O GESTOR ESCOLAR NA REDE MUNICIPAL E SEUS DESAFIOS



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Transcrição:

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O GESTOR ESCOLAR NA REDE MUNICIPAL E SEUS DESAFIOS Por: Maria de Fátima Martins Ribeiro Orientadora Profª. Maria Esther de Araújo Oliveira Rio de Janeiro 2010

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O GESTOR ESCOLAR NA REDE MUNICIPAL E SEUS DESAFIOS Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Administração e Supervisão Escolar. Orientadora Profª Maria Esther de Araújo Oliveira Por: Maria de Fatima Martins Ribeiro

AGRADECIMENTO Agradeço a Deus, a meus pais Tereza de Jesus e José Augusto, ao meu marido Antônio José, aos meus filhos Thaís Cristina e Lucas Augusto. Agradeço aos professores, amigos e a toda equipe da Secretaria do Curso de Pósgraduação e a minha professora orientadora Maria Esther de Araújo Oliveira. A todos, minha profunda gratidão.

DEDICATÓRIA Dedico este trabalho Ao meu marido. Aos meus filhos. Aos meus pais.

EPÍGRAFE Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo. Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado. (Rubem Alves)

RESUMO O objetivo deste estudo é analisar o papel do gestor escolar e apresentar uma proposta de um fazer educacional de qualidade, para promover o pleno desenvolvimento do educando, preparando-o para o exercício da cidadania e qualificando-o para sua inclusão no mundo corporativo, como está previsto na Constituição brasileira e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, 1996). A análise do trabalho está estruturada nos pressupostos científico-teóricos coletados ao longo do curso de Pós-Graduação Lato Sensu, do Instituto A Vez do Mestre, intitulado Administração e Supervisão Escolar, com foco no gestor educacional que atua em escolas públicas municipais. Para dar suporte à pesquisa, esta monografia foi desenvolvida com as teorias pedagógicas de Paulo FREIRE e as administrativas de Pablo GENTILI, bem como com as propostas de um projeto políticopedagógico de Ilma Passos VEIGA, com o objetivo de apresentar caminhos a serem seguidos pelo gestor escolar para que o mesmo consiga desempenhar seu papel de forma positiva no dia a da escola. Palavras-chave Gestão Liderança Aprendizagem Escola

METODOLOGIA Ao longo do Curso de Pós-Graduação, Administração e Supervisão Escolar, a autora foi tomando consciência da relevância e responsabilidade de discorrer sobre o tema que escolheu: O GESTOR ESCOLAR NA REDE MUNICIPAL E SEUS DESAFIOS. Assim, procurou reunir uma bibliografia que dissertasse sobre o tema, com os informes atuais e tendo como principais teóricos: Paulo FREIRE, L. S. VYGOTSKY, Demerval SAVIANE, Pablo GENTILI e Ilma Passos VEIGA Por meio de pesquisa bibliográfica nos livros acima relacionados, assim como com a leitura de revistas, de artigos e da internet que tratam do assunto, a montagem e metodologia do presente estudo foi estruturado e metodologicamente organizado.

SUMÁRIO INTRODUÇÃO 8 CAPÍTULO I A GESTÃO NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO 10 1.1. O que é gestão? 10 1.2. Os desafios e o difícil caminhar do gestor escolar da rede municipal de ensino 12 1.3. A atuação do gestor escolar: a realidade dentro e fora da escola 15 CAPÍTULO II COMPETÊNCIAS E HABILIDADES NECESSÁRIAS PARA A GESTÃO DE QUALIDADE 19 2.1. A capacidade de liderar e delegar 21 2.2. O gestor escolar e o dia a dia da instituição 23 2.3. Refletindo sobre as competências fundamentais do gestor escolar 27 CAPÍTULO III O REAL PAPEL DO GESTOR DA ESCOLA PÚBLICA MUNICIPAL 3.1. O gestor escolar e sua relação com as rápidas transformações do mundo 30 31 CONCLUSÃO 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 37 ANEXOS 39 FOLHA DE AVALIAÇÃO 40

INTRODUÇÃO O objetivo desta pesquisa é buscar conhecer, debater, analisar e compreender como é tratada a gestão escolar dentro da rede municipal de ensino. No dia a dia de uma escola, independente do tamanho ou público atendido, problemas variados ocorrem e para os quais são necessárias ações rápidas, tais como: manter a disciplina entre os alunos, identificar e resolver alguma relação conflitante que haja entre professor/aluno e aluno/professor, gerenciar verbas, manter organizado o espaço físico da escola, identificar problemas urgentes de manutenção e delegar os reparos, etc. O gestor escolar eficiente e multifuncional deve tentar superar desafios para assegurar uma escola agradável e de qualidade a toda a sua comunidade institucional. Seguindo esse pensamento, a questão central deste trabalho é analisar as habilidades e as competências necessárias para a boa atuação e desempenho do gestor escolar, com um modelo participativo, personalizado, integrado e humanizado e que leve em consideração os valores, as necessidades, as peculiaridades e o cotidiano de uma escola pública. Pensando nisso, consideramos ser de fundamental importância que o gestor escolar possua a capacidade de liderar e delegar, mas que também tenha a habilidade de manter o equilíbrio diante de conflitos ou dificuldades. Portanto, nesta pesquisa analisaremos o papel do gestor dentro da administração escolar, com o objetivo de apresentar caminhos que possam ser seguidos por esse profissional para que consiga desempenhar suas atribuições de forma positiva e com engrandecimento; bem como refletiremos sobre as competências fundamentais e essenciais à gestão escolar. 8

