TÍTULO: COMPARAÇÃO DE PROCESSOS DE CÁLCULO PARA BLOCO RÍGIDO DE CONCRETO ARMADO SOBRE DUAS ESTACAS

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16 TÍTULO: COMPARAÇÃO DE PROCESSOS DE CÁLCULO PARA BLOCO RÍGIDO DE CONCRETO ARMADO SOBRE DUAS ESTACAS CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: ENGENHARIAS E ARQUITETURA SUBÁREA: ENGENHARIAS INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA AUTOR(ES): MIGUEL CANAS GONÇALVES ORIENTADOR(ES): HILDEBRANDO PEREIRA DOS SANTOS JUNIOR

1. RESUMO A atualização da norma brasileira 6118:2014, apesar de recomendar a utilização de modelos de escora-tirante para dimensionamento de elementos especiais, propõe diretrizes que inviabilizam os modelos tradicionais para dimensionamento de bloco rígido sobre estacas correntes no Brasil. Assim, após a publicação do IBRACON (Instituto Brasileiro do Concreto), sobre as recomendações e aplicações da nova revisão, o presente trabalho visa apresentar a comparação entre os procedimentos existentes e através de planilhas eletrônicas expor os resultados obtidos para as diferentes áreas de aço calculadas para armadura principal (tirante) e a verificação das tensões nas bielas comprimidas (escoras), como também as diferentes formas de conceituar a região nodal próximo ao pilar. Palavras-chave: escora; tirante; dimensionamento. 2. INTRODUÇÃO A princípio os elementos estruturais são dimensionados de maneira simplificada pela hipótese de Navier-Bernoulli, que consiste em admitir que as seções planas permanecem planas após a flexão, tendo uma distribuição linear das deformações ao longo da seção transversal durante o carregamento. Porém, alguns elementos estruturais, dentre tais o bloco sobre estacas, esta hipótese não é cabível por conter regiões com descontinuidade, na qual as tensões de cisalhamento provocam deformações não lineares ao longo da seção transversal. Assim, os elementos de concreto armado podem ser divididos segundo o princípio de Saint Venant em regiões D na qual ocorrem descontinuidades de tensões e deformações ao longo da seção transversal e regiões B onde aplica-se a hipótese de Navier-Bernoulli para o dimensionamento. O dimensionamento do bloco sobre estacas é feito pelo método das bielas, que baseia-se na "Analogia da Treliça" de Ritter e Mörsch no início do século XX, que sugere a substituição do caminhamento das forças em um elemento estrutural por barras de treliça, simplificando a distribuição das tensões normais.

3. OBJETIVOS Seguindo as recomendações do IBRACON conforme a NBR 6118:2014, e também os métodos propostos por Blévot (1967) e Fusco (2013), o presente trabalho propõe a comparação dos procedimentos para o dimensionamento de blocos rígidos de concreto armado sobre duas estacas, comentando a aplicação de cada autor e visando verificar as diferenças existentes nas áreas de aço calculadas para a armadura do tirante, assim como as diferenças nas resistências das escoras e regiões nodais. 4. METODOLOGIA O trabalho de pesquisa foi realizado através de revisão bibliográfica afim de apresentar a metodologia para modelagem de elementos estruturais com descontinuidades de deformações através do Método das Bielas, baseando-se nos estudos feitos por Schlaich e Schäfer (1987, 1991), professores da Universidade de Stuttgart na Alemanha, que refinaram o modelo de escoras e tirantes, propondo regras simplificadas em relação às resistências das escoras e regiões nodais. O desenvolvimento desta pesquisa apresenta as diretrizes propostas por Blévot (1967), Fusco (2013) e IBRACON (2014) para o dimensionamento de blocos rígidos de concreto armado sobre duas estacas, afim de analisar o procedimento de cálculo destes autores. Ao final apresenta-se um conjunto de blocos de coroamento dimensionados com características geométricas idênticas seguindo as recomendações dos autores supracitados, e em seguida feito a análise e comparação destes resultados.

