HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomás Tadeu da Silva, Guacira Lopes Louro. 11. ed., 1. reimp. Rio de Janeiro: DP&A, 2011.

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Transcrição:

HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomás Tadeu da Silva, Guacira Lopes Louro. 11. ed., 1. reimp. Rio de Janeiro: DP&A, 2011. Thayane Lopes Oliveira 1 Stuart Hall trabalha nesta obra com a questão de uma possível crise de identidade, quais são os acontecimentos que promoveram essa crise e que caminhos ela segue. O autor afirma sua posição favorável ao entendimento que há uma fragmentação nas identidades modernas. No entanto, por ser o conceito de identidade muito complexo e pouco desenvolvido nas ciências sociais, esse conceito não pode ser tido como acabado e incontestável. Hall utiliza-se de uma observação de Kobena Mercer de maneira a justificar o seu estudo, é ela: a identidade somente se torna uma questão quando está em crise, quando algo que se supõe como fixo, coerente e estável é deslocado pela experiência da dúvida e da incerteza (Hall, p. 9). É a partir dessa afirmação de uma crise de identidade que Hall desenvolve os argumentos que possibilitam visualizar o desenvolvimento dessa crise identitária. São transformações nas sociedades modernas do século XX que estão deslocando ou descentrando o sujeito do seu espaço na sociedade e de si mesmo, gerando uma crise de identidade para os indivíduos. O primeiro capítulo do livro, A identidade em questão, aborda as definições de identidade/sujeito e as mudanças ocorridas nessas definições ao longo da modernidade tardia. O autor parte de três concepções de identidade, são elas: 1- Sujeito do Iluminismo: concepção de sujeito humano centrado, racional, unificado, consciente. A identidade nesse sujeito aparece no seu nascimento e desenvolve-se ao longo da vida em um processo contínuo. 2- Sujeito Sociológico: envolvido na complexidade do mundo moderno, o sujeito sociológico não é autossuficiente, nem independente do mundo. Sua identidade não é formada apenas no interior do sujeito, mas sim na interação desse eu e a sociedade. O sujeito aqui é passível de modificações no diálogo com o mundo exterior. A identidade serve para costurar o sujeito à estrutura, tornando-os reciprocamente unificados. 3- Sujeito pós-moderno: não possui uma identidade fixa, 1 Graduanda em História pela Universidade Federal do Ceará. Discente da disciplina Oficina de História Geral II. E-mail: oliveira.thayane@bol.com.br

permanente e essencial. Trata-se de uma identidade móvel, definida historicamente e não biologicamente, não é unificada como no iluminismo, tão pouco coerente. Nesse entendimento, um indivíduo pode possuir diversas identidades em si, utilizando-as de acordo com os sistemas culturais que o rodeia. Assim, percebemos a transformação ocorrida na identidade do sujeito moderno, que passa de sujeito unificado a sujeito contraditório, descentralizado. Para tratar das mudanças ocorridas na modernidade tardia, falando especialmente do processo que chamamos de globalização o autor dialoga com Marx, Giddens, Harvey e Laclau para mostrar que as sociedades modernas são sociedades pautadas na ideia de mudança constante, rápida e permanente. E é este caráter de mudança permanente que as distingue das sociedades tradicionais. O autor chama atenção para o processo de descontinuidades, processo que libertou os indivíduos das amarras da tradição, promovendo uma ruptura com o passado. Essas sociedades também são caracterizadas por não possuir um centro organizador único, elas são formadas por uma pluralidade de centros de poder. Essa sociedade é marcada pela diferença, diferenças que produzem diferentes sujeitos, isto é, identidades para os indivíduos. Aqui, podemos lançar mão do trabalho de Tomaz Tadeu da Silva, A produção social da identidade e da diferença, para compreender melhor a relação entre identidade e diferença. Segundo esse autor, a identidade só precisa ser reafirmada porque existe a diferença, se fossemos todos iguais, não precisaríamos afirmar nossa identidade(s) para o mundo. O autor traz o seguinte exemplo: Quando digo que sou brasileira, estou dizendo o que sou (identidade) e o que não sou (diferença), só digo isso porque sei que existem outras nacionalidades, então preciso me distinguir dentro dessas várias possibilidades. Finalizando o capítulo, Stuart Hall utiliza o exemplo do juiz Clarence Thomas para mostrar como podemos se apropriar do jogo das identidades e como as identidades tornaram-se politizadas, na medida em que mudam de acordo como somos interpelados pela sociedade, sendo assim a identidade não é automática. Já no segundo capítulo, Nascimento e morte do sujeito moderno, o autor trabalha com as mudanças ocorridas no pensamento moderno acerca do sujeito e identidade, como essas concepções se libertaram do domínio religioso, fazendo emergir uma nova noção de individualismo e identidade. Primeiro ele foca em como esse sujeito foi formulado como sendo centrado e posteriormente descentrado a partir de alguns autores e obras. Descartes foi o responsável pela elaboração do sujeito como racional, pensante e