Para desenvolver nosso trabalho, baseamo-nos nas teorias de autores que se debruçaram sobre a questão da educação e sobre o modo de educar, como também sobre o local no qual se executa esse exercício e quem o executa: a escola e o gestor escolar. Os estudos de Paulo FREIRE, L. S. VYGOTSKY, Demerval SAVIANE, Pablo GENTILI e Ilma Passos VEIGA nortearão essa análise. Dividimos o presente trabalho em três capítulos e respectivos subtítulos, cuja pesquisa se fundamentou na bibliografia acima citada. No capítulo I, será abordada a gestão escolar na rede municipal de ensino, os desafios e o papel do gestor escolar dentro e fora da escola. Os estudos que indicam as competências e habilidades necessárias para uma gestão de qualidade, bem como questões do gestor escolar, tais como a capacidade de liderar e atuar no cotidiano da escola que possam refletir as competências fundamentais desse profissional da educação, serão os itens apresentados no capítulo II. No capítulo III, será analisado o real papel do gestor educacional dentro da escola pública municipal e sua relação com as rápidas mudanças do mundo, tanto profissional como institucional. Na Conclusão, observaremos quais as propostas ou soluções para a problemática das responsabilidades do gestor escolar e seus desafios, aplicadas às demandas peculiares de uma escola municipal. 9

CAPÍTULO I A GESTÃO NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. (Paulo Freire. Frases) 1.1. O que é gestão? Antes de iniciarmos o assunto tratado neste capítulo, identificaremos o significado do termo gestão e a aplicação do mesmo para a escola. Importante salientar que não se trata de uma terminologia nova; embora venha sendo utilizada com muita frequência, atualmente, em várias atividades, tais como gestão ambiental ou gestão ecológica, gestão participativa, gestão de pessoas, gestão estratégica, dentre outras. De acordo com o Dicionário Houaiss (2001), gestão é o ato ou efeito de gerir; administração; gerência. Ainda conforme esse dicionário, o termo é de origem latina (gestio,onis) que significa ação de administrar, de dirigir, gerência, gestão. Já o termo administração, segundo o Houaiss (2001), significa: 1. ato, processo ou efeito de administrar 2. ato de reger, governar ou gerir negócio público ou particular 2.1. modo como se rege, governa, gere tais negócios Portanto, administração e gestão são termos correlatos que se fundem nos 10

seus significados. Sendo sinônimos, estão inseridos em muitos textos que tratam sobre o modo de gerir e administrar pessoas, negócios, processos. Encontramos esses dois termos em diversas passagens da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, 1996), que a seguir transcrevemos: TÍTULO II Dos Princípios e Fins da Educação Nacional (...) Art. 3º. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: VIII gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; (...) Art. 12º. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: (...) II administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; (...) TÍTULO IV Da Organização da Educação Nacional (...) Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: (...) Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público. (...) Art. 56. As instituições públicas de educação superior obedecerão ao princípio da gestão democrática, assegurada a existência de órgãos colegiados deliberativos, de que participarão os segmentos da comunidade institucional, local e regional. (...) Art. 64. A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pósgraduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional Como podemos observar, tanto o termo gestão como administração também permeiam a LDB (1996) com sentidos similares. No entanto, optamos pelo uso das palavras gestão/gestor, uma vez que estas possuem a abrangência de significados para o objeto deste trabalho. 11

1.2. Os desafios e o difícil caminhar do gestor escolar da rede municipal de ensino Numa escola, assim como numa empresa, há a necessidade de profissionais capacitados e preparados para a gestão tanto dos processos como dos diversos meandros administrativos. O gestor escolar deve entender essa instituição como um organismo vivo e dinâmico e por isso deve exercitar a flexibilidade em suas ações; com essa atitude, estará preparado para os problemas cotidianos da escola. É relevante destacar, também, a importância da boa comunicação que deve haver entre a escola e a comunidade que a cerca. E o gestor proativo e comprometido com a comunidade escolar deve procurar conhecer o meio social onde vivem seus alunos, tentar entender suas famílias e os problemas circunvizinhos da escola, desenvolvendo uma parceria com os responsáveis de seus alunos. Dentro deste panorama, nota-se a necessidade de o gestor perceber que os acontecimentos fora da escola podem exercer grande influência dentro dela. Está, portanto, nas mãos do gestor o maior compromisso de gerir uma unidade escolar para a consolidação de uma escola pública de qualidade, tendo sempre como objetivo o aprendizado e a formação do educando. De acordo com Freire (1996), é importante que no conteúdo didático estejam inseridos conceitos das realidades que cercam o aluno: (...) por que não se discutir com os alunos a realidade concreta a que deva associar a disciplina cujo conteúdo se ensina, a realidade agressiva em que a violência é a constante e a convivência das pessoas é muito maior com a morte do que com a vida? Por que não estabelecer uma necessária intimidade entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm enquanto indivíduos? (FREIRE, 1996, pp.33-34) Outra estudiosa que debate sobre a questão é Guimarães (2003) que acredita que tais ações são decorrentes da necessidade de a escola encontrar as formas de 12

relacionamento e de convivência com os diferentes universos contidos em seu interior e que se manifestam no meio circundante, sem abrir mão de suas funções mais fundamentais. (p. 23) Além dessas responsabilidades que um gestor escolar deve praticar, há também a de regular, ou seja, fazer com que as normas, regras, leis, sejam cumpridas. O que talvez seja a tarefa mais árdua e desafiadora para esse profissional. O ato de regular, pôr regras, mostra-se bastante difícil principalmente na escola pública, local no qual, na maioria das vezes, são praticadas determinadas políticas de interesses distantes dos da própria escola. Por ser uma instituição pública, torna-se fragilizada e ao revés de cada gestão que, dependendo do governante ou do partido, pode ter projetos retomados ou paralisados. Muitas das vezes, são alteradas ações que estão dando certo interna e externamente da instituição e isso é o reflexo, segundo Reboul (1984), de que o verdadeiro problema não é pedagógico, mas político. (p. 72). O impacto dessas alterações é imensurável. Logo, concluímos que um dos maiores problemas da nossa educação é justamente a descontinuidade administrativa, ou seja, os governantes se sucedem e os planos são desfeitos ou refeitos com novos nomes, tornando a educação um setor frágil, sem raízes. Na visão do educador Paulo Freire essas ações são mesquinhas : (...) transformar a experiência educativa em puro treinamento humano é mesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador. (FREIRE frases) A educação, por ser um processo de longo prazo, é sensivelmente afetada com essas mudanças constantes, que não levam em consideração esforços e conquistas de toda a comunidade escolar, pois os governantes parecem não perceber a profundidade dessa questão já que, segundo Freire (1996) a educação é uma forma de intervenção no mundo. (p. 110). Com este quadro podemos constatar que a educação pública é seguidamente atingida com todas as mudanças decorrentes de anseios políticos. E, com isto, torna- 13

