VARIAÇÃO ANUAL DAS CARACTERÍSTICAS SEMINAIS EM BODES DA RAÇA SERRANA

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Transcrição:

297-311 (2001). VARIAÇÃO ANUAL DAS CARACTERÍSTICAS SEMINAIS EM BODES DA RAÇA SERRANA J.P.F. Sousa 1, J.P. Barbas 2, G.M.B.C. Ferreira 3 e A.E.M. Horta 2 2 Departamento de Reprodução Animal, Estação Zootécnica Nacional INIA, 2000 Vale de Santarém. dfra.ezn@mail.telepac.pt 1 Estagiário de licenciatura em Engenharia Zootécnica (U. Açores) 3 Estagiário de licenciatura em Medicina Veterinária (U. Porto) RESUMO Pretendeu-se avaliar as características seminais quantitativas (volume, concentração e spz totais) e qualitativas (mobilidade massal e individual, vitalidade e anomalias espermáticas) em quatro bodes da raça Serrana ao longo de um ano (semanalmente), num estudo efectuado na Estação Zootécnica Nacional (39º, 12 N). O sémen, colhido pelo método da vagina artificial, foi examinado logo após as colheitas. Durante 6 meses realizaram-se igualmente testes para avaliação da integridade do acrossoma e da integridade da membrana plasmática (HOST), comparando neste último caso a eficiência de dois meios hipoosmóticos. Não foram encontradas interacções significativas para nenhuma das características seminais estudadas entre o factor Bode e os factores Mês ou Estação do ano (P>0.05). O sémen dos bodes deste estudo apresentou em média, por ejaculado, um volume de 0,9±0,3 ml, uma concentração de 4,8±1,3 spz x 10 9 /ml, 4,6±2,2 spz totais x 10 9, 80,7±12,2 % de spz móveis, 74,9±9,1 % de spz vivos e 81,3±6,1% de spz normais. Foram observadas diferenças significativas entre bodes para o volume do ejaculado, concentração, spz totais e vitalidade espermática (P 0,05). Entre os meses do ano observaram-se diferenças significativas para todas as características seminais estudadas, excepto para as anomalias da peça intermédia. Os ejaculados com melhores características, quer qualitativas, quer quantitativas, foram produzidos durante o fotoperíodo decrescente (Verão e Outono). A magnitude dos efeitos sazonários não parece comprometer um bom desempenho reprodutivo ao longo do ano. Só foram observados 3,5±1,8 % de espermatozóides com acrossomas degenerados, sem diferenças significativas entre bodes. Este estudo evidenciou que o meio hipoosmótico que permitiu viabilizar o teste de endosmose (HOST) em bodes foi o de 100 mosm/kg, quando comparado com o de 200 mosm/kg, tendo-se observado uma percentagem média de 85,2±10,2 % de spz com membranas funcionais por ejaculado, sem diferenças significativas entre bodes (P>0.05). Os resultados obtidos indicam que a qualidade espermática do bode Serrano, parece permitir viabilizar a monta natural dirigida ou a inseminação artificial durante todo o ano, nas condições em que se realizou este estudo. No caso de se recorrer à inseminação artificial, será possível obter entre 10 a 16 doses com 300 millhões de spz móveis ao longo do ano, por ejaculado. INTRODUÇÃO A actividade reprodutiva nos pequenos ruminantes é fortemente influenciada por factores sazonais como o fotoperíodo, temperatura e humidade (Corteel, 1981). As raças situadas em latitudes compreendidas entre os 30 e 40º apresentam variações sazonais menos pronunciadas do que as raças situadas em latitudes mais elevadas (Chemineau, P., 1986; Skalet et al., 1988; Perez e Mateos, 1996). A Serrana, é a raça caprina nacional de maior importância quer a nível produtivo quer a nível de efectivo existente no país. Estudos com fêmeas da raça Serrana detectaram importantes variações sazonárias na actividade ovárica, com períodos de anestro entre Janeiro e Julho (Leitão et al., 1987; Horta et al., 1987). Em machos da mesma raça, foram igualmente detectadas influências sazonárias, quer sobre o início da puberdade

