CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

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Transcrição:

Vitória ES, 14 de outubro de 2010. Às Cooperativas Capixabas Prezados Presidentes, A OCB/ES (Registro Sindical n 46000.001306/94, publicado no DOU do dia 04.04.94, Seção I, pág. 4819, Filiado à FECOOP-SULENE, Registro Sindical Nº Processo MTE: 46000.016566/2003-13), no desempenho de sua função sindical, como representante patronal das cooperativas sediadas no Estado do Espírito Santo, divulga o presente BOLETIM SINDICAL Nº 005/2010, com o fim de orientá-las e comunicá-las sobre o tema CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO, conforme se segue: BOLETIM SINDICAL Nº 005/2010 Desde que o homem passou a viver em sociedade, o trabalho pode ser considerado um dos elementos mais importante nas relações entre as tribos e as classes, elemento que distingue a posição social, econômica e também política de seus membros. Atentar contra a organização do trabalho é infringir a liberdade individual. Isto porque embora seja desenvolvido um modelo econômico capitalista de base liberal, o Estado não permite que a condução econômica seja pautada, exclusivamente, nos interesses privados em seu âmbito individualista. Tal entendimento visa, sobretudo, garantir o desenvolvimento de uma sociedade justa e harmônica. Desta maneira, o que o Código Penal pretende tutelar na parte especial Página 1 de 11

em seu Título IV, é a organização do trabalho, e não, a liberdade de trabalho, entendida como a possibilidade desenfreada de suscitar relações econômicas. Nesta perspectiva: A proteção jurídica já não é concedida à liberdade do trabalho, propriamente, mas à organização do trabalho, inspirada não somente na defesa e no interesse dos direitos individuais em jogo, mas também, e principalmente, no sentido do bem comum de todos. Atentatória, ou não, da liberdade individual, toda ação perturbadora da ordem jurídica, no que concerne ao trabalho, é ilícita e está sujeita a sanções repressivas, sejam de direito administrativo, sejam de direito penal 1. Vislumbra-se pelo supracitado que as lesões à organização do trabalho podem ser tratadas sobre duas esferas distintas: a administrativa e a penal, sendo que, na seara penal, são verificadas todas as vezes em que as infrações são cometidas mediante fraude ou violência. 1. DOS CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO A tutela penal da Organização do Trabalho encontra proteção no Código Penal, assim estão dispostos os crimes contra a organização do trabalho no Código Penal Brasileiro: 1.1 Atentados contra a Liberdade de Trabalho Art. 197 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça: I - a exercer ou não exercer arte, ofício, profissão ou indústria, ou a trabalhar ou não trabalhar durante certo período ou em determinados dias: Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência; 1 BRASIL, Exposição de Motivos da Parte Especial do Código Penal. Lei nº. 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Item 67. Página 2 de 11

II - a abrir ou fechar o seu estabelecimento de trabalho, ou a participar de parede ou paralisação de atividade econômica: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena Visa tutelar a liberdade de trabalho, isto é, a liberdade de escolher ofício que o sujeito deseja exercer. Pode-se dizer que este artigo abrange três hipóteses sempre com violência ou grave ameaça: a) obrigar a exercer ou não exercer de modo permanente um trabalho; b) a exercer ou não exercer um trabalho durante certo período ou em determinados dias; c) a abrir ou fechar estabelecimento de trabalho. Quanto à segunda parte do inciso II: participar de parede, ou seja, de greve, ou, de paralisação de atividade econômica, que vem a ser: locaute (lock-out), entende-se, que este foi tacitamente revogada pela Lei 4.330/64, e esta, por sua vez, revogada pela Lei de Greve 2. No atentado contra a liberdade de trabalho os meios executivos são a violência e a grave ameaça. O emprego de uma ou de outra constitui a ratio da incriminação 3. Inexiste crime contra a organização do trabalho quando não forem atacados direitos dos trabalhadores como um todo, e sim caracterizada mera lesão a direito individual, de natureza patrimonial, em que a competência se firma em prol da Justiça Estadual 4. 1.2 Atentado contra a Liberdade de Contrato de Trabalho e Boicotagem Violenta Art. 198 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a celebrar contrato de trabalho, ou a não fornecer a outrem ou não adquirir de outrem matéria-prima ou produto industrial ou agrícola: 2 RUSSOMANO, Mozart Victor. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. Curitiba: Juruá, 2000, p. 10. 3 RT 359/256 4 RT 727/448 Página 3 de 11

Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena O dispositivo em questão possui como objeto jurídico a liberdade do trabalho tanto do empregado como do empregador, tipifica duas condutas incriminadoras: a) obrigar o empregado a trabalhar para alguém; b) boicotar a atividade econômica do empregador. Boicotar com o sentido de isolar ou arruinar uma atividade, fazendo com que lhe sejam cortados os meios, suprimentos, créditos, clientes ou relações. A boicotagem é um procedimento ou conduta sistemática, que consiste em criar obstáculos aos interesses (...) comerciais ou sociais de outrem, geralmente com o fito de obrigá-lo a ceder ou transigir quanto a alguma coisa 5. 1.3 Atentado contra a Liberdade de Associação Art. 199 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a participar ou deixar de participar de determinado sindicato ou associação profissional: Pena detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena Este dispositivo alcança o agente que, mediante violência ou grave ameaça, impede o exercício dos direitos de livre associação tanto profissional, quanto sindical, assegurados pela legislação referentes à participação, ou não, em determinado sindicato ou associação profissional, de empregados, empregadores, autônomos ou liberais. 5 COMISSÃO de Redação. Boicote. ESD, 12, 1997, p. 19 Página 4 de 11

