QUANTIFICAÇÃO DE Estreptococos DO GRUPO Mutans EM CRIANÇAS PORTADORAS DE MANCHAS EXTRÍNSECAS NOS DENTES

Documentos relacionados
Sheila Cavalca CORTELLI Profa. Adjunta de Periodontia Faculdade de Odontologia da Universidade de Guarulhos UnG

PROMOÇÃO DE SAÚDE BUCAL EM ESCOLARES DE 6 A 10 ANOS DE UMA CIDADE SEM FLUORETAÇÃO NA ÁGUA DE ABASTECIMENTO PÚBLICO

MANCHA DENTAL EXTRÍNSECA: REVISÃO DE LITERARUA.

Aspectos microbiológicos da cárie dental. Conceitos Etiologia Profa Me. Gilcele Berber

Avaliação da condição bucal e do risco de cárie de alunos ingressantes em curso de Odontologia 1 RESUMO INTRODUÇÃO UNITERMS ABSTRACT

CONCENTRAÇÃO SALIVAR DE IgA E Streptococcus mutans EM CRIANÇAS COM IDADE ENTRE 6 E 12 ANOS

Relação Entre A Prevalência Da Doença Cárie E Risco Microbiológico. Report Between The Caries Disease Prevalence And Microbian Risk

EFEITO DE UM PROGRAMA EDUCATIVO-PREVENTIVO NA HIGIENE BUCAL DE ESCOLARES

EFEITOS DA ESCOVAÇÃO SUPERVISIONADA EM ESTUDANTES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO DA CIDADE DE QUIXADÁ

A PROMOÇÃO DE AÇÕES ODONTOLÓGICAS PREVENTIVAS COMO CONSEQUÊNCIA DE LEVANTAMENTO EPIDEMIOLÓGICO EM ESCOLARES DE PALMAS TO¹

THE PREGNANT PROFILE FROM PRENATAL in the MATERNITY OF NOVA FRIBURGO

PLANO DE DISCIPLINA. Carga Horária Total / Teórica / Prática: 80h / 40h / 40h Dia da semana / horário: 3ª feira : 8h 10h (Teórica) 10h 12h (Prática)

(22) Data do Depósito: 25/02/2015. (43) Data da Publicação: 20/09/2016

ECOLOGIA BACTERIANA DA BOCA. Weyne, S.C.

ANEXO A. Figura 1 - Cromatograma / CLAE - EEP Ivinhema/MS Fonte: Pavanelli, 2006.

Salão UFRGS 2015: SIC - XXVII SALÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFRGS

Avaliação do Risco de Cárie em Crianças Através de Método Convencional e do Programa Cariograma 1

INFLUÊNCIA DO BOCHECHO PRÉ-PROCESSUAL COM ANTISSÉPTICO BUCAL À BASE DE TRICLOSAN SOBRE O GRAU DE CONTAMINAÇÃO DO AR DE CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS.

PLANO DE DISCIPLINA. Carga Horária Total / Teórica / Prática: 80h / 40h / 40h Dia da semana / horário: 3ª feira : 8h 10h (Teórica) 10h 12h (Prática)

TESTES SALIVARES E MICROBIOLÓGICOS NA AVALIAÇÃO DO RISCO DE CÁRIE EM ALUNOS DE ODONTOLOGIA. Almeida P C, Crosariol, S K, Canettieri A C V

AVALIAÇÃO DE CONHECIMENTOS E PRÁTICAS EM SAÚDE BUCAL DE RESPONSÁVEIS POR CRIANÇAS ACOMPANHADAS NA FACULDADE DE ODONTOLOGIA PELOTAS\RS

&CONDIÇÕES DE HIGIENE BUCAL E HÁBITOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA ESCOLA TÉCNICA DE SAÚDE CURSO TÉCNICO EM SAÚDE BUCAL. Ficha da Subfunção/Componente Curricular

