APLICAÇÃO DA GEOTECNOLOGIA NO ESTUDO DA PRESERVAÇÃO/SUPRESSÃO DA MATA CILIAR NA BACIA DO RIO RIACHÃO/MG GABRIEL ALVES VELOSO MARCOS ESDRAS LEITE JEFFERSON WILLIAN LOPES ALMEIDA LABORATÓRIO DE GEOPROCESSAMENTO DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES INTRODUÇÃO A vegetação natural é de grande importância para a manutenção do equilíbrio nas bacias hidrográficas que é definida por Silva (1995) como um compartimento geográfico que tem divisores topográficos e escoamento superficial, com um rio principal e seus tributários. A retirada dessa vegetação natural acarreta em mudanças no micro clima, na qualidade solo e infiltração das águas da chuva neste, afetando diretamente os cursos de água, por isso se torna de suma importância o planejamento do uso do solo nas bacias hidrográficas no que possa amenizar os impactos das atividades humanas no meio ambiente. Um dos métodos utilizados para mitigar os efeitos causados pelo uso do solo é a preservação das matas ciliares, cujo Código Florestal Brasileiro define como as florestas e demais formas de vegetação natural localizada ao longo dos rios ou de qualquer outro curso de água. Para Andrade (2005) a área de Mata Ciliar é fundamental, pois esta desempenha um importante papel na harmonia dos sistemas, mantendo a qualidade e a quantidade de água nos rios, servindo do mesmo modo para a sustentação do fluxo gênico entre as espécies da fauna e flora. Ratificando a necessidade de preservação das áreas de matas ciliares Zanzarini (2007) elucida que essa vegetação tem função básica para o meio terrestre e aquático, pois exerce importante ação na geração do escoamento da bacia, fazendo também a ciclagem de nutrientes, além disso ajuda na filtragem de partículas e nutrientes, tendo uma interação direta com o meio aquático no sombreamento, como isso equilibrando a temperatura dos rios. 1
Observa-se, com isso a necessidade de preservação das matas ciliares, uma vez que retirada essa vegetação podemos trazer danos aos cursos d água, como assoreamento, perca da biodiversidade e até mesmo a morte do rio. O Código Florestal Brasileiro Lei nº. 7.803 de 1989 no Artigo 2 coloca como obrigatório a preservação das matas ciliares, esta variando de tamanho dependendo da largura do rio, lagos, represas e nascentes. Por isso, trata essa área a ser conservada, como área de preservação permanente APP. Mesmo com a garantia da lei esta vegetação e suprimida para atividades como agricultura, criação de gado, desmatamento dentre outras, tornando de grande responsabilidade os órgãos responsáveis na fiscalização do uso e ocupação do solo nas bacias hidrográficas. Desta forma, as geotecnologias atuam como poderosos instrumentos na preservação da APP, em específico a floresta ripária. O sensoriamento remoto, técnica que compõe as geotecnologias, se destaca entre essas tecnologias, haja vista que consiste em monitorar determinado espaço a distância, o que possibilita melhorar a eficácia da fiscalização ambiental. A oferta de satélites com sensores de variadas resoluções, tanto espacial, quanto espectral, torna o estudo da supressão da mata ciliar mais preciso. Com isso, ações de fiscalização otimizadas e medidas judiciais podem ser agilizadas. O trabalho de Saquet e Filho (2008) mostra a aplicação bem sucedida no monitoramento da Bacia do Rio Faca, localizado no município de São Jorge do Oeste, Sudoeste do Estado do Paraná. Igualmente, ocorreu no trabalho de Oliveira (2008) onde a mata ciliar foi quantificada no rio Paraguai, entre a foz do rio Cabaçal e a foz do córrego Padre Inácio. Para mostra a eficácia das tecnologias de informação geográfica realizou o estudo com o objetivo de compreender o uso e ocupação do solo na micro-bacia do Riachão no ano de 2009, e os impactos que essas atividades causam nas áreas de matas ciliares. Para conseguir resultados seguros, foram definidos os instrumentos, inserido dentro da Geotecnologia, como Sensoriamento Remoto, Sistema de informações Geográficas e a Cartografia Digital. 2