se difícil gerenciar ou dirigir uma unidade escolar municipal, quando o gestor não possui autonomia e liberdade para decisões autônomas e de interesse exclusivo da instituição. O gestor municipal depara-se, assim, com três difíceis aspectos da gestão escolar no Brasil: 1. Cumprir e fazer cumprir tarefas muitas vezes impostas sem que tenha havido prévia consulta; 2. Gerenciar recursos financeiros que, normalmente, não são suficientes para suprir todas as carências da escola; 3. Administrar as pessoas envolvidas nesse processo. De acordo com Saviani (2003): A educação é inerente à sociedade humana, originando-se do mesmo processo que deu origem ao homem. Desde que o homem é homem ele vive em sociedade e se desenvolve pela mediação da educação. (SAVIANI, 2003, p. 20) Refletindo sobre essas palavras, podemos afirmar que os gestores escolares, que também são educadores, possuem um papel importantíssimo a desempenhar dentro de uma unidade escolar. Além de responsáveis pela área administrativa, esses profissionais devem ter o sério compromisso com o desenvolvimento e a formação dos educandos, assim como a difícil tarefa de liderar, coordenar e apoiar professores e alunos no desenvolvimento e construção de um trabalho pedagógico que realmente assegure um patamar de ensino e aprendizagem de qualidade, significativo, crítico, humanizado e solidário. E é neste momento que a liderança se faz necessária, conforme salienta Marchesi (2003): O líder não pode perder o foco quanto à formação de todos os que transitam no espaço escolar, sendo um objetivo a ser atingido. Cabe a ele, estar atento às necessidades profissionais e educacionais da equipe docente, dos alunos, funcionários e responsáveis. (MARCHESI, 2003, p. 126) A escola é o local de formação da cidadania que assume esta função garantindo a todos o direito constitucional à educação. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, 1996), já no Título I Da Educação, determina no artigo 1 : A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas 14

manifestações culturais. Além disso, a escola pública concentra a expectativa da melhoria de condições de vida de grande parte da população brasileira. Nesse aspecto, destaca-se o importante papel do gestor que deve estar atento às propostas de toda a comunidade escolar durante a elaboração do Projeto Político Pedagógico (PPP). O gestor deve utilizar as práticas e os conhecimentos do grupo docente como base para a melhoria de todo o processo educacional da escola. Deve, também, observar e analisar os obstáculos que possam se transformar em barreiras para a participação de toda a comunidade escolar e coletivamente buscar alternativas para superá-los. No entanto, como atuar em situações dessa natureza? De que maneira adaptar os acontecimentos externos para a realidade interna da escola? Há duas realidades? Tentaremos responder essas indagações no item a seguir. 1.3. A atuação do gestor escolar: a realidade dentro e fora da escola As bases da gestão escolar podem ser identificadas sob os pilares da organização e da direção da escola, que se orientam por uma proposta inicial, na qual devem estar definidos os objetivos e os meios necessários para serem alcançados, com metas estabelecidas de acordo com a realidade da escola. Durante esse processo, alterações podem e devem ser feitas sempre que os resultados demonstrem que este é o melhor caminho. E, para que isto aconteça, um conjunto de ações deve ocorrer de forma flexível e jamais de forma rígida. Para Marchesi (2003), a gestão deve ser orientada para conseguir que a escola funcione bem e para que ofereça um currículo de maior qualidade. (p. 119) Ainda de acordo com esse autor, é importante que o gestor tenha como norte o 15

conceito de que uma boa gestão não é um fim em si mesmo, mas é orientada a melhorar a oferta educativa, as possibilidades de aprendizagem de todos os alunos, a atenção aos seus interesses específicos e a coordenação dos professores para oferecer um ensino mais completo para todos os alunos. (MARCHESI, 2003, p. 119) Nos dias atuais, a realidade tanto dentro quanto fora da escola influencia cada vez mais o cotidiano dos trabalhos escolares. Isto reforça a noção de que não há e nem pode haver, um modelo padronizado para o gerenciamento dos trabalhos dentro da escola. Isto deve ocorrer não somente porque as pessoas e situações são bastante diversas entre si, mas também porque o projeto de gestão precisa contemplar aspectos sazonais da área na qual a escola está inserida; e este talvez seja o maior desafio na rotina do gestor escolar. Este pensamento deve nortear as administrações das escolas públicas, já que ações necessitam ser repensadas a todo o momento. Com isso, o objetivo maior da educação, que é o aprendizado e a formação do educando, ficará preservado de acordo com o disposto na nossa Carta Magna da educação, no Título II dos Princípios e Fins da Educação Nacional, art. 2 : A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (LDB, 1996) Muitos são os problemas que prejudicam o ambiente escolar e que não favorecem a aquisição do conhecimento da forma como deveria ser: tranquila e agradável. Vale enumerar alguns: 1. Falta de funcionários: inspetor, porteiro, agente administrativo e até mesmo professor; 2. Ausência de infra-estrutura física básica e adequada: salas com dimensões desproporcionais à quantidade de alunos, sem ventilação; com iluminação precária; 3. Falta de participação dos pais; 4. Professores desmotivados pelo excesso de trabalho e má remuneração; 5. Cultura de desvalorização da escola; 6. Desrespeito por parte dos alunos; 7. Violência dentro da unidade escolar: ações de agressão entre aluno/ 16

