A OPERAÇÃO POTENCIAÇÃO: UMA ANÁLISE DA ABORDAGEM EM LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Documentos relacionados
A operação potenciação e os números inteiros negativos

Maryanni Cardoso Silva Universidade do Estado do Pará Acylena Coelho Costa Universidade do Estado do Pará

AS MARCAS DAS RELAÇÕES INSTITUCIONAIS SOBRE AS RELAÇÕES PESSOAIS DOS ESTUDANTES SOBRE NÚMEROS RACIONAIS NA REPRESENTAÇÃO DECIMAL.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A PROPOSTA DE ENSINO DA TRIGONOMETRIA NO TRIÂNGULO RETÂNGULO

CÁLCULO MENTAL NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

O ENSINO DE QUADRILÁTEROS PROPOSTO EM UMA COLEÇÃO DE LIVROS DIDÁTICOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA ANÁLISE NA PERSPECTIVA DA TAD

COMPREENSÃO MATEMÁTICA COM REGISTROS DE REPRESENTAÇÃO

UM ESTUDO DA REPRESENTAÇÃO DE TRIÂNGULOS NOS LIVROS DIDÁTICOS DE MATEMÁTICA DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Livro didático do 8º ano: conversões, tratamentos e equações

Ana Paula Cardoso. Plano de Trabalho 1: Números Reais e Radiciação

Introdução. 1 Licenciada em Matemática e Mestranda em Educação pela Universidade de Passo Fundo bolsista CAPES.

ALGUNS TIPOS DE TAREFA QUE PREPARAM PARA O CÁLCULO MENTAL

REGISTROS DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA E O ENSINO DE ÁLGEBRA: PROPOSIÇÕES DE UMA SITUAÇÃO DE ENSINO PROPOSTA NO LIVRO DIDÁTICO

RELAÇÕES PESSOAIS DE ESTUDANTES DE SÃO PAULO DOS ENSINOS FUNDAMENTAL, MÉDIO E SUPERIOR SOBRE AS REPRESENTAÇÕES DOS NÚMEROS RACIONAIS

PROFICIÊNCIA EM MATEMÁTICA Conjuntos Numéricos, Potenciação e Radiciação

CONSIDERAÇÕES INICIAIS. Enoque da Silva Reis

O QUADRO VALOR DE LUGAR, A TEORIA DE REPRESENTAÇÕES SEMIÓTICAS E AS ESTRUTURAS ADITIVAS NO 3º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL RESUMO

RELATÓRIO I Data: 06/05/2015

UM ESTUDO SOBRE O USO DO SOFTWARE APLUSIX COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA PARA A APRENDIZAGEM DE SISTEMAS DE EQUAÇÕES DO PRIMEIRO GRAU COM DUAS VARIÁVEIS.

EXPLORANDO O USO DAS NOVAS TECNOLOGIAS PARA O ESTUDO DAS TRANSFORMAÇÕES NO PLANO

Reflexiones Semióticas en los Números Racionales

MÓDULO 2 POTÊNCIA. Capítulos do módulo:

VII CONGRESSO INTERNACIONAL DE ENSINO DA MATEMÁTICA

TRIGONOMETRIA EM LIVROS DIDÁTICOS DO 9º ENSINO FUNDAMENTAL

TANGRAM: TRANSFORMANDO E FRACIONANDO

ANÁLISE DE LIVROS DIDÁTICOS DE MATEMÁTICA UTILIZADOS NO ENSINO FUNDAMENTAL II NO MUNICÍPIO DE ITABUNA-BAHIA

ANÁLISE DE RESOLUÇÕES ENVOLVENDO O CONCEITO DE MÉDIA ARITMÉTICA A LUZ DA TEORIA DE REGISTRO DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA

TRATAMENTO E CONVERSÃO ENTRE REGISTROS DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA DOS CONCEITOS DE LIMITE 1. Eliane Miotto Kamphorst 2, Cátia Maria Nehring 3.

A COMPREENSÃO DE CONCEITOS GEOMÉTRICOS UTILIZANDO O LADRILHAMENTO

A ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO NA PRÁTICA DE ENSINO EM MATEMÁTICA: CONTRIBUIÇÕES À FORMAÇÃO DOCENTE

AS CÔNICAS SOB O OLHAR DOS REGISTROS DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA NOS LIVROS DIDÁTICOS DE MATEMÁTICA

O LIVRO DIDÁTICO DO 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL: uma análise sobre a praxeologia matemática dos quadriláteros.

