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Transcrição:

Espectros estelares Roberto Ortiz EACH/USP

O tamanho das estrelas Vimos que a luminosidade de uma estrela relaciona se com o seu raio e sua temperatura: L * /L s = (R * /R s ) 2 (T * /5780) 4 onde a temperatura pode ser obtida pela Lei de Wien, por exemplo. A luminosidade pode ser calculada a partir da magnitude bolométrica e a distância da estrela, como já vimos.

podemos isolar o raio da estrela nessa última relação: L * /L s = (R * /R s ) 2 (T * /5780) 4 log(l * /L s ) = 2log(R * /R s ) + 4log(T * /5780) log(r * /R s ) = ½ log(l * /L s ) 2log(T * /5780) Na prática, é muito difícil medir os diâmetros estelares, porque as estrelas estão muito distantes e sempre aparecem como pontos luminosos, mesmo quando vistas através de grandes telescópios. A relação acima nos permite calcular o tamanho das estrelas.

O diagrama Hertzprung Russell (ou HR) Em 1912, durante uma reunião da Royal Astronomical Society (Reino Unido), Henry Norris Russell apresentou um diagrama que viria a ser chamado de Diagrama H R. Nesse diagrama, a luminosidade das estrelas era plotada como uma função de sua temperatura. Até hoje, as teorias de evolução estelar são baseadas na posição das estrelas nesse diagrama.

A maior parte das estrelas do Universo estão arranjadas ao longo de uma diagonal no diagrama: a sequência principal.

Vamos verificar a distribuição das estrelas no diagrama conforme o seu tamanho: Vimos que: log(l * /L s ) = 2log(R * /R s ) + 4log(T * /5780) Para um dado valor de R * temos que: log(l * /L s ) = cte. + 4log(T * ) 4log(5780) log(l * /L s ) = cte.' + 4log(T * ) y = b + a x Portanto, as linhas de iso raio no diagrama HR são retas diagonais paralelas.

Na sequência principal, todas as estrelas possuem mais ou menos o mesmo tamanho. Na parte superior do diagrama estão as estrelas supergigantes com raios da ordem de centenas de raios solares. Existem muitas estrelas na região de T * =3000 4000 K cujo raio é da ordem de dezenas de raios solares: as gigantes vermelhas.

Espectros estelares Espectros estelares são geralmente de absorção. Cada elemento químico gera um conjunto de linhas. O conjunto de linhas espectrais apresentado pela estrela dependerá da temperatura da estrela e de sua abundância química.

Diferentes espectros Sir William Huggins (1824 1910) e o padre jesuíta Angelo Secchi (1818 1878) do observatório do Vaticano notaram que os espectros estelares não eram todos iguais; só alguns se pareciam com o do Sol.

Classificação Espectral Em 1839 é criada a fotografia. Três anos mais tarde o francês Edmond Becquerel (1820 1891), e poucos meses depois o inglês John William Draper (1811 1882), fotografaram o espectro do Sol. Somente em 1872 Henry Draper (1837 1882) obteve a primeira foto de um espectro estelar, da estrela Vega. Na universidade de Harvard (EUA), Edward Pickering e Annie Cannon classificaram 225 000 estrelas até magnitude 9 entre 1918 e 1924. Cannon classificou os espectros de acordo com a intensidade das linhas do hidrogênio, sendo A a mais forte, B a seguinte, C e assim por diante.

Posteriormente algumas classes espectrais foram extintas e outras adicionadas. Os tipos espectrais foram ordenados de acordo com a temperatura da estrela. Em ordem decrescente de temperatura, os tipos espectrais são os seguintes: O B A F G K M (R N S)

Tipo O Temperatura: 32 000 a 50 000 K Cor: azulada Linhas: HeII (He uma vez ionizado); linhas do H fracas. Contínuo: forte no UV Ocorrência: raríssimas, ocorrem com frequência de 0,00003% Exemplos: Ori (Mintaka), Orionis, etc.

Tipo B Temperatura: 10 500 a 32 000 K Cor: branco azulada Linhas: HeI (He neutro); linhas do HeII ausentes; linhas do H com intensidade moderada. Contínuo: forte no UV Ocorrência: raras, ocorrem com frequência de 0,13% Exemplos: Ori (Rigel), Vir (Spica).

