Palavras-chave: HIV. Transmissão ver cal. Mães HIV. Gestantes HIV.

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Transcrição:

MÃE HIV POSITIVO: A VIVÊNCIA DA NÃO - AMAMENTAÇÃO E O MÉTODO DE INIBIÇÃO DE Lisiane da Rosa 1 Rejane Ceolin 2 Carla Argenta 3 RESUMO: Este ar go aborda estudos sobre mães HIV posi vo, e suas vivências com a não-amamentação, e uso do método de inibição da lactação por enfaixamento. Tem como obje vo integrar estudos de ar gos e textos com a prá ca de saúde da criança do curso de enfermagem da URI de Frederico Westphalen, em um hospital do noroeste do estado do Rio Grande do Sul. Os métodos u lizados foram a garimpagem de ar gos de revistas conceituadas encontradas na página do Scielo, e com isso aliando a experiência enquanto acadêmica de enfermagem no hospital. O estudo nos mostrou como é doloroso para mães infectadas o não poder amamentar seu lho e também o quanto é puni vo e angus ante o método de enfaixamento u lizado em larga escala nos serviços de saúde. Palavras-chave: HIV. Transmissão ver cal. Mães HIV. Gestantes HIV. 1 Acadêmica do VIII semestre do curso de Graduação em enfermagem da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões Campus de Frederico Westphalen/RS, Bolsista de Extensão, membro do grupo de pesquisa em saúde, email: rosa.lisiane@hotmail.com. 2 Acadêmica do VIII semestre do curso de Graduação em enfermagem da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões Campus de Frederico Westphalen/RS, voluntária de projeto de extensão. 3 Professora do Curso de graduação em enfermagem da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões URI/FW, email: carlaargenta@yahoo.com.br Revista de Enfermagem Frederico Westphalen v. 6-7 n. 6-7 p. 257-266 2010-2011

INTRODUÇÃO REVISTA DE ENFERMAGEM Desde o surgimento do Vírus da Imunode ciência Humana (HIV), as previsões apresentadas no relatório do programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV e Aids indicam tendências gerais de crescimento na transmissão deste vírus. As mulheres, em par cular, já representam 50% da epidemia global, sendo que, em determinados países africanos esse percentual pode alcançar 58%. Na América La na o número de adultos e crianças infectados pelo HIV cresceu e alcança cerca de 1,6 milhões (MONTICELLI, SANTOS, ERDMANN, 2007). Essa população de mulheres vem buscando cada vez mais o direito a qualidade assistencial no atendimento, incluindo acolhimento, acesso, ação de vigilância, assistência individual e disponibilidade. Essas gestantes e puérperas com diagnós co de HIV posi vo buscam não apenas por soluções terapêu cas para sinais e sintomas sicos, mas também pessoas e pro ssionais que as acolham e as cuidem livres de qualquer preconceito. Para Coelho e Mo a (2005), essas mulheres querem ser entendidas e compreendidas como mães com caracterís cas diferenciadas e par culares, mas que podem levar uma vida normal se seguirem alguns cuidados. Paiva e Galvão (2004) trazem o resultado de um estudo brasileiro sobre os signi cados atribuídos ás mulheres-mães HIV posi vo, onde traz à tona a interpretação de que ser mãe e estar com Aids representa um processo que transcende a doença. Este se vincula à polaridade entre o bem e o mal, envolvendo valores dualistas saturados de noções sagradas sobre a maternidade e de noções profanas do mundo da sexualidade. Dessa forma, par ndo da preocupação com as gestantes, mães HIV posi vo e recém-nascidos, é que em países desenvolvidos foram implementados em ampla escala intervenções visando reduzir a transmissão ver cal do HIV principalmente com a administração de an rretrovirais, a cesariana ele va e a subs tuição do leite materno, resultaram na redução signi ca va da incidência de casos 258 Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões

MÃE HIV POSITIVO: A VIVÊNCIA DA NÃO AMAMENTAÇÃO E O MÉTODO DE INIBIÇÃO DE de AIDS em crianças. No Brasil, embora essas intervenções estejam disponíveis para toda a população de gestantes infectadas pelo HIV e seus lhos, há di culdades da rede de saúde em prover diagnós co laboratorial da infecção pelo HIV. A cobertura de mulheres testadas no pré-natal é insu ciente, principalmente nas populações mais vulneráveis, e a qualidade do pré-natal ainda está além do desejável. A administração de zidovudina injetável é realizada em menos de 50% dos partos do total de mulheres es madas como infectadas pelo HIV (BRASIL 2004). Dentro desse contexto ainda há um grande problema para as mães infectadas e seus familiares, relacionada à amamentação, uma vez que essa sempre foi orientada como essencial e prioritária, e neste momento deve ser subs tuída por fórmulas ar ciais, como uma das formas de prevenção de contaminação da mãe para o bebê. Essa informação causa muito sofrimento para mãe HIV posi vo, pois a representação da amamentação é algo que invade o ser das mulheres, enquanto principal símbolo da maternidade. Nakano (2003) reforça o assunto colocando que a amamentação não se esgota apenas em fatores biológicos, mas invade dimensões construídas cultural, social e historicamente. A AIDS é uma doença que afeta diretamente a iden dade social das mulheres, sendo essa uma razão pela qual é em torno dos aspectos sociais e morais nela implicados que se estabelece uma iden dade de mulher HIV posi vo. É através do sofrimento imposto pelas restrições que a AIDS impõe às mulheres, que elas se tornam capazes de reconhecerem-se umas nas outras. Elas sabem avaliar as implicações de ter um lho doente, e as medidas sociais a que estão subme das, através da não-amamentação, os con itos desencadeados pela doença entre o cônjuge e os consanguíneos, e as di culdades de enfrentar essa situação (KNAUTH, 1999). No Brasil, o Ministério da Saúde (2003) recomenda que as mães HIV posi vo não amamentem seus lhos, nem doem leite aos Bancos de Leite Humano. Orienta-se a secagem o leite e disponibiliza-se gratuitamente a fórmula infan l pelos seis primeiros Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões 259

REVISTA DE ENFERMAGEM meses de vida de crianças expostas. O presente ar go obje vou estudar os impactos da não amamentação nas mães HIV posi va e também aspectos relacionados ao enfaixamento das mamas. 1 METODOLOGIA Este ar go consiste em uma re exão teórica acerca da temá ca em estudo ancorada numa amostra de ar gos pesquisados na base de dados SCIELO, publicados nos úl mos cinco anos. Para a pesquisa dos ar gos u lizou-se os seguintes descritores: nãoamamentação, mães infectada pelo HIV transmissão ver cal e gestantes HIV. Os ar gos encontrados foram lidos na íntegra e posteriormente separados conforme a necessidade para a realização desta re exão teórica. Foram selecionados vários ar gos para construção deste, e u lizou-se também outras bibliogra as como livros e textos disponíveis na biblioteca da URI e em meios eletrônicos. Procuramos re e r acerca de uma experiência vivenciada como acadêmica de Enfermagem na disciplina de Saúde da Criança em um hospital do noroeste do Rio Grande do Sul no segundo semestre de 2009, relatando-a e fundamentando a discussão com base no conteúdo dos ar gos selecionados. Além dos cuidados elencados pela ro na hospitalar, nos propomos enquanto acadêmicos de enfermagem a fazer mais, acompanhando de forma mais próxima a mãe e o recém-nascido, realizando as orientações quanto aos cuidados com o bebê, sanando dúvidas e persis ndo sobre a importância da não amamentação, naquele caso tão par cular. 2 REFLEXÃO ACERCA DA TEMÁTICA Na nossa sociedade a importância da amamentação foi incorporada, sendo comum ques onar a mãe de um recém-nascido se ele está recebendo leite materno. Para as mães infectadas pelo 260 Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões

MÃE HIV POSITIVO: A VIVÊNCIA DA NÃO AMAMENTAÇÃO E O MÉTODO DE INIBIÇÃO DE vírus HIV par cipantes de um estudo realizado Moreno, Rea e Filipe (2006), a cobrança social colocou-as em situações constrangedoras e elas criaram desculpas socialmente aceitas para jus car a nãoamamentação. Nesse sen do, é importante que o enfermeiro que atento às recomendações, subsidiando a mulher com argumentos relacionados à saúde e suas restrições, mas que trabalhe com sensibilidade e disponibilidade para que aquelas portadoras do HIV possam explicar o fato de não amamentar de maneira mais plausível, obtendo a garan a de sen rem-se seguras e amparadas por parte de toda equipe. A mãe portadora de HIV, a qual cuidamos e acompanhamos em nossa prá ca hospitalar, u lizou como inibição da lactação o método de enfaixamento, onde os seios cam envoltos por faixas, escondendo completamente o peito. A realização de procedimento para interromper a lactação através do enfaixamento é caracterizada pelas mulheres como uma técnica violenta que lhes traz sensação de poda, de cerceamento, de ir contra a natureza (MORENO, REA, FILIPE, 2006). Sabemos que essa prá ca não medicamentosa, de inibir a lactação pode muitas e inúmeras vezes ser dolorosa, ocasionando febre, desconforto, ingurgitamento mamário e angús as devido a todos estes fatores biológicos e aos emocionais de não estar podendo amamentar, tornando a não-amamentação ainda mais penosa e puni va. Segundo Santos (2004), a vivência do enfaixamento das mamas desencadeia uma imagem do corpo centralizado na mama, que afeta a mulher/mãe nas suas dimensões sica, psíquica, social e cultural, estando in mamente inter-relacionadas, retratando o elevado nível de rejeição e repúdio expresso corporeamente pela maior parte das mulheres. O corpo que recebe intervenção através de procedimentos para secagem do leite denota signi cados, e à medida que os signi cados vividos individualmente são contextualizados na relação intersubje va, vai se con gurando uma relação social. Em relatos de experiências percebe-se que mulheres HIV Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões 261