297-311 (2001). (Baptista et al., 1991), quer sobre a produção circadiana de testosterona que se encontra significativamente diminuída no equinócio de Março (Mascarenhas et al., 1992). Neste trabalho, pretende-se caracterizar a variação mensal na produção quantitativa e qualitativa de sémen de caprinos da raça Serrana, ecotipo ribatejano. MATERIAIS E MÉTODOS A experiência realizou-se na Estação Zootécnica Nacional, situada no Vale de Santarém a uma latitude de 39º 12 N, durante Março de 1999 e Março de 2000. As temperaturas médias diárias variaram entre os 7,6º C. no dia 21 de Dezembro de 1999 e os 24,3ºC. no dia 2 de Agosto de 1999. Os dados climáticos da temperatura foram coligidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (INMG), a partir da sub-estação situada na Fonte Boa. Utilizaram-se 4 bodes adultos com 4 anos de idade e um peso médio de 69,5 ± 1,5 kg, não apresentando variações significativas de peso ao longo do ano. Os animais foram alimentados à base de feno, silagem e luzerna desidratada e mantidos em óptimas condições de maneio, tendo sempre alimento, água e sombra à disposição. Para realizar as colheitas seminais utilizou-se o método da vagina artificial, utilizandose, de forma alternada, duas cabras ovariectemizadas, estimuladas com estradiol-17β quando necessário (5 mg/dose, i.m.) e imobilizadas num tronco de forma a facilitar a monta e a colheita. Após a recolha, o sémen foi colocado em banho-maria e avaliado de forma quantitativa e qualitativa. Foram efectuadas 205 colheitas em 54 sessões à média de uma colheita por semana, distribuídas da seguinte forma: Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Total Colheitas 12 11 29 43 24 13 14 4 16 8 16 15 205 Sessões 3 3 8 11 6 4 4 1 4 2 4 4 54 A maior parte das sessões contemplou o estudo do volume, concentração, spz totais, mobilidade massal (MM) e individual (MI), vitalidade espermática, normalidade espermática e anomalias da cauda, cabeça e peça intermédia. De Setembro de 1999 a Março de 2000, realizaram-se testes de endosmose (permeabilidade da membrana plasmática, HOST) e de integridade do acrossoma (fixação com Gluteraldeído). O volume foi avaliado por observação directa dos tubos graduados e registado em ml. A concentração espermática foi avaliada num espectrofotómetro aferido para ovino após a realização de uma equação de calibração que permitiu obter uma relação entre a concentração lida para ovino e a concentração esperada para caprino (Concentração para caprino (spz/ml) = 0,263 + 1,097 x Concentração lida para ovino x 10 9 ). O número total de spz foi obtido através da multiplicação da concentração espermática pelo volume de sémen ejaculado. A mobilidade massal foi obtida pela observação de um gota com 10 µl de sémen puro em microscópio de contraste de fase (ampliação de 160 x) e as amostras foram pontuadas de 0 a 5 (0 = imobilização total dos spz, 5 = 90% ou mais de spz vivos). A mobilidade individual foi avaliada pela observação microscópica em contraste de fase (160 x), registando a percentagem de spz vivos com movimentos rectilíneos progressivos. A vitalidade espermática foi determinada através da coloração diferencial eosina-nigrosina por microscopia (spz corados = mortos). As anomalias morfológicas da cauda, da cabeça e peça intermédia, foram também determinadas pela observação de esfregaço corado com eosina-nigrosina (contraste de fase e ampliação 1000 x). A integridade membranária foi avaliada através do teste HOST, tendo-se testado dois meios hipoosmóticos, um com uma osmolalidade de 100 mosm/kg (Dezembro a Março) e outro com 200 mosm/kg (Setembro a Dezembro). O teste consistiu na diluição de 0,1 ml de sémen puro em 1 ml da melhor solução hipoosmótica durante 5 e 25 minutos. Seguidamente, fixou-se uma gota da diluição com gluteraldeído a 2% em BL-1 e contaram-se num esfregaço 100 spz em microscópio de contraste de fase (1000 x), registando-se a percentagem dos que apresentaram endosmoses positivas (somatório das positivas totais e parciais) e endosmoses negativas. A integridade do acrossoma foi avaliada pelo método de fixação com gluteraldeído a