5. DESENVOLVIMENTO 5.1 MÉTODO PROPOSTO POR BLÉVOT Para o bloco sobre duas estacas, é feito uma análise em um plano bidimensional, sendo considerado a transferência dos esforços solicitantes do pilar para as estacas através de uma biela de compressão, cujo volume varia do diâmetro da estaca até metade da maior dimensão do pilar. Desta forma, a biela de compressão é representada por uma linha de polígono no eixo da seção da biela, como mostra a Figura 1. Figura 1 Esquema de forças em bloco sobre duas estacas Fonte: (Bastos, 2013, pág. 5) Através de razões trigonométricas segundo as forças aplicadas e segundo a geometria do elemento estrutural, pode ser determinada a força de compressão da escora e a força de tração no tirante, como apresenta as equações 1 e 2. Força de tração no tirante (1) Força de compressão na escora (2) Blévot e Frémy em 1967 realizaram ensaios físicos e numéricos em blocos sobre duas, três e quatro estacas, utilizando diferentes disposições para a armadura principal e variando a geometria das peças, afim de analisar a influência destas com a capacidade de carga da estrutura. Assim, concluíram que a inclinação das bielas

de compressão devem estar compreendidas entre 40º e 55º para que não haja risco de ruptura por punção. Desta forma, pode ser determinado o intervalo da altura útil (d) do bloco sobre estaca, como apresenta a equação 3. (3) Devido a diferença da largura da seção da escora ao longo da sua extensão, Blévot (1967) faz a verificação da escora na sua seção junto à estaca e junto ao pilar, para isso deve-se calcular a área da biela no sentido transversal da seção junto à essas duas faces, como mostram as equações 4 e 5, em função do ângulo de inclinação da escora, utilizando a lei dos senos. Seção da escora junto ao pilar (4) Seção da escora junto à estaca (5) Sendo determinado a área da biela e sabendo a força de compressão devido a solicitação do pilar, pode-se calcular a tensão nas escoras junto ao pilar e junto à estaca como sendo a razão entre a equação 2 (força de compressão nas escoras) e as equações supracitadas para área da biela, demonstradas nas equações 6 e 7, devendo tais tensões serem limitadas a um valor máximo formulado através das observações do experimento físico, indicando valores que relacionam as tensões previstas em cálculo com as tensões verificadas no experimento, utilizando uma variável (0,9 a 0,95) que leva em consideração o efeito Rüsch, demonstrado na equação 8. Tensão da escora junto ao pilar (6) Tensão da escora junto à estaca (7) Tensão limite da escora (8) Para o dimensionamento do tirante foi observado nos experimentos que a força de tração medida nos ensaios foi 15% superior que as forças previstas em cálculo, dessa forma a área de aço do tirante pode ser determinado em razão da força de tração dada na equação 1 acrescida em 15% com a resistência ao escoamento do aço fyd, obtendo-se a área de aço necessária, demonstrado pela equação 9. Área de aço da armadura principal (9)

5.2 MÉTODO PROPOSTO POR FUSCO Para o dimensionamento de blocos sobre estacas, Fusco (2013) considera que toda a força transmitida pela armadura do pilar é resistida em um plano horizontal à uma profundidade "x" e a partir deste ponto as tensões são resistidas pelo concreto não havendo mais contribuição da armadura do pilar. Tal profundidade pode ser determinada na tabela 1 em função da taxa de armadura longitudinal do pilar e por uma variável dada pela razão entre a maior e menor dimensão do pilar. Tabela 1 Valores de x/b Pilar (ρ %) 1% 2% 3% Face Pilar Pilares Alongados 0,80 1,00 1,20 a = 10b Pilares quadrados 0,35 0,42 0,5 a = b Nota: Denomina-se por a e b as dimensões do pilar, sendo a > b. Fusco (2013) considera ainda o carregamento normal máximo que deve ser aplicado pelo pilar em função da resistência oferecida pelo concreto (1ª parcela da somatória) e pela armadura (2ª parcela da somatória), como apresenta a equação 10, e limitando a tensão aplicada pelo pilar na área de contato do pilar com o bloco a, por não haver qualquer efeito de cintamento. Devido a inclinação da biela e a profundidade de espraiamento das tensões, forma-se uma região ampliada do pilar (Figura 2), que pode ser determinada pela equação 11, onde deve ser verificado a tensão vertical (equação 12), evitando o esmagamento da biela. Figura 2 Ampliação do pilar à profundidade x segundo FUSCO (2013) Fonte: (Elaborado pelo autor)

