TIPOS DE SOLO E VEGETAÇÃO NUMA TOPOSSEQUÊNCIA NA REGIÃO DO TRIÂNGULO MINEIRO TORRES, J.L.R. ; PEREIRA, M.G. 2 ; TEIXEIRA, A.F. 3 ; COUTINHO, F.4 ; BARRETO, A.C. ; LEMOS NETO, L.C. 5 Professor Dr. Classe Especial do CEFET Uberaba MG, e-mail: jlrtorres@cefetuberaba.edu.br. 2 Professor Dr. em Ciência do Solo, Classe Associado da UFRRJ, e-mail: gervasio@ufrrj.br. 3 Graduando em Zootecnia, Bolsista do PIBIC/Fapemig pelo CEFET Uberaba MG, e-mail: apismae@hotmail.com. 4 Graduando em Agronomia, Depto Solos, Instituto de Agronomia, UFRRJ, Seropédica, RJ, CEP 2389-. 5 Graduando em Agronomia pela FAZU Uberaba MG, email: coelhoagronomo@hotmail.com. RESUMO A compreensão das correlações existentes entre o solo e a vegetação é fundamental para o estudo do comportamento de ambos no ambiente. Diante disso, neste estudo identificou-se a formação pedológica de uma topossequência do solo no bioma cerrado para relacioná-lo com a vegetação na área. Identificaram-se cinco classes de solo: LATOSSOLO VERMELHO (P); LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO (P2); PLINTOSSOLO PÉTRICO (P3); CAMBISSOLO FLÚVICO (P4) e GLEISSOLO (HÁPLICO E MELANICO) (P5). Foram identificadas mais de 5 espécies na área e varias gramíneas características do bioma cerrado. As braquiárias e o capim gordura só ocorrem no perfil P e P2, enquanto que fruta-de-lobo, guabiroba e murici estão presentes em grande quantidade em todos os perfis avaliados. Observou-se que a maior parte das árvores na faixa varia de 3 a 6 m de altura. Nas matas de galeria, são encontradas árvores que atingem até 25 m de altura. Foram encontrados poucos representantes da família Fabaceae. Palavras-chave: bioma cerrado, classes de solo, regeneração natural. INTRODUÇÃO O cerrado é o segundo bioma brasileiro em extensão geográfica, abrangendo mais de 2 milhões de hectares e ocupando cerca de 25% do território nacional. Esta região abriga um terço da biodiversidade brasileira, o que significa 5% da flora e fauna mundial. Em Minas Gerais o cerrado possui uma extensão aproximada de 335.378,7 km 2, correspondendo a 57% da cobertura vegetal do Estado, estando submetida a um forte processo de antropização devido à expansão da fronteira agrícola (MACHADO et al., 24). O estudo dos solos em toposseqüência permite uma visão global e integrada dos vários 26
L a to s ol o V er m el ho L a to s ol o V er m el ho / Am a re lo P li nt os so lo C a m bi so lo G l ei so lo L at o s ol o V er m elh o L at o s ol o V er m el ho /A m a re lo P li nt os so lo C a m bi so lo Á rea 2, 7 h a LANOSO 75 LANOSO 7 7 7 65 7 6 75 5 75 componentes da paisagem e das atividades antropicas na área, permitindo o estabelecimento de relações entre atributos dos solos, relevo e da paisagem, podendo elucidar as dinâmicas internas e externas do solo, a partir das suas variações verticais e laterais nas vertentes de uma bacia elementar (DRUMOND et al., 996). Reatto et al. (28) destacam que ocorrem fortes correlações entre o solo e a vegetação e sua compreensão é fundamental para o estudo do comportamento de ambos no ambiente. Diante disso, neste estudo caracterizou-se a formação pedológica de uma topossequência do solo no bioma cerrado e relacionando com a vegetação na área. MATERIAL E MÉTODOS A área em estudo localiza-se na Unidade I do Cefet-Uberaba-MG, que conta com uma área total de 472 hectares, estando localizada sob as coordenadas 9º39 9 S e 47º57 27 W, a aproximadamente 