REVISTA DE ENFERMAGEM posi vo querem demonstrar que elas desejam proteger o outro em detrimento de si, embora também proteger o outro em bene cio de si mesma. Isto é, quando uma mulher diz que quer proteger o lho da doença, ela quer proteger a si mesma, de forma a ter uma chance de ser perdoada e aceita pela sociedade, poderá entender que ela fez de tudo para poupar seu bebê da infecção. Diante de uma situação limite, o pico da ação vivida pode mostrar que o cuidar do outro se mistura com o cuidar de si (MORENO, REA, FILIPE, 2006). Constatamos em nossa prá ca hospitalar através de conversas e cuidados com uma mãe HIV posi vo e por meio da leitura de vários ar gos de autores citados acima, que uso de enfaixamento como processo de inibição da lactação é sen do por elas como um método doloroso. O pro ssional de saúde que interage com a mulher HIV posi vo ao de nir a necessidade e realizar a intervenção de inibição do leite deve colocar-se imagina vamente no lugar da mulher, pois só assim terá o cuidado necessário para com o corpo do outro, respeitando seus limites e preparado para dialogar e informar. A supressão da lactação baseia-se em medidas não-hormonais ou clínicas e medidas farmacológicas. O método não hormonal é relatado como o mais simples e consiste em comprimir confortavelmente as mamas (enfaixamento), aplicação de bolsa de gelo ou compressas frias (por um período menor ou igual há 10 minutos) e administração de analgésico, podem diminuir os sintomas sicos (SÃO PAULO, 2002). O enfaixamento é um procedimento adotado como ro na pelos serviços de saúde, conforme recomendação preconizada pelo Ministério da Saúde e deve sempre estar baseado no consen mento livre e esclarecido das puérperas (BRASIL, 2003). O método farmacológico de supressão da lactação não é indicado devido aos efeitos colaterais. Cabe a nós enquanto pro ssionais enfermeiros, devido à chance de proximidade que mantemos com nossos pacientes, orientar essas mães quanto à importância de seu lho estar recebendo a fórmula ar cial e não o leite materno. Também devemos enfa zar 262 Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões

MÃE HIV POSITIVO: A VIVÊNCIA DA NÃO AMAMENTAÇÃO E O MÉTODO DE INIBIÇÃO DE que seu lho vai estar bem alimentado e recebendo a nutrição adequada e necessária para crescer e desenvolver-se de maneira normal e saudável, e que neste momento em par cular, o leite materno estará sendo prejudicial ao bebê. O enfermeiro deve des nar atenção especial para a mãe e recém- nascido e não permi r que o fato desta não poder u lizar do aleitamento materno como forma de alimentação e afeto, a impeça de dar carinho, conforto e segurança e assegurar que mesmo sendo portadora do HIV, o contato pele a pele do binômio as ajudará enfrentar toda e qualquer di culdade. O pro ssional de saúde deverá subsidiar a mulher de argumentos lógicos que lhe possibilite explicar para familiares e outras pessoas de sua comunidade ou de outro ciclo de sua relação, o fato de não estar amamentando, possibilitando-lhe assim, atender sua vontade de manter em sigilo seu estado sorológico. A experiência de não amamentar, é, para as mulheres com certeza penosas e emocionalmente desgastantes. CONSIDERAÇÕES FINAIS Constatamos ao nal do estudo que as portadoras do HIV deparam-se com circunstâncias adversas que envolvem, além delas mesmas, um outro ser. A alimentação do bebê passa a ser mais um fator cujos riscos e bene cios devem ser medidos, além de lidar com cobranças e con itos interiores relacionados à não amamentação. Esses aspectos devem ser considerados quando da elaboração de manuais sobre procedimentos de inibição da lactação. As várias di culdades de não amamentar e ainda ter que sustentar o porquê dessa prá ca que para muitos na sociedade seria o ideal, é sem dúvida o maior obstáculo e desa o para a mãe HIV posi vo. A maneira como é preconizado o cuidado para inibição da lactação é sem dúvida para a maioria das mulheres uma prá ca muito dolorosa e que provoca inúmeros problemas emocionais em relação ao seu corpo, seu espírito e principalmente em relação ao ser mãe e responsável pelo seu lho, ainda bebê. Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões 263

