2º Simpósio Brasileiro Saúde e Ambiente Desenvolvimento, conflitos territoriais e saúde: ciência e movimentos sociais para a justiça ambiental na políticas públicas. 19 à 22 de outubro de 2014 Minascentro Belo Horizonte / MG Resíduos de Serviços de Saúde, Ambiente e Saúde Eixo 3. Direitos justiça ambiental e política públicas ANÁLISE DO ENCAMINHAMENTO DE RESÍDUOS DE MEDICAMENTOS CONTROLADOS (PERIGOSOS) À LUZ DA LEGISLAÇÃO, PROTEÇÃO DO AMBIENTE E DA SAÚDE DA POPULAÇÃO - A EXPERIÊNCIA DA VIGILÂNCIA SANITÁRIA DE VALINHOS / SP. Autora: Daniela Zazeri (1) (1) Direção do Departamento de Saúde Coletiva, Secretaria Municipal de Saúde, Prefeitura de Valinhos. saudecoletiva@valinhos.sp.gov.br Co-autor: Cláudio Boschi Júnior(2) (2)Engenheiro Ambiental, Divisão de Vigilância Sanitária, Secretaria Municipal de Saúde, Prefeitura de Valinhos claudio.visa@valinhos.sp.gov.br 1
Resumo O encaminhamento de resíduos de medicamentos gerados em estabelecimentos públicos e privados devem atender a normas e legislações específicas, determinadas pelos órgãos ambientais e de saúde pública. Fazem parte deste grupo de resíduos os provenientes de medicamentos sujeitos ao controle especial, conforme estabelecido pela Portaria SVS 344 de 1998. Para o encaminhamento destes tipos de resíduos, cabem aos geradores comprovar, através de documentos oficiais emitidos pelos órgãos públicos competentes, relativos a cada etapa de seu gerenciamento. O intuito dos legisladores foi o de diminuir os risco de poluição do meio ambiente e o de exposição da população à produtos tóxicos, conforme preconizado pelo Sistema Único de Saúde SUS, através de ações de prevenção. O presente trabalho descreve os procedimentos adotados pela Vigilância Sanitária do município de Valinhos, São Paulo, para o estabelecimento dos trâmites administrativos para a análise da solicitação de inutilização de tais medicamentos. A fim de comprovar o atendimento ao estabelecido pela legislação é necessário que os responsáveis apresentem à Vigilância Sanitária, determinados documentos que comprovem a regularidade dos serviços contratados de coleta, transporte, tratamento e disposição final. O passo inicial para a elaboração dos procedimentos foi o de identificar a legislação pertinente. A seguir, foram elencados os documentos necessários a serem elaborados pela vigilância sanitária, bem como os a serem apresentados pelo gerador dos resíduos. Após a determinação do trâmite processual e dos documentos necessários, foi realizado encontro técnico com os profissionais farmacêuticos (dos estabelecimentos públicos e privados do município) para orientação técnica e comunicação dos procedimentos a serem adotados. O resultado deste trabalho, à luz da legislação sanitária e ambiental, foi o de ter contribuído para o correto encaminhamento destes resíduos, atendendo ao preconizado pelos órgãos ambientais e de saúde pública, diminuindo os riscos de poluição ambiental e exposição de populações à produtos tóxicos. Palavras-chaves: Meio Ambiente e Saúde Pública; Saúde Pública; Poluição Ambiental; Exposição Ambiental. Origem / Problema Em razão da necessidade do estabelecimento de procedimentos administrativos para 2
verificação de regularidade de coleta, transporte, tratamento e disposição final de resíduos de medicamentos específicos. Esses procedimentos referem-se: a) Ao atendimento de legislações e normas que preconizam o controle de substâncias medicamentosas; b) À proteção do meio ambiente; c) À proteção da. Tais resíduos são gerados por serviços de saúde existentes no município de Valinhos. As legislações e normas envolvidas possuem origem sanitária e ambiental e são de competência de ações de Vigilância Sanitária. Localização Os resíduos de medicamentos controlados são gerados no município, por estabelecimentos públicos e privados de serviços de saúde (figura 1). São cerca de 70 estabelecimentos, distribuídos na área urbana do município que contém cerca de 65 quilômetros quadrados. Sua população é estimada em 104 mil habitantes ( IBGE 2010), sendo sua área total cerca de 150 quilômetros quadrados ( figura 2). O município de Valinhos está situado cerca de 100 km da capital do estado de São Paulo. Compõe a Região Metropolitana de Campinas (RMC). A cidade de Campinas, com quem faz divisa, é a segunda mais populosa do estado, ficando atrás apenas da capital. Estão instaladas em Valinhos pequenas e médias indústrias de diferentes seguimentos, como: metalúrgicas, alimentos, equipamentos, têxteis, peças automobilísticas, químicas, entre outras. Possui atividade agrícola, fazendo parte do denominado "Circuito das frutas". È circundada por duas das pricipais rodovias do estado, com intensa circulação de veículos, caminhões e ônibus. Também existe linha de trêm para transporte de produtos. Sua região registra a existência de alguns ribeirões e córregos, os quais desaguam no rio Atibaia, um dos mananciais de abastecimento de água do município e também de Campinas. 3