795 metros de altitude. A área é representativa do relevo, solo e vegetação da região e nesta foram abertas cinco trincheiras em uma toposseqüência de metros em pontos distinto da paisagem: terço superior (P), terço médio (P2), terço inferior de encosta (P3), terraço fluvial em encosta (P4) e baixada (P5) (Figura ). Á r ea :3,2 h a Á re a 24, h a Á re a:, 38 h a Á re a: 5, 9 4 ha Á r ea :3, 7 h a Á re a:,7 4 ha Á rea : 5,3 h a Á rea : 28,2 7 h a Á rea : 4, 8 ha Á re a 5,6 6 ha Á rea 6,8 h a Á r ea,6 6 h a Á r ea 4,5 h a Á r ea 6,7 h a Á r ea,6 h a LANOSO P FAIXA Á re a To ta l: 8, 3 4 h a Á r ea :, 95 h a Á re a: 9, 58 h a Á rea : 5, 78 h a Á re a,8 5 ha Á r ea 5,2 2 h a Á re a 3,2 4 ha Á r ea :,4 h a Á re a: 6, ha Á r ea :5,6 8 h a Á re a 23,3 9 h a Á re a 4, 9 5 ha P2 Á re a: 8, 4 ha Á r ea 2, h a P3 Á r ea 8, ha P5 P4 Figura - Área de 472 hectares da Unidade I do Cefet-Uberaba-MG, com destaque (em cinza) para a topossequência em estudo e área vista com imagens do Google Earth, com faixa do solo em destaque onde está sendo feito o levantamento da vegetação. Para caracterização morfológica dos perfis foi utilizado o Manual de Descrição e Coleta de Solo no Campo (SANTOS et al, 25). A caracterização química e física dos perfis foi feita segundo EMBRAPA (997). Para classificação dos perfis foi utilizado o Sistema Brasileiro de Classificação de Solo (EMBRAPA, 26). O levantamento das espécies arbóreas, arbustivas e da vegetação foi feito com auxílio de um mateiro, que identificou a maioria das espécies. Estas foram associadas a cada faixa 27
solo (Figura ). O material botânico recolhido será enviado a Universidade Federal de Viçosa, onde já existem dados qualitativos da vegetação da área. RESULTADOS E DISCUSSÃO Com relação ao solo da topossequência (Figura 2), foram definidas cinco classes: - LATOSSOLO VERMELHO (P); 2 - LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO (P2); 3 - PLINTOSSOLO PÉTRICO (P3); 4 - CAMBISSOLO FLÚVICO (P4); 5 GLEISSOLO (P5) (HÁPLICO E MELÂNICO). Para determinação destas classes de solo foi feito o estudo das características morfológicas, físicas e químicas dos perfis avaliados (Tabela ). A AB BA BW BW2 BW3 BW4 BW5 Alti 8 tude 79 (m) 78 77 N Asfalto P 4 2 3 4 5 Distância (m) 6 7 75 P 2 8 9 P P5 PS Figura 2 Esquema da topossequência destacando os locais (pontos, 2, 3, 4 e 5) onde foram abertas as trincheiras e identificados os cinco tipos de solo. Nas áreas onde foram identificados os LATOSSOLOS (P e P2), os perfis apresentaram horizonte B latossólico imediatamente abaixo do horizonte A (EMBRAPA, 26). Ao nível de subordem, estes puderam ser diferenciados em P, com matiz 2,5YR na maior parte do horizonte B e P2 com matiz 7,5 YR nos horizontes subsuperficiais, localizados na parte mais alta da topossequência e no terço superior de encosta. As principais limitações são a baixa fertilidade do solo e os baixos teores de argila (Tabela ). Além disso, o perfil P apresentou caráter ácrico e baixos valores de carbono orgânico (< 7, g kg - ), conforme destacado por Coutinho et al. (28). O perfil P3 fica localizado no terço inferior de encosta e apresenta um horizonte concrecionário, com 44 cm de espessura. Este horizonte causa impedimento ao desenvolvimento do sistema radicular das plantas, sendo pobre em fertilidade (Tabela ). O 28
perfil P4 apresenta um horizonte B incipiente, e presença do caráter flúvico (EMBRAPA, 26), com baixos teores de Ca e Mg (Tabela ). O perfil P5 apresentou horizonte diagnóstico glei dentro dos primeiros 5 cm da superfície. Abriu-se uma segunda trincheira para confirmação da identificação do perfil 5. Através desta, os perfis puderam ser diferenciado em P5 HÁPLICO e P5 MELÂNICO, este último possuindo um horizonte diagnóstico superfical A húmico. Estes solos normalmente são hidromorficos e ocupam geralmente as depressões da paisagem, apresentado drenagem insuficiente, por isso mesmo é comum ocorrer inundação nestas áreas na época de maior precipitação na região. Tabela : Análises químicas e argila total dos horizontes superficiais dos perfis estudados P Horizonte ph Al 3+ Ca 2+ Mg 2+ P C Argila Silte Areia..Cmol c kg -. mg kg - g kg -.. 5,3,,,2,72 7,2 233 75 3,87 P2 5,9,,,4 2,45,7 226 56 4, P3 4,9,,2,3 2,74,2 82 87 4,5 A P4 5,4,,4,5 38,5 38,82 24 322 8,38 P5 (HÁPLICO) 5,,3,3,2,38 9,65 237 9 3,32 P5 (MELÂNICO) 5,2,4,3,2 752,3 63,53 22 263,82 Modificado de Coutinho et al. (28) As plantas da faixa definida pela topossequência foram identificadas (Figura 2), sendo encontradas mais de 5 espécies nativas da região (Tabela 2), algumas elas relatadas por Marco Junior et al. (24) na mesma área: Família Labiatae, Anacardeaceae, Annonaceae, Caesalpinioiideae, Sclerolobium paniculatum, Trichilia coletada e Arecaceae. Pode-se observar também que, nesta faixa as árvores identificadas têm porte variando entre 3 a 6m de altura, possuem troncos e ramos tortuosos, casca espessa e folhas duras, entretanto predominam os arbustos, talvez porque esta área esteja ocorrendo regeneração natural por um período superior a quinze anos. Nas áreas encharcadas são encontrados os buritizais e os campos hidrófilos, ao longo dos cursos d água observam-se matas de galeria, onde as arvores atingem até 25 m de altura. Dentre as gramíneas, observou-se um maior número de algodão-do-campo (Cochlospermum regium (Mart.) Pilg), capim-flechinha (Echinolaena inflexa (Poir.) Chase), catuaba (Anemopaegma arvense (Vell.) Stellfeld), fruta-de-lobo (Solanum lycocarpum A. St-Hil.), guabiroba (Campomanesia adamantium (Camb.) Berg), matabarata (Andira laurifolia Benth) e muricí (Byrsonima intermedia A. Juss.). Segundo o 29
SEMEA (24), estas plantas são características da região e algumas delas murcham e secam no período de seca, rebrotando no período chuvoso. No cerrado, de uma foram geral, a família Fabaceae é muito expressiva, entretanto, foram pouco observadas na área. Tabela 2 Espécies arbustivo-arbóreas identificadas na área em estudo; P = pioneira; S = secundária; C = climácica; G.E. = Grupo ecológico. Nome científico Nome comum GE Anadenanthera falcata (Benth.) Speg Angico-do-cerrado P Bauhinia rufa Steud Pata-de-vaca P Acrocomia aculeata Lodd. ex Mart. Macaúba, macaúva P Alchomea glandulosa Poepp & Endl. Tapiá P Cecropia hololeuca Miq. Embaúba branca P Erythrina falcata Benth. Suína P Chorisia speciosa St. Hil. Paineira P Chrysophyllum gonocarpum Engl. Guatanbú de leite P Mauritia flexuosa L. Buriti P Myrcia rostrata DC. Guamirim-miúdo P Psedobombax grandiflorum (Cav.) Rob. Embiruçu P Psidium guajava L. Goiabeira P Balfourodendron riedelianum Engl. Pau marfim S Bauhinia forficata Link. Unha de vaca S Cassiaferruginea Schrad. Ex DC. Canafístula S Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Tamboril S Ficus guaranitica Schodat Figueira branca S Gallesia integrifólia (Spreng.) Harms Pau d alho S Guapira opposita (Vell.) Reitz. Maria-mole S Lithraea molleoides Engl. Aroeira brava S Lonchocarpus muehlbergianus Hass. Embira de sapo S Luehea divaricata Mart. Açoita-cavalo S Machaerium aculeatum Raddi Jacarandá-de-espinho S Maclura tinctoria (L.) Don ex Steud. Amoreira S Matayba elaeagnoides Radlk. Pau-crioulo S Kielmeyera coriacea (Spr.) Mart Pau-santo S Annona cacanswarm. Araticum C Byrsonima coccolobifolia (Spr.) Kunth murici-pequeno C Brossimum gaudichaudii Trécul. Mamica-de-cadela C Cabralea canjerana (Veloso) Martins Canjerana C Campomanesia xanthocarpa Berg. Gabiroba C Copaifera langsdorffii Desf. Óleo copaíba C Euterpe edulismart. Palmiteiro, Jussara C Ilex paraguariensis St.Hil. Erva-mate C Stryphnodendron adstringens (Mart.) Cov Barbatimão-verdadeiro C Lafoensia pacari St.-Hil Dedaleiro C Tabebuia aurea (Silva Manso) S. Moore Ipê-amarelo C Hancornia speciosa Gomez Mangaba C Nectandra rígida (H.B.K.) Ness Canela-amarela C Podocarpus sellowii Klotz. ex Endl. Pinheiro-bravo C Rheedia gardneriana Planch. & Triana Bacupari C 3
A partir da identificação das plantas área, estas vêm sendo associadas aos tipos de solos observados (P a P5), entretanto, esta parte do estudo ainda está em andamento. Porém, nas visitas de campo pode-se observar que onde ocorre o perfil P e P2 predominam as Brachiarias e o capim gordura (Melinis minutiflora), tendo presença insignificante nos outros perfis (P3 a P5). Fruta-de-lobo, guabiroba e murici estão presentes em grande quantidade em todos os perfis avaliados. Embora a área seja pequena e o estudo estar em andamento, o que ocorre na faixa reflete o que acontece na microbacia. CONCLUSÕES Foram identificadas mais de 5 espécies na área e várias gramíneas tradicionais no bioma cerrado, dentre elas o capim gordura (Melinis minutiflora) que só ocorrem no perfil P e P2. Observou-se que a maior parte das arvores na faixa selecionada variam de 3 a 6m de altura. Nas matas de galeria, observou-se arvores que atingem até 25 m de altura. Foram encontrados poucos representantes da família Fabaceae. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COUTINHO, F.; PEREIRA, M.G.; BEUTLER, S.J.; TORRES, J.L.R.; FABIAN, A.J. Avaliação das Limitações ao Uso Agrícola dos Solos do Cefet Uberaba (MG). In: XVII REUNIÃO BRASILEIRA DE MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E ÁGUA, RJ, 28. Anais... RJ, SBCS/EMBRAPA Solos-RJ, 28. CD-ROM. MARCO JUNIOR, P.; VIANNA, M.R.; LIMA, F.P.; LUIZ, E.R.; SAPORETTI JUNIOR, W.; GODOY, B.S. diagnóstico ambiental da unidade I do Cefet de Uberaba, Minas Gerais. Viçosa-MG, 24, 46 p. DRUMOND, M.A.; BARROS, N.F. de; SILVA, A.F. da; MEIRA NETO, J.A.A. Alterações fitossociológicas e edáficas da mata atlântica em função das modificações da cobertura vegetal. Revista Árvore, Viçosa-MG, v.2, n.4, p. 45-466, 996. EMBRAPA/CNPS. Manual de Métodos de Análises de Solos. RJ., 2 ed., 997, 22p. EMBRAPA/CNPS. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. 2 ed., RJ, 26. 36p. MACHADO, R.B.; RAMOS NETO, M. B.; PEREIRA, P. G. P.; CALDAS, E. F.; GONÇALVES, D. A.; SANTOS, N. S.; TABOR, K; STEININGER, M. Estimativa de perda da área do Cerrado brasileiro. Relatório técnico não publicado, Brasília, DF, 24, 2 p. REATTO, A.; COREIA, J.R.; SPERA, S.T.; MARTINS, E.S. Solos do bioma cerrado: aspectos. In: SANO, S.M. (ORG.). Cerrado: ecologia e flora. Brasília: Embrapa Informações Tecnológicas, 28, p. 7-49. 3
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