297-311 (2001). 2% em BL-1, através da diluição de 0,1 ml de sémen puro em 1 ml da solução anterior, realizou-se um esfregaço e observou-se em microscópio de contraste de fase (1000 x). Contabilizaram-se 100 spz, diferenciando em % os portadores de acrossomas intactos, degenerados e perdidos. Todos os dados obtidos ao longo do ano, foram registados e armazenados numa folha de cálculo do programa Excel (Microsoft). As variáveis sazonárias (fotoperíodo e temperaturas), foram utilizadas para a realização de correlações com todas as variáveis seminais, as quais foram igualmente correlacionadas entre si (método de Pearson). Realizaram-se análises de variância múltiplas (MANOVA) para detectar interacções entre os factores bode, mês e estação do ano, para todas as variáveis seminais. Não havendo interacção, os efeitos isolados do bode, mês e estação do ano, foram estudados através de análises de variância simples (ANOVA) e de testes de comparação múltipla pelo método das menores diferenças significativas (LSD), para todas as variáveis seminais. RESULTADOS Na Tabela 1, podem consultar-se as correlações encontradas entre todas as variáveis. Nesta tabela podemos encontrar as variáveis sazonárias (duração do dia e média das temperaturas médias e máximas), e as variáveis qualitativas e quantitativas dos ejaculados. Os parâmetros seminais quantitativos (volume, concentração e espermatozóides totais) apresentam elevadas correlações positivas entre si. Dos parâmetros qualitativos, destacam-se as altas correlações entre as mobilidades massal e individual (0,60), apresentando ambas uma correlação positiva com os espermatozóides vivos. A mobilidade individual apresenta, além disso, uma correlação positiva com os espermatozóides normais (0,22) e negativa com as anomalias da cauda (-0,20). Além das correlações com as mobilidades, os espermatozóides vivos apresentam uma correlação positiva com os espermatozóides normais (0,34) e negativa com as anomalias da cauda (-0,28) e da cabeça (-0,25). Os espermatozóides normais, além das já referidas, apresentam correlações negativas com as anomalias da cauda (-0,91), cabeça (-0,40) e peça intermédia (-0,20). Entre parâmetros quantitativos e qualitativos, destacam-se as correlações positivas da mobilidades massal com a concentração (0,27) e da mobilidade individual com os espermatozóides totais (0,17). Não foi observada interacção significativa entre os efeitos Bode x Mês de colheita, para nenhuma das características seminais estudadas (P>0.05). Houve diferenças significativas entre bodes, relativamente ao volume, concentração espermática, percentagem de espermatozóides vivos e espermatozóides totais do ejaculado, quando apreciadas as médias anuais (Tabela 2). Não houve diferenças significativas entre bodes para as outras características seminais (P>0.05). O volume seminal variou entre 0,81 e 1,15 ml, tendo-se destacado significativamente o bode 605. A concentração espermática variou entre 4,32 e 5,26 spz/ml x 10 9 e o numero total de espermatozóides variou entre 3,97 e 6,11 spz x 10 9, tendo-se de novo destacado o bode 605. A vitalidade espermática variou entre 72,3 e 78,3 % de spz vivos, com destaque para o bode 617 (Tabela 2). Tabela 2 - Características seminais anuais com diferenças significativas entre diferentes bodes. Volume (ml) Concentração (spz*10 9 /ml) spz Vivos (%) spz Totais (*10 9 ) Bodes n média ± dp n média ± dp n média ± dp n média ± dp 602 54 0,95±0,35 a 54 5,12±1,26 ac 50 74,3±7,45 a 54 4,92±2,09 a 605 38 1,15±0,33 b 38 5,26±1,10 a 38 74,9±9,10 ab 38 6,11±2,49 b 617 53 0,81±0,30 c 53 4,72±1,43 bc 52 78,3±7,88 b 53 4,01±2,15 c 619 60 0,91±0,24 ac 60 4,32±1,08 b 57 72,3±10,51 a 60 3,97±1,70 c Anova F [3;201] =9,2 P=0,00001 F [3;201] =6,13 P=0,00052 F [3;193] =4,32 P=0,005651 F [3;201] =10,31 P=0,000002