professor; aluno/aluno; aluno/equipe escolar; 8. Violência nas comunidades que cercam a escola; 9. Falta de estrutura familiar dos alunos: toda a responsabilidade na formação do educando recai sobre a escola; 10. Turmas com número excessivo de alunos. Diante de todos esses obstáculos que refletem o ambiente interno da escola e que prejudicam todo o trabalho desenvolvido pela comunidade escolar, ao gestor municipal cabe o grande desafio de administrar a escola e ainda buscar esforços para realizar todos os projetos, ações, regulamentos e obter bons resultados. Para Seixas (2005), há um caminho que pode ser seguido: O maior desafio é estabelecer, dentro de uma perspectiva socio-crítica, que a escola é um espaço educativo, uma comunidade de aprendizagem construída por seus componentes e onde seus profissionais podem decidir sobre o trabalho a ser realizado, não se preocupando apenas com as questões burocráticas. Não podemos conhecer uma escola, apenas, pelo que vemos ou observamos. É necessário captar os significados, valores, atitudes, formas de agir e de resolver problemas, definindo desta forma a cultura de cada escola. (SEIXAS, 2005, p. 20) Baseados nessa afirmação, concluímos que um dos primeiros passos a ser seguido pelo gestor para que cumpra seu papel dentro da unidade escolar, é o trabalho coletivo. Todos que fazem parte do ambiente e comunidade escolar são importantes e devem trabalhar de uma forma unida e objetiva. Logo, a gestão escolar deve ser analisada como um trabalho em grupo, no qual o diretor deve assumir seu papel de articulador de todo o processo e todos precisam se envolver com comprometimento. Cabe ao gestor, então, o papel de articulador para unir os interessados e juntos mobilizarem a comunidade escolar. Para a construção de um trabalho coletivo duradouro é fundamental que o gestor dê vez e voz ao grupo, cuidando das relações interpessoais, criando novas formas de participação do grupo, favorecendo espaços de diálogo e mantendo um ambiente ético e de respeito. Além disso, deve manter o equilíbrio quando houver conflitos, dificuldades ou situações emergenciais. Devemos lembrar que apesar de toda essa ação coletiva do grupo para o bom funcionamento do espaço escolar, há momentos, nos quais cabe ao gestor, e somente a ele, a tomada de decisões visando o sucesso escolar; para isso, o 17

gestor deve ter clareza do seu papel e iniciativa para assumi-lo de fato. No entender de Freire (2000): Se, na verdade, o sonho que nos anima é democrático e solidário não é falando aos outros, de cima para baixo, sobretudo, como se fôssemos os portadores da verdade a ser transmitida aos demais, que aprendemos a escutar, mas é escutando que aprendemos a falar com eles. Somente quem escuta paciente e criticamente o outro, fala com ele, mesmo em certas condições, precise falar a ele. (FREIRE, 2000, p. 127) Podemos afirmar, neste sentido, que a complexidade do contexto atual faz com que o gestor escolar da rede municipal se depare com muitos desafios. Logo, quando se pensa em administrar e coordenar o trabalho escolar vem à tona um grande número de dificuldades. E estas podem se tornar muito difíceis para que o gestor assuma para si, unicamente, toda a responsabilidade da direção de uma escola. Para evitar, assim, o colapso tanto do projeto pedagógico como da estrutura do ambiente escolar, é fundamental que o gestor conte com uma equipe competente, comprometida e consciente da importância do trabalho em parceria. Há que existir dentro da unidade escolar um sólido espírito de equipe, no qual os diversos papéis possam ser exercidos de forma satisfatória. Para o gestor é de suma importância realizar um trabalho, para o qual a primeira e maior preocupação seja garantir uma educação de qualidade, levando em conta a realidade do educando e tendo em vista prepará-lo para a vida. O gestor deve ter consciência de sua grande responsabilidade, não apenas administrativa, mas também pedagógica, organizando o espaço e o tempo escolar, em consonância com as demandas dos novos tempos. 18

CAPÍTULO II COMPETÊNCIAS E HABILIDADES NECESSÁRIAS PARA UMA GESTÃO DE QUALIDADE Para uma gestão de qualidade é necessário um líder de verdade. Esta frase é recorrente nos textos e cursos que abordam temas sobre gestão e liderança. E o profissional que atua com pessoas deve desenvolver a habilidade da liderança para gerir com qualidade. Este conselho também é transmitido nos cursos e textos. Mas o que fazer para que essa habilidade seja atuante? O que é gestão de qualidade? Qual o significado dos termos competência e habilidade de um líder? O que forma um líder? Desenvolveremos e demonstraremos neste capítulo um pouco da essência desses termos, aplicada ao objeto de nosso estudo, iniciando com o trecho de um artigo do Dr. Ômar Souki, publicado pela CATHO.com, a seguir transcrito: Liderança O que é liderança? Dr Ômar Souki Volte ao seu tempo de infância. Pense em uma pessoa que você tinha prazer em agradar. Uma pessoa que quando lhe solicitava algo, você removeria montanhas para atendê-la. Era um modelo de liderança em sua vida. Quais os atributos que mais lhe agradavam nessa pessoa? A pessoa que eu mais gostava de agradar era o meu tio Kamel. Alegre, otimista, sempre disposto a servir, Kamel era atencioso, sabia o que queria, solicitava o que desejava com polidez e era pródigo em me elogiar pelas pequenas coisas. Na época, ele equilibrava as cobranças e críticas de meu pai, com comentários positivos sobre a minha conduta. Até hoje, do alto de seus 80 anos continua assim. Enfim, é uma pessoa que investe em relacionamentos e que todos amam. Ao ouvir a história abaixo, eu me lembrei dele: Disseram a um jovem executivo que, se ele quisesse chegar ao topo, teria que mostrar mais liderança. Ele, então, foi até as melhores escolas de administração, conversou com diversos consultores e com diretores de empresas famosas. Mesmo assim não ficou satisfeito com a definição que lhe deram de liderança. Ele queria saber mais! Finalmente, quase desesperado, foi até um guru indiano de reconhecida sabedoria. Perguntou se o guru poderia explicar-lhe a essência da liderança, de tal forma que, praticando-a ele poderia tornar-se um líder em sua empresa. O guru moveu a cabeça solenemente e disse que sim, explicaria os princípios da liderança, desde que ele viesse acompanhado de um seguidor. Somente assim sua explicação faria sentido. Será que um de meus subordinados serve?, perguntou inocentemente aquele jovem, ávido de conhecimento. Mas o velho guru balançou 19