Unidade I MATEMÁTICA. Prof. Celso Ribeiro Campos

UTILIZANDO APPLETS EM ATIVIDADES DE TRANSFORMAÇÃO DE REGISTROS DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA COM GEOMETRIA ANALÍTICA

UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA O ESTUDO DE RELAÇÕES EM SALA DE AULA ATRAVÉS DO EXCEL

OS CONHECIMENTOS SUPOSTOS DISPONÍVEIS NA TRANSIÇÃO ENTRE O ENSINO MÉDIO E SUPERIOR: A NOÇÃO DE SISTEMAS DE EQUAÇÕES LINEARES

APRENDIZAGEM DO CONCEITO DE VETOR POR ESTUDANTES DE ENGENHARIA 1. Viviane Roncaglio 2, Cátia Maria Nehring 3.

Planificação Anual de Matemática 7º Ano

Capítulo 1: Fração e Potenciação

UM ESTUDO DA REPRESENTAÇÃO DE TRIÂNGULOS EM LIVROS DIDÁTICOS DA ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA. Educação Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental

Matemática Básica. Capítulo Conjuntos

01. B 07. A 13. D 19. B 02. D 08. C 14. D 20. D 03. A 09. A 15. C 21. C 04. B 10. D 16. B 22. B 05. C 11. A 17. A B 12. B 18.

Diego Aparecido Maronese Matemática. Íria Bonfim Gaviolli Matemática

ANÁLISE DA ABORDAGEM DO TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO EM LIVROS DIDÁTICOS DE MATEMÁTICA

SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA O ESTUDO DAS SECÇÕES CÔNICAS COM O AUXILIO DO SOFTWARE GEOGEBRA NA MATEMÁTICA.

Exemplos: -5+7=2; 12-5=7; -4-3=-7; -9+5=-4; -8+9=1; -4-2=-6; -6+10=4

CONCEITO DE VETOR - ENTENDIMENTO DE ACADÊMICOS DE ENGENHARIA 1. Viviane Roncaglio 2, Cátia Maria Nehring 3.

6º ano 1 o TRIMESTRE

Planificação Anual Matemática 7º Ano

Palavras-chave: Didática da Matemática. Teoria Antropológica do Didático. Formação Inicial de professores.

ANÁLISE DE ERROS: UMA ABORDAGEM POR MEIO DO JOGO BINGO DAS FUNÇÕES

O CÁLCULO MENTAL EM LIVROS DIDÁTICOS DOS ANOS INICIAIS APROVADOS NO PNLD

Racionalização de denominadores

Nível II (6º ao 9º ano) Sistema de Recuperação 3º período e Anual Matemática

Planificação anual 2018/19

ADIÇÃO E SUBTRAÇÃO DE FRAÇÕES 1A

PANORAMA DE UM ESTUDO SOBRE A FATORAÇÃO

RELEXÕES SEMIÓTICAS SOBRE NÚMEROS RACIONAIS

A ABORDAGEM DOS NÚMEROS RACIONAIS NO EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO ENEM RESUMO ABSTRACT

X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador BA, 7 a 9 de Julho de 2010

Revisão: Potenciação e propriedades. Prof. Valderi Nunes.

Oficina 2B Percurso de Estudo e Pesquisa e a Formação de Professores

Números Complexos e Circuitos Elétricos: uma análise de livros didáticos apoiada na Teoria dos Registros das Representações Semióticas

1º Período Total tempos previstos: 49

POTENCIAÇÃO: ANÁLISE DE ERROS EM QUESTÕES APLICADAS EM UMA TURMA DA 1ª SÉRIE DO ENSINO MÉDIO

VII CONGRESSO INTERNACIONAL DE ENSINO DA MATEMÁTICA

Monster. Concursos. Matemática 1 ENCONTRO

VII CONGRESSO INTERNACIONAL DE ENSINO DA MATEMÁTICA

SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA O ESTUDO DAS CÔNICAS COM O AUXÍLIO DO SOFTWARE GEOGEBRA.

Aula 1: Conjunto dos Números Inteiros

OS CONTEXTOS EM QUE A FUNÇÃO QUADRÁTICA SE APRESENTA NAS ABORDAGENS DE LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO MÉDIO: UMA AMOSTRA DA ANÁLISE PRAXEOLÓGICA.

