"REALIZACOES DE FA LA NA ESCRITA: UM EXEMPLQ NAS CRONICAS DE DRUMMOND." Sylvia Jorge de Almeida Martins IBILCE-UNESP-SJRP



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Transcrição:

"REALIZACOES DE FA LA NA ESCRITA: UM EXEMPLQ NAS CRONICAS DE DRUMMOND." Sylvia Jorge de Almeida Martins IBILCE-UNESP-SJRP Urn exame dalinguagem nas cronicas drummondianas publicadas em livros desde 1944 ate os dias presentes revela, por parte do escritor itabirano, a medida que correm as decadas, urn comportamento lingoistico maisaberto e liberal. Entre outros, como, por exemplo, 0 emprego de girias e expressoes populares, chamou-nos a aten~ao 0 fato de Carlos Drummond de Andrade ten tar aproximar a lingua escrita da falada, registrando desta algumas realiza~oes fonetieas freqtientes na conversa descuidada e informal do falante comum. Para demonstrar isso fazemos 0 levantamento de tais realiza~oes que 0 cronista testemunhou como correntes no discurso quotidiano de suas personagens. Atraves do discurso direto fazem-se presentes as caracteristicas vivas do coloquial, documentado uma postura renovadora diante dos padroes conservadores e normativos da lingua literiuia. Numa analise sobre a linguagem de Vila dos Confins, Antonio Houaiss1 afirma que nessa penetra~ao do discurso direto pelos elementos da fala 0 escritor sempre se mantem atento, em constante vigilia, de forma a evitar que a linguagem seja tao-somente uma representa~ao dialetal, que sua mensagem tenha urn alcance mais limitado. Se concede lugar a tipismos, localismos, modismos, se permite a presen~a de uma cor local, de urn traco s6cio-cultural, 0 escritor tambem rejeita a completa vestimenta que roubaria ao texto 0 carater universalista. E, desse esfor~o permanente de conceder limitando, de limitar permitindo, e que decorre a eficilcia da linguagem. Por trils da ortografia, das transcri~oes de certas realiza~oes foneticas vai-se possibilitando a depreensao de gestos, de "acentos", de deforma~oes caracteristicas de certos niveis de linguagem. Carlos Drummond de Andrade e urn exemplo dessa postura artist i- ca equilibrada. Por entre a sua expressao culta e comedida permite,

para a pr6pria eficacia de urn genero comunicativo como e a cronica, a infiltrae40 do coloquial e popular, a expressividade do comum, tornando arte 0 dia a dia. Em Confissoes de Minas, primeiro livco de cronicas de Drummond, datado dos longes de 1944, damos unicamente com os registros "sa" (p. 141) e "seu" (p. 169), esmagamentos das form as senhora e senhor, respectivamente. Em "Passeios na Ilha", datado de 1952, urn tom bastante formal nada nos concede dessa natureza. fala, Amendoeira, de 1957, traz nos dialogos as realizaeoes: praque (p. 12), pra mostra (p. 106), pode aceita (p:l06), bate (p.l07), comuns na fala vulgar ou mesmo quotidiana. A supress40 do r no infinitivo e freqoente entre 0 povo. Em Quadrante (1962), livro de Drummond com outros autores, nas poucas cronic as d:rummondianas damos ainda com varias formas reduzidas, testemunho da vigencia da lei do menor esforeo sobre a express40 lingoistica. Assim, em "Cena Carioca", temos: pera (por espera): "- Pera ai..." (p. 166,4. 0, 1.1); ta (por esta): "- Ta aqui 0 seu troco." (p.l66, 5. 0, 1.1); t40 (por estao): "- T40 vendo?" (p. 167, tilt., 1.1). "A Bolsa & a Vida" (1962), alem dos registros praque, ta, assinala ainda: ne (por n40 e): "- N40 faea isso, ne?" ("Lambretismo", p. 851, 8. 0, 1.1);. tou (por estou): "- Areia Branca. La e minha terra. Tou querendo voltar... " ("Areia Branca", p. 897, 8. 0, 1.1); vo (por vovo): "- Vo, quero abrir esse cofre." ("0 Segredo do Cofre", p. 905, 3. 0, 1.1). Alem de casos que se repetem, "Cadeira de Balaneo" (1967) testemunha urn 'brigada', por obrigada, com aferese do 0, em "Caso de Conversa" (p. 933). o mecanismo de automatizae40 pratica extral6gica nas saudaeoes possibilita redueoes linguisticas n40 compensadas. Na mesma cronica tambem aparece a fonna daonde, esta de cunho vulgar: "- De la daonde?" (2. 0, 1".1) Caminhos de J040 Brandao (1970) repete ta, ne, mas tambem registra, numa s6 palavra, por e ai vem, a forma evem: "- Evem urn helic6ptero! gritou alguem, e veio mesmo... " ("Dois no Corcovado", p. 101, 3. 0, 1.1) e colidade (por qualidade), com a reducao do ditongo ua a vogal fechada 0: "- Limllo, limoncito,..., e de toda colidade,... " e'final (sem drama) da crise", p.139, 4. 0, 1. 1-2). Sobre evem, Houaiss2 explica que e uma forma de expressllo comum entre os cariocas, diante de alguem que venha chegando. o Poder Ultrajovem e mais 79 textos em prosa e verso, publicado pela primeira vez em 1972, apresenta, como realizawes foneticas 00-