Figura 1: Resíduos de medicamentos Figura 2: Município de Valinhos / SP Conceitos Os conceitos deste trabalho compreendem : - O atendimento aos trâmites processuais administrativos; - Legislações sanitárias e ambientais; - Responsabilidade dos profissionais das empresas terceirizadas; - Normas de transporte de resíduos. Segundo o Código Sanitário Estadual ( Lei 10.083 de 23 de setembro de 1998), as ações de vigilância sanitária comreendem o enfrentamento de fatores ambientais de risco à saúde, conforme descritos em seus artigos 11 e 12: Art.11 Constitui finalidade das ações de vigilância sanitária sobre o meio ambiente o enfrentamento dos problemas ambientais e ecológicos, de modo a serem sanados ou minimizados a fim de não representarem risco à vida, levando em consideração aspectos da economia, da política, da cultura e da ciência e tecnologia, com vistas ao desenvolvimento sustentável, como forma de garantir a qualidade de vida e a proteção do meio ambiente. Art. 12 São fatores ambientais de risco à saúde aqueles decorrentes de qualquer situação ou atividade no meio ambiente, principalmente os relacionados à organização territorial, ao ambiente construído, ao saneamento ambiental, às fontes de poluição, à proliferação de artrópodes nocivos, a vetores e hospedeiros 4
intermediários às atividades produtivas e de consumo, às substâncias perigosas, tóxicas, explosivas, inflamáveis, corrosivas e radioativas e a quaisquer outros fatores que ocasionem ou possam vir a ocasionar risco ou dano à saúde, à vida ou à qualidade de vida. Parágrafo único - Os critérios, parâmetros, padrões, metodologias de monitoramento ambiental e biológico e de avaliação dos fatores de risco citados neste artigo serão os definidos neste Código, em normas técnicas e demais diplomas legais vigentes. Diversos poluentes podem ser introduzidos nos diferentes compartimentos ambientais. Os diferentes resíduos gerados nas atividades econõmicas fazem parte destes elementos potencialmente poluidores quando gerenciados de forma inadequada. Segundo a Cetesb ( Companhaia de Tecnoclogia Ambiental de São Paulo), a poluição ou contaminação do meio ambiente pose ser ocasionada pela introdução de qualquer substância ou resíduos de forma inadequada. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabeleceu o regulamento técnico para substâncias e medicamentos sujeitos à controle especial através da Portaria SVS 344 de 12 de maio de 1998. Em seu art 2º o regulamento técnico determina a obrigatoriedade de Autorização Especial concedida pela Secretaria de Vigilância Sanitária (SVS) do Ministério da Saúde (MS) para Para extrair, produzir, fabricar, beneficiar, distribuir, transportar, preparar, manipular, fracionar, importar, exportar, transformar, embalar, reembalar, para qualquer fim, as substâncias constantes das listas deste Regulamento Técnico (ANEXO I) e de suas atualizações, ou os medicamentos que as contenham. Além da Autorização especial, a citada legislação regulamenta o Comércio, Transporte, Prescrição, Receita, Escrituração, Guarda, Balanços, Embalagem, Controle e Fiscalização. Compete aos Estados, Municípios e o Distrito Federal, exercer a fiscalização e o controle dos atos relacionados a produção, comercialização e uso de substâncias constantes das listas deste Regulamento Técnico e de suas atualizações, bem como os medicamentos que as contenham, no âmbito de seus territórios bem como fará cumprir as determinações da legislação federal pertinente e deste Regulamento Técnico, conforme o art 107. O item 2.6 da Resolução Anvisa 306 de 2004 que regulamenta o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde determina que os geradores de resíduos solicitem às empresas prestadoras de serviços terceirizados a apresentação de licença ambiental para o tratamento ou disposição final dos resíduos de serviços de saúde, e documento de cadastro 5