Tabela 1 Correlações entre os diferentes factores sazonários e características seminais (as correlações marcadas com * são significativas para p 0,05). Variável MINLUZ TEMPMED TEMPMAX VOLUME MM MI CONC VIVOS NORMAIS CAUDA CABEÇA PI SPZT MINLUZ 1.00.67*.66*.09 -.24* -.21*.20*.02 -.02.10 -.18* -.04.18* TEMPMED.67* 1.00.96*.13.10.17*.17*.18*.01.02 -.10.00.19* TEMPMAX.66*.96* 1.00.08.11.15.24*.18*.03.00 -.07 -.02.19* VOLUME.09.13.08 1.00 -.03.15*.24* -.08 -.01 -.03.09.03.85* MM -.24*.10.11 -.03 1.00.60*.27*.32*.17* -.15 -.10 -.01.10 MI -.21*.17*.15.15*.60* 1.00.11.30*.22* -.20* -.13.01.17* CONC.20*.17*.24*.24*.27*.11 1.00.07.02.01 -.01 -.13.67* VIVOS.02.18*.18* -.08.32*.30*.07 1.00.34* -.28* -.25* -.00 -.01 NORMAIS -.02.01.03 -.01.17*.22*.02.34* 1.00 -.91* -.40* -.20*.02 CAUDA.10.02.00 -.03 -.15 -.20*.01 -.28* -.91* 1.00.07 -.04 -.03 CABEÇA -.18* -.10 -.07.09 -.10 -.13 -.01 -.25* -.40*.07 1.00 -.02.05 PI -.04.00 -.02.03 -.01.01 -.13 -.00 -.20* -.04 -.02 1.00 -.03 SPZT.18*.19*.19*.85*.10.17*.67* -.01.02 -.03.05 -.03 1.00 MINLUZ Duração do dia em minutos TEMPMED Temperatura média diária TEMPMAX Média das temperaturas máximas diárias VOLUME Volume do ejaculado MM Mobilidade massal MI Mobilidade individual CONC Concentração espermática VIVOS Percentagem de espermatozóides vivos NORMAIS Percentagem de espermatozóides normais CAUDA Percentagem de espermatozóides com anomalias da cauda CABEÇA - Percentagem de espermatozóides com anomalias da cabeça PI - Percentagem de espermatozóides com anomalias da peça intermediária SPZT Espermatozóides totais do ejaculado

Relativamente às médias mensais, encontraram-se diferenças significativas em todas características seminais, com excepção das anomalias da peça intermediária (Tabelas 3-5). O volume e o número total de spz do ejaculado, foram duas variáveis quantitativas que apresentaram uma correlação muito elevada entre si (0,90), ocorrendo os valores mais elevados nos meses de Julho e Agosto (Tabela 3). De Novembro a Janeiro, encontraram-se os valores mais baixos. Em Abril, a diminuição observada é devida a uma frequência de colheitas elevada (2 em 2 dias). Para a concentração (Tabela 3) observa-se uma subida dos valores de Janeiro a Março, uma descida em Abril que se estabiliza até Agosto, verificando-se a partir de então uma descida até Dezembro. A Concentração e os espermatozóides totais estiveram autocorrelacionados (0,67) e apresentaram correlações positivas com o fotoperíodo (Tabela 1). Tabela 3 - Variação mensal das características seminais quantitativas Volume (ml) Concentração (spz*10 9 /ml) spz Totais (*10 9 ) Meses n média ± dp n média ± dp n média ± dp Jan 12 0,83±0,25 ab 12 4,31±0,99 ade 12 3,68±1,55 a Fev 11 0,93±0,40 abc 11 4,38±0,83 ade 11 4,20±2,43 ab Mar 29 0,97±0,32 abc 29 5,73±1,48 b 29 5,41±1,96 bc Abr 43 0,82±0,29 b 43 4,97±1,53 ce 43 4,20±2,22 ad Mai 24 1,00±0,36 ac 24 4,77±1,21 acd 24 4,98±2,71 abc Jun 13 0,94±0,26 abc 13 4,86±0,94 acd 13 4,59±1,73 ab Jul 14 1,14±0,23 c 14 5,36±0,98 bc 14 6,26±2,33 c Ago 4 1,20±0,41 cd 4 5,06±0,70 abde 4 6,20±2,64 bcd Set 16 0,98±0,42 abc 16 4,13±1,08 d 16 4,31±2,51 abd Out 8 1,11±0,20 cd 8 4,56±1,04 acd 8 5,13±1,57 abc Nov 16 0,88±0,33 abd 16 4,23±0,70 ad 16 3,67±1,54 a Dez 15 0,93±0,30 abc 15 4,21±0,81 ad 15 4,06±1,90 ad Anova F [11;193] =1,79 P=0,056312 F [11;193] =3,42 P=0.000233 F [11;193] =2,19 P=0.016723 As mobilidades massal e individual apresentam uma autocorrelação (0,60) e estão ambas correlacionadas negativamente com o fotoperíodo (Tabela 1). Como se pode observar na Tabela 4, os valores são baixos de Janeiro a Abril-Maio, subindo até Agosto e mantendo-se elevadas até Dezembro. A vitalidade espermática apresentou valores mais elevados entre Agosto e Outubro, havendo a partir de então um decréscimo até Dezembro. De Janeiro a Junho existe uma grande oscilação entre meses, sendo os valores normalmente baixos (Tabela 4). Os spz normais apresentaram valores mais baixos entre Janeiro e Abril, com uma subida até Setembro e uma queda até Dezembro. O mês de Julho apresentou um valor muito baixo, contrariamente ao esperado. As formas anormais da cauda apresentaram uma variação anual mais acentuada que as da cabeça, mostrando valores mais elevados entre Janeiro e Junho, apresentando o valor mais baixo em Agosto para subir de novo até Dezembro. O mês de Julho mostra de novo um valor contrário ao esperado. A variação anual das formas anormais da cabeça é pequena e os valores são baixos (Tabela 5). As anomalias da peça intermediária não variaram significativamente, nem entre bodes nem entre meses, apresentando um valor médio anual de 1,46±1,48 % (P=0,159).