novamente a cabeça e respondeu, com firmeza: Tem que ser um seguidor. O jovem executivo partiu pensativo e confuso. Alguns anos depois, retornou ao guru. Desta vez, ele foi acompanhado de sua filhinha de três anos: Você me pediu que eu trouxesse um seguidor, aqui está: ela me segue por toda parte, explicou o jovem. O velho sorriu, tomou a criança em seu colo e retrucou: E por que ela segue você com tanta insistência?. O jovem pensou por alguns instantes e respondeu: Eu acho que é porque ela me ama. O guru então perguntou novamente: E por que ela ama você?. O jovem pensou, desta vez por um tempo mais longo, e respondeu: Eu acho que é por que eu a amo. O sábio então sorriu, entregou a menina de volta para o seu pai, apertou a mão do jovem executivo e concluiu: Você já sabe tudo que eu posso lhe ensinar sobre liderança. Freire, em uma de suas muitas frases, afirma que o gostar de ser gente faz uma profunda diferença: gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado, mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele. Esta é a diferença profunda entre o ser condicionado e o ser determinado. (FREIRE, frases) Portanto, para que o gestor escolar da rede municipal de ensino consiga desenvolver a habilidade de liderança é fundamental gostar de gente. O gestor municipal não deve apenas cuidar de orçamentos, calendários, vagas e materiais, deve, principalmente, ser um líder. Para isso, é essencial que possua o perfil de uma pessoa empreendedora, que se empenhe em manter o entusiasmo da equipe, tenha autocontrole e determinação sem deixar de ser flexível, aceitando novos desafios com disponibilidade fato que influencia positivamente a equipe. Além disso, esse profissional necessita desenvolver a capacidade de saber expor suas fraquezas, limitações e virtudes, não para usar em desculpas, mas para reconhecer que precisa dialogar e ouvir seus liderados. É inegável que os membros de uma equipe, cuja gestão atenda a esses princípios, percebem com maior clareza seus talentos, seus limites e a desafiadora tarefa que é gerir uma instituição de ensino, principalmente na esfera municipal. O trabalho dos gestores escolares se assenta, pois, sobre sua capacidade de liderança, de influenciar a atuação de pessoas, para a efetivação dos objetivos educacionais da escola e a superação das limitações naturais de toda a organização social, caracterizada pela dinâmica de um conjunto de pessoas com valores, percepções e nível diferenciado de competências. 20

2.1. A capacidade de liderar e delegar Líder, liderança, são palavras que nos remetem à noção de comandar, de se destacar dentre os liderados. Se o capital humano é o principal ativo de uma organização, podemos concluir que a mais importante atividade de um gestor ou líder é a de conduzir pessoas para, como exposto no texto do item anterior, não somente conseguir os melhores resultados; mas fazer com que elas amem os resultados produzidos e os processos para alcançá-los. Ou seja, o papel de um líder vai além do gerenciamento formal de protocolos, processos, etc., já que as pessoas devem estar em primeiro plano. No entanto, liderar não é uma tarefa simples e que se aprende nos manuais; exige paciência, disciplina, humildade, respeito, ética e compromisso. Esta tarefa pode ser definida como o processo de dirigir e influenciar as atividades relacionadas às atividades rotineira dos membros de um grupo, na busca permanente do alto desempenho da equipe, orientada pelos valores e pela visão de futuro de uma organização. De acordo com Sobral & Peci (2008), A liderança é um conceito controverso e de difícil definição. No contexto da administração, a liderança pode ser definida como o processo de dirigir e influenciar o comportamento dos membros da organização, levando-os à realização de determinados objetivos. Três elementos podem ser destacados nessa definição de liderança pessoas, poder e influência. (SOBRAL & PECI, 2008, p. 216) Deve-se ressaltar que a liderança acontece quando há uma congruência entre a proposta do líder e a recompensa esperada pelo grupo, ou problema que o grupo precisa resolver, o qual cria no grupo a disposição ou motivação para fazer aquilo que o líder propõe. Muitas definições de liderança parecem pressupor que líderes são pessoas dotadas de virtudes extraordinárias, que foram grandes condutores de pessoas, em situações também extraordinárias. No entanto, a liderança não pode ser vista apenas como habilidade pessoal, mas, como um conjunto de competências, habilidades e características que devem ser desenvolvidas, como será analisado no próximo item 21

deste capítulo. Cabe destacar que a liderança não é uma característica inata nas pessoas, embora alguns pareçam ter mais facilidade para exercê-la. Também não é privilégio de poucos ou com dons especiais; tampouco exclusiva para quem ocupa cargos de direção. Trata-se de um exercício de influência que requer competências específicas, continuamente desenvolvidas, que demandam capacitação profissional continuada para, cada vez melhor e de forma mais consistente, ser capaz de motivar, orientar e coordenar pessoas para trabalhar e aprender colaborativamente. É fundamental que todo gestor se esforce para desenvolver habilidades, atitudes e compreensões para o seu exercício de liderança, lembrando, ainda, que essa competência é reconhecida mediante esse exercício, pois se identifica que, algumas vezes, mesmo as tendo, muitos falham em aplicá-las, por falta de motivação. Como exposto no Capítulo I, é muito difícil para o gestor assumir sozinho a direção de uma escola. Ele deve ter o discernimento para cercar-se de uma equipe competente e com ela estabelecer um processo de gestão colegiada, pautada num planejamento estratégico aberto às inovações necessárias, com foco no sucesso dos alunos. Neste contexto o gestor ou líder deve ser um bom articulador de todas as ações da escola e ter a habilidade e a sensatez de delegar responsabilidades e execução de tarefas. Para Veiga (2005), essa responsabilidade deve ser compartilhada: A racionalidade necessária, expressa por intermédio de organização, processo decisório participativo, consciência coletiva, critério no atendimento das necessidades, descentralização, corresponsabilidade e ação planejada, caracteriza, hoje, a dimensão pedagógica peculiar da atividade administrativa da escola e nas demais instâncias do sistema e transforma a administração em um ato pedagógico, ao se assumir novo paradigmas de conhecimento, superando o individualismo. (VEIGA, 2005, p. 42) Além disso, a direção de uma escola eficaz é ativa, dinâmica, criativa, interessada, capaz de delegar ações e descentralizar funções. Logo, entende-se que a descentralização de poderes é essencial para que todos dentro do processo educacional se sintam responsáveis pelas decisões dentro do cotidiano da escola. Levando em consideração todos esses aspectos, podemos afirmar que é possível o 22

