We tried to evaluate the seed germination of Euterpe oleracea using fruits at different maturarion stages under different temperatures. The experiment was arranged in a complete randomized design in a 2 x 6 factorial scheme (two scarification and six temperature conditions), with four samples containing 25 seeds each. Fruits had their pulp removed and their germinative capacity was evaluated by a germination test conducted in BOD incubation chambers under the temperatures of 25ºC, 30ºC, 35ºC, 20-30ºC and 25-35ºC and room temperature, on photoperiod of 16L:8D. Seeds were sown on vermiculite. The results showed that germination percentage and the index of emergence speed were not affected by seed scarification and temperature. Keywords: Palm tree, acai, ornamental. 83

1 INTRODUÇÃO O açaí, Euterpe oleracea Mart., é uma palmeira que ocorre nos estados do Pará, Amazonas, Maranhão e no Amapá, sendo frequente em solos alagados e várzeas (Lorenzi et al., 2004). Pode atingir altura de até 25 m, possui caule de 15 a 25 cm de diâmetro e ocorre geralmente formando touceiras com vários estipes. Sua madeira é utilizada em construções rústicas. Os frutos são do tipo baga de 1 a 1,5 cm de diâmetro de cor violácea, tornando-se quase negros depois de maduros, sendo utilizados para a confecção de licores, doces e sucos. As folhas são usadas para a cobertura de casas e na confecção de chapéus (Lorenzi et al., 2004). A principal importância econômica desta espécie, no entanto, é como produtora de palmito, utilizado principalmente para a exportação. A maioria das espécies da Família Arecaceae é propagada de forma sexuada. No entanto, este processo, freqüentemente, é dificultado, pois a germinação das sementes, de maneira geral, é lenta e desuniforme, e influenciada por vários fatores, como o grau de maturação, a presença ou não de pericarpo, o tempo entre a colheita e a semeadura, a dormência física, a temperatura do ambiente e o substrato (Meerow, 1991). De acordo com Bewley & Black (1985), a temperatura influencia tanto a porcentagem final de germinação como a velocidade de germinação. As sementes são capazes de germinar sob uma determinada amplitude de temperatura, definida para cada espécie, existindo uma temperatura máxima e uma mínima, acima e abaixo das quais a germinação não ocorre. Para a espécie da Família Arecaceae, há variações na indicação da faixa ideal onde ocorre a germinação de sementes de diferentes espécies. Generalizando, para várias espécies, os melhores resultados podem ser obtidos entre temperaturas que variam desde 24 ate 35ºC (Meerow, 1991; Broschat, 1994; Lorenzi et al., 2004). Embora a maioria das palmeiras seja de origem tropical, cujas sementes geralmente germinam de forma natural, em temperaturas mais elevadas, vários resultados sobre as temperaturas que proporcionam maior porcentagem de germinação têm sido encontrados para diferentes espécies, como 35ºC para Thrinax parviflora (Pivetta et al., 2005a), 25ºC para Rhapis excelsa (Aguiar et al., 2005), 30 e 35 C para Syagrus romanzoffiana (Pivetta et al., 2005b) e temperaturas alternadas de 30-35ºC para Chrysalidocarpus lutescens (Broschat & Donselman, 1986), 20-30ºC para Phoenix canariensis (Pimenta, et al., 2010), 25-35ºC para Livistona chinensis (Kobori, et al., 2009). A retirada da polpa (epicarpo e mesocarpo) também é recomendada, visto que acelera a germinação de sementes de algumas espécies (Meerow, 1991; Broschat, 1994; Lorenzi et al., 2004). Pivetta et al. (2005c) observaram que sementes de Syagrus schizophylla escarificadas mecanicamente tiveram maior porcentagem e germinação mais rápida quando comparadas com sementes que não foram escarificadas. Bovi & Cardoso (1976a) estudaram o efeito da escarificação mecânica (raspagem com agulha na região do poro vegetativo das sementes) e química (ácido sulfúrico, por 5 e 10 minutos) na germinação de sementes de Euterpe edulis, concluindo que não houve diferença entre sementes escarificadas ou não; o ácido sulfúrico por período superior a 5 minutos foi prejudicial às sementes. Bovi & Cardoso (1976b) estudaram, também, a imersão em água corrente e água quente (± 80 C) e escarificação química (ácido sulfúrico a 75%, por 5 e 10 minutos) na germinação de sementes de Euterpe oleraceae, concluindo que o uso do ácido sulfúrico não foi satisfatório; o tratamento com água quente também se mostrou prejudicial. A ocorrência de dormência, que inibe a germinação de sementes mesmo em condições favoráveis (Carvalho & Nakagawa, 2012), tem sido apontada como uma das principais causas de variação no período de germinação em palmeiras (Villalobos et al., 1992). Segundo Odetola (1987), não existe dormência em relação ao embrião, que se desenvolve continuamente após a maturação do fruto; porém, várias espécies da família Arecaceae apresentam dormência física em graus variados, demandando tratamentos como embebição em água ou em substâncias químicas reguladoras de crescimento, estratificação, 84 83

escarificação química ou mecânica ou, mesmo, graus de exposição à luminosidade. Este trabalho objetivou avaliar a eficiência de diferentes faixas de temperaturas e da escarificação física para acelerar e uniformizar a germinação das sementes de Euterpe oleracea. 2 MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi desenvolvido utilizando-se frutos de Euterpe oleracea, colhidos de exemplares existentes no Viveiro Experimental de Plantas Ornamentais e Florestais, da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias FCAV Universidade Estadual Paulista - UNESP, Campus da Jaboticabal. Após a colheita, os frutos foram despolpados (retirada do exocarpo e mesocarpo) por meio de atrito manual contra peneira. Os diásporos (sementes com o endocarpo aderido) foram enxaguados em água corrente, secos à sombra por um período de 24 horas. A determinação do teor de água foi realizada a partir de duas repetições de 20 diásporos, utilizando o método da estufa a 105ºC ± 3ºC por 24 horas, segundo as Regras para Análise de Sementes - RAS (Brasil, 2009). Para estudo do efeito da temperatura e da escarificação, o delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, em esquema fatorial 6 x 2 (6 condições de temperaturas: controladas fixas de 25ºC, 30ºC, 35ºC e alternadas de 20-30ºC e 25-35ºC e condição de ambiente e diásporos escarificados ou não) sendo 4 repetições de 25 sementes. A temperatura ambiente durante a condução do experimento foi medida diariamente com auxilio de um termo higrógrafo e atingiu a máxima de 36ºC e a mínima de 22,8ºC. De acordo com o tratamento, foi feita escarificação lateral dos diásporos, com auxílio de lixas, até aparecimento do endosperma. Diásporos escarificados ou não foram parcialmente enterrados em caixas plásticas (tipo gerbox), contendo vermiculita fina previamente umedecida, mantendo a capacidade de campo de 100%, sendo, posteriormente, colocados em câmara de germinação, cuja temperatura foi regulada de acordo com o tratamento. Na condição de ambiente os diásporos foram colocados sobre bancadas do laboratório, cujas temperaturas máximas e mínimas foram monitoradas diariamente, sendo a temperatura máxima média de 27,5ºC e mínima média de 24,5ºC. Diariamente foi anotado o número de sementes germinadas, observadas pelo aparecimento do botão germinativo. Para a análise foi anotado os dados da primeira contagem de germinação, realizado 4 dias após a semeadura e após estabilização da germinação foi calculada a porcentagem de germinação e o Índice de Velocidade de Germinação (IVG). Para determinação da porcentagem de germinação, utilizou-se a fórmula proposta nas Regras para Análise de Sementes (Brasil, 2009): Os dados de porcentagem total de germinação foram transformados em arc sen (x/100) 1/2. Foi realizada análise estatística e as médias foram comparadas pelo Teste de Tukey a 5% de probabilidade. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES O resultado do teor de água encontra-se na Tabela 1, onde são apresentados também, o peso em base úmida e seca. Tabela 1. Teor de água dos diásporos (semente com o endocarpo aderido) provenientes de frutos de Euterpe oleracea. Peso Úmido (g) Peso Seco (g) Teor de água (%) 28,512 17,196 39,68 25,192 15,068 40,18 Média 39,93 O teor de água dos diásporos é um fator muito importante, principalmente se tratando de palmeiras, cuja maioria é considerada recalcitrante, a viabilidade é reduzida quando o teor de água atinge valores inferiores àqueles considerados críticos e há perda total da viabilidade quando atinge teor de água iguais ou inferiores àqueles considerados letais (Martins et al., 1999a); estes teores críticos e letais são variáveis com a espécie, porém, são 84 85

considerados altos, da ordem de 27% e 38%, respectivamente (Martins et al., 1999a). Para Euterpe oleraceae a faixa crítica foi de 34,2% a 36,4% e letal, 17,4% a 18,9% (Martins et al., 1999b). Os resultados referentes à porcentagem de germinação e Índice de Velocidade de Germinação (IVG) de Euterpe oleraceae em diferentes temperaturas, com e sem escarificação dos diásporos, são apresentados na Tabela 2. Tabela 2. Porcentagem de germinação e Índice de Velocidade de Germinação (IVG) de Euterpe oleraceae em diferentes temperaturas, com e sem escarificação dos diásporos. Porcentagem de Germinação Temperatura Escarificação 25ºC 30ºC 35ºC 20-30ºC 25-35ºC Ambiente Com 98 aa 94 aa 96 aa 93 ab 91 ab 99 aa Sem 95 aa 91 aa 96 aa 100 aa 98 aa 93 aa CV (%) 8,82 Com 5,26 aba 4,70 ba 6,25 aa 4,55 ba 6,16 aa 6,06 aa Sem 4,33 ab 4,21 aa 4,86 ab 4,60 aa 4,78 ab 4,07 ab CV (%) 11,30 *Médias com letras diferentes minúsculas na linha e maiúsculas na coluna, diferem pelo teste de Tukey em nível de 5% de probabilidade de erro. IVG As médias da porcentagem de germinação foram altas, variando de 92,5% a 96,5% entre as diferentes faixas de temperaturas. Observa-se que houve interação significativa entre as diferentes temperaturas e a escarificação, tanto para porcentagem de germinação quanto para Índice de Velocidade de Germinação (IVG). Para a germinação, tanto a temperatura alternada de 25-35ºC quanto a de 20-30ºC apresentaram maiores porcentagens de germinação nos diásporos que não foram submetidos a escarificação. Sendo que a temperatura de 25-35ºC teve uma germinação de aproximadamente 86% nos diáporos não escarificados e 75% nos diásporos escarificados, enquanto que na temperatura de 20-30ºC apresentaram 90% e 77% de germinação. Para o IVG, pode-se observar um maior índice nos diásporos escarificados, nas temperaturas de 35ºC, 25-35ºC, ambiente, não diferindo significativamente da temperatura de 25ºC. Já os diásporos não escarificados, não houve influencia das diferentes temperaturas no índice de velocidade de germinação. Porem a escarificação aumentou o índice de velocidade de germinação dentro das temperaturas ambiente, 25ºC, 25-35ºC e 35ºC. Kitze (1958), trabalhando com sementes da palmeira Copernicia australis Becc., obteve bons resultados, realizando a escarificação mecânica das sementes. A utilização de ácido sulfúrico também proporcionou bons resultados, porém inferiores se comparado com o uso de escarificação mecânica. Frazão & Pinheiro (1982) também concluíram que o uso de escarificação mecânica estimula e uniformiza a germinação de sementes da palmeira do gênero Orbignya. Ferreira & Gentil (2006), estudando a germinação de tucumã (Astrocaryum aculeatum), confirmaram a possibilidade de se retirar o endocarpo sem causar prejuízos à viabilidade