Tabela 4 Variação mensal da mobilidade e vitalidade espermática Mobilidade Massal Mobilidade Individual spz Vivos(%) Meses n média ± dp n média ± dp n média ± dp Jan 12 4,25±0,45 acde 12 83,75±5,69 bcd 12 71,08±3,68 a Fev 11 4,00±0,45 acd 11 82,28±6,07 bde 11 74,18±4,20 abe Mar 29 4,07±0,80 acd 29 78,28±12,7 b 23 78,41±5,41 bc Abr 43 3,93±0,91 a 43 68,26±13,17 a 42 71,98±4,09 a Mai 24 3,92±0,50 ad 24 77,41±8,73 b 23 71,93±4,98 a Jun 13 3,85±0,38 ad 13 84,62±8,02 cd 13 79,53±4,59 bc Jul 14 4,29±0,47 acde 14 90,00±6,79 c 14 72,03±6,25 a Ago 4 4,76±0,50 bcd 4 91,75±5,37 ce 4 84,62±6,97 c Set 16 4,31±0,79 de 16 87,81±8,36 ce 16 80,43±6,56 ce Out 8 4,88±0,35 b 8 88,12±7,99 ce 8 82,81±4,85 c Nov 16 4,56±0,51 be 16 87,81±6,04 ce 16 74,56±7,47 ab Dez 15 4,40±0,51 bd 15 89,00±5,41 ce 15 72,10±8,06 a Anova F [11;193] =3,08 P=0.000760 F [11;193] =11,77 P=0.000000 F [11;185] =3,69 P=0.000092 Tabela 5 Variação mensal das formas normais e anomalias da cauda e da cabeça spz Normais (%) Anomalias da Cauda (%) Anomalias da Cabeça(%) Meses n média ± dp n média ± dp n média ± dp Jan 12 80,41±5,34 abd 12 14,33±5,44 bcd 12 4,04±1,18 ab Fev 11 78,86±6,09 ade 11 15,09±4,92 bcd 11 5,09±3,00 b Mar 18 80,19±3,40 abd 18 14,33±2,78 bcd 18 4,42±1,78 bc Abr 7 80,29±4,00 abd 5 16,10±4,38 bcd 5 2,60±0,75 ac Mai 23 80,85±7,23 ab 23 14,98±6,75 bc 23 2,89±2,66 a Jun 13 84,04±3,96 bc 13 12,11±4,16 ab 13 2,73±1,59 a Jul 14 76,43±4,20 de 14 17,46±3,52 c 14 4,21±2,87 ab Ago 4 86,25±2,87 efg 4 7,88±2,17 a 4 3,75±1,19 ab Set 16 85,47±6,79 cf 16 9,97±5,70 a 16 2,94±1,91 a Out 8 83,50±7,22 abf 8 10,56±5,00 ad 8 4,00±1,46 ab Nov 16 81,41±8,68 abg 16 12,66±7,52 ab 16 4,72±1,39 b Dez 15 81,43±3,13 abf 15 13,27±3,90 ab 15 2,87±1,46 a Anova F [11;145] =2,56 P=0.005279 F [11;143] =2,62 P=0.004393 F [11;143] =2,34 P=0.011088 Tabela 6 - Variação das características seminais quantitativas entre estações do ano. Volume (ml) Concentração (spz*10 9 /ml) spz Totais (*10 9 ) Estação (n) média ± dp média ± dp média ± dp Inverno 26 0,88 ± 0,33 a 4,31 ± 0,89 a 3,93 ± 2,03 ac Primavera 102 0,91 ± 0,32 a 5,14 ± 1,46 b 4,72 ± 2,29 a Verão 33 1,13 ± 0,28 b 5,02 ± 0,92 b 5,81 ± 2,21 b Outono 44 0,92 ± 0,32 a 4,19 ± 0,90 a 3,96 ± 1,80 c ANOVA F [3;201] =4,72 P=0,003309 F [3;201] =8,05 P=0,000043 F [3;201] =5,74 P=0,000866

Não se observou interacção entre o efeito bode e estação do ano (P>0,234). As diferenças entre estações do ano para as variáveis quantitativas, são apresentadas na Tabela 6 e Gráfico 1. Na Tabela 7 e Gráfico 2, apresentam-se as variações da mobilidade massal e individual, as quais apresentaram diferenças significativas entre estações. A vitalidade espermática (Gráfico 2) não variou significativamente entre estações do ano (74,9 ± 9,1 %; P=0,134242). Não houve variação significativa entre estações do ano, relativamente às formas normais (81,3 ± 6,1 %; P=0,140179, Gráfico 2). Tabela 7 Variação da mobilidade massal e individual entre estações do ano. Mobilidade Massal Mobilidade Individual Estação n média ± dp média ± dp Inverno 26 4,15 ± 0,46 ab 83,65 ± 5,93 a Primavera 102 3,96 ± 0,77 a 74,15 ± 12,91 b Verão 33 4,24 ± 0,56 b 88,70 ± 6,94 a Outono 44 4,55 ± 0,59 b 88,30 ± 6,64 a ANOVA F [3;201] =8,03 P=0,000044 F [3;201] =29,30 P=0,000001 Letras diferentes correspondem a diferenças significativas entre médias Na Tabela 8 apresentam-se as variações das anomalias da peça intermédia e da cauda, as quais mostraram diferenças significativas entre as estações do ano. Não houve diferenças significativas entre estações do ano, relativamente às anomalias da cabeça (3,7 ± 2,1 %; P=0,120991). Tabela 8 Variação das anomalias da peça intermédia e cauda, entre estações do ano. Peça Intermédia (%) Cauda (%) Estação n média ± dp média ± dp Inverno 26 0,98 ± 1,20 ab 14,73 ± 4,78 a Primavera 52 1,13 ± 0,91 a 14,54 ± 5,29 b Verão 33 1,77 ± 