COMPARAÇÃO DA EFETIVIDADE DA HIGIENE BUCAL COM ESCOVA MANUAL E ELÉTRICA EM DEFICIENTES VISUAIS EM UBERLÂNDIA, MINAS GERAIS

REVISTA GESTÃO & SAÚDE (ISSN )

VOCÊ ESTÁ SENDO ADMIRADO

RELAÇÃO DE TRANSMISSIBILIDADE DA MICROBIOTA BUCAL ENTRE PARES MÃES-FILHOS

de Odontologia da Universidade do Grande Rio UNIGRANRIO, Campus Duque de Caxias Rio de Janeiro e do Pró-Saúde/UNIGRANRIO.

AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES BUCAIS REALIZADAS EM ALUNOS DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO EM PONTA GROSSA, PARANÁ, DURANTE O ANO DE 2015.

CURSO DE ODOONTOLOGIA Autorizado pela Portaria no 131, de 13/01/11, publicada no DOU no 11, de17/01/11, seção 1, pág.14

Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada ISSN: Universidade Federal da Paraíba Brasil

ISSN ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções)

Ação moduladora da microbiota de portadores de síndrome de Down sobre bactérias cariogênicas

Disciplina de Odontologia em Saúde Coletiva I

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA ESCOLA TÉCNICA DE SAÚDE CURSO TÉCNICO EM SAÚDE BUCAL. Ficha da Subfunção/Componente Curricular

Biofilmes bucais. Biofilmes bucais/placa bacteriana. Hipótese ecológica da placa. Colonização. microflora. hospedeiro. ambiente

A PREVALÊNCIA DE CÁRIE DENTÁRIA EM 1 MOLAR DE CRIANÇAS DE 6 A 12 ANOS: uma abordagem no Novo Jockey, Campos dos Goytacazes, RJ

Effect of chlorhexidine gel or toothpaste in the salivary count of mutans streptococci in children of Saí district (São Francisco do Sul, SC, Brazil)

Influência da estocagem da solução de ácido clorídrico na determinação da capacidade tampão da saliva *

SIMPLIFICAÇÃO DO ÍNDICE CPO DOS 18 AOS 25 ANOS

Evaluation of a 56G Anti - Streptococcus mutans monoclonal antibody: role in the prevention of colonization on surface of composite resin

Unidade: Cariologia - histórico e evolução. Unidade I:

DIEGO DA SILVA PEREIRA 1 MURILO BARROS ALVES 2 YURI WANDERLEY CAVALCANTI 3 ROSSANA VANESSA DANTAS DE ALMEIDA-MARQUES 4

PROCESSO SELETIVO DE TRANSFERÊNCIA EXTERNA CADERNO DE PROVAS

Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada ISSN: Universidade Federal da Paraíba Brasil

AVALIAÇÃO DA SAÚDE BUCAL EM CRIANÇAS DE 6 ANOS DE PALMAS-TO: PREVALÊNCIA DE CÁRIE E NECESSIDADE DE TRATAMENTO 1

A INFLUÊNCIA DE ASPECTOS CONTEXTUAIS E INDIVIDUAIS NA DENTIÇÃO FUNCIONAL DE ADULTOS DO SUL DO BRASIL

Correlação entre o índice CPOD e níveis de Streptococcus mutans na saliva de mães e filhos

Hidroxizina é Nova Potencial Opção Terapêutica para Tratamento do Bruxismo do Sono Infantil. Segurança e Eficácia Comprovadas em

Banca: Prof. Dr. Wilson Galhego Garcia - Orientador - (FOA/Unesp)

Procedimentos Cirúrgicos de Interesse Protético/Restaurador - Aumento de Coroa Clínica - Prof. Luiz Augusto Wentz

INATIVAÇÃO FOTODINÂMICA MEDIADA POR ERITROSINA E DIODO EMISSOR DE LUZ EM CULTURAS PLANCTÔNICAS DE STREPTOCOCCUS MUTANS

GESTAÇÃO E CÁRIE INTRODUÇÃO

Inclusão do Cirurgião Dentista na Equipe Multiprofissional no Tratamento de Pacientes de Álcool e Drogas

Revista de Saúde Pública ISSN: Universidade de São Paulo Brasil

Avaliação de potenciais indicadores do risco de incidência de cárie em crianças de 6 a 11 anos da cidade de Juiz de Fora, MG. Resumo.