desenvolvimento de uma equipe bem estruturada e voltada para a gestão de qualidade com resultados positivos, que se evidenciam na dinamização dos trabalhos e no maior compromisso da equipe escolar. 2.2. O gestor escolar e o dia a dia da instituição O cotidiano de uma escola, principalmente da rede municipal foco de nosso estudo, é um desafio constante para todos os membros da comunidade de ensino. Os gestores, os supervisores e os orientadores, assim como os professores enfrentam muitos problemas, além dos de suas atribuições estatutárias, que não estão na esfera de suas competências. No entanto, precisam e devem ser solucionados por esses profissionais, uma vez que os problemas interferem diretamente no processo educacional. Observamos, nesse dia a dia, que há uma crescente tensão no ambiente escolar, caracterizada por eventos que, algumas vezes, atingem o auge da total violência: enfrentamentos pessoais, agressões físicas e verbais, dilemas disciplinares, dentre outros. Muitos desses conflitos estão também relacionados com o tipo de gestão ou com o modelo pedagógico e até com o fato de uma incidência muito grande de professores faltosos, gerando um quadro de horários desorganizado, salas de aula com espaço insuficiente para acomodar as crianças, quadras de esportes inadequadas e mal projetadas para uso dos alunos. Esses são alguns dos itens que contribuem para que o ambiente interno da escola se torne favorável à intolerância. Além disso, é inegável que a violência externa reflete diretamente na escola, e tanto esta como o entorno sofrem com os muitos conflitos sociais ali gerados. 23

Entre as diversas questões que atravessam a vida escolar, destacam-se a indisciplina e a violência. Esses dois fenômenos vêm sendo considerados, na atualidade, como o principal obstáculo ao bom desenvolvimento do processo de ensino/aprendizagem nas escolas da rede municipal de ensino. O professor e psicólogo Yves de La Taille afirma, em entrevista para a revista Nova Escola, intitulada Nossos alunos precisam de princípios, e não só de regras, que a escola deve investir em formação ética e convívio entre alunos, professores e funcionários para vencer a indisciplina (...). indisciplina. Ainda na mesma entrevista, o professor apresenta três definições para o termo Eu vejo três definições para o termo. A primeira tem a ver com a falta de autodisciplina, que é quando o aluno não consegue organizar a tarefa. A segunda pode ser associada à desobediência. Acontece quando eu mando o aluno fazer algo e ele não faz. Eu deixo de ter autoridade porque ele não seguiu minhas ordens, mas não fui desrespeitado. O estudante pode desobedecer dizendo algo como Senhor, me desculpe, mas eu não vou fazer a lição. É uma questão política, tem a ver com a legitimidade do posto de direção. A terceira indisciplina, o desrespeito, essa, sim é uma questão moral. Se estiver lecionando e o aluno se levanta e vai embora como se eu não existisse, fui desobedecido como autoridade e desrespeitado como pessoa, independentemente do fato de eu ser ou não professor. Isso não se justifica. Um professor com uma aula chata não me autoriza de jeito nenhum a desrespeitá-lo. A indisciplina pode ser considerada como o ato, ação ou comportamento em desacordo com as regras, normas ou leis presentes em qualquer comunidade, ou seja, uma transgressão ao que está estabelecido. Já a violência é o que causa dano físico ou moral ao outro, ou ainda que restrinja os direitos, levando ao sofrimento. As queixas de indisciplina e violência, caracterizadas pelo grau de mau comportamento e desrespeito, vêm aumentando cada vez mais, o que exige da unidade escolar priorizar a disciplina como um dos principais objetivos educacionais. Outro aspecto que vem sendo objeto de estudo, e que aqui destacamos como elemento catalisador da indisciplina, é o fato de que hoje deparamo-nos com uma juventude menos temerosa de punições, instrumento pelo qual a disciplina se impunha 24

nos momentos precedentes, e mais desrespeitosa aos preceitos da convivência social. Além disso, a instituição escolar torna-se frágil diante das transformações sociais, uma vez que as propostas pedagógicas não conseguem acompanhar essas mudanças. Aliado a isso, para alcançar a ascensão social, os jovens, na maioria, não se utilizam dos meios formais, como a educação, para traçar objetivos concretos na vida, conforme observado por Guimarães (2003): Ao mesmo tempo dividida entre diferentes demandas e condições definidas pelos grupos envolvidos, a instituição escolar atua em contextos estruturados em torno de uma realidade de forte violência física, elemento unificador dos diferentes segmentos, já que caracteriza seus espaços de vida, e em torno também da produção de formas diversas de tratar o problema, uma vez que esses segmentos retraçam fronteiras, redistribuem e reordenam, material e simbolicamente, espaços e modos de vida na cidade. (GUIMARÃES, 2003, pp. 23/24) Os jovens, distantes de conceitos que possibilitariam melhor convivência com a sua realidade e maior conhecimento para sua formação moral, depredam aquela que representa, para eles, o ícone da repressão: a Escola. A escola, por outro lado, impossibilitada de atuar diretamente com essa clientela, porque os projetos pedagógicos ainda não contemplam abordagem multidisciplinar, não consegue atrair esses jovens e nem transformar a realidade na qual ambos interagem. Esse paradoxo traz, cada vez mais, notícias de incidentes (e acidentes) com depredações do patrimônio escolar. Essa violência praticada pelos jovens não é voltada exclusivamente para a escola, mas para todos que ali convivem. Guimarães (2003) afirmação que, em termos gerais, (...) a relação entre violência e escola pode ser pensada tomando-se como referência o aumento dos índices de criminalidade, o adensamento e a mudança dos padrões de violência verificados nas últimas décadas, aliados às transformações da vida urbana, que vêm gerando novas formas de organização da vida da cidade, envolvendo e determinando alterações na dinâmica social e institucional. (GUIMARÃES, 2003, p. 198) Ainda de acordo com o autor, podem ser destacadas, neste caso, ações resultantes de um quadro de violência difusa que hoje dominam as ruas da cidade e que são com frequencia registradas nas imediações de estabelecimentos de ensino, não raro refletindo-se em seu interior. (GUIMARÃES, 2003, p. 198) 25

Essa constatação não se limita à mídia e aos educadores, as pesquisas também têm constatado um aumento expressivo da violência entre jovens, sobretudo a partir da segunda metade da década de 80. A violência interpessoal vem crescendo, de tal modo, que suplanta outras modalidades antes mais comuns na escola, como depredação do patrimônio, furtos e ameaças. Com os debates em torno da questão, concluímos ser de fundamental importância que as autoridades adotem políticas para tentar reduzir as desigualdades sociais e que seja dada grande prioridade à educação. Dentro desse panorama, o gestor escolar enfrenta, talvez, seu maior desafio, isto é, tentar reduzir esses momentos de violência e indisciplina dentro da unidade escolar, pois cabe a ele tomar iniciativas na tentativa de criar um clima de confiança na escola e garantir o bem-estar de toda a comunidade, interna e externa à escola. No entanto, ao tomar consciência dessa realidade, que medidas podem ser adotadas a partir do momento em que o gestor toma para si a responsabilidade de melhorar esse quadro? De acordo com Álvaro Marchesi, na entrevista intitulada O desafio de formar cidadãos responsáveis, concedida para a revista Pátio, Revista Pedagógica, podemos listar algumas dessas medidas para orientação dos gestores: 1. Incentivar a participação dos alunos na definição de normas e regras de disciplina; 2. Buscar o envolvimento da escola em projetos e iniciativas no campo das normas de convivência, dos valores, da ética e dos hábitos e atitudes; 3. Estabelecer uma comunicação com as famílias para que colaborem na educação formal de seus filhos e no acompanhamento de suas atividades escolares, transformando-as em parceiras da escola; 4. Criar um clima de lealdade e respeito nas relações entre professores e alunos. 26

Os gestores devem dar condições para que os alunos não somente conheçam essas expectativas, mas que também construam e interiorizem tais iniciativas e, principalmente, desenvolvam mecanismos de controle autorreguladores de sua conduta. Portanto, a escola deve trocar a violência pela cidadania ativa, pela conscientização da necessidade de uma sociedade mais justa e solidária, promovendo o resgate de valores éticos, a valorização da vida e o fortalecimento da auto-estima. 2.3. Refletindo sobre as competências fundamentais do gestor escolar Administrar democraticamente o espaço escolar é uma atividade que exige comprometimento com o fazer educacional, já que a escola é uma organização que sempre precisou e precisa mostrar resultados o aprendizado do corpo discente. Logo, surge a maior finalidade da gestão escolar, ou seja, a aprendizagem efetiva e significativa dos alunos, de modo que no cotidiano escolar desenvolvam as competências demandas pela sociedade. Portanto, a dimensão política da gestão escolar é a ação de conduzir um projeto pedagógico comprometido com a formação do cidadão. A gestão democrática, conduzida e coordenada pelo gestor, é sustentada por um projeto pedagógico, elaborado e executado por todos os envolvidos na comunidade escolar. Este aspecto da aprendizagem é assim definido por Veiga (2005): A escola é o lugar de concepção, realização de seu projeto educativo, uma vez que necessita organizar seu trabalho pedagógico com base em seus alunos. Nessa perspectiva, é fundamental que ela assuma suas responsabilidades, sem esperar que as esferas administrativas superiores tomem essa iniciativa, mas que lhe dêem as condições necessárias para levá-la adiante. Para tanto, é importante que se fortaleçam as relações entre escola e sistema de ensino. (VEIGA, 2005, pp.11/12) Os gestores escolares devem proporcionar meios pelos quais os esforços individuais possam ser identificados e valorizados, criando um canal de comunicação 27

ágil, preciso e democrático para que os esclarecimentos fiquem formalizados e tenha alcance imediato das decisões. Ao gerir os recursos humanos da escola, uma das competências do gestor refere-se à promoção de cursos de formação continuada para seu pessoal, pressupondo a quantidade de profissionais a serem capacitados; a definição de prioridades de cursos com estímulo à participação; a oferta de oficinas, seminários, ciclos e debates; bem como adotando estratégias inovadoras e uso de tecnologia adequada. É de extrema importância que o gestor escolar possua, além dos conhecimentos técnicos, competência estratégica para saber o momento oportuno de implementar determinadas inovações. Esse profissional também deve estar imbuído da necessidade de criar relatórios de controle. Por meio desses relatórios torna-se mais fácil e transparente o gerenciamento e assegura o alcance de melhores resultados. Para Marchesi (2003), é importante que o gestor aplique a todo instante mecanismos para identificar os problemas e assim possibilitar os ajustes, pois: (...) a gestão que promove o desenvolvimento da escola tem de incorporar mecanismos de avaliação interna que permitam conhecer seu funcionamento, detectar os problemas e corrigir os erros. (MARCHESI, 2003, p. 119) Na listagem a seguir identificamos algumas virtudes que caracterizam o gestor competente: 1. Sensibilidade para conduzir pessoas, resolver conflitos, fazer encaminhamentos; 2. Determinação, firmeza, eficiência, otimismo na execução do processo sob sua responsabilidade, comprometimento; 3. Diplomacia, discrição, prudência nas parcerias e nos contatos, ética; 4. Serenidade para resolver situações delicadas; 5. Seriedade, precisão, cautela, honestidade na definição; 6. Aplicação e prestação de contas; 7. Disciplina e pontualidade na condução do seu trabalho; 8. Rigor na cobrança de tarefas, e de horários das pessoas que administra; 9. Compreensão quando situações especiais assim o requeiram; 28