consciente, surgindo assim o sujeito cartesiano. Locke contribuiu com a questão da mesmidade da identidade, a identidade permanecia a mesma e era contínua com seu sujeito. Até agora temos a visão de um sujeito da razão e individualista, mas essa visão não conseguia relacionar o sujeito as estruturas sociais. Por isso, surge uma visão mais social do sujeito. Ele passa a ser localizado e definido dentro de uma estrutura social. Contribuiu pra isso o pensamento de Darwin, no qual o sujeito foi biologizado, a sua razão tinha base na natureza e também o surgimento das novas ciências sociais, como a psicologia e a sociologia que passaram a estudar o sujeito com outros olhares, olhares que se detinham nos seus processos mentais e nas suas relações sociais com o mundo. Desse ponto em diante, o autor trabalhará a questão dos descentramentos do sujeito. O primeiro deles ocorre com as releituras das obras de Marx, os homens fazem a história, mas apenas sob as condições que lhe são dadas, desloca o entendimento de agência individual do sujeito cartesiano. O segundo descentramento consiste na descoberta do inconsciente por Freud. A ideia de que nossa identidade é formada com base em um processo psíquico e inconsciente, também vai de encontro com o ideal de sujeito racional e consciente. A identidade não é algo inato do homem, ela construída ao longo do tempo por processos inconscientes. Por isso, poderíamos falar em identificação ao invés de identidade, já que identificação traz um entendimento de um processo em andamento em oposição de identidade que parece ser algo já acabado e definido. O terceiro descentramento consiste no trabalho de Saussure sobre a linguística. Para esse autor, os significados das palavras não são fixos, mas surgem nas relações de similaridade e de diferença que as palavras têm umas com as outras. Aqui, mais uma vez, parece útil recorrer ao trabalho de Tomaz Tadeu para esclarecer essa questão. Assim como a identidade, a língua também se baseia na diferenciação, além de dizer o que queremos a língua também tem uma mensagem oculta, o que não queremos. Assim, se falo a palavra VACA, é possível discernir o que falo, porque sabemos o que não é uma VACA. Assim, como resume Hall, p. 41: O significado é inerentemente instável: ele procura o fechamento (a identidade), mas ele é constantemente perturbado (pela diferença). O quarto descentramento surge a partir dos trabalhos de Foucault, com o surgimento do poder disciplinar. Esse poder disciplinar mesmo sendo produto das novas instituições coletivas, envolve técnicas que individualiza ainda mais os sujeitos. O quinto e último dos descentramentos surge do impacto do feminismo como crítica teórica e como movimento social. O feminismo contestou a divisão público/privado, trazendo para o debate político questões como família, sexualidade e etc. O feminismo