Formulário Destinação de Resíduos de Medicamentos Controlados - Proteção do meio ambiente e da emitido pelo órgão responsável de limpeza urbana para a coleta e o transporte dos resíduos. O art 3º da Resolução Conama 358 de 2005 confere a resposabilidade do gerador do resíduo desde a sua geração até sua disposição final. Abordagem O passo inicial para a elaboração dos procedimentos foi o de identificar a legislação pertinente, elencar os documentos necessários a serem elaborados pela vigilância sanitária, bem como estabelecer os documentos a serem apresentados pelo gerador dos resíduos. Após a determinação do trâmite processual e dos documentos necessários a serem avaliados, foi realizado encontro técnico com os profissionais farmacêuticos (dos estabelecimentos públicos e privados do município) para orientação técnica e comunicação dos procedimentos a serem adotados. Tal evento foi realizado em um único dia e foi divulgado através de convite encaminhado diretamente a cada estabelecimento. Realizou-se através de apresentação audio visial e entrega de material impresso. Como resultado, a fim de comprovar o atendimento ao estabelecido pela legislação, quando da solicitção de inutilização dos referidos medicamentos, é necessário que os responsáveis apresentem a Vigilância Sanitária, os seguintes documentos: próprio preenchido e assinado em 02 (duas) vias, especificando uma relação dos medicamentos; do Contrato de Prestação de Serviço para a coleta e tratamento de resíduos de serviço de saúde; do documento de Cadastro na Vigilância Sanitária Local da empresa responsável pela coleta de resíduos perigosos; do documento de Responsabilidade Técnica do profissional responsável pela empresa de coleta; do documento de regularidade do veículo transportador emitido pelo Instituto de Pesos e Medidas (Ipem) e Instituto Nacional de Pesos e Medidas (Inmetro); do Certificado de Destinação de Resíduos de Interesse Ambiental CADRI) emitido pela Companhia de Tecnologia Ambiental de São Paulo (Cetesb ); do documento de Licença de Operação emitido pela Cetesb da empresa de tratamento do resíduo; do documento de Responsabilidade Técnica do profissional responsável pela 6
empresa de tratamento do resíduo. Quando da apresentação, uma das vias do Formulário é devolvida ao solicitante para futura conferência dos medicamentos em caso de deferimento da solicitação. É gerado protocolo de recebimento e aberto processo administrativo próprio. Após analisada a validade dos documentos apresentados e comprovada a regularidade do encaminhamento dos medicamentos a serem inutilizados (resíduos), a autoridade sanitária lavrará o Termo de Inutilização para os medicamento listados no formulário, conforme Lei Estadual 10083 de 1998. Em seguida, a referida listagem é conferida com os medicamentos acondicionados no estabelecimento. Apresentando-se em conformidade, os medicamentos são acondicionados em sacolas plásticas transparentes e lacradas através de dispositivo numerado. Após, são acondicionados em recipiente próprio de propriedade do estabelecimento, contendo identificação de risco próprio ( Químico), conforme Resolução Anvisa RDC 306 2004. O número do lacre é acrescentado ao texto do Termo de Inutilização. Uma das vias do Termo é entregue ao estabelecimento, outra é juntada ao Processo Administrativo iniciado pela solicitação de inutilização. Em posse da via do Termo de Inutilização, os responsáveis pelo estabelecimento estão autorizados pela Vigilância Sanitária a encaminhar tais medicamentos para coleta, transporte, tratamento e disposição final, conforme informado pelo responsável no processo. Após a emissão de cópia do Certificado de Destinação, emitido pela empresa de Tratamento de resíduos e sua apresentação, pelos solicitantes, no referido Processo Administrativo, os trâmites são considerados concluídos e encerrados. Os procedimentos estabelecidos pela Vigilância Sanitária para a inutilização de medicamento da Portaria SVS 344 de 1998 foram informados aos responsáveis pelos estabelecimentos através de ação de Educação em Saúde. Encontro Técnico com Profissionaos Farmaceuticos do município, no ano de 2013. O ínício das solicitações de encaminhamento dos resíduos iniciaram-se no segundo semestre de 2013. Resultados Quase a totalidade dos estabelecimentos convocados compareceram ao treinamento. Cerca de 4(quatro) estabelecimentos solicitaram o encaminhamento dos resíduos acumulados. Três deles conseguiram comprovar o encaminhamento adequado, porém, um 7
não comprovou a regularidade do veículo transportador, tendo sua solicitação negada, até a devida regularização. Conclusões Como resultado da adoção dos procedimentos estabelecidos, à luz da legislação sanitária e ambiental, foi possível garantir, através de procedimento administrativo, o correto encaminhamento destes resíduos. Atendendo ao preconizado pelos órgãos ambientais e de saúde pública, evitando, assim, os riscos de poluição ambiental e exposição de populações à produtos tóxicos. Referências Resolução Anvisa RDC 3016 de 2004; Resolução Conama 358 de 2005; Portaria SVS 344 de 1998; Lei Estadual 10.083 de 1998. 8