Metodologia A análise de uso do solo em bacias hidrográficas envolve uma série de procedimentos tecnológicos e metodológicos quando se usa as técnicas de Sensoriamento Remoto e de SIG. Através desses procedimentos fez se um estudo do uso e ocupação do solo na microbacia do Rio Riachão, o qual permitiu analisar a influência dessas atividades na supressão da Mata Ciliar. Essa metodologia foi dividida em etapas que se integraram no final do procedimento operacional. Diante disso, a primeira etapa de trabalho consistiu na pesquisa bibliográfica de obras que discutem a aplicação das geotecnologias no estudo de bacias hidrográficas. Na seqüência operacional, foram adquiridos os dados orbitais, a partir do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais INPE. As imagens utilizadas são provenientes do sensor TM do Satélite Landsat 5. Esses produtos apresentam resolução espacial de 30 metros no pancromático. Utilizou-se as bandas 3, 4 e 5 das órbitas 218 e 219 dos pontos 71 e 72 das imagens Landsat/TM. No software Spring 4.3 as imagens foram tratadas, gerando a composição multiespectral. Dessa forma, a composição colorida resultante foi a banda 3 no verde, a banda 4 no vermelho e a Banda 5 no azul. Com isso, essas imagens, datadas de julho de 2009, possibilitaram analisar o uso do solo na área de estudo. Feito essa composição fez-se o registro das imagens utilizando como base o arquivo, em formato shp, da hidrografia do Instituto Mineiro de Gestão das Águas IGAM. Posteriormente, gerou o mosaico que, e em seguida, foi recortado pelo limite da bacia do Riachão. Com a imagem recortada utilizou-se o procedimento de vetorização das mascaras no software AutoCad Map 2000 para diminuir o nível de confusão entre as classes de uso do solo, e conseqüentemente obter melhor resultado na classificação supervisionada, sendo vetorizadas as classes de vegetação natural e eucalipto. Na seqüência foi realizada a classificação da imagem, utilizando a técnica de classificação supervisionada com o classificador MAXVER. A partir da imagem classifica, na qual foi 3
escolhida as classes de uso do solo (solo exposto, vegetação natural, pastagem, eucalipto e mata ciliar) os dados foram transformados de matriz para vetor e exportados para o software ArcGis Map 9.3, onde posteriormente foram analisados. Em seguida realizou a técnica Buffer de 30 metros no Rio Riachão, Finalizando, o procedimento metodológico foi elaborado o mapa temático de uso e ocupação do solo e sua influência nas áreas de mata ciliar. RESULTADOS E DISCUSSÃO A bacia hidrográfica do riachão Localizada na mesorregião do Norte de Minas Gerais, mais precisamente na microrregião geográfica de Montes Claros, entre as coordenadas 43º55 11 e 44º28 47 de longitude oeste e entre as coordenadas 16º11 11 e 16º41 34 de latitude sul, (ver figura 1) a bacia hidrográfica do rio Riachão, o qual é afluente da margem direita do rio Pacuí e subafluente do rio São Francisco, ocupa uma área de 86.090 ha, drenando os municípios de Montes Claros, Coração de Jesus, Mirabela e Brasília de Minas. 4
Figura 1 Localização da bacia hidrográfica do Riachão. O clima da microrregião é do tipo subúmido, no qual a concentração de chuvas ocorre nos meses de novembro a janeiro, período em que a umidade pode atingir valores da ordem de 76,3%. A média anual de precipitação total oscila entre 800 e 1200 mm e a média anual da evapotranspiração 1097,0 mm. A variação do regime térmico apresenta uma oscilação suave, por se tratar de uma região subtropical cujos valores médios anuais variam entre 19,4 e 24,4ºC sendo o período mais quente compreendido entre os meses de outubro e janeiro e o mais frio de Junho a Julho. (Nimer; Brandão, 1989). 5