MEDICINA PREVENTIVA SAÚDE BUCAL

Prevalência dos Estreptococos do Grupo Mutans (Egm) em Crianças de 8 a 60 Meses nas Creches da Cidade de Joinville - SC

conhecidos pela comunidade científica e difundidos na sociedade, principalmente aqueles que

Prevalência de cárie dentária em escolares de 12 anos de uma escola pública do município do Rio de Janeiro

Palavras-chave: Gravidez; Fatores de risco; Assistência odontológica; Qualidade de vida.

VEROSSIMILHANÇA ENTRE O REAL E O RELATADO SAÚDE BUCAL DE ALUNOS DE UMA INSTITUIÇÃO DE PONTA GROSSA

ODONTOLOGIA PREVENTIVA. Saúde Bucal. Periodontite. Sua saúde começa pela boca!

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE MESTRADO EM ODONTOLOGIA VIVIANE GARCIA SEGURA

COLONIZAÇÃO BACTERIANA NA CAVIDADE BUCAL POR PATÓGENOS CAUSADORES DA PNEUMONIA ASSOCIADA À

1.11 Equipe Executora Número de Docentes Número de Discentes Número de Técnicos Pessoal Externo

A Relação da Dieta com Periodontia e Cárie

Promoção de Saúde na Prática Clínica

ÍNDICE DE PLACA EM ODONTOPEDIATRIA: estudo comparativo entre os métodos de PASS e O Leary RESUMO

RESTAURAÇÃO DE MOLAR DECÍDUO COM RESINA COMPOSTA DE ÚNICO INCREMENTO RELATO DE UM CASO CLÍNICO

Título do Trabalho: O uso do xilitol em goma de mascar como coadjuvante no controle da placa bacteriana.

ANÁLISE DOS DADOS DE PREVALÊNCIA DE CÁRIE DENTAL NA CIDADE DE BARRETOS, SP, BRASIL, DEPOIS DE DEZ ANOS DE FLUORETAÇÃO DA ÁGUA DE ABASTECIMENTO PÚBLICO

ESTUDO MICROBIOLÓGICO SOBRE CONTAMINAÇÃO DE ESCOVAS DENTAIS - PROJETO DE PESQUISA.

Palavras-chave: Candidíase Bucal; Diagnóstico Bucal; Prótese Dentária.

Saúde geral de idosos que buscam tratamento odontológico especializado em odontogeriatria. Um estudo piloto

Sumário. O que Você encontrará neste e-book? Por quais motivos os nossos dentes escurecem? Tipos de Clareamentos Dentais.

Cárie Dental Conceitos Etiologia Profa Me. Gilcele Berber

PALESTRA EDUCATIVA NA PROMOÇÃO DE SAÚDE BUCAL COM ALUNOS DA CRECHE-ESCOLA RAINHA DA PAZ DE QUIXADÁ-CE

CPOD DA POPULAÇÃO DE CAMPO REDONDO, ITAMONTE, MG DMFT IN INDIVIDUALS IN CAMPO REDONDO, ITAMONTE, MG

TCC em Re vista FERREIRA, Marília Alves 17. Palavras-chave: dente molar; coroa dentária; dentição permanente; dentição decídua.