1.4 Paralisação de Trabalho, Seguida de Violência ou Perturbação da Ordem Art. 200 - Participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho, praticando violência contra pessoa ou contra coisa: Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena Parágrafo único - Para que se considere coletivo o abandono de trabalho é indispensável o concurso de, pelo menos, três empregados. O artigo em comento tutela acerca da paralisação parcial ou total por parte do empregador, quando utiliza o termo suspensão, ou o abandono de trabalho por parte dos empregados, praticando violência (física ou moral) contra pessoa ou contra coisa, logo não punindo a simples e pacífica greve, direito este reconhecido constitucionalmente. É importante destacar que a doutrina majoritária entende que o locaute (lock-out) deve ter a participação de mais de um empregador. E a greve, pelo menos de três empregados, conforme o artigo 200, parágrafo único 6. 1.5 Paralisação de Trabalho de Interesse Coletivo Art. 201 - Participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho, provocando a interrupção de obra pública ou serviço de interesse coletivo: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. É um desdobramento do tipo penal anteriormente analisado. A paralisação condenada, aqui, é a que provoca intencionalmente a interrupção efetiva de obra pública ou serviço de interesse coletivo. 6 NORONHA, E. M. Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 1997, v. 3, p. 26. Página 5 de 11

Este artigo deve ser cotejado com o exame da Constituição Federal (art. 9º, 1º 7 ) e com o art. 10 da Lei de Greve n 7.783/89. Pois, sendo a greve um direito, quando justa, o dispositivo atualmente só deve alcançar os casos de efetivo abuso ou descaso a obra ou ao serviço de interesse coletivo. 1.6 Invasão de Estabelecimento Industrial, Comercial ou Agrícola. Sabotagem Art. 202 - Invadir ou ocupar estabelecimento industrial, comercial ou agrícola, com o intuito de impedir ou embaraçar o curso normal do trabalho, ou com o mesmo fim danificar o estabelecimento ou as coisas nele existentes ou delas dispor: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. Incrimina a invasão de estabelecimentos e a sabotagem, com elemento subjetivo do tipo concernente em impedir ou embaraçar o curso normal do trabalho, através da invasão ou ocupação do estabelecimento ou coisas nele existentes, ou a disposição das mesmas mediante venda, doação, apropriação ou outros atos semelhantes. É necessário que a violência contra a coisa adquira certa conotação de generalidade, ainda que uma só coisa seja atingida. 1.7 Frustração de Direito Assegurado por Lei Trabalhista Art. 203 - Frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela legislação do trabalho: Pena - detenção de um ano a dois anos, e multa, além da pena 1º Na mesma pena incorre quem: I - obriga ou coage alguém a usar mercadorias de determinado estabelecimento, para impossibilitar o desligamento do serviço em virtude de dívida; 7 Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. Página 6 de 11

II - impede alguém de se desligar de serviços de qualquer natureza, mediante coação ou por meio da retenção de seus documentos pessoais ou contratuais. 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental. Inicialmente este artigo trata diretamente da conduta frustrar, ou seja, iludir, lograr, ludibriar, privar e outras ações similares através de fraude, que pode ser executada mediante ardil, engodo, ou qualquer forma de artifício que leva o enganado à aparência falsa da realidade ou mediante violência física, visando impedir a fruição de direito assegurado pela CLT e demais leis trabalhistas complementares, induzindo ou mantendo em erro o sujeito passivo, que pode ser o Estado ou o empregado. Num segundo momento o legislador preocupou-se principalmente com trabalhadores rurais de locais distantes do país, que são por vezes impedidos de deixar o trabalho em virtude de dividas adquiridas em armazéns ou vendas do próprio empregador 8. 1.8 Frustração de Lei sobre a Nacionalização do Trabalho Art. 204 - Frustrar, mediante fraude ou violência, obrigação legal relativa à nacionalização do trabalho: Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena O enunciado do artigo em questão visa empreender maior proteção ao trabalhador brasileiro ante o estrangeiro, em razão da ação do agente de frustrar a obrigação legal tangente à nacionalização do trabalho, usando meios fraudulentos ou violência. 8 HUNGRIA, N. Comentários ao Código Penal, 1959, v. VIII, p. 49. Página 7 de 11