1,26 b 13,96 ± 5,24 a Outono 44 1.91 ± 2,08 b 11,38 ± 5,89 a ANOVA F [3;151] =3,82 P=0,011262 F [3;151] =3,46 P=0,017853 Letras diferentes correspondem a diferenças significativas entre médias No estudo comparativo entre dois meios hipoosmóticos (200 mosm/kg vs 100 mosm/kg), verificou-se haver significativamente maior percentagem de spz com reacção positiva aos 25 minutos no meio de 100 mosm/kg (85,2% vs. 39,75%; p<0,00001, Gráfico 3). Gráfico 3 Efeito de duas soluções hipoosmóticas (100 e 200 mosm) na reacção endosmótica espermática positiva, medida aos 25 minutos. Endosmoses positivas aos 25' (%) 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 85.22 39.75 100 mosm 200 mosm

Gráfico 1. Variáveis quantitativas para o efeito estação do ano 7 VOLUME 1.5 6 CONCAP SPZT 1.4 5 1.3 Conc. e SPZ tot (x10^9) 4 3 2 1.2 1.1 1.0 Volume (ml) 1 0.9 0 Inverno Primavera Verão Outono 0.8 90 Gráfico 2. Variáveis qualitativas para o efeito estação do ano 80 4.7 MI, Vivos e Normais (%) 70 4.2 Mobilidade Massal 60 50 MM MI VIVOS NORMAIS 3.7 Inverno Primavera Verão Outono

Não foram encontradas diferenças significativas na percentagem de espermatozóides com endosmose positiva entre os 5 e 25 minutos (84,5 ± 9,8 % vs 85,2 ± 10,2 %, respectivamente; p>0,05), tendo-se encontrado uma média geral de 84,9 ± 9,99 % nas 111 sessões efectuadas (meio de 100 mosm/kg). Não se observaram diferenças significativas entre bodes, relativamente às características de integridade da membrana (end. pos. 5 = 84,52%; end. pos. 25 =85,22%) e do acrossoma (Intactos = 95,27%; Degenerados = 3,45%; Perdidos = 1,27%). Quanto aos meses de colheita, verifica-se que só houve diferenças significativas nas endosmoses positivas aos 25 minutos, onde o mês de Dezembro apresentou um valor mais baixo que os outros meses (Tabela 9). Tabela 9 Variação mensal das endosmoses positivas aos 5 e 25 minutos. End Pos 5 End Pos 25 n média ± dp (%) n média ± dp (%) Dezembro 14 80,64 ± 12,1 a 15 77,20 ± 12,0 a Janeiro 12 83,08 ± 10,3 a 12 85,37 ± 10,1 b Fevereiro 11 90,09 ± 8,1 a 11 91,63 ± 3,9 b Março 18 85,11 ± 7,3 a 18 87,88 ± 7,4 b ANOVA F [3;51] =2,14; P=0,106 F [3;52] =6,34; P=0,0009 Tabela 10 Variação mensal da integridade do acrossoma (Acr.). Acr. Intactos Acr. Degenerados Acr. Perdidos n média ± dp (%) n média ± dp (%) n média ± dp (%) Setembro 4 95,25±1,50 ab 4 4,50±1,29 a 4 0,25±0,50 a Outubro 8 96,25±1,16 a 8 3,00±1,20 a 8 0,75±0,71 ab Novembro 16 96,19±2,00 a 16 3,19±1,64 a 16 0,63±0,72 a Dezembro 15 95,80±2,65 a 15 2,93±1,58 a 15 1,27±1,44 abc Janeiro 12 95,33±1,97 ab 12 3,25±1,76 a 12 1,42±0,99 abc Fevereiro 11 94,72±2,49 ab 11 3,55±2,16 a 11 1,73±1,19 bc Março 18 93,90±2,37 b 18 4,16±1,98 a 18 1,94±1,51 c ANOVA F [6;77] =2,15; P=0,0568 F [6;77] =1,13; P=0,3524 F [6;77] =2,90; P=0,01329 A percentagem de spz com acrossomas intactos apresentou valores elevados ao longo dos meses estudados, tendo o mês de Março apresentado um valor significativamente inferior aos encontrados em Outubro Novembro e Dezembro (Tabela 10). Os spz com acrossomas degenerados não variaram significativamente ao longo do período estudado, situando-se em 3,45 ± 1,77 % (Tabela 10). Os spz com acrossomas perdidos apresentam valores muito baixos e com elevados coeficientes de variação, tendo-se encontrado diferenças significativas entre os meses de Março com Setembro, Outubro e Novembro; e o mês de Fevereiro com Setembro e Novembro (Tabela 10). DISCUSSÃO E CONCLUSÕES Devido ao escasso número de estudos de sazonalidade reprodutiva em bodes desta raça, este trabalho pode constituir um ponto de referência para estudos futuros e contribuir para uma utilização mais racional do bode Serrano, quer em sistemas de cobrição natural, quer na utilização de tecnologias ligadas à inseminação artificial que dependem da quantidade e qualidade do sémen produzido ao longo do ano.