também questionou a noção de que homens e mulheres partilhavam da mesma identidade, a Humanidade, substituindo-a pela questão da diferenciação sexual. Vemos aí também a política da identidade como cita o autor, cada movimento social vai reivindicar uma identidade própria. O terceiro capítulo, As culturas nacionais como comunidades imaginadas, o autor preocupa-se em saber como as identidades culturais, nesse caso a identidade nacional, está sendo deslocada pelo processo de globalização. Para autor, a identidade nacional é uma das principais fontes de identidade cultural. E mesmo não sendo algo impresso em nossos genes, pensamos nela como se fossem parte essencial da nossa natureza. E citando Gellner, o autor elucida essa questão: A ideia de homem sem uma nação parece impor uma tensão a imaginação moderna. (...) Ter uma nação não é um atributo inerente da humanidade, mas aparece, agora, como tal. As identidades nacionais não são naturais, elas são formadas e transformadas e dependentes da representação. Utilizando o argumento de Benedict Anderson, a identidade nacional é uma comunidade imaginada. Segundo Hall, as culturas nacionais constroem identidades na medida em que produzem sentidos sobre a nação com os quais nos identificamos. Essa cultura nacional pode ser contada a partir de alguns elementos, são eles: a narrativa da nação, continuidade, tradição inventada, mito fundacional, povo original. Ainda nesse capítulo, o autor trabalha a questão da cultura como elemento unificador/identificador que permite que possamos nos ver dentro de uma família nacional. As diferenças de classe, gênero ou raça, são maquiadas para formar um grupo unificado. Mas em muitos casos, essa unificação ocorreu de forma violenta que subjugou culturas, costumes, línguas e tradições, impondo uma hegemonia cultural. Apesar das diferenças internas, as identidades nacionais continuam sendo representadas como unificadas, como cultura de um único povo. Essa tentativa, porém se vê frustrada, na medida em que não existe nação composta de um povo único, as nações modernas são todas híbridas. Assim, finaliza o autor: As identidades nacionais não estão livres do jogo de poder, de divisões e contradições internas, de lealdades e de diferenças sobrepostas. O quarto capítulo, Globalização, o autor utiliza a definição de McGrew para entender o que chamamos de globalização, a globalização se refere àqueles processos, atuantes numa escala global, que atravessam fronteiras nacionais, integrando e conectando comunidades e organizações em novas combinações de espaço-tempo, tornando o

mundo, em realidade e em experiência, mais interconectado. As principais conseqüências desse processo sobre as identidades culturais podem ser: o crescimento de uma homogeneização cultural, um reforço das identidades nacionais e locais pela resistência à globalização, a formação de novas identidades. Segundo o autor, os fluxos culturais, entre as nações, e o consumismo global criam possibilidades de identidades partilhadas. À medida em que as culturas nacionais tornam-se mais expostas a influências externas, é difícil conservar as identidades culturais intactas. (p. 74) No quinto capítulo, O global, o local e o retorno da etnia, o autor explora a relação entre o global e o local. Citando Kevin Robin, o autor mostra que junto com uma tendência de homogeneização global, há também uma fascinação pela diferença. A globalização explora a diferenciação local, ele não o substitui, mas sim ocorre uma nova forma de articulação entre global e local. Ainda no que concerne a essa possível homogeneização global, o autor nos lembra que essa globalização é distribuída desigualmente no globo e que essa dita globalização tende a ser uma globalização ocidentalizada. Para entender o que o autor chama de Tradição e Tradução, partiremos da seguinte fala: Em toda parte, estão emergindo identidades que não são fixas, mas que estão suspensas, em transição, entre diferentes posições; que retiram seus recursos, ao mesmo tempo, de diferentes tradições culturais; e que são produtos desses complicados cruzamentos e misturas culturais que são cada vez mais comuns num mundo globalizado. Então, Tradição aparece quando as nações tentam recuperar sua pureza anterior e recobrir as unidades e certezas que são sentidas como tendo sido perdidas. Já Tradução é quando as nações aceitam que as identidades estão sujeitas ao plano da história, da política, da representação e da diferença. É nesse movimento entre tradição e tradução que surgem as culturas híbridas produzidas na modernidade tardia. O sexto capítulo, Fundamentalismo, diáspora e hibridismo, o autor fala sobre as visões em torno da questão do hibridismo cultural. Para alguns, o hibridismo e o sincretismo produzem novas formas de culturas mais adequadas à modernidade tardia. Mas para outros, a relatividade imposta pelo hibridismo também pode ser perigosa. Hall traz o exemplo do ressurgimento do nacionalismo na Europa Ocidental e o crescimento do fundamentalismo para mostrar as tentativas de reconstruir identidades purificadas, para restaurar a tradição frente ao perigo da diversidade e do hibridismo.

A obra permite visualizar os deslocamentos ocorridos nas definições de sujeito e identidade que nos permite entender essa crise identitária na pós-modernidade. De sujeitos centrados e unificados, passamos a sujeitos descentrados e contraditórios. Vimos também como a globalização exerce impacto sobre a formação das identidades culturais, mas que em oposição à aceitação geral que a globalização gera a substituição do local pelo global, percebemos que o global se utiliza do local e até gera um maior interesse pelo mesmo.