Avaliação da prevalência de cárie dentária em escolares de localidade urbana da região Sudeste do Brasil

EDUCAÇÃO EM SAÚDE: ORIENTAÇÕES NO CUIDADO DA CAVIDADE BUCAL NO TMO DA CRIANÇA. Com foco na mãe multiplicadora

CÁRIE CONCEITO CONCEITO CONCEITO CONCEITO 06/04/15. X remineralização

Efeito do uso da clorexidina na contagem salivar de microrganismos em pacientes internados em unidade de terapia intensiva

Comunidade Beira-rio: primeiro relato sobre condição bucal, hábitos de higiene e dieta alimentar

ConScientiae Saúde ISSN: Universidade Nove de Julho Brasil

PROGRAMA DE MEDICINA PREVENTIVA. Saúde Bucal

EFEITO DE DIFERENTES POSOLOGIAS DO VERNIZ DE CLOREXIDINA A 1% NOS NÍVEIS DE ESTREPTOCOCOS DO GRUPO MUTANS NA SALIVA E NO BIOFILME DENTAL

Avaliação microbiológica da qualidade higiênico-sanitária de mamadeiras utilizadas por crianças em creche de Uberlândia/MG

15. CONEX Resumo Expandido - ISSN PROMOÇÃO E PREVENÇÃO EM SAÚDE BUCAL PARA CRIANÇAS CARENTES EM PONTA GROSSA

ODONTOLOGIA PREVENTIVA. Saúde Bucal. Diga adeus ao mau hálito!

FÁTIMA BARK BRUNERI LORAINE MERONY PINHEIRO UNIVERSIDADE POSITIVO

PERCEPÇÃO E CUIDADOS EM SAÚDE BUCAL DE MORADORES DA COMUNIDADE CAFUNDÓ DE CHORÓ, CEARÁ

TUDO O QUE VOCÊ DEVE SABER SOBRE: SAÚDE BUCAL

FACULDADE MERIDIONAL IMED ESCOLA DE ODONTOLOGIA ÁSTOR NEUTZLING ZANCHIN CÁRIE DENTÁRIA EM CRIANÇAS PRÉ-ESCOLARES NA CIDADE DE SERAFINA CORRÊA

Joana Márcia Lameiro Duarte

Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada ISSN: Universidade Federal da Paraíba Brasil

Sala 02 TEMA LIVRE Odontologia Social e Preventiva e Saúde Coletiva

FACULDADES INTEGRADAS DE PATOS VI JORNADA ACADÊMICA DE ODONTOLOGIA (JOAO) PAINEIS ÁREA 1: DENTÍSTICA, PRÓTESE DENTÁRIA E DISFUNÇÃO TEMPORO-MANDIBULAR

Transcrição:

QUANTIFICAÇÃO DE Estreptococos DO GRUPO Mutans EM CRIANÇAS PORTADORAS DE MANCHAS EXTRÍNSECAS NOS DENTES QUANTIFICATION OF Streptococci OF THE GRUPO Mutans IN CHILDREN BEARERS OF EXTRINSIC STAINS IN THE TEETH Dalton Reis Momose Ana Christina Claro Neves Mônica César do Patrocínio Antonio Olavo Cardoso Jorge Departamento de Odontologia da Universidade de Taubaté RESUMO O presente trabalho avaliou a quantidade de estreptococos do grupo mutans em crianças portadoras de manchas extrínsecas de coloração escura nos dentes. Participaram do estudo 79 crianças de ambos os sexos, com idades entre cinco e catorze anos, das quais quarenta apresentavam manchas extrínsecas nos dentes. A quantificação do número de estreptococos do grupo mutans na saliva das crianças demonstrou que 60% do grupo com manchas e 23% do controle apresentavam entre 10 3 a 10 4 ufc/ml na saliva. As manchas extrínsecas foram encontradas com maior freqüência no terço cervical dos dentes. Os resultados evidenciaram maior quantidade de estreptococcos do grupo mutans (ufc/ml) no grupo portador de manchas extrínsecas quando comparado com o grupo controle. PALAVRAS-CHAVE: Streptococcus mutans; mancha dental; mancha extrínseca; cárie dentária. INTRODUÇÃO Correlações entre biofilme dentário, etiologia da cárie dentária e gengivite já foram descritas em diversos estudos clínicos e laboratoriais. A formação de depósitos orgânicos na superfície dos dentes (biofilme) é maior em decorrência de higiene bucal inadequada. Diversos pesquisadores relataram formas de prevenir a formação do biofilme dentário, assim como promover sua desestruturação quando formado (BUTLER; MAREJON; LOW, 1996; LIM et al., 1996). Existe uma relação inquestionável entre estreptococos do grupo mutans e cárie dentária (JORGE, 1998; VAN HOUTE, 1994; LINDQUIST; EMILSON, 1990, LINDQUIST et al., 1989) e, vários autores afirmaram que o risco de cárie é diretamente proporcional ao aumento do número de estreptococos do grupo mutans na saliva (KLOCK; KRASSE, 1979; KÖHLER; PETERSSON; BRATTHALL, 1981; LOESCHE; STRAFFON, 1979; ZICKERT et al., 1982; JORGE, 1998). Patto et al. (1999) avaliaram a quantidade de estreptococos do grupo mutans em 25 crianças que apresentavam lesões de cárie ativa e 20 crianças livres de cárie, com idade de 3 a 12 anos. Os autores relataram alta contagem de estreptococos do grupo mutans (acima de 106 ufc/ml saliva) nas crianças com lesões de cárie. Koga-Ito et al. (2003) relataram maior quantidade de estreptococos do grupo mutans na cavidade bucal de 30 crianças de 6 a 11 anos de idade (média de 8,2 + 1,73 ano), que eram respiradores bucais em relação ao grupo controle constituído de 30 crianças de 6 a 14 anos (média 8,37 + 2,11 anos). Um aspecto importante a ser analisado é a presença de manchas escuras extrínsecas nas superfícies dentárias de crianças, decorrentes do depósito de matéria inorgânica nas mesmas. Estes depósitos formam compostos cristalinos escuros que deixam a superfície dos dentes rugosa, propiciando a retenção de bactérias e matéria orgânica, além de comprometer a estética. Segundo Baratieri et al. (1993), o depósito de material inorgânico nos dentes se deve principalmente ao consumo de bebidas e alimentos contendo corantes, além do hábito de fumar e da presença da placa bacteriana. Poucos trabalhos relataram a correlação entre manchas extrínsecas escuras e a microbiota bucal, principalmente em relação aos estreptococos do grupo mutans. Rev. biociênc.,taubaté, v.9, n.4, p.53-58, out-dez 2003.

Com base no exposto, o presente trabalho objetivou relacionar o número de estreptococos do grupo mutans na saliva de crianças que apresentavam manchas extrínsecas escuras nas superfícies dentárias em relação a um grupo controle, que não apresentava mancha. MATERIAL E MÉTODO Participaram do estudo 79 crianças, de ambos os sexos, com idades entre cinco e catorze anos. Destas crianças, 40 residiam nas cidades de Califórnia e Apucarana, Estado do Paraná, e apresentavam manchas extrínsecas escuras nos dentes. O grupo controle foi constituído de 39 crianças da cidade de Taubaté, Estado de São Paulo, que não apresentavam essas manchas. Nos dois grupos as condições bucais e a idade das crianças eram semelhantes. Os pais ou responsáveis pelas crianças receberam informações sobre os procedimentos que seriam realizados e após concordarem com os mesmos assinaram termo de consentimento livre e esclarecido. O projeto de pesquisa foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Taubaté. Depois de realizado o exame clínico e a anamnese das crianças, os dados obtidos foram transcritos para uma ficha clínica previamente elaborada que continha: identificação do paciente, história médica e odontológica, odontograma, índice de placa bacteriana e índice de ceo/cpo-d. Para a quantificação de placa bacteriana, utilizou-se o índice de Greene e Vermellion (1964), após evidenciação de placa com fucsina básica a 2%. Para avaliação da condição dentária utilizou-se índice ceo/cpod de acordo com os parâmetros estabelecidos pela World Health Organization (WHO) em 1997. Os exames clínicos foram realizados em consultório odontológico, com auxílio de pinça clínica, espelho clínico e iluminação de refletor. A coleta de saliva foi realizada com auxílio de espátula de madeira e as crianças receberam tratamento odontológico preventivo. Para cada paciente foi realizada a contagem de estreptococos do grupo mutans pelo método de Köhler e Bratthall (1979). Inicialmente a criança mastigava um pedaço de parafina por dois minutos e a seguir, uma espátula de madeira era posicionada no assoalho da boca, e eram realizados dez movimentos de rotação com a mesma para que toda sua superfície fosse banhada pela saliva. No momento da retirada da espátula do interior da cavidade bucal, os lábios eram fechados de maneira que o excesso de saliva ficasse retido neles. Imediatamente após, placas de superfície (tipo Rodac) contendo ágar Mitis Salivarius (Difco) acrescido de 15% de sacarose (Difco) e 0,2 U.I. de Bacitracina (Sigma) por milílitro de meio, foram semeadas, com auxílio da espátula de madeira pressionando seus dois lados na superfície do meio. As placas foram incubadas em atmosfera contendo 5% de CO2 pelo período de 72 horas, a 370C. A seguir, em lupa estereoscópia (Zeiss), foram quantificadas as colônias características de estreptococos do grupo mutans e realizado o cálculo do número ufc/ml. A interpretação foi realizada conforme Kohler e Bratthal (1979). A análise estatística da distribuição e freqüência dos dados foi realizada pelo teste do Qui-quadrado. Foi considerada diferença estatisticamente significativa quando o valor de p era menor ou igual a 0,05. RESULTADOS O exame clínico evidenciou a presença de manchas extrínsecas predominantemente na cervical dos dentes. As manchas apresentavam coloração escura variando do vermelho-castanho ao negro, com várias tonalidades. Em algumas crianças foi observada grande quantidade de manchas extrínsecas, com superfície porosa e bordas irregulares, localizadas nas superfícies lisas, sulcos e fissuras (Figura 1).

Figura 1 - Manchas extrínsecas escuras em criança de oito anos de idade Os grupos estudados apresentaram acúmulo de placa bacteriana em grande parte das superfícies dentárias e elevado índice de placa, sendo 89,06% no grupo controle e 96,24% no grupo com manchas extrínsecas. Estes índices apesar de não demonstrarem diferença significativa, refletiram a precária higiene dentária nos dois grupos estudados. Foi verificada maior quantidade de estreptococos do grupo mutans no grupo portador de manchas extrínsecas do que no grupo controle, estando seus valores entre 1000 e 10.000 ufc/ml e 10 e 100 ufc/ml, respectivamente (Figura 2). Com manchas Sem manchas Figura 2 - Unidades formadoras de colônias/mililítro de estreptococos do grupo mutans nos pacientes de Taubaté e norte do Paraná, considerando-se o número de pacientes por faixa O teste do Qui-quadrado aplicado para comparar a quantidade de estreptococos do grupo mutans entre os grupos, demonstrou valor calculado de 10,76 para um valor tabelado de 9,21 com 2 graus de liberdade em nível de significância de 5%. Desta forma, os valores da prevalência de estreptococos do grupo mutans nas crianças estudadas mostraram diferença significativa, confirmando o que havia sido observado clinicamente, ou seja, que as crianças do grupo com manchas haviam sido submetidas a tratamento dentário com menor freqüência que as crianças do grupo controle (Figura 3). Alguns pacientes, mesmo apresentando alto índice de placa bacteriana e nível de estreptococos do grupo mutans elevado, não apresentavam lesões de cárie ativa.

a b c Figura 3 - Quantidade de crianças examinadas de acordo com o número de dentes cariados (a), obturados (b) e extraídos/perdidos (c) nos grupos com manchas extrínsecas (norte do Paraná) e controle (Taubaté)

DISCUSSÃO A cárie dentária é uma doença que se instala na cavidade bucal antes que as lesões de cárie estejam presentes nos dentes. Essa doença, sendo multifatorial, envolve três fatores primários que devem interagir em condições críticas para que a doença se manifeste: presença de microrganismos cariogênicos, dieta cariogênica consumida freqüentemente e hospedeiro susceptível. Os estreptococos do grupo mutans, principalmente as espécies Streptococcus mutans e S. sobrinus, são os microrganismos mais correlacionados com lesões de cárie de superfície lisa e lesões de cárie oclusal (JORGE, 1998). Nas crianças pesquisadas no presente estudo, as manchas estavam localizadas, quase sempre, no terço cervical dos dentes, ao longo da margem gengival, e em locais de difícil higiene. Essas manchas extrínsecas nas superfícies dentárias, além de propiciar o acúmulo de restos orgânicos nelas, comprometia a estética e, em alguns casos, poderiam ser confundidas com cárie crônica. O cirurgião-dentista, ao se deparar com esse tipo de mancha extrínseca deve fazer um correto diagnóstico e ficar atento ao risco de cárie. A atividade de cárie pode ser interpretada como a velocidade com que a dentição é destruída pela cárie. O risco de cárie descreve até que ponto um indivíduo, em determinada época, corre o risco de desenvolver lesões cariosas (JORGE, 1998). Parece razoável afirmar, com os resultados do presente estudo, que maior atenção ao risco de cárie deve ser dada pelo cirurgião-dentista quando da presença de manchas extrínsecas nos dentes. A diferença significativa no número de estreptococos do grupo mutans encontrado nas crianças portadoras de manchas extrínsecas em relação ao grupo controle, denota a necessidade da implementação de um programa de saúde bucal, com ênfase na higiene dental e no controle do número de estreptococos do grupo mutans na cavidade bucal. No presente estudo optou-se por realizar as contagens de UFC/mL de estreptococos do grupo mutans pelo método de Kohler e Bratthal (1979) pois o mesmo apresenta boa correlação com método convencional de diluições. Esse método apresenta a vantagem da coleta ser simplificada, não precisando coletar saliva e realizar diluições. Além disso, foi bem aceita pelas crianças que participaram do presente trabalho. Segundo Koga et al. (1995), o método da espátula/língua é realizado de forma bastante prática e rápida. Os autores encontraram correlação deste método com o tradicional, o qual utiliza várias diluições semeadas em placas de Petri contendo meio de cultura, em 70% dos casos. Este trabalho é concorde com a afirmação de Gibbons e Hay (1989) de que a colonização do estreptococo do grupo mutans é dependente da sua adesão junto aos dentes e à mucosa. Assim pode ser inferido que maior quantidade de depósito orgânico na superfície dentária formando as manchas propicia o aumento de microrganismos suplementares como os estreptococos. CONCLUSÕES Frente aos resultados obtidos pode-se concluir que: A quantidade de estreptococos do grupo mutans (ufc/ml) foi maior, com diferença estatisticamente significativa, nos pacientes que apresentavam manchas extrínsecas em relação ao grupo controle. De acordo com o teste do Qui-quadrado, o índice ceo/cpo-d apresentou diferença significativa nos pacientes que apresentavam manchas extrínsecas em relação ao grupo controle. As manchas extrínsecas foram encontradas com maior freqüência no terço cervical dos dentes. ABSTRACT The objective of this study was to evaluate the number of Streptococcus mutans in children with extrinsic dental stains from dark colouring. Seventy-nine children from both sex among the ages of five and fourteen years-old, participated in the study, which 40 of then presented extrinsic stains in the teeth. The project quantified Streptococcus mutans by the units formed from colonies (cfu/ml) in saliva. Children with extrinsic stains presented a high level of Streptococcus mutans, in the area of 103 to 104 cfu/ml in saliva, 60% of the group with stains and 23% from the control group. The results showed significantly different ceo/cpo-d rates in quantities of Streptococcus mutans. The data from the study indicates the necessity of preventive treatment techniques for children with extrinsic dark coloured stains. KEY-WORDS: Streptococcus mutans; dental stains; extrinsic stains.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARATIERI, N. G. et al. Clareamento dental. São Paulo: Santos.1993, 176 p. BUTLER, B. L.; MAREJON, O.; LOW, S. B. Na accurate, time-efficient method to assess plaque accumulation. J. Am. Dent. Assoc., v. 127, p. 1763-1766, 1996. GIBBONS, R. J.; HAY, D. I. Adsorbed salivary proline-rich proteins contribute to the adhesion of Streptococcus mutans JBP to apatitic surface. J. Dent. Res., v. 68, n. 9, p. 1303-1307, 1989. GREENE, J. C.; VERMELLION, J. R. The simplified oral hygiene index. J. Am. Dent. Assoc., v. 68, n. 1, p. 25-31, 1964. JORGE, A. O. C. Microbiologia bucal. 2.ed. São Paulo:Santos, 1998, 122 p. KOGA, C. Y. et al. Testes de atividade de cárie. RGO., v. 43, n. 3, p. 141-144, 1995. KOGA-ITO, C. Y. et al. Caries risk tests and salivary levels of immunoglobulins to Streptococcus mutans and Candida albicans in mouthbreathing syndrome patients. Caries Res., v. 37, p. 38-43, 2003 KÖHLER, B.; PETERSSON, B. M.; BRATTHALL, D. Streptococcus mutans in plaque and saliva and development of caries. Scand. J. Dent. Res., v. 89, p. 19-25, 1981. KÖHLER, B.; BRATTHALL, D. Pratical method to facilitate estimulation of Streptococcus mutans levels in saliva. J. Clin. Microbiol.,. v. 9, p. 584-588, 1979. KLOCK, B.; KRASSE, B. A comparison between different methods for prediction of caries actinity. Scand. J. Dent. Res., v. 87, p. 129-139, 1979. LIM, L. P. et al. Comparasion of modes of hygiene instructions in improving gingival health.j. Clin. Periodontol., v. 23, p. 693-637, 1996. LINDQUIST, B. et al. Relationship between mutans streptococci in saliva and their colonization of the tooth surfaces. Oral Microbiol. Immunol., v. 4, p. 71-76, 1989. LINDQUIST, B.; EMILSON, B. Distribuition and prevalence of stretococci in the human dentition. J. Dent. Res., v. 69, p. 1160-1166, 1990. LOESCHE, W. J.; STRAFFON, L. Longitudinal investigation of the role of streptococcus mutans in human fissure decay. Infect. Immun., v. 26, p. 498-507, 1979. PATTO, G. D. et al. Produção de ácido in vitro por Streptococcus mutans e correlação com a experiência de cárie. Rev. Odontol. UNESP., v. 28, n. 2, p. 329-343, 1999. Van HOUTE, J. Role of micro-organisms in caries etiology. J. Dent. Res., v. 73, n. 3, p. 672-81, 1994. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Oral health surveys: basic methods. Geneva: ORH/EPID. 1997. 65 p.

YAZAKI, S.C. IgA anti-streptococcus mutans em crianças com e sem cárie dentária. Rev. Odontol. Univ. São Paulo., v. 13, n. 3, p. 211-217, 1999. ZICKERT, I.; EMILSON, C. G.; KRASSE, B. Effect of caries preventive measures in children highly infect with bacterium Streptococcus mutans. Arch. Oral. Biol. v 27, p. 861-868, 1982.