Tipo A Temperatura: 7 100 a 10 000 K Cor: branca Linhas: linhas do HeI e HeII ausentes; linhas do H com intensidade máxima. Contínuo: forte no azul Ocorrência: relativamente raras, ocorrem com frequência de 0,6% Exemplos: CMa (Sirius), Lyr (Vega).

Tipo F Temperatura: 6 000 a 7 000 K Cor: branco amarelada Linhas: linhas do H com intensidade moderada; linhas intensas do CaII (H & K no UV) Contínuo: forte na região central do espectro visível. Ocorrência: 1 em 33 (3%) Exemplos: Pup (Canopus), CMi (Procyon).

Tipo G (ou tipo solar) Temperatura: 5 300 a 6 000 K Cor: amarelada Linhas: linhas do H discretas; linhas intensas do CaII (H & K no UV) Contínuo: forte na região do amarelo. Ocorrência: 7% Exemplos: Cen, Sol.

Tipo K Temperatura: 4 200 a 5 300 K Cor: alaranjada Linhas: linhas do H muito fracas; muitas linhas de metais neutros (Mn, Mg, Fe). Contínuo: forte na região do vermelho. Ocorrência: 12% Exemplos: Tau (Aldebaran), Boo (Arcturus).

Tipo M Temperatura: 2 500 a 4 000 K Cor: vermelha Linhas: linhas do H praticamente ausentes; muitas linhas de moléculas (bandas moleculares), principalmente TiO. Contínuo: forte na região do infravermelho. Ocorrência: 76% (imensa maioria das estrelas do Universo) Exemplos: Ori (Betelgeuse), Ceti (Mira).

Sub tipos espectrais Cada tipo espectral é sub dividido em subtipos, numerados do mais quente para o mais frio. Exemplos: O5, O6, O7, O8, O9, B0, B1, B2... B9, A0, A1...

Sub tipos espectrais Cada tipo espectral é sub dividido em subtipos, numerados do mais quente para o mais frio. Exemplos: O5, O6, O7, O8, O9, B0, B1, B2... B9, A0, A1... Temperatura decrescente

A intensidade das linhas espectrais dos diversos estagios de ionização dos elementos depende da temperatura da estrela: Mais ionizados Menos ionizados

Em geral, quanto mais quente for a estrela, seus átomos estarão em estados mais ionizados. Exemplos: H 0 (HI) + 13.6 ev H + (HII) + e He 0 (HeI) + 24.59 ev He + (HeII) + e He + (HeII) + 54.42 ev He 2+ (HeIII) + 2e

Conclusões: A observação das linhas espectrais nos dá informações sobre o estágio de ionização dos elementos químicos na atmosfera da estrela. O estágio de ionização nos dá uma indicação sobre a temperatura da estrela: átomos muito ionizados (ex. SiIII, FeV) aparecem em estrelas muito quentes (e vice versa).

O tamanho das estrelas Conforme já vimos, pode se calcular o tamanho das estrelas. Estrelas da sequência principal têm tamanho semelhante ao Sol e são chamadas de anãs. Estrelas gigantes possuem diâmetro dezenas de vezes maior do que o Sol. Estrelas supergigantes possuem diâmetro centenas de vezes maior do que o do Sol.

Todas estrelas situadas ao longo da reta vermelha possuem a mesma cor ou temperatura, mas têm tamanhos diferentes! Mesma cor (ou T)

Estrelas anãs costumam exibir linhas espectrais mais largas do que as gigantes e supergigantes Espectro de uma supergigante tipo B8 Espectro de uma anã tipo B8

A classificação de Yerkes (Morgan, Keenan & Kellman, 1943) Ia Supergigantes luminosas. Exemplo: Rigel (B8Ia): L=40550 L s Ib Supergigantes. Exemplo: Betelgeuse (M2Iab): L=12246 L s II Gigantes luminosas. Exemplo: Antares (M1.5II): L=4875 L s III Gigantes. Exemplo: Aldebaran (K5III): L=100 L s IV Subgigantes. Exemplo: Acrux ( Crucis B1IV): L=3076 L s V Anãs ou de Sequência Principal. Exemplo: Sol (G2V): L=1 L s

Classes de luminosidade

Para saber mais... A Via Lactea, nossa ilha no Universo Jacques Lépine p.p. 63 71 À luz das estrelas Lilia Irmeli Arany Prado p.p. 129 132 Astronomia e Astrofísica Kepler S. Oliveira & Maria de Fatima O. Saraiva Capítulo 22, seçoes 22.1 a 22.5