Os estudos de Afonso e Pereira (2005), sobre a área em questão, demonstram que 2.291 famílias vivem na bacia do Riachão, na qual 420 apenas no alto Riachão, totalizando 18,33% das famílias desta microbacia, dados que evidenciam uma grande concentração de famílias nas demais divisões da bacia e uma concentração de terras no alto curso do Riachão. As autoras destacam, ainda que, a referida área é intensamente cultivada com culturas de arroz, milho, feijão, cana-de-açúcar mandioca e hortifrutigranjeiros, sendo estas culturas de sequeiro, mas ocorrem ainda, centenas de irrigação por gravidade, aspersão, além do abastecimento humano e a dessendentalização de animais. Deve-se salientar que, o potencial hídrico do Riachão, sobretudo, nas suas cabeceiras, vem sendo comprometido desde 1960, com o desmatamento das suas matas ciliares para a produção de carvão, realidade que acarreta em demasia o assoreamento do Riachão e de seus afluentes, a utilização incorreta de agrotóxicos, a monocultura de eucalipto, e a irrigação por pivô central também são fatores que atuam no comprometimento do potencial hídrico da bacia do Riaçhão. (AFONSO; PEREIRA, 2005). Neste contexto, a bacia do Riachão vem sendo palco de disputas entre irrigantes e agricultores familiares pelo uso da água que, consoante o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM, 2008), está diretamente ligada ao uso do solo, principalmente, nas imediações da lagoa do Tiririca, ou seja, no alto Riachão, já que esta área é intensamente cultivada com culturas de cana, para a produção de cachaça e capim para a produção de semente, além da presença de eucalipto e da irrigação por pivô central. Para o órgão supracitado esta realidade prejudica, diretamente, 179 pequenos agricultores presentes nesta área e, sobretudo, compromete o equilíbrio ambiental de uma área naturalmente frágil e estratégica para a região na qual está inserida. O uso do solo e a mata ciliar A gestão da bacia hidrográfica do Riachão, diante das suas características, se torna emblemática no norte de Minas Gerais, haja vista que há um conflito ambiental instalado, que tem sua origem na forma desigual de uso da água. A água, enquanto bem público, deve ser 6
distribuída igualmente para seus usuários, embora essa diretriz legal não é praticada na bacia do Riachão. A figura 2 mostra que a classe de maior ocorrência na bacia do Riachão é a vegetação natural que ocupa uma área de 444 km². A distribuição dessa classe é desigual dentro da bacia, haja vista que a maior parte da cobertura vegetal natural está no baixo Rachão. Enquanto, que a pastagem e o eucalipto ocupam 201 e 202 km², respectivamente. Esses dados expõem a estrutura fundiária da bacia, haja vista que a pecuária extensiva e o eucalipto são formas de exploração de grandes porções de terra. O fato desses usos serem predominantes no alto Riachão denuncia a concentração de terra e a degradação ambiental nessa parte da bacia hidrográfica. Destaca-se que a classe definida como outros que apresentou uma área representativa (199 km²) agregam pontos de confusão entre a resposta espectral e os diversos usos no espaço real. Constatou, nessa classe, que alguns pontos se tratavam de pastagem degrada sobre um solo arenoso. A classe de solo exposto, com 92 km², também, merece destaque, isso por se tratar de uma classificação complexa que considera o fato da imagem não mostrar qualquer tipo de cobertura do solo naquela área. Com isso, alguns pontos estão com solo exposto por está sendo preparado para cultivo, em outros casos pode ser um indicativo de degradação ambiental. No entanto, este não foi o foco do trabalho, apesar da sua reconhecida importância. Na classe objeto de estudo deste trabalho, a mata ciliar, o dados extraídos foram preocupantes, uma vez que mostram a escassez de vegetação ripária, apenas 4,7 km². Além disso, a ocupação da APP por outros usos do solo, como pastagem, eucalipto, cultivo e solo exposto reiteram a supressão acentuada desse tipo de vegetação. 7
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Figura 2 Localização da bacia hidrográfica do Riachão. 9