das sementes (germinação superior a 58%), independentemente dos vários períodos de embebição analisados. Já para a espécie estudada neste trabalho o método de escarificação não proporcionou resultados contundentes. Luz et al. (2008) trabalhando com a espécie Dypsis decaryi obtiveram as melhores porcentagem de germinação utilizando o mesmo substrato nas temperaturas de ambiente (91%), 20-30ºC (87%),30ºC (83%), 25-35ºC (80%) e 25ºC (76%). Enquanto que Pivetta et al. (2005a) observaram que a temperatura de 35ºC foi a melhor para a germinação da espécie Thrinax parviflora. 86 84

Apesar da espécie em estudo Euterpe oleracea, seja nativa de regiões cujas temperaturas são normalmente mais elevadas, apresentaram porcentagens de germinação bem semelhante nas diferentes temperaturas testadas. No entanto estes resultados não podem ser considerados definitivos, pois, podem variar com alguns fatores como o ano, cujas condições climáticas são distintas ou o local de origem como foi verificado por Castro (2006) para a palmeira Phoenix roebelenii. 4 CONCLUSÕES Pelos resultados do ensaio deste trabalho, pode-se concluir que na germinação de sementes de palmeira Euterpe oleracea não é recomendado o uso de escarificação e do controle de temperatura para acelerar esse processo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, F.F.A.; BILIA, D.A.C.; KANASHIRO, S.; TAVARES, A.R.; BARBEDO, C.J. Germinação de sementes de Rhapis excelsa (Thunb.) Henry ex. Rehder: efeitos da temperatura, luz e substrato. Hoehnea, v.32, n.1, p.119-126, 2005. BEWLEY, J.D.; BLACK, M. Physiology and biochemistry of seeds. Berlim: Springer - Verlag, 1985. 540p. BOVI, M.L.A.; CARDOSO, M. Germinação de sementes de açaizeiro I. Bragantia, v.35, p. 50-56, 1976b. BOVI, M.L.A.; CARDOSO, M. Germinação de sementes de palmiteiro II. Bragantia, v.35, p. 23-29, 1976a. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Regras para análise de sementes. Brasília, 2009. 399p. BROSCHAT, T.K. Palm seed propagation. Acta Horticulture, Wageningen, n. 360p. 141-147, 1994. BROSCHAT, T.K.; DONSELMAN, H. Factors affecting storage and germination of Chrysalidocarpus lutescens seeds. Journal of the American Society for Horticultural Science, Alexandria, v.111, p. 872-877, 1986. CARVALHO, N.M.; NAKAGAWA, J. Sementes, ciência, tecnologia e produção. 5.ed. Campinas: Fundação Cargil, 2012. 590p. CASTRO, A. Influência do local de origem e da temperatura na germinação de sementes de tamareira-anã (Phoenix roebelenii O Brien). 2006. 30f. Monografia (Trabalho de Graduação em Agronomia) Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, Universidade Estadual Paulista, Ilha Solteira, 2006. FERREIRA, S.A.N.; GENTIL, D.F.O. Extração, embebição e germinação de sementes de tucumã (Astrocaryum aculeatum). Acta Amazonica, v.36, n.2, p.141-146, 2006. FRAZÃO, F.M.F.; PINHEIRO, C.U.B. Implantação do banco ativo de germoplasma de babaçu (Orbignya spp.). São Luiz: Inst. Est. Babaçu, 1982. (Relatório Técnico). KITZE, E. D. A method for germinating Copernicia palm seeds. Principes, v.2, n.1, p.5-8, 1958. KOBORI, N.N.; PIVETTA, K.F.L.; DEMATTÊ, M.E.S.P.; SILVA, B.M.S.; LUZ, P.B.; PIMENTA, R.S. Efeito da temperatura e do regime de luz na germinação de sementes de Palmeira-leque-da-China (Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart.). Revista Brasileira de Hortiultura Ornamental, v.15, n.1, p.29-36, 2009. LORENZI, H.; SOUZA, H.M.; MEDEIROS- COSTA, J.T.; CERQUEIRA, L.S. C.; FERREIRA, E. Palmeiras brasileiras e exóticas cultivadas. Nova Odessa: Plantarum, p. 390. 2004. LUZ, P.B.; TAVARES, A.R.; PAIVA, P.D.O.; AGUIAR, F.F.A.; KANASHIRO, S. Germinação de sementes de palmeira-ráfia: efeito de tratamentos pré-germinativos. Revista Árvore, v.32, n.5, p.793-798, 2008. 87 84

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