Força máxima no pilar (10) Área ampliada do pilar (11) Tensão vertical (12) A inclinação da biela de compressão deve estar compreendida entre arctg 1 e arctg 2, porém Fusco (2013) recomenda que o bloco tenha altura suficiente para que a estaca mais abatida não exija biela com inclinação menor que arctg 2/3, devendo assim a inclinação da escora estar em um intervalo entre arctg 2/3 e arctg 2. A tensão na escora (equação 13) pode ser determinada em função da tensão vertical exercida próximo ao pilar e a estaca, com a inclinação da escora, como demonstra a Figura 3. Tensão na escora (13) Figura 3 Esquematização das bielas segundo Fusco (2013) Fonte: (Elaborado pelo autor) O dimensionamento da armadura principal decorre da determinação da força de tração existente no tirante através de razões trigonométricas, em razão da resistência ao escoamento do aço, como demonstra a equação 14. Área de aço da armadura principal do tirante (14)

5.3 MÉTODO PROPOSTO POR SANTOS; STUCCHI O modelo de dimensionamento proposto por Daniel Miranda Santos e Fernando Rebouças Stucchi na publicação feita pelo IBRACON para bloco sobre estacas, seguindo as recomendações da NBR 6118:2014, inclui uma região nodal onde há o distúrbio de tensões logo abaixo do pilar devido a mudança de direções das forças e reações contidas no nó, como mostra a Figura 4. Tal região nodal encontra-se com profundidade "y" e seus planos laterais dimensionam a largura da biela de compressão. Figura 4 Modelo esquemático de bloco sobre estacas Fonte: (Elaborado pelo autor) Dessa forma, inicialmente deve ser determinado a profundidade da região nodal abaixo do pilar para ser determinado a geometria do elemento estrutural, e a modelagem das bielas. Tal profundidade y, pode ser estimada distribuindo as tensões exercidas nas extremidades da escora, como mostra a equação 15. A Figura 5 apresenta a esquematização das forças. Figura 5 Projeção das forças no plano de atuação Fonte: (Elaborado pelo autor)

Profundidade da região nodal (15) Sendo "d" a altura útil do bloco, de tal maneira que compreenda a inclinação da biela de compressão entre 45º e 63º. Para um mesmo princípio utilizado por Blévot (1967), devido a variação na seção da escora, deve ser verificado as bielas junto ao pilar e a estaca, levando em consideração uma ampliação da projeção do pilar assim como mostrado na Figura 2, porém por se tratar de uma análise em um plano bidimensional, IBRACON considera realizar a ampliação apenas na direção da análise (maior dimensão do bloco). As tensões das escoras junto ao pilar e a estaca, podem ser determinadas através das equações 16 e 17. Devendo estes valores estarem limitadas conforme apresenta-se as equações 18 e 19, recomendadas na NBR 6118:2014. Tensão da escora junto ao pilar (16) Tensão da escora junto à estaca (17) Bielas prismáticas ou nós CCC (18) Bielas atravessadas por tirante único (19) ou nós CCT Após a verificação da região nodal e das escoras, é feito o dimensionamento da armadura do tirante, através da força de tração exercida no tirante em razão da resistência ao escoamento do aço, apresentadas nas equações 20 e 21. Força de tração no tirante (20) Área de aço da armadura principal (21) No dimensionamento geométrico de blocos sobre estacas, o projetista deve se atentar ao espaço disponível para ancoragem das barras, tanto da armadura do tirante, quanto à altura útil disponível do bloco para ancoragem da armadura do pilar.