vas em confronto com as jll comentadas, as redu~oes so, pol' senhor, polu, POl'polui~o, e quede, POl'que e feito de: "- E mesmo, so." ("A fila e 0 que se fala na fila", p.4l, 13, 1.1); "- Da polu? Ora, e 0 seguinte. Polui~ilo nilo dll s6 na llgua, POl' causa do esgoto,... " ("0 Professor Limilo", p. 159, 5. 0, 1.1); "A hora aprazada, no cart6rio, quede aeromo~a." ("Apartamento para Aeromo~, p.l80, 8. 0, 1.1). A obra De Noticias & NAo Noticias faz-se a cronica, de 1974, pareceu-nos a mais rica em registros do coloquial na fonetica. Ocorrem ai de novo ta, pra, tou, pera, polu (estailltima agora accimpanhada POl'uma explica~ilo da pr6pria personagem que a usa - "ja se usa a f6rmula breve, em harmonia com a rapidez de impregna~ilo do meio pelos poluintes" (p. 123). Mas tambem temos: sacume (abrevia~ilo de sabe como e, no portugues apressado do falante popular, qua tambem gosta de ferir os padroes e ostentar.uma expressilo lingtlistica peculiar): "Padre mesmo, desses de batina, sacume? (" Aconteceu alguma coisa", p. 28, 2. 0, 1.2-3); pelai (combina~ o popular de POl'ail: "... Tern muita falsifica~ilo pelal" (Idem, p.28, 3. 0, 1.4); expo (abrevia~ilo de exposi~ilo): "0 poeta nilo previu 0 umbigo em expo,... " su (pol'sucesso): "Novidades assim garantem urn su tremendo para a boutique." (Idem, p. 74, 1. 0, 1.1).. Com estes casos 0 Cronista mostra que vem ocorrendo na fala descuidada, quando 0 exagero nas redu~oes pode mesmo dificultar a comunica~o, apenas inteligivel pelo contexto. A epoca de hoje, desorganizada e irreverente, reflete-se em desarranjos delinguagem. Nessa mesma obra temos ainda: analfa (pol' analfabeto), corrente na fala popular, quando nilo a realiza 'anarfa'; "- Agora e a minha vez de xingar voce de analfa." ("Nome de Boutique", p. 75, 3. 0, 1.1); pro (em lugar de por): -"Entilo trabalha pro governo,... " ("Banco barroco", p.83, 10. 0, 1.1); xicra (pol'xicara); "-... Agora que ja sabe tudo, 0 senhor aceita uma xicra de cafe coado na hora?" (Idem, p.85, illt., 1.6); fessora (pol'professora); "Vivo, fessora?" ("Da utilidade dos animais", p. 100, 10, 1.1); tadinha (pol'coitadinha): "- E a gente torna a cortar? Ela nao tern sossego, tadinha." (Idem, p.100, 14,1.1); ue (interjei~o popular): 171, 23, 1.1). "- Ja li tudo, ue". ("Viilva Loura", p. No livro Os Dias Lindos/Cronicas (1977), algumas das realiza~oes jll comentadas se repetem, como ta, v6, pra, ne, pera, tou, pela ai, mas outras ocorrem, como: taqui (pol'esta aqui):.. "- Eu pago 0 prejuizo, taqui 700 pratas,... " ("NOlva de POJu-

