GEOMETRIA NO CONTEXTO DOS ARTESÃOS EM PALMAS Jhennyffer Gonçalves dos Santos Bürgel de Castro 1 Carmem Lucia Artioli Rolim 2 RESUMO O presente estudo tem por objetivo abordar a geometria no contexto da cultura tocantinense, expressa pelas mãos dos artesãos de Palmas. Para seu desenvolvimento seguimos abordagem quali-quantitativa, caracterizando-se como estudo de caso, tendo por parâmetro o referencial histórico-cultural, apoiado principalmente em Vigotski (2004) e D Ambrósio (2011). Nesse contexto abordamos tanto aspectos históricos e culturais como construções geométricas dos sujeitos em questão, com a finalidade de trazer as perspectivas geométricas manifestas pelos artesãos através de suas obras. As etapas do estudo envolveram um retrocesso no tempo, visando identificar as origens geométricas ao longo de sua história, para que em momento seguinte chegássemos à cultura de Palmas com enfoque nos artesãos e em suas obras. Os resultados permitiram observar que esses artesãos são representantes da cultura tocantinense e através de suas criações expressam costumes e tradições, que dizem da interação do homem com o espaço, e dos conceitos geométricos que se manifestam em seu fazer, fato que mostra amplo campo de discussão e necessário aprofundamento para estudos futuros. Palavras-chave: cultura; artesãos; geometria. INTRODUÇÃO Este estudo esteve vinculado ao Macro Projeto Geometria (Re) significado pela cultura tocantinense, onde se resgata a geometria construída pela comunidade de artesãos, como expressão da relação do homem com o espaço, geometria essa, presente nas 1 Aluna do Curso de Pedagogia; Campus de Palmas; e-mail: jhennyffer@hotmail.com; PIBIC/CNPq. 2 Orientadora do Curso de Pedagogia; Campus de Palmas; e-mail: carmem.rolim@uft.edu.br.
manifestações do pensamento visual, em valores culturais e estéticos. Nesse contexto abordamos tanto aspectos históricos e culturais como construções geométricas dos sujeitos em questão. Para identificar aspectos culturais consideramos os artesãos de Palmas, por tratar do espaço delimitado em nosso plano de trabalho. O desenvolvimento do projeto geometria no contexto dos artesãos mostrou sua relevância, ao pensar perspectivas geométricas existentes nas manifestações culturais e representações visuais, resultantes do artesanato que traz através da arte conhecimentos, que falam também de emoção e sentimentos, sem esquecer a lógica geométrica, e o pensamento matemático existente e representado em diferentes culturas ao longo da história da humanidade. MATERIAL E MÉTODOS Para os procedimentos metodológicos, falamos com Severino (2007), e dessa forma, optamos por: abordagem quali-quantitativa, pesquisa bibliográfica e documental, entrevistas semiestruturadas e análise dos dados. Levantamento e análise dos dados O levantamento de dados ocorreu em três momentos, que por vezes, se interrelacionaram: I) No período agosto a novembro de 2011 foi realizado o primeiro momento da pesquisa: levantamento de dados mediante documentação obtida na Fundação Cultural de Palmas (FCP) na Gerência de Difusão Cultural, onde tivemos acesso às fichas dos artesãos, seguimos os padrões da FCP separando-as por segmentos: capim dourado e decoração. II) No segundo momento, foi retomado o estudo conceitual da, para análise das peças produzidas pelos artesãos. III) Após análise das peças, utilizamos entrevista semiestruturada, sendo dividida em duas etapas: a etapa 1 teve por objetivo verificar o conceito de geometria nas falas dos artesãos, na etapa 2 que envolveu filmagem e fotografia apenas 6 artesãos aceitaram desenvolver a pesquisa, que teve por objetivo evidenciar nas minúcias a geometria presente em seu fazer.
RESULTADOS E DISCUSSÃO Considerando o arrazoado histórico, retomamos para finalização do trabalho alguns conceitos geométricos, para posterior estudo das obras apresentadas. No momento seguinte entrevistamos artesãos, buscando em suas falas a presença da geometria. A finalização ocorreu no contraponto da geometria sistematizada e de suas construções sociais. As perspectivas geométricas Objetivando refletir sobre perspectivas geométricas construídas como relação do homem com o espaço, manifestas como expressão da cultural pelas mãos dos artesãos, retrocedemos no tempo buscando origens geométricas. Constatamos que o estudo da geometria vem de tempos antigos, com raízes em povos egípcios e babilônios, lá surgiram os primeiros trabalhos geométricos, onde eram medidos campos para o cultivo para que não invadissem terras vizinhas. Segundo Machado (2010), no século VI a.c., os gregos reuniram e aperfeiçoaram os trabalhos de medidas de outros povos. Sendo assim podemos constatar que a geometria sempre esteve presente em nossas vidas. O olhar geômetra considera a relação do homem com o espaço, através da percepção do corpo a criança expande a noção de espacial, podendo-se dizer que a geometria entrelaça o mundo sensível e o mundo geométrico. O humano é multiplicador de suas vivências, capaz de construir uma rede de conhecimentos na interação com objetos, ligando o sensível e o geométrico. Os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam: A localização é apontada como um fator fundamental de apreensão do espaço e está ligada inicialmente à necessidade de levar em conta a orientação. Para orientar-se no espaço é preciso começar por se orientar a partir de seu próprio corpo, o conhecimento do espaço e, ao mesmo tempo a geometria. (BRASIL, 1997, p.82). Quando buscamos resgatar conceitos geométricos considerando o contexto cultural, a aprendizagem exerce papel fundamental. Os conceitos podem ser apreendidos, com atividades envolvendo o aluno e seu espaço percebido, considerando a geografia, arte, astronomia, ou seja, valorização do seu estar no mundo, seu trajeto, seu caminhar, utilizando pontos referenciais. Através da visualização obtemos pensamentos
geométricos, potencializados ao criar e imaginar figuras, o trabalho manual é possibilidade no envolvimento da criança com a Geometria, fazendo com que seja possível identificar a geometria em elementos da natureza e nas criações do homem. Encontramos geometria em casas, prédios, artesanatos, em móveis, nos carros, e na própria sala de aula. D Ambrosio (2005) indica que ao buscar o olhar construído socialmente teremos noções geométricas como promotoras de valores culturais e estéticos importantes, fato também observado, à medida que percorremos a história da humanidade, a geometria acontece na compreensão e apreciação das obras do homem ou da natureza. A geometria nasce de representarmos um fato e trabalharmos sobre essa representação. Neste momento é importante esclarecer que entendo matemática como uma estratégia desenvolvida pela espécie humana ao longo de sua história para explicar, para entender, para manejar e conviver com a realidade sensível, perceptível, e com seu imaginário, naturalmente dentro de um contexto natural e cultural. (D AMBRÓSIO, 2005, p.102). Dessa maneira o ensino de geometria não se limita a habilidade de desenhar e medir; está na construção e reconhecimento de si próprio e do espaço, no desenvolvimento da representação visual construída nas relações físicas e sociais. As percepções das formas geométricas variam de uma cultura para outra, no caso de Palmas, a geometria nos artesanatos está presente em colares, pulseiras, nas diversas criações, nas expressões de vida dos artesãos. Segundo Luria (1990), toda percepção visual apresenta estruturação complexa baseada em um sistema que se altera com o desenvolvimento histórico. Os esforços desenvolvidos para o fechamento dessa pesquisa resgatou o processo de construção histórica e social, indicando sua relevância nas palavras de Vigotski (2004, p. 204) É sempre necessário conhecer o terreno e o material que se pretende tomar por base da construção, senão corre-se o risco de sobre-edificar um edifício instável na areia., buscando uma pesquisa de pilares firmes, nosso trabalho fez a escavação de perspectiva histórica, e dessa maneira, permitiu que percebêssemos a geometria no entrelaçamento do pensar teórico e do fazer, na expressão da relação homem - espaço perpassando a matemática, arte, geografia, a história, e localizar o sujeito como ser histórico-cultural contextualizado e capaz, ampliando assim, a percepção visual,
evitando a fragmentação cartesiana descontextualizada, fato que mostra o amplo campo de discussão, e necessário aprofundamento para estudos futuros. LITERATURA CITADA BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997. D AMBRÓSIO, U. Etnomatemática: história, metodologia e pedagogia. São Paulo. USP. p. 1-11, 1998. Disponível em: < http://vello.sites.uol.com.br/program.htm>. Acesso em: 15 mai. 2011. D'AMBROSIO, U. Sociedade, cultura, matemática e seu ensino. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 1, p. 99-120, abr. 2005. DOCZI, G. O poder dos limites: harmonias e proporções na natureza, arte e arquitetura. São Paulo: Mercuryo, 1990. LURIA. A. R. Desenvolvimento cognitivo: seus fundamentos culturais e sociais. 2. ed. São Paulo: Ícone, 1990. MACHADO, N. J. A geometria na sua vida. São Paulo: Ática, 2010. SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2007. VIGOTSKI, L. S. Psicologia pedagógica. 2ª. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. AGRADECIMENTO O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq Brasil".