10. Autenticidade e coerência entre o dizer e o fazer. O trabalho de gestão escolar exige o exercício de múltiplas competências específicas e essa diversidade é um desafio para os profissionais da educação, pois a gestão escolar é uma estratégia de intervenção organizadora e mobilizadora, de modo que se tornem cada vez mais potentes na formação e aprendizagem. Os gestores precisam desenvolver algumas competências que são simples na definição, mas complexas na educação, tais como saber ouvir e levar em consideração ideias, opiniões e posicionamentos divergentes. Essa é uma habilidade relevante para garantir uma gestão participativa que leve à construção coletiva de soluções eficazes para todas as áreas de gestão da escola: a pedagógica, a administrativa, a de recursos humanos e a da comunidade. 29

CAPÍTULO III O REAL PAPEL DO GESTOR DA ESCOLA PÚBLICA MUNICIPAL Na era da informação tecnológica, a escola é instada a oferecer respostas a novas exigências da educação, identificadas, hoje, como aprender a aprender : aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. Esse novo olhar requer também novas posturas diante do elemento que caracteriza e simboliza essa era: o computador. Com as transformações que ocorrem a cada segundo, ao gestor escolar cabe a ação de aprender o mundo contemporâneo e relacioná-lo às demandas da escola (sua clientela, seus sonhos, suas necessidades, seus direitos, seus profissionais, suas condições, etc.), para que a instituição não fique estagnada e alijada das novas formas de lidar com o ensinar/aprender. A gestão das escolas, nas reflexões de Marchesi (2003), não deve ser dirigida somente à sua estabilidade, mas também à sua mudança. Uma mudança que decorre das transformações sociais, das propostas externas de reforma e dos programas internos de inovação. (p 119) Os estímulos que ocorrem com os novos conhecimentos provocam a necessidade de rever continuamente o já sabido, reorganizando em outras bases todo o saber acumulado. O fenômeno da globalização, tão conhecido no universo da 30

economia e que permite que países troquem entre si produtos, serviços e cultura devido à velocidade das informações, também atingiu a educação sobremaneira. Buscamos identificar neste capítulo por que o contexto atual requer dos espaços escolares muito mais autonomia no que se refere aos processos de aprendizagem. Por este ângulo, observa-se que um dos avanços na área educacional está relacionado ao uso de meios tecnológicos nas várias dimensões de atuação na prática na escola. Cabe ao gestor tornar possível o acesso dos professores, alunos e da comunidade ao ambiente e instrumentos tecnológicos, para aperfeiçoamento de aulas práticas que contribuam para o processo ensino/aprendizagem, bem como na sua inserção no mercado de trabalho, de acordo com uma visão de políticas educacionais que busque a atuação do cidadão participante na sociedade. 3.1. O gestor escolar e sua relação com as rápidas transformações do mundo O mundo atual exige uma reavaliação constante de nossas crenças, conhecimentos e ações. Portanto, há, também, a necessidade de reformulação da estrutura pedagógica e administrativa dentro das escolas municipais brasileiras, para que estas se tornem mais modernas e criativas. E para que isto aconteça cabe ao gestor escolar criar um ambiente prazeroso de encontros, trocas e descobertas e um ambiente de trabalho seguro e agradável. O universo da escola é um dos espaços direcionados para a formação e transformação dos alunos de acordo com os atuais paradigmas que caracterizam a sociedade do conhecimento, fortemente marcada pelo uso extensivo de meios de comunicação e informação. 31

Nesse sentido, cabe à escola, a todo o momento, repensar o contexto no qual está inserida para unificação das esferas educacionais e do educador em uma visão ampla e diversificada que torne possível o aprimoramento das diversidades para a aprendizagem dos alunos. Para Vygotsky (2003), a aprendizagem está relacionada ao desenvolvimento desde o início da vida humana, sendo um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente e especificamente humanas (p. 118). O gestor escolar deve direcionar o seu trabalho, e, por conseguinte, o trabalho de sua equipe, para a obtenção dos resultados pretendidos, tendo sempre em vista a qualidade destes resultados. Compete a ele tomar as iniciativas necessárias à mudança e à inovação, desafiar velhos paradigmas e influenciar seus colaboradores a mudarem, provocando-os no alcance de novas metas. Mas mudar nem sempre é confortável, requer ousadia, coragem e um pouco de visão de futuro para buscar o que ninguém pensou ou desejou. Para Hunter (2004), fazer as coisas diferentes é muito difícil: A mudança nos desinstala, nos tira da nossa zona de conforto e nos força a fazer as coisas de modo diferente, o que é difícil. Quando nossas ideias são desafiadas, somos forçados a repensar nossa posição e isso é sempre desconfortável. É por isso que, em vez de refletir sobre seus comportamentos e enfrentar a árdua tarefa de mudar seus paradigmas, muitos se contentam em permanecer para sempre paralisados em seus pequenos trilhos. (HUNTER, p. 44, 2004) É de fundamental importância, então, que o responsável pela gestão da unidade escolar esteja consciente de seu papel e da sua função como principal líder de toda essa mudança dentro do processo educativo. Ele deve estar atento às propostas do coletivo que poderão servir de base para o desenvolvimento de todo trabalho inovador. As escolas têm uma missão a cumprir e essa missão, hoje bastante reformulada nas propostas, concentra-se no ensino e na aprendizagem, melhor dizendo, na formação dos alunos, assumindo que, para tanto, ele precisa apropriar-ser de um conjunto de conhecimentos úteis para a sua vida. Espera-se que a escola faça muito 32