Nota-se, a partir da análise do uso da terra, que no alto Riachão o consumo de água é maior que na parte intermediária o e baixa da bacia hidrográfica. Essa observação está baseada na quantidade pivôs centrais que estão localizados próximos à área de nascentes. Essa situação de oferta e consumo de água se agrava pelas classes de uso do solo presente na parte alta, como a predominância do eucalipto e a escassez de vegetação natural, notadamente a mata ciliar. A vegetação riparia se encontra quase extinta no alto riachão, sendo desta forma, a área de APP ocupada por pastagem, eucalipto. Além desses usos constatou que há presença de solo exposto e pastagem em estágio de degradação na área que deveria haver a mata de galeria. Essa situação de uso do solo e da água na parte alta tem interferência direta nos outros pontos da bacia do Riachão, pois a bacia hidrografia é entendida como um sistema. Dessa forma, a alteração em um elemento provoca alteração no fluxo de mátria e energia em todo o sistema. Essa lógica explica a preocupação dos órgãos ambientais responsáveis por essa área e, principalmente dos agricultores do baixo Riachão. Afonso e Pereira (2005) escreveram que a escassez de água do Riachão, tornando-o intermitente na parte baixa, fez com que os pequenos produtores se organizassem, forçando o Instituto de Gestão das águas de Minas Gerais (IGAM) a intervir na forma de uso da água na parte alta dessa bacia. Com relação à supressão da mata ciliar na bacia do Riachão percebe-se que em alguns pontos não há o cumprimento da preservação da APP. Essa situação é mais grave na parte alta da bacia, embora no médio Riachão existam apenas alguns resquícios da vegetação ripária. A preservação da mata ciliar é maior no baixo curso do Riachão essa situação pode ser explicada pela falta da água no canal do rio, além de predominar a pequena propriedade. Considerações finais O mapeamento, que traz o uso do solo na bacia hidrográfica do Riachão, apontou um contraste explícito na preservação da vegetação natural, pois há maior área de vegetação natural na parte baixa da bacia, enquanto no alto Riachão há os menores percentuais de cobertura natural. Além disso, as formas de uso do solo próximo as nascentes faz com que o consumo de água seja intenso, provocando a redução hídrica no baixo curso do Riachão. 10
Com isso este trabalho demonstrou que a Geotecnologia pode ser usada como instrumento que facilita a análise de uso do solo e consumo dos recursos hídricos, o que poderá ser usado pelo poder público na tomada de decisões sobre a gestão dos recursos ambientais. Diante dos resultados obtidos pela classificação da imagem e visitas a área de estudo, percebeu que a exploração do solo é intenso nessa bacia hidrográfica, o que implica na não preservação da APP, pois determinados usos, como reflorestamento e pastagem, penetram nas áreas destinadas a preservação da mata ciliar. Agradecimentos Os autores agradecem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de Minas Gerais FAPEMIG pelo auxílio financeiro para participação no evento. REFERÊNCIAS ANDRADE, F et al. Levantamento Florístico do Componente Arbustivo-Arbóreo de uma Área de Mata Ciliar do Arroio do Monjolo, Guarapuava-PR. Reveista Brasileira de Agroecologia. N.2V.4. p 3515-3518. Nov. 2009 AFONSO, P. C. S.; PEREIRA, A. M. A questão da água na bacia do Riachão (MG): Uso e Gestão. Revista Cerrados. Montes Claros: Universidade Estadual de Montes Claros/ Departamento de geociências. v.3. n. 1. 2005. 115p. p. 75-86. NIMER, E; BRANDÃO, A. M. P. M. Balanço Hídrico e clima da região de Cerrado. Rio de Janeiro: IBGE, Departamento de recursos hídricos naturais e estudos ambientais, 1999. OLIVEIRA, A. P; SILVA NEVES, S. M. S da; CAMPOS SOARES, E. R de Uso de SIG e Sensoriamento Remoto no Estudo do Estado de Conservação da Área de Preservação Permanente do Rio Paraguai, entre a Foz do Rio Cabaçal e a Foz do Córrego Padre Inácio - Cáceres/MT. Anais... IX Semana de Geografia, Cáceres/MT, Brasil, 13-17 outubro 2008, Unemat.. SAQUET, D. B; MELLO FILHO, J. A de. Uso da Geotecnologias na Análise Ambiental da Microbacia do Rio da Faca, São Jorge D oeste Paraná, Br.. In 12º Encuentro de Geógrafos de América Latina, 2009. Montevidéu. Anais do 12º Encuentro de Geógrafos de América Latina. (s/p). WAMMES, E et al. Importância ambiental das áreas de preservação permanente e sua quantificação na microbacia hidrográfica da Sanga Mineira do município de Mercedes PR Revista Brasileira de Agroecologia. N.2. V.2. p. 1408-1411. Out. 2007. 11
ZANZARINI, R. M; ROSELEN, V. Mata Ciliar e Nascente no Cerrado Brasileiro. In 12º Encuentro de Geógrafos de América Latina, 2009. Montevidéu. Anais do 12º Encuentro de Geógrafos de América Latina. (s/p). 12