REVISTA DE ENFERMAGEM HIV POSITIVE MOTHER: THE EXPERIENCE OF NON-BREASTFEEDING AND METHOD OF INHIBITION OF LACTATION BY BANDAGES ABSTRACT: This ar cle discusses studies of HIV-posi ve mothers, and their experiences with the non-breas eeding, and use of the inhibi on of lacta on by bandaging. It aims to integrate research ar cles and texts with the prac ce of child health from the nursing course of URI Frederico Westphalen, in a hospital in the northwestern state of Rio Grande do Sul. The methods used were the mining of reputable journal ar cles found on Scielo, and thus combining the experience as academic nurse in the hospital. The study shows how painful it is for the infected mothers the fact that they cannot breas eed their child and also how much is puni ve and distressing the method of wrapping used extensively in health services. Keywords: HIV. Ver cal transmission. HIV mothers. HIV Pregnant. REFERÊNCIAS COELHO, D. F; MOTTA, M. G. C. A compreensão do mundo vivido pelas gestantes portadoras do vírus da imunode ciência humana (HIV). Rev Gaúcha Enferm. v. 26, n. 1, p. 31-41, 2005. KNAUTH, D.R. Subje vidade feminina e soroposi vidade. In: Barbosa RM, Parker R, editores. Sexualidades pelo avesso: direitos, iden dades e poder. São Paulo: IMS/UERJ; p.132, 1999. BRASIL. Secretaria de Vigilância e Saúde. Programa Nacional de DST/AIDS. Recomendações para pro laxia da transmissão ver cal do HIV e terapia an retroviral em gestantes. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. BRASIL. Coordenação Nacional DST/AIDS. Secretaria Execu va. 264 Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões

MÃE HIV POSITIVO: A VIVÊNCIA DA NÃO AMAMENTAÇÃO E O MÉTODO DE INIBIÇÃO DE Coordenação Geral da Polí ca Nacional de Alimentação e Nutrição. Guia prá co de preparo de alimentos para crianças menores de 12 meses ver calmente expostas ao HIV. Brasília: Ministério da Saúde, 2003. MORENO, C. C. G. S; REA, M. F; FILIPE, E. V. Mães HIV Posi vo e a não amamentação. Revista Brasileira de Saúde Materno Infan l. Recife, v. 6, n. 2, p. 199-208, abr./jun., 2006. MONTICELLI, M.; SANTOS, E. K. A; ERDMANN, A. L. Ser mãe HIV- posi vo: signi cados para mulheres HIV posi vo e para a enfermagem. Acta Paul de Enfermagem, v. 20, n. 3, p. 291-8, 2007. NAKANO, A. M. S. As vivências da amamentação para um grupo de mulheres: nos limites de ser o corpo para o lho e ser o corpo para si. Caderno de Saúde Pública, v. 19, [Supl 2], S355-S63, 2003. PAIVA, S. S; GALVÃO, M. T. G. Sen mentos diante da não amamentação de gestantes e puérperas soroposi vas para HIV. Texto & Contexto Enfermagem, v. 13, n. 3, p. 414-9, 2004. SANTOS, E. K. A. A expressividade corporal do ser-mulher/mãe HIV posi va frente à privação do ato de amamentar: a compreensão do signi cado pela enfermeira à luz da teoria da expressão de Merleau-Ponty. Tese [Doutorado]. Florianópolis: Programa de Pós- Graduação em Enfermagem, Centro Ciências da Saúde, Universidade Federal de Santa Catarina; 2004. SÃO PAULO. Secretaria de Saúde. Coordenação Estadual de DST/ AIDS. Programa Estadual de DST/AIDS de São Paulo. Considerações sobre o aleitamento materno e o HIV. São Paulo, 2002. Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões 265