6. RESULTADOS A seguir apresenta-se as características dos 4 grupos de blocos dimensionados e os devidos resultados para área de aço e tensão nas bielas. Grupos Pilar (cm) / Nk (KN) Estaca (cm) Altura útil (cm) Afastamento entre estacas (cm) Concreto A1 20x20-250 φ15 30 60 C30 A2 30x20-500 φ18 40 77 C30 A3 50x25-750 φ23 40 85 C30 A4 75x30-1000 φ28 40 95 C30 BLOCO A1 ANÁLISE BLÉVOT IBRACON FUSCO 1% 2% 3% Área de aço (cm²) 3,93 4,48 4,83 4,68 4,56 Inclinação da biela (º) 50,19 47,16 45,00 45,90 46,67 Tensão da biela - pilar (KN/cm²) 1,51 1,06 0,48 0,56 0,64 Tensão da biela - estaca (KN/cm²) 1,71 0,80 0,86 0,83 0,81 BLOCO A2 ANÁLISE BLÉVOT IBRACON FUSCO 1% 2% 3% Área de aço (cm²) 7,31 8,80 8,91 8,57 8,36 Inclinação da biela (º) 52,22 47,67 47,30 48,41 49,13 Tensão da biela - pilar (KN/cm²) 1,90 1,48 0,65 0,79 0,90 Tensão da biela - estaca (KN/cm²) 2,25 1,25 1,26 1,22 1,19 BLOCO A3 ANÁLISE BLÉVOT IBRACON FUSCO 1% 2% 3% Área de aço (cm²) 10,62 13,25 13,58 13,05 12,60 Inclinação da biela (º) 53,13 47,56 46,85 47,98 48,99 Tensão da biela - pilar (KN/cm²) 1,34 1,29 0,59 0,66 0,74 Tensão da biela - estaca (KN/cm²) 2,01 1,35 1,38 1,33 1,29 BLOCO A4 ANÁLISE BLÉVOT IBRACON FUSCO 1% 2% 3% Área de aço (cm²) 13,57 17,25 18,59 17,62 16,80 Inclinação da biela (º) 54,29 48,24 46,10 47,64 48,99 Tensão da biela - pilar (KN/cm²) 0,96 1,04 0,52 0,57 0,62 Tensão da biela - estaca (KN/cm²) 1,76 1,33 1,43 1,36 1,30

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em relação a armadura do tirante, Fusco (2013) e IBRACON obtiveram resultados com maiores áreas de aço comparado à Blévot (1967) em decorrência de considerarem uma profundidade de região nodal, assim diminuindo a inclinação da escora, sendo tal profundidade a principal diferença para o resultado da armadura entre esses dois métodos, na qual os autores conceituam de forma diferente para o cálculo, sendo IBRACON através da análise das tensões exercidas na escora, e Fusco (2013) através da transmissão das forças da armadura do pilar. As tensões nas bielas variam pois Blévot (1967) considera o esforço normal de compressão na biela diretamente do carregamento axial do pilar, enquanto IBRACON e Fusco (2013) consideram uma dissipação de tensões em uma região maior, sendo que este último considera uma ampliação na projeção do pilar nas duas direções por transmitir as forças do pilar através da armadura, dessa forma aumentando a área a receber o carregamento. 8. FONTES CONSULTADAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro, 2014. BASTOS, Paulo S. dos S. Blocos de fundação. Faculdade de Engenharia, Unesp, Campus De Bauru/SP. v. 78, 2013. FUSCO, Péricles B. Técnica de armar as estruturas de concreto. 2 ed. São Paulo: Pini, 2013. IBRACON. ABNT NBR 6118:2014: Comentários e Exemplos de Aplicação. 2015. SCHLAICH, Jorg; SCHAFER, Kurt. Design and detailing of structural concrete using strut-and-tie models. The Structural Engineer. v. 69, 1991, p. 113-25. SCHLAICH, Jorg; SCHAFER, Kurt; JENNEWEIN, Mattias. Toward a Consistent Design os Structural Concrete. PCI Journal. 1987, p. 74-150. SOUZA, Rafael A. de. Concreto estrutural: Análise e dimensionamento de elementos com descontinuidades. 2004. 442f. Tese (Doutorado em Engenharia) Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo.