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Transcrição:

OS ESTRANGEIRISMOS E EMPRÉSTIMOS ORIUNDOS DA LÍNGUA INGLESA: UMA BREVE ANÁLISE DE SEU PROCESSO DE AQUISIÇÃO Laís Teixeira Lima (UENF) laisbj@gmail.com Andressa Teixeira Pedrosa Zanon (UENF) andressa.pedrosa@gmail.com Monique Teixeira Crisóstomo (UENF) monikebj@gmail.com Eliana Crispim França Luquetti (UENF) elinafff@gmail.com RESUMO Atualmente, o uso de palavras oriundas da língua inglesa no discurso de falantes de língua portuguesa pode ser amplamente observado, uma vez que a língua é flexível e modifica-se de acordo com seus falantes e com a sociedade que faz seu uso. Um dos fatores essenciais para o crescimento deste uso é a interação imediata entre falantes de diferentes países, além da grande influência econômica, cultural e linguística de países que fazem o uso da língua inglesa. Os empréstimos e estrangeirismos ainda podem ser encontrados em diferentes campos, como em termos profissionais técnicos, na literatura, outdoors e em propagandas publicitárias. Por tal motivo, a análise de como estas expressões são utilizadas e passam a fazer parte do léxico dos falantes torna-se relevante. O uso dos estrangeirismos e empréstimos tornou-se alvo de muitas discussões e críticas entre diferentes áreas de estudo, fragmentando as opiniões dos estudiosos. O trabalho tem como objetivo compreender como o processo de inserção dos estrangeirismos e empréstimos estão inseridos no léxico da língua portuguesa. Utilizamos como base teórica autores como Zilles (2001), Fiorin (2001), Ilari (2002), Sandmann (2001) e Zanferrari (2006). É necessário compreender a motivação que induz os falantes a utilizarem palavras estrangeiras, em detrimento de palavras anteriormente existentes na língua. Palavras-chave: Estrangeirismos. Empréstimos. Léxico. Língua estrangeira. 1. Introdução Com a mutabilidade da língua, o acervo de vocábulos existentes no idioma está em constante transformação. Desse modo, observa-se um aumento considerável de novas palavras na língua portuguesa. O processo de cristalização de um novo vocábulo não depende somente de sua criação ou de seu uso por pequenos grupos, mas sim de sua aceitação na comunidade onde foi inserida. Somente a partir de seu uso ela será em- fraseologia, terminologia e semântica. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2015 449

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos pregada nos discursos de seus falantes e, então, poderá ser agregada como vocábulo de um idioma. O uso de novas palavras no discurso de falantes pode ser observado de maneira bem recorrente nos dias de hoje, uma vez que a língua é flexível e modifica-se de acordo com seus falantes e com a sociedade que faz seu uso. Assim como, o uso de palavras estrangeiras no discurso de falantes de língua portuguesa pode ser também amplamente observado. Um dos fatores essenciais para o crescimento deste uso é a globalização e a interação imediata entre falantes de diferentes países. Os empréstimos e estrangeirismos ainda podem ser encontrados em diferentes campos, como em termos profissionais técnicos, na literatura, outdoors e, principalmente, em propagandas publicitárias. O uso dos estrangeirismos e empréstimos tornou-se alvo de muitas discussões e críticas entre diferentes áreas de estudo, fragmentando as opiniões dos estudiosos. Duas vertentes de pensamentos podem ser observadas: a visão dos puristas, que compreendem o uso destas expressões como aquilo que descaracteriza a língua materna e a visão de linguistas e outros autores, que compreendem tais palavras como um fator que amplia o léxico do idioma. Diante disso, uma reflexão acerca das contribuições deste processo de aquisição lexical, mostra-se relevante. 2. Os aspectos histórico-culturais e o uso dos estrangeirismos O termo cultura, muitas vezes, é compreendido como um elemento restritivamente local. Porém, no atual momento histórico-cultural mundial não se pode reduzi-lo a questão de localidade, deixando suas demais particularidades, uma vez que, enumeram-se diferentes tipos de culturas, a familiar, profissional, sexual, regional, entre outras. O fato que nenhuma cultura pode ser considerada pura é uma questão que dispensa a asseveração de referências específicas, visto que, a influência de aspectos culturais de outras sociedades em um meio social é inevitável. Devido aos efeitos da globalização, as diferentes culturas mundiais estão em constante transformação e estão sendo reconfiguradas a todo tempo. Tal situação mostra-se crescente diante da notável interação entre diferentes sociedades, interação esta que pode ser estabelecida por um clique, independentemente da distância entre elas. Castells (1999) afirma que nossas sociedades se interconectaram globalmente e tornaram-se culturalmente inter-relacionadas (CASTELLS, 1999, p. 19). Inúmeras 450 Cadernos do CNLF, Vol. XIX, Nº 02 Lexicografia, lexicologia,

vezes, traços presentes em uma cultura podem ser claramente identificados quando inseridos em outras, em outros casos, a interação cultural pode ser tamanha que a distinção de quais características são específicas de cada cultura pode ser impossível. Portanto, as sociedades nos dias atuais vivenciam um hibridismo cultural, como afirma Hall (2006). A globalização facilitou para que a pluralidade cultural estivesse presente não somente em sociedades específicas, mas também em diferentes sociedades, que podem adaptar ou excluir traços oriundos de outras sociedades. Soares (2001) afirma que no contexto da globalização, as instâncias totalizantes assumem posições crescentemente privilegiadas nas relações com as demais esferas, ampliando progressivamente seu poder de ordená-las, reierarquizá-las e compatibilizá-las, segundo suas próprias normas de prescrição de consistências e de exclusões. (SOARES, 2001, p. 400) Tendo ainda a globalização como foco, ela pode ser considerada uma fonte dinâmica e saudável de trocas culturais entre indivíduos de diferentes localidades do mundo para que possam se conhecer e a partir daí se reconhecer no outro. Permitindo assim, que haja uma troca onde o principal objetivo é a valorização e o respeito das diferentes culturas e não a tentativa de difundir sua como superior às demais. A cultura que se internacionaliza é o veículo saudável de conhecimento mútuo dos povos (...). Ela entabula o respeito às diferenças e o conhecimento como alternativa ao julgamento, alterando inclusive a percepção dos povos em relação à sua alteridade (CESNIK & BELTRAME, 2005, p. 21). Portanto, a partir do pressuposto que as culturas passaram a ser mais respeitadas e valorizadas, indivíduos de diferentes sociedades passam a trocar seus hábitos culturais, levando traços de seu cotidiano para outras culturas, da mesma maneira que insere atitudes trazidas de outras sociedades para seus costumes cotidianos. 3. As influências linguísticas da língua portuguesa As inúmeras influências trazidas de outros países já perpetuam desde os séculos passados, então, da mesma maneira que a cultura não é livre de influências, pode-se afirmar que uma língua também não pode ser considerada pura, pois recebe heranças de outros idiomas. As influências linguísticas podem ser percebidas ao longo da história, já que existem diferentes razões para uma comunidade linguística interagir com outras, tais como colonização, conquista territorial, migração ou comércio. fraseologia, terminologia e semântica. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2015 451

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos Ela ainda pode receber heranças de outros povos por questões ideológicas ou de fronteiras. Portanto, a língua portuguesa foi e ainda é influenciada, por línguas tais como a indígena, o espanhol, italiano, alemão, entre outros, como afirma Ilari (2002): nenhuma língua escapa de sofrer influências de externas; no patrimônio lexical mais antigo da língua portuguesa já se encontram palavras criadas em outras línguas, em particular o provençal, o espanhol e o árabe. Outras línguas que exerceram influência sobre o português do Brasil são o francês, o italiano e o alemão, além, é claro, das línguas africanas e das línguas indígenas brasileiras. (ILARI, 2002, p. 72) Em um âmbito mais específico, resumiremos somente às duas últimas maiores influências linguísticas da língua portuguesa. Durante meados do século XIX e início do XX uma das mais significativas influências culturais mundiais era a França. Neste período chamado de Belle Époque período por volta de 1988 até 1914 pode-se perceber o auge da influência francesa não somente no Brasil, mas também em todos os países europeus e do mundo. A França detinha significativa importância junto aos países vizinhos, em todos os níveis, sobretudo o intelectual, ela era notada como modelo cultural, social, econômico e intelectual, era referência na culinária, moda, pintura, decoração e na linguagem. Apesar de durante um tempo o acesso à língua francesa ser restrito à alta sociedade, elite consideravelmente pequena, seu acesso expandiu-se com a constante vinda de companhias de teatro, ópera e balé e ainda com a obrigatoriedade do estudo da língua em escolas de segundo grau. Esta aproximação com o francês, fez com que o Brasil incorporasse inúmeras palavras que nomeavam inventos e descobertas, adotando quase todas as terminologias técnicas e científicas. Estas palavras oriundas do francês que foram inseridas na língua portuguesa são denominadas galicismos. Quem nunca pensou em ir a uma boutique chic comprar uma lingerie, um vestido évasé e maquillage para um jantar romântico com o affaire, a espera de um bouquet de rosas e um buffet com filet e champagne? Diante disso, é possível observar que muitas expressões francesas foram fixadas na língua portuguesa e algumas vezes o falante faz seu uso e sem notar que está utilizando uma palavra ou expressão oriunda de outro idioma. A partir do final do século XX e até os dias atuais a França via seu idioma perder espaço para o inglês, que se tornou a língua com maior influência mundial. O fim da Primeira Guerra Mundial desencadeou o iní- 452 Cadernos do CNLF, Vol. XIX, Nº 02 Lexicografia, lexicologia,

cio da hegemonia política norte-americana, sua presença em diversas áreas tomou uma proporção jamais vista anteriormente na história. Outra questão relevante para tal dominação é a representação significativa das indústrias não somente norte-americanas, mas também, inglesas, sendo o Brasil cliente subserviente de ambas. O inglês tornou-se a língua franca ou língua universal quase ideal, é considerada a língua de supremacia e da diplomacia, que substituiu o prestígio tão significativo e julgado inabalável do francês. De acordo com Harmmer (1998), língua franca é definida como uma língua largamente adotada para comunicação entre dois falantes cujas línguas maternas são diferentes uns dos outros (HARMMER, 1998, p. 15). Portanto, tendo o inglês como língua universal e a cultura norte-americana tão influente, indivíduos fazem o uso de palavras oriundas deste idioma em seu léxico, estas palavras ou expressões vindas da língua inglesa para o português são denominadas anglicismos. A inserção dos anglicismos pode ser realizada de diferentes maneiras, uma delas é o considerável mercado de consumo, fortemente influenciado pela mídia, publicidade e entretenimento, que associam à língua inglesa a um vasto repertório simbólico de recursos econômicos, sociais e culturais. Garcez e Zilles (2004) apontam que a sociedade consumidora brasileira sofre de grande insegurança social e busca um sistema de consumo como modelo, então adotaram os modelos norte-americano e britânico, onde ambos possuem o almejado capital simbólico, não surpreendendo o aumento do uso de anglicismos. Outro ponto fundamental da inserção e do uso das expressões inglesas é o status social atribuído a elas, por serem países dominantes e socialmente influentes o uso de palavras oriundas destas nações agrega um caráter elitista ao falante. Para melhor compreensão sobre a vinda de palavras do inglês para a língua portuguesa, a diferenciação entre dois termos estrangeirismos e empréstimos é necessária, pois devido à proximidade entre eles, eles algumas vezes são confundidos por leigos neste assunto. 4. Os estrangeirismos e suas principais significações Os estrangeirismos são palavras oriundas de outros idiomas que são inseridas na língua portuguesa. Estas expressões foram inseridas na língua portuguesa sem alteração em sua grafia, podendo existir somente fraseologia, terminologia e semântica. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2015 453

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos pequenas alterações fonéticas em sua pronúncia, uma vez que, alguns fonemas existentes no inglês não são muito familiares no português. As palavras e expressões assim classificadas, ainda possuem características bem acentuadas de seu idioma original, além de traços significativos da cultura de seus usuários. Vale ainda ressaltar que enquanto estrangeirismo, o significado das palavras não foi alterado em relação a sua significação original, mostrando ainda suas características simbólicas. Ilari (2002) define que no primeiro momento de inserção, as palavras recebidas de outros idiomas têm a tendência de soar diferente para o falante. Garcez e Zilles (2004) ainda afirmam que a noção de estrangeirismo, contudo, confere ao empréstimo uma suspeita de identidade alienígena, carregada de valores simbólicos relacionados aos falantes da língua que originou o empréstimo (GARCEZ; ZILLES, 2004, p. 15). Alguns exemplos de estrangeirismos presentes no léxico de falantes do português são: best-seller, home page, coffee shop, iced tea, reality show, test drive, entre inúmeros outros. Santos (2006) afirma que os galicismos tinham mais facilidade de adaptação à língua portuguesa, pois sua origem é latina, assim como a do português. A adaptação de palavras inglesas é mais complexa devido às diferenças significativas de aspectos fonológicos e fônicos da língua inglesa, suas peculiaridades na pronúncia e ortografia. Mesmo encontrando dificuldades para uma adaptação à língua portuguesa e suas características, inúmeras palavras estrangeiras foram moldadas para que pudessem ser utilizadas com mais naturalidade pelos falantes. A partir do momento que a expressão ou palavra é aportuguesada, seu caráter simbólico e muitas referências anteriormente ligadas ao idioma e ao de falantes de origem podem ser desfeitos, trazendo ao vocábulo sentidos referentes ao léxico e, principalmente, a cultura onde foi inserido. Tal processo é denominado de diferentes terminologias, tais como, naturalização, nacionalização, aclimatação ou adaptação ele se refere ao processo de transformação do estrangeirismo para empréstimo. Deste modo, uma vez adaptadas, estas palavras ou expressões passam a fazer parte do léxico do falante de maneira mais natural e consequentemente, mais constante. 454 Cadernos do CNLF, Vol. XIX, Nº 02 Lexicografia, lexicologia,

5. Os empréstimos e suas principais características Muitas vezes um estrangeirismo torna-se indispensável para a língua e então passa a fazer parte dela, Alves (1994) aponta que neste processo que o vocábulo está se integrando, ele pode sofrer três tipos de adaptações, as de grafia, morfológicas ou semânticas. Para melhor compreensão de tais adaptações, será apresentado um exemplo de cada processo anteriormente citado: 1) Caubói é uma palavra originária da expressão inglesa Cowboy, e em seu processo de adaptação sua grafia foi alterada, para que ela pudesse ser utilizada de maneira mais natural e espontânea pelos falantes da língua portuguesa; 2) Alves (1994) destaca a expressão happy hour como adaptada morfologicamente, já que por algumas vezes ela recebe o gênero feminino por uma associação feita à palavra originalmente portuguesa hora. Em contrapartida, pode também receber o gênero masculino, o que torna ambas estruturas um happy hour ou a happy hour corretas. Esta modificação é interessante, pois esta expressão em sua língua original não possui distinção de gênero; 3) Com a modificação semântica, o vocábulo assume outros sentidos, diferentes do sentido de seu idioma original, podendo assumir uma identidade polissêmica. A expressão show, por exemplo, quando inserida na língua portuguesa além de trazer significados originais, ela assume novos significados, que surgem de acordo com a necessidade do falante que faz seu uso. Alves (1984) argumenta que, os termos estrangeiros dão início a seu processo de inserção no léxico de uma língua quando se integram fonologicamente a ela, isto por que quando o falante não possui conhecimento suficiente da fonologia do idioma original de um estrangeirismo, ele precisa adaptá-lo fonologicamente para reproduzi-lo de forma eficaz. É possível ainda observar uma adaptação fonológica, alguns fonemas existentes no inglês são desconhecidos por falantes da língua portuguesa e esta adequação. Teoricamente a não adaptação de alguns vocábulos estrangeiros é possível, apesar da semelhança fonológica entre línguas ser rara. Após definições mais específicas dos termos estrangeirismos e empréstimos é possível ressalvar, de maneira mais sucinta que, os estrangeirismos são as expressões inseridas no léxico de falantes de um fraseologia, terminologia e semântica. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2015 455

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos idioma, porém ainda não foram reconhecidas como pertencentes àquela língua, pois ainda possuem características muito intensas de sua língua original. Por sua vez, os empréstimos já fazem parte do idioma onde foi inserido, devido a sua aclimatação, podendo inclusive ser encontrados no dicionário. Entretanto, existem algumas expressões que foram inseridas em um idioma e apesar de não sofrerem modificações, estão consagradas como parte daquele idioma. Zanferrari (2006, p.55) ressalva que termos como e-mail, design ou fashion, por exemplo, parecem não ser mais reconhecidos como sendo estrangeiros, dada a regularidade de seu uso pelos falantes da língua. Tal afirmação mostra que palavras como as citadas acima ainda não se mostram em uma classe definida, pois mantiveram suas formatações semântica, morfológica, de grafia e fonológica originais, mas mesmo assim fazem parte do idioma, sendo encontradas até no dicionário. Carvalho (1989) nomeia as expressões que mantem sua grafia original mesmo sendo muito utilizadas como xenismo. Deste modo, concluímos que um termo oriundo de outro idioma perde a condição de termo estrangeiro a partir do momento que os falantes fazem seu uso e não o percebe como tal. 6. Conclusão Portanto, após esta breve análise é possível observar que as palavras ou expressões de outros idiomas não são trazidas para a língua portuguesa somente pela carência vocábulos, uma vez que, algumas palavras já existentes na língua foram substituídas por outras estrangeiras, oriundas principalmente do inglês. Isto se dá também pela forte influência que os Estados Unidos exercem sobre o mundo, influência não só econômica, mas também cultural e linguística. O que pode levar a um uso pela busca de status social. Concluímos também que apesar de encontrarmos muitos estrangeirismos na língua portuguesa atualmente, os empréstimos podem ser mais utilizados pelos falantes possivelmente porque a palavra já está adaptada e pode ser empregada com mais naturalidade durante a fala. Em contrapartida, o uso dos estrangeirismos pode ser menos utilizado, uma vez que, que tais expressões ainda podem ser consideradas alienígenas dentro do idioma. 456 Cadernos do CNLF, Vol. XIX, Nº 02 Lexicografia, lexicologia,

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Ieda Maria. Neologismo: criação lexical. São Paulo: Ática, 1994. CASTELLS, M. O poder da identidade. São Paulo: Paz e Terra, 1999. CARVALHO, Nelly de. Publicidade: a linguagem da sedução. 2. ed. São Paulo: Ática, 1998. CESNIK, F. S.; BELTRAME, P. A. Globalização da cultura. Barueri: Manole, 2005. FARACO, Carlos Alberto. Estrangeirismos, guerra em torno da língua. São Paulo: Parábola, 2001. GARCEZ Pedro M.; ZILLES, Ana Maria S. Estrangeirismos: desejos e ameaças. In: FARACO, Carlos Alberto (Org.). Estrangeirismos: guerras em torno à língua. São Paulo: Parábola, 2004. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad.: Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. HARMMER, Jeremy. How to Teach English. 3. ed. England: Longman, 1998. ILARI, Rodolfo. Introdução ao estudo do léxico: brincando com as palavras. São Paulo: Contexto, 2002. SANTOS, Agenor Soares dos. Dicionário de anglicismos e de palavras inglesas correntes no português. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. SOARES, L. E. Globalização como deslocamento de relações intraculturais. In: MENDES, C.; SOARES, L. E. (Eds.). Pluralismo cultural, identidade e globalização. Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 379-409. XATARA, Cláudia Maria. Estrangeirismo sem fronteira. Revista de Linguística, vol. 45, p. 149-154, 2001. Disponível em: <http://seer.fclar.unesp.br/alfa/article/view/4191/3789>. Acesso em: 16-04-2014. ZANFERRARI, Cristina Momberger. O estrangeirismo no texto publicitário: efeitos de sentido. Passo Fundo: Universidade de Passo Fundo, 2006. fraseologia, terminologia e semântica. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2015 457