O factor sazonário fotoperiódico apresentou baixas correlações significativas de valor negativo com as mobilidades massal e individual. Isto significa que durante o fotoperíodo decrescente existiu uma melhoria das mobilidades, o que está de acordo com trabalhos realizados por vários autores (Pérez e Mateos, 1996; Ahmad e Noakes, 1996; Roca et al.,1992). No entanto, Baptista e Mascarenhas (1989) e Colas (1980) referem que as mobilidades não são influenciadas pelo fotoperíodo, mas sim pelas temperaturas. Com efeito, também no nosso trabalho se verificou existirem correlações elevadas entre as temperaturas ambientais e o fotoperíodo, o que permite explicar em parte a correlação observada anteriormente, pese o facto de só ter sido observada uma correlação significativa de baixo valor da temperatura média com a mobilidade individual. Esta aparente contradição pode ser devida ao facto do efeito das temperaturas sobre o ciclo espermático se manifestar de forma desfasada no tempo. Nas restantes correlações significativas importa salientar as altas correlações positivas dos spz totais com o volume e concentração (relação lógica), e entre as mobilidades massal e individual de acordo com outros autores (Ahmad e Noakes, 1996). Não houve interacção significativa entre o factor bode e os factores mês e estação do ano para nenhuma das características seminais. Isto significa não ter existido variação significativa entre bodes quando se tem em conta a época do ano, permitindo concluir que a época do ano não influencia a variação individual. Contudo, quando apreciadas as médias anuais globais para cada bode, encontraram-se diferenças significativas entre bodes, quer nos aspectos quantitativos do sémen (concentração, volume e espermatozóides totais) quer na vitalidade espermática, destacando-se um dos bodes pela positiva nos aspectos quantitativos e outro na vitalidade espermática. Estes resultados, de acordo com Corteel (1981) e Chemineau et al. (1984), permitem concluir que, à semelhança de outras raças, podem existir importantes variações entre indivíduos. O volume seminal atingiu valores mais elevados na estação reprodutiva habitual (Verão e Outono), o que está de acordo com trabalhos realizados noutras raças (Karagiannidis et al., 2000 Pérez e Mateos, 1996 ; Roca et al., 1992) e que pode ser uma consequência de valores mais elevados da concentração plasmática sanguínea de testosterona entre o solstício de Verão e o equinócio de Outono (Mascarenhas et al., 1992) que por sua vez depende da acção da melatonina, que durante o fotoperíodo decrescente estimula a libertação de LH (Chemineau e Malpaux, 1998). O mês de Abril apresentou a média mais baixa para o volume seminal, facto que é justificado não por um efeito sazonário directo, mas sim pelo elevado número de colheitas efectuadas durante esse mês, que faz decrescer o volume dos ejaculados (Ritar et al., 1992 ; Corteel, 1981). A concentração espermática apresentou valores mais elevados durante a Primavera e Verão, de acordo com vários trabalhos realizados noutras raças (Karagiannidis et al., 2000; Pérez e Mateos, 1996; Roca et al., 1992), e que pode ser uma consequência dum aumento da produção circadiana de testosterona durante estas estações do ano Mascarenhas et al., 1990; Mascarenhas et al.,1992). Os espermatozóides totais do ejaculado, dependentes do volume e da concentração, sofrem uma variação ao longo das estações do ano semelhante à concentração. Em relação aos aspectos qualitativos, mobilidades, vitalidade espermática e normalidade espermática, todos eles apresentaram valores mais elevados durante o Verão e Outono, ou seja, durante o fotoperíodo decrescente. A vitalidade espermática não variou significativamente ao longo das estações do ano, denotando-se uma tendência para valores mais elevados durante o fotoperíodo decrescente. Estes valores estão totalmente em acordo com os dados obtidos por outros autores referindo que o sémen apresenta melhor qualidade durante o fotoperíodo decrescente (Karagiannidis et al., 2000; Delgadillo et al., 1999; Pérez e Mateos, 1996; Roca et al., 1992). Os valores mais elevados da qualidade seminal durante o Verão, sugerem que os bodes Serranos não foram afectados pelas altas temperaturas que ocorrem durante essa estação. No entanto, os baixos valores verificados no mês de Julho no que diz respeito à vitalidade e normalidade espermática podem ser justificados pelas altas temperaturas que ocorreram no mês de Junho as quais podem ter afectado o ciclo espermatogénico seguinte (Goyal e Memon, 1997; Chemineau, P., 1990), conduzindo assim a uma menor vitalidade e uma maior percentagem de espermatozóides anormais no mês seguinte.

A normalidade espermática, embora tenha tido valores mais elevados no Verão e Outono, não variou significativamente entre estações do ano, o que está de acordo com o trabalho realizado por Skalet et al. (1988). De acordo com vasta bibliografia, neste trabalho observou-se uma maior incidência de anomalias na cauda e menor na peça intermédia, reflectindo uma baixa incidência de anomalias primárias. A maioria das características seminais da raça Serrana, neste estudo, apresentaram valores mais elevados que os observados em raças exploradas em latitudes mais baixas, caso da raça Creola (Delgadillo et al., 1999), da raça Nubiana ( Ali e Mustafa,1986) e da raça Angora (Loubser e Van Niekerk, 1983). Apresentaram valores similares às raças exploradas em latitudes idênticas, como a Saanen, Alpina e Damasco na Grécia (Karagiannidis et al., 2000) e a Murciano-Granadiana (Roca et al., 1992), Verata e Malagueña (Pérez e Mateos, 1996) em Espanha. A comparação de 2 meios hipoosmóticos (200 mosm/kg e 100 mosm/kg), revelou que a osmolalidade de 100 mosm/kg, é a indicada para viabilizar viabilizar o teste de endosmose em bodes desta raça. Cortés et al. (1993) referem que esta osmolalidade é a que apresenta maior percentagem de endosmose positiva e com a menor quebra ao longo do tempo, nas raças Murciana e Malagueña. Contudo, os valores observados por aqueles autores aos 20 min é muito inferior aos observados neste trabalho (48% vs 85,2%). Este valor é idêntico ao encontrado para ovinos e bovinos (Vasquez, 1980; Correa e Zavos, 1994). Os testes realizados de Dezembro a Março, permitem-nos concluir que cerca de 85% dos espermatozóides desta raça apresentam uma membrana plasmática funcional na época considerada mais crítica. A integridade dos acrossomas, avaliada entre Setembro e Março, apresenta valores elevados ao longo deste período (acima de 93%), concluíndo-se que este factor não compromete um bom desempenho reprodutivo. Como conclusões finais, este estudo evidencia que os bodes da raça Serrana, nas condições em que se efectuou o trabalho, produzem sémen de melhores características durante o fotoperíodo decrescente, quer nos aspectos qualitativos, quer nos aspectos quantitativos, de acordo com outros autores (Delgadillo et al,., 1991; 1992; 1993). Os bodes estudados não apresentaram uma variação sazonária tão acentuada como os de outras raças exploradas em latitudes mais elevadas (Corteel, 1981). As variações observadas não parecem comprometer a reprodução ao longo do ano, podendo o bode Serrano ser utilizado durante todo o ano em monta natural dirigida, caso existam fêmeas que apresentem ciclos éstricos férteis, naturais ou induzidos. Por outro lado, este estudo permite ainda chegar à conclusão que é possivel obter ao longo do ano entre 10 a 16 palhinhas com 300 milhões de espermatozóides móveis para a inseminação artificial. BIBLIOGRAFIA Ahmad, N. e Noakes, D.E. (1996) Seasonal variations in the semen quality of young british goats. Br. Vet. Journal, 152: 225-236 Ali, B.H. e Mustafa A.I. (1986) Semen characteristics of Nubian goats in the Sudan. Animal Reproduction Science, 12: 63-68. Baptista, M.C. e Mascarenhas, R. (1989) Variação sazonária da actividade sexual do carneiro Serra da Estrela ao longo do ano. IV Simp. Inter. Reprod. Anim., Lisboa 8-10 Fevereiro. Baptista, M.C.; Vasques, M.I. e Mascarenhas, R.D. (1991) Determinação da puberdade em cabritos da raça serrana nascidos em duas épocas diferentes. Jornadas Internacionais de Ovinos e Caprinos. Évora colêctanea S.P.O.C., pp.103-115 Chemineau, P.; Beche,J.M.; Shitalou, E.; e Gauthier, D. (1984) Testicular growth of young Creole bucks: Mathematical model and relationships with sexual behaviour. 10 th International Congress on Animal Reproduction and Artificial Insemination (2): 166-169 Chemineau, P. (1990) Le saisonnemeu de la reproduction des caprins de zones tempérées et des zones tropicales. Bulletin Technique Ovin et Caprins, 27: 43-51

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