1.9 Exercício de Atividade com infração de Decisão Administrativa Art. 205 - Exercer atividade, de que está impedido por decisão administrativa: Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa. O artigo em foco incrimina o desempenho habitual de trabalho ou profissão infringindo decisão administrativa do Ministério do Trabalho ou outro órgão da Administração Pública. O objeto jurídico é a organização do trabalho e as decisões administrativas concernentes. O sujeito é o que exerce atividade para a qual está impedido, não existe distinção entre empregado e trabalhador autônomo, e o sujeito passivo é o Estado. 1.10 Aliciamento para o fim de emigração Art. 206 - Recrutar trabalhadores, mediante fraude, com o fim de leválos para território estrangeiro. Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos e multa. Este artigo visa tutelar o interesse do Estado, pois, entende-se, que com a saída de trabalhadores brasileiros do país a economia seria prejudicada. Não se confundindo com tráfico internacional de pessoa para fim de exploração sexual (art. 231, CP), ou com aliciamento de trabalhadores de um local para outro do território nacional (art. 207, CP), que será o próximo tópico a ser tratado. 1.11 Aliciamento de Trabalhadores de um Local para Outro do Território Nacional Art. 207 - Aliciar trabalhadores, com o fim de levá-los de uma para outra localidade do território nacional: Pena - detenção de um a três anos, e multa. 1º Incorre na mesma pena quem recrutar trabalhadores fora da localidade de execução do trabalho, dentro do território nacional, Página 8 de 11

mediante fraude ou cobrança de qualquer quantia do trabalhador, ou, ainda, não assegurar condições do seu retorno ao local de origem. 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental. O artigo 206, tratado anteriormente, prevê a conduta de reunir trabalhadores, mediante fraude, para levá-los para o exterior. No artigo 207, a ação é semelhante (aliciar, angariar, atrair, recrutar, seduzir, criando a esperança de proveito), mas, independe de fraude, e tem o fim de levá-los a outro ponto do próprio país, desde que distante da moradia dos mesmos. Pune-se também o recrutamento mediante cobrança de qualquer quantia pecuniária do trabalhador, ou, sem a segurança do retorno dos aliciados ao respectivo local de origem. 2. JURISPRUDÊNCIAS A figura delituosa do art. 206, ex vi da Lei 8.683/93, exige para sua configuração a elementar da fraude no recrutamento; o crime de plágio redução à condição análoga à de escravo não absorve o do art. 206 do CP (TRF da 1ª R., JSTJ e TRF 79/425). Não se configura o delito do artigo 207, quando não se consegue demonstrar a ofensa à Organização do Trabalho ou o prejuízo para a região onde se processa o aliciamento (TRF, Ap. 5.402). A conduta de médico que, após ter cancelada a sua inscrição pelo Conselho Federal de Medicina, continua a exercer a profissão, incide no artigo 205 do CP, e não no art. 282 (exercício ilegal da medicina) (STF, RE 86.986). Página 9 de 11

Não atua com dolo quem, com fins preservacionistas posta-se em frente a casa que está para ser demolida, perturbando as obras de demolição. (TJSP RJTJSP 89/442). Sem o motivo determinante de embaraçar ou impedir o normal curso do trabalho, não incide o art. 202 do CP, em qualquer de suas modalidades (TRF, HC 4.894). A troca de fechadura da porta de acesso de estabelecimento comercial alheio, impedindo o curso normal do trabalho, configura, em tese, o delito previsto no art. 202 do CP (STJ, RT 757/508). O simples porte de armas brancas pelos piquetes grevistas não configura a violência prevista no art. 200 do CP (TACrSP, antigo, RT 363/206). A injustificada falta de prova pericial da violência contra coisa, praticada pelos grevistas, torna insubsistente a condenação destes pelo delito do art. 200 do CP (TACrSP, RJDTACr 24/300). Frustração de direito assegurado por lei trabalhista Agente que, de posse da carteira de trabalho do empregado, faz nela anotações relativas a uma empresa com atividades, de fato ou de direito, encerradas, com a finalidade de esquivar- se dos encargos trabalhistas, pratica o crime do artigo 203 do Código Penal. Prova segura e suficiente para a condenação. Sentença mantida. Provimento negado (TJSP - Apelação Criminal: ACR 1153296340000000 SP) 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com as argumentações e esclarecimentos apresentados, concluímos, sem a pretensão de esgotar a matéria, que as transgressões que ferem em sua maioria, as normas contratuais trabalhistas, transgredidas ante a Organização do Trabalho, são bastante corriqueiras no dia-a-dia e devem ser analisadas com cautela, pois, são crimes que Página 10 de 11

atacam tanto o empregado como a sociedade, e o Estado de forma em geral, e não devem ser praticados por nenhum empregador, mas, principalmente, pelas sociedades cooperativas, as quais estão sempre investidas no compromisso de liberdade, valorização da dignidade da pessoa humana e interesse pela comunidade. Assim, mantemo-nos a disposição de todas as cooperativas, para orientação no trato negocial com seus empregados ou sindicatos destes, inclusive para prestar as assessorias e consultorias necessárias, quer seja contábil, jurídica, técnica ou de capacitação. Atenciosamente. Carlos André Santos de Oliveira Superintendente Haynner Batista Capettini Janine Silva Bezerra Assessor Jurídico Assessora Jurídica OAB/ES nº 10.794 OAB/ES nº 16.560 Kellen Ferreira Lovati Estagiária Lucas Reis Magalhães Estagiário Página 11 de 11