ca", p.61, 1.0, 1.1); ce (por voce), Ihufas (redu~lo da giria brasileira bulhufas): "- Ce nlo entendeu Ihufas." ("Equipamento Escolar", p. 95, 11.0, 1.1); tai (por estil ail: - "Tai, dessa eu na.o gostei." (Idem, p. 95, 15,1.1); praquela (por para aquela): "-... Quer dizer que a senhora esta mandando meu presente praquela parte". ("Outro Presente pra a Senhora", p.loo, 611., 1. 2-3). A cronica "Zarandalha", desse livrq, feita em homenagem a Ziraldo, e, talvez por isso, para real~ar 0 z desse nome, e toda uma elabora~a.o fonetica extravagante, pr6pria de poeta, uma brincadeira talvez de Drumond. Nesse escrito, entre alguns vocabulos conhecidos, outros aparecem, nascidos da imagina~a.o do artista, a enfatizar 0 som de hi e a deixar para 0 leitor todo urn trabalho de leitura... 0 pr6prio titulo "Zarandalha" na.o e nome,dicionarizado. A cronica, por sua vez, come~a assim: "Voces 840 uns z6ides - disse Zequim, e emitindo urn zornzorn mais parecido com urn zumbo, zortou apressadamente." - de onde na.o conhecemos sequer urn vocabulo de todos aqueles iniciados por z, exceto Zequim, que pode ser uma abrevia~o de Zequinha, e zumbo, que significa zumbido, ruido confuso, rumor. E claro que nlo se trata de coloquial na fala. Mas de urn 16dico fonematico que joga com 0 plano da expressa.o, que 0 deforma como esta hoje deformado 0 mundo, como estlo hoje deformados os antigos valores. Ha uma desorganiza~o Ii vista que 0 texto poetico busca refletir, significar. A palavra canta por si. Drumond harmoniza desajustamento formal com desajustamento conceptual. Logra 0 seu intento e permite-nos sentir isso. o mesmo parece ocorrer em "As Palavras que Ninguem Diz" (p. 71-72), onde estranhamos form as como diadelfo, beltiano, paranzela, oniquito, boedromia, harpaxismo, auriscalpia, aversamento, gamaralogia, subsiles, catexe, chiquete, e Ii p.102, em "Dia Santo e Feriado", onde damos com daspianas. Estas slo ocorrencias diferentes da que aparece em "A Situa~lo Complica-se", de Caminhos de Jolo Brandlo, onde temos a expres- 840 patati-patata, corriqueiramente repetida na linguagem coloquial dos nossos dias, mna especie de realiza~a.o onomatopaica da conversa fiada: "Pensei que ele fosse dizer alguma novidade, e fica nesse patatipatata!".(p.9, 1.0, 1. 2-3) Sempre achamos que 0 nosso levantamento reflete, em,parte, 0 encontro da fala com a escrita nessas realiza~oes foneticas registradas por Drummond. E ainda uma demonstra~o a mais de que 0 Cronista vem tentando documentar, nas cronicas ja chegadas ao tempo presente, 0 comportamento lingtiistico do homem de hoje, a sua maneira de atuar na fala diaria, assim solta, livre, displicente, e$touvada.

1 - Cf. HOUAISS, Antonio. "Sobre a Linguagem de Vila dos Confins" in Revista do Livro. R.J., INL, p. 153. 2 - Idem, ibidem, p. 153.. ANDRADE, Carlos Drummond de. Confissoes de Minas. R.J., Americ. Edit., 1944. "Passeios na Ilba" in Obra Completa. 2. a ed. R.J. Jose Aguillar Editora, 1%7. "Fala, Amendoeira" in Obra Completa. 2. a ed., R.J., Jose Aguillar Editora, 1962. "A Boisa & a Vida" in Obra Completa. 2. a -ed. R.J., Livr. Jose Aguillar Ed., 1962. ANDRADE, Carlos Drummond de. et alii. Quadrante. R.J., Ed. do Autor, 1%2. ANDRADE, Carlos Drummond de. "Cadeirade Balanl;o" in Obra Completa, R.J., Jose Olympio Editora, 1967. Caminbos de Joao Brandao. 2. a ed. R.J., Livr. Jose Aguillar Editoni, 1976. 0 Poder Ultrajovem e mais 79 textos em prosa e verso. 6. a ed. R.J., Livr. Jose Olympio Ed., 1978.. De Noticias e Nao Noticias Faz-se a Cronica. 4. a ed., R.J. Livr. Jose Olympio Ed., 1979. Os Dias Lindos/Cronicas. 2. a ed. R.J. Jose Olympio Editora, 1978. HOUAISS, Antonio. "SQbre a Linguagem da Vila dos Confins" in Revista do Livro. R.J., INL, p.153.