A DIDÁTICA DO ENSINO DO CONCEITO DE ÁREA COMO GRANDEZA NUMA ABORDAGEM VERGNAUDIANA

Ano Letivo 2018/2019 TEMAS/DOMÍNIOS CONTEÚDOS APRENDIZAGENS ESSENCIAIS Nº DE AULAS AVALIAÇÃO

O Ensino de Adição e Subtração dos Números Naturais: uma análise de livros didáticos dos anos iniciais

MATEMÁTICA DESCRITORES BIM3/2017

A PROBLEMATIZAÇÃO NO ENSINO DOS ALGORITMOS NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: O TRATAMENTO DAS REPRESENTAÇÕES SEMIÓTICAS

A MEDIAÇÃO DO PROFESSOR NA DISCIPLINA DE CÁLCULO NOS CURSOS DE ENGENHARIA - ANTERIORIDADE DO CONCEITO DE LIMITE 1

MÚLTIPLAS REPRESENTAÇÕES E ATIVIDADES INVESTIGATIVAS NO ENSINO DE FUNÇÕES (parte 1)

A ORGANIZAÇÃO DIDÁTICA DA INTRODUÇÃO DA ÁLGEBRA EM UM MANUAL DO 7º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

A ABORDAGEM DO CONCEITO DE ÂNGULO EM UM LIVRO DIDÁTICO DE MATEMÁTICA DO 8º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

SISTEMAS DE EQUAÇÕES LINEARES: UMA PROPOSTA DE ATIVIDADES COM ABORDAGEM DE DIFERENTES REGISTROS DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA

Pré-Cálculo. Camila Perraro Sehn Eduardo de Sá Bueno Nóbrega. FURG - Universidade Federal de Rio Grande

MATEMÁTICA PLANEJAMENTO 3º BIMESTRE º B - 11 Anos

O LIVRO DIDÁTICO, ESCOLHA E UTILIZAÇÃO: ALGUNS ASPECTOS DO GUIA DIGITAL

Roteiro de recuperação final Matemática 7 Ano

7º ANO PLANIFICAÇÃO A LONGO/MÉDIO PRAZO FINALIDADES

Uma Análise Praxeológica do Ensino de Volume dos Sólidos Geométricos em Livros Didáticos do Ensino Médio

CONSTRUINDO O CONCEITO DE ÁREA POR MEIO DA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA

A RELAÇÃO COM O SABER PARA O ENSINO E APRENDIZAGEM DA NOÇÃO DE ADIÇÃO E SUBTRAÇÃO DE FRAÇÃO NO ESTADO DE SÃO PAULO

O PERCURSO DO ENSINO DE ÁLGEBRA NO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA ANÁLISE A PARTIR DA TEORIA ANTROPOLÓGICA DO DIDÁTICO

UMA ANÁLISE DA HISTÓRIA DA TRIGONOMETRIA EM ALGUNS LIVROS DIDÁTICOS DE MATEMÁTICA DO 9º ANO AVALIADOS PELO PNLD

ÂNGULOS NOTÁVEIS NOS LIVROS DIDÁTICOS: UMA ANÁLISE PRAXEOLÓGICA.

RELAÇÕES METODOLÓGICAS NA TRANSIÇÃO 5º E 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL BRASILEIRO PARA O CASO DAS FIGURAS PLANAS E FIGURAS ESPACIAIS

Trigonometria em Livros Didáticos do 9 Ano do Ensino Fundamental Aprovados Pelo PNLD/2014 1

Considerações finais

MATEMÁTICA PLANEJAMENTO 2º BIMESTRE º B - 11 Anos

PLANEJAMENTO ANUAL / TRIMESTRAL 2014 Conteúdos Habilidades Avaliação

O USO DA CALCULADORA NAS AULAS DE MATEMÁTICA DO ENSINO MÉDIO: O QUE TRAZ O LIVRO DIDÁTICO?

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS CASTRO DAIRE

Transcrição:

A OPERAÇÃO POTENCIAÇÃO: UMA ANÁLISE DA ABORDAGEM EM LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL Ana Maria Paias Pontifícia Universidade Católica de São Paulo anamariapaias@yahoo.com.br Resumo: Consideramos que o livro didático seja o principal instrumento que o professor dispõe na preparação de suas aulas. Sendo assim, exerce uma grande influência no processo de ensino aprendizagem de matemática, pois é para o professor, na maioria do tempo, fonte de inspiração para suas atividades em sala de aula. Este trabalho é um recorte da dissertação do curso de Mestrado Acadêmico da PUC/SP, intitulada Diagnóstico dos Erros sobre a Operação Potenciação aplicado a Alunos dos Ensinos Fundamental e Médio e apresenta os aspectos relevantes da análise do Livro Didático, no que se refere ao tópico Operação Potenciação. Analisamos as coleções Matemática na Medida Certa (Jakubovic et al, 2002) e Projeto Araribá (Barroso, 2006). Esta apreciação possibilitou observar a forma, como a operação potenciação foi exposta, bem como os vários tipos de exercícios apresentados sobre essa operação que estão indicados nestas coleções de livros didáticos do Ensino Fundamental. A fundamentação teórica foi apoiada na Teoria Antropológica do Didático de Chevallard (1999) e nos Registros de Representação Semiótica de Duval (2003). Palavras-chave: Potenciação; Livro Didático; Teoria Antropológica do Didático; Teoria de Registros de Representação Semiótica. INTRODUÇÃO Este trabalho é parte da dissertação do curso de Mestrado Acadêmico da PUC/SP, intitulada Diagnóstico dos Erros sobre a Operação Potenciação aplicado a Alunos dos Ensinos Fundamental e Médio que foi uma pesquisa descritiva, quanti-qualitativa com realização de um diagnóstico sobre os erros dos alunos referentes à operação potenciação. A fundamentação teórica foi apoiada na Teoria Antropológica do Didático de Chevallard (1999); nos Registros de Representação Semiótica de Duval (2003) e nos estudos sobre o erro de Cury (2007). Parte de um dos capítulos foi destinada à análise do livro didático. Observamos que ao longo do tempo, o livro didático vem de maneira especial passando por mudanças significativas, tanto em seu teor como em sua abordagem. Entendemos também que o livro didático é o principal instrumento usado pelo professor de Matemática na preparação de suas aulas. Portanto, desempenha grande 1

influência sobre o processo de ensino e aprendizagem, na medida em que a partir dele o professor elege os conteúdos que vão ser ministrados e o modo como serão abordados. Conforme o PNLD 1 : O livro didático contribui para o processo ensino-aprendizagem como mais um interlocutor que passa a dialogar com o professor e o aluno. Nesse diálogo, tal texto é portador de uma perspectiva sobre o saber a ser estudado e sobre o modo de conseguir aprendêlo mais eficazmente, que devem ser explicitados no manual do professor. (PNLD, 2008, p. 9). A ANÁLISE DOS LIVROS DIDÁTICOS A análise dos livros didáticos possibilitou observar a forma, como o objeto Potenciação foi exposto, bem como os vários tipos de exercícios apresentados sobre essa operação que estão propostos no Ensino Fundamental. Denominamos dois tipos de questões para a análise: : Questão com uma atividade matemática com foco no conteúdo matemático. : Questão com foco em uma situação-problema na qual o aluno pode verificar e aplicar seus conhecimentos. Para esta apreciação utilizamos alguns critérios na análise dos exercícios: a. Relacionados à definição de potenciação b. Relacionados às propriedades da operação potenciação c. Problematização e uso de referências a fatos do cotidiano por meio de problemas d. Uso de convenções matemáticas Com base nesses critérios, analisamos os livros didáticos fundamentados na Teoria Antropológica do Didático (TAD) de Chevallard (1999) e a na Teoria de Registros de Representação Semiótica de Raymond Duval. 1 PNLD Programa Nacional do Livro Didático. 2

Utilizamos a TAD considerando os tipos de tarefas ou a ação que o exercício pede para a sua resolução. Analisamos as técnicas, ou seja, os possíveis métodos de resolução para o exercício e o bloco tecnologia-teoria que está relacionado ao discurso utilizado que apresenta os conhecimentos mobilizáveis apresentados na resolução de um exercício. Segundo Chevallard: Ao redor de um tipo de tarefa, se encontra em princípio, um trio formado por uma técnica (uma pelo menos),, por uma tecnologia, e por uma teoria,. No total indicado por [,,, ], constituindo uma praxeologia pontual, onde este último qualificativo significa que se trata de uma praxeologia relativa a um único tipo de tarefa,. Tal praxeologia ou organização praxeológica está constituída por um bloco práticotécnico [ / ] e por um bloco tecnológico [ / ]. (CHEVALLARD, 1999, p. 6). Em nossa pesquisa, a TAD foi utilizada para a análise da organização didática que fizemos do livro didático. Para que isso fosse feito de modo simplificado nomeamos as tarefas, técnicas e discursos tecnológico-teóricos nos quais empregamos as seguintes notações: Tipos de Tarefas: 1 = Tarefa do tipo calcular, efetuar. 2 = Tarefa do tipo transformar, representar. 3 = Tarefa do tipo encontrar, descobrir e completar. 4 = Tarefa do tipo resolver. Tipos de Técnicas: 1 técnica na qual o aluno resolve a potenciação por meio da definição. 2 técnica na qual o aluno evoca e utiliza a regra de sinais. 3 técnica na qual o aluno utiliza as convenções matemáticas com expoentes zero e 1 e base zero. 4 técnica de resolução por tentativa e erro. 5 técnica na qual o aluno usa a operação inversa à potenciação, radiciação. 3

6 técnica que resolve potência com expoente negativo. 7 técnica na qual o aluno utiliza de forma incorreta a operação multiplicação, fazendo o produto da base pelo expoente. 8 técnica na qual o aluno utiliza o recurso da visualização. 9 técnica que utiliza as operações para o cálculo existente nas propriedades da potenciação. 10 técnica na qual o expoente fracionário, o numerador passa a ser expoente do radicando e o denominador, o índice do radical. 11 técnica na qual se utiliza o recurso de regularidades e padrões numéricos. 12 técnica na qual o aluno utiliza conversões matemáticas. 13 técnica na qual o aluno utiliza a distributiva do expoente para a base. Tipos de Discursos tecnológico-teóricos: [ / ] 1 Definição de potenciação. [ / ] 2 Propriedades da potenciação. [ / ] 3 Busca de padrões numéricos matemáticos ou regularidades. [ / ] 4 Uso da operação inversa à potenciação, radiciação. [ / ] 5 Regras de sinal. [ / ] 6 Convenções matemáticas do tipo a 0 = 1, a 0 e a 1 = a. [ / ] 7 Potência com expoente negativo. [ / ] 8 Potência com expoente fracionário. [ / ] 9 Conversões matemáticas entre números e potências. Consideramos também o papel das representações como importante no estudo da operação potenciação e da análise do livro didático. Para tanto, utilizamos as ideias de Raymond Duval sobre Registros de Representação Semiótica. Duval (2003) afirma que não existe conhecimento a ser mobilizado sem um registro de representação. Para ele, um registro de representação é uma maneira peculiar de 4

conceber um objeto matemático e existem vários registros que são possíveis para um mesmo objeto, sempre considerando que as representações semióticas materiais servem de suporte às representações mentais. Há uma grande variedade de representações semióticas utilizadas na Matemática. De acordo com o autor além do sistema de numeração, existem as figuras geométricas, as escritas algébricas e formais, as representações gráficas e a língua natural. Conforme a teoria de Duval, temos dois tipos de transformações semióticas: tratamentos que são transformações de uma representação em outra no mesmo registro e conversões: que são transformações de representação mudando o registro de representação. Para análise do livro didático relacionamos a apresentação dos exercícios ao uso de quadros, tabelas, figuras, escritas algébricas e formais e a utilização de tratamentos e conversões. A análise dos livros didáticos foi feita para cada, trazendo informações gerais sobre como a potenciação é apresentada e uma análise específica para questões selecionadas. Exemplo de análise Para exemplo da análise escolhemos uma atividade (ver Figura) que consideramos diferente e original, por apresentar variáveis significativas, como por exemplo, a base 6, além de pedir a interação entre os alunos. Regularidades e potência. A questão é uma atividade matemática do tipo, com foco no conteúdo matemático. A tarefa relacionada a essa atividade é do tipo 3, na qual o aluno deve descobrir termos de uma sequência. O aluno resolverá utilizando-se da técnica 4 em que 5

ele vai tentar descobrir o próximo termo. Além disso, terá de empregar a técnica 1, descobrindo, assim, o valor das potências do quadro. Precisará dispor de conhecimentos relacionados aos discursos tecnológico-teóricos dos tipos [ / ] 1 e [ / ] 3. Matemática na Medida Certa Na análise dessa coleção de livros didáticos observamos que a sistemática dos conceitos é atingida de forma objetiva. Segundo o PNLD (2008 p. 120), de modo geral, a distribuição dos campos matemáticos é satisfatória ao longo da coleção, apesar de haver uma atenção excessiva ao campo dos números e operações na 5ª.. Em sua maioria, as atividades são questões com tarefas do tipo 1, com a possível resolução por meio de diferentes técnicas. Algumas questões trazem o recurso de figuras que representam visualizações e outras com tarefas do tipo 2. Ao longo da apresentação do tópico sobre a operação potenciação, observamos situações em que são colocados os registros figurais. Registramos que os autores não abordam no volume de 8ª potenciação com expoentes fracionários. A coleção apresenta, no que diz respeito a operação potenciação exercícios com representação figural e a utilização de conversões. Ainda, conforme o PNLD (2008, p. 118), a coleção oferece várias situações em que os conhecimentos matemáticos aparecem ligados ao cotidiano, o que propicia a articulação destes às práticas sociais atuais e favorece a construção da cidadania. No entanto, observamos que, ao longo do conteúdo potenciação, temos poucos registros relacionados a esse foco. A coleção traz seções Desafios e Surpresas e Ação com sugestões diferentes de atividades como jogos e experimentos. No final do livro, as respostas são fornecidas e também existem sugestões bibliográficas para os alunos. Projeto Araribá Ao concluir a análise desta coleção, podemos registrar a obra como uma importante ferramenta para o professor na escolha de atividades, uma vez que é bastante rica nesse 6

aspecto. Quanto à operação potenciação, concordamos com o PNLD na análise desta obra, destacando: Os números e suas operações são abordados em seus diferentes significados. Porém há excessiva formalização de regras e procedimentos, muitas vezes, realizada de forma rápida, sem que o aluno tenha a oportunidade de observar regularidades e estabelecer suas próprias conclusões. (PNLD, 2008, p. 103). A coleção é bastante rica na diversidade de questões. Em sua maioria, as atividades são exercícios com tarefas de todos os tipos 1, 2, 3 e 4, com a possível resolução por meio de distintas técnicas. Algumas questões trazem o recurso de figuras que representam visualizações. Os autores salientam a leitura da potenciação, trabalhando em muitos momentos com a língua natural de forma acentuada. De maneira geral, os livros da coleção trazem uma metodologia na qual seus capítulos são sempre iniciados com questionamentos ou problematização aos alunos que estabelecem sempre uma relação entre o que o aluno tem de conhecimento prévio e o assunto que será abordado. Elaboramos uma tabela que representa uma síntese dos critérios escolhidos e observados e o livro didático. Tabela: Critérios observados nos livros didáticos Matemática na Medida Certa Projeto Araribá Critérios Observados 5a. 6a. 7a. 8a. 5a. 6a. 7a. 8a. Definição de potenciação Propriedades da 7

potenciação Problematização Tratamento e conversões Quadros, figuras e tabelas Convenções ou regras especiais Tipos de Questões Tarefas Técnicas Discursos tecnológico - teóricos Para assinalar os critérios observados para a análise do livro didático, utilizaremos a seguinte legenda: ocorrência baixa significa que o critério relacionado em relação à operação potenciação foi apresentado de modo não significativo no livro didático, com pouca variedade de exemplos e exercícios. ocorrência média significa que o critério relacionado em relação à operação potenciação foi apresentado de modo constante e uniforme no livro didático, com média variedade de exemplos e exercícios. 8

ocorrência alta significa que o critério relacionado em relação à operação potenciação foi apresentado de modo muito significativo no livro didático, com grande variedade de exemplos e exercícios. O livro didático é considerado uma importante ferramenta para o professor, por isso julgamos relevante sua análise dentro de nossa pesquisa, pois pudemos avaliar, sobre a abordagem metodológica que as duas coleções consideradas tomam como princípios para apropriação adequada do conhecimento pelo aluno. REFERÊNCIAS BARROSO, J. M. Projeto Araribá. Coleção de 5ª. a 8ª. Séries. São Paulo. Moderna. 2006. BRASIL, Ministério da Educação. Guia de Livros Didáticos PNLD 2008: Matemática / Ministério da Educação. Brasília: MEC, 2007. CHEVALLARD, Y. (1999) L analyse des pratiques enseignantes en théorie anthropologique du didactique. Recherches en Didactique des Mathématiques, vol. 19, n. 2, p. 221 266. Tradução em espanhol de Ricardo Barroso Campos. <http://www.uaq.mx/matematicas/redm/art/a1005.pdf (acesso em 25/04/2008). DUVAL, R. Registros de representação semiótica e funcionamento cognitivo da compreensão em matemática. In. Aprendizagem em Matemática: Registros de representação semiótica. Silvia Alcântara Machado(org.). Campinas, SP: Papirus, 2003( coleção papirus), p. 11 33. JAKUBOVIC, J.; LELLIS, M.; CENTURION, M. Matemática na medida certa. Coleção de 5ª. a 8ª. Séries. São Paulo: Scipione, 2002. 9