Evolução do Receptor do Peptídeo Sexual nos anofelinos Neotropicais.

Documentos relacionados
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA

Culicideos (DIPTERA: CULICIDAE) da Coleção Entomológica do Instituto de Pesquisas Cientificas e Tecnológicas do Amapá

ECTOPARASITOS. Prof. Dra. ISABELLA MARTINS Disciplina: Parasitologia Veterinária

Front Matter / Elementos Pré-Textuais / Páginas Iniciales

PRELIMINARY CHARACTERIZATION OF THE rdna ITS-1 INTERNAL TRANSCRIBED SPACER-1 IN THE DROSOPHILA BUZZATII CLUSTER SPECIES (DIPTERA: DROSOPHILIDAE)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E BIODIVERSIDADE UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE BIOLOGIA PROCESSO SELETIVO 2012.

Universidade de São Paulo Faculdade de Saúde Pública

ESTUDO DA FILOGENIA DOS ANOFELINOS BRASILEIROS DO SUBGÊNERO NYSSORHYNCHUS E PADRONIZAÇÃO DA AMPLIFICAÇÃO DOS GENES DO RECEPTOR DO PEPTÍDEO

PROGRAMA DE PG EM BIOLOGIA EXPERIMENTAL - PGBIOEXP


Aedes aegypti, mosquito transmissor e medidas preventivas

NOVOS CARACTERES DIAGNÓSTICOS PARA MOSQUITOS DE INTERESSE MÉDICO: Culex quinquefasciatus E Culex corniger (DIPTERA; CULICIDAE).

Emprego de técnicas morfométricas, espectrometria MALDI-TOF e sequenciamento genético para classificação e filogenia de Culicidae (Diptera)

Paridade de Anopheles cruzii em Floresta Ombrófila Densa no Sul do Brasil

xanthoptica X eschscholtzi; platensis X croceater; sendo

Descreve a história da vida na Terra Investiga os processos responsáveis por essa história

PAULO EDUARDO BRANDÃO, PhD DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA PREVENTIVA E SAÚDE ANIMAL FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA UNIVERSIDADE

ECTOPARASITOS. Prof. Dra. ISABELLA MARTINS Disciplina: Parasitologia

Universidade de São Paulo Instituto de Ciências Biomédicas Laboratório e Evolução Molecular e Bioinformática. Marielton dos Passos Cunha

CASO DE UM MOSQUITO INTENSAMENTE PARASITADO POR LARVAS DE ÁCAROS AQUÁTICOS*

Aedes aegypti: temos competência para controlar, afinal somos Agentes de Saúde

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ ISABEL CRISTINA DE ASSUMPÇÃO

Ecologia e Modelagem Ambiental para a conservação da Biodiversidade

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DOS MINICURSOS

Influência dos Insetos Vetores na Dinâmica Evolutiva do Dengue

10/4/2017 FACULDADE EDUCACIONAL DE MEDIANEIRA SISTEMA REPRODUTOR DOS INSETOS FUNÇÃO: Produzir descendentes férteis. SISTEMA REPRODUTOR DOS INSETOS

ESTOCAGEM DE PRESAS EM VESPAS DO GÊNERO POLYBIA

Busca em banco de dados

DESENHO DE PRIMERS PARA ANÁLISE DO POLIMORFISMO DO GENE MITOCONDRIAL MT-ATP SUBUNIDADE 6 (ATP6) EM PEIXE-REI.

Revista Eletrônica de Biologia

Roedores caviomorfos no túnel do tempo. Yuri Leite UFES-ES

ANÁLISE MITOCONDRIAL DE DIFERENTES CITÓTIPOS DO LAMBARI-DO-RABO-VERMELHO NO RIO MOGI GUAÇU.

Captura de mosquitos antropofílicos (Diptera, Culicidae) em uma área urbana da região oeste da Bahia, Brasil

Aula Prática No 1. Introdução aos conceitos gerais de Biologia do Desenvolvimento

Introdução Seres Vivos

Papavero & Guimarães. Neotropical Diptera. Manual of Neotropical Diptera. Cuterebridae 1

Do Ambiente ao Gene: Disrupção endócrina em invertebrados marinhos e peixes. CIIMAR CCMAR, Laboratório Associado. L. Filipe C. Castro and M. M.

Módulo 6: ESPECIAÇÃO. Profa. Ângela Dauch

Lista de Exercícios - Monitorias

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA, INOVAÇÕES E COMUNICAÇÕES INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA EDITAL Nº 003/2018

26 a 29 de novembro de 2013 Campus de Palmas

FILOGENIA MOLECULAR DE ESPÉCIES DO GÊNERO Chrysoperla (NEUROPTERA, CHRYSOPIDAE), UTILIZANDO OS GENES MITOCONDRIAIS COI E 16S rdna

Delimitação de espécies

SISTEMÁTICA - FILOGENIAS LISTA I 10 QUESTÕES PROFESSOR: CHARLES REIS CURSO EXPOENTE

Universidade de São Paulo Faculdade de Saúde Pública. Sistemática de seis espécies de Anopheles (Nyssorhynchus) Blanchard (Diptera: Culicidae)

BIOINDICADORES INSTITUTO DE QUÍMICA DE SÃO CARLOS UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

MARCADORES MOLECULARES: DO MELHORAMENTO A CONSERVAÇÃO. Aula 10. Maria Carolina Quecine Departamento de Genética

Determinação da Estrutura de Proteínas

FILOGENIA. Leva em consideração as relações de ancestralidade comum entre grupos de espécies, representando uma hipótese das relações evolutivas

Sequenciamento do Motivo de Fosforilação de PEP-Carboxilases de Genótipos de Milho Contrastantes em Responsividade ao Nitrogênio.

PROVA DISCURSIVA. Marcadores moleculares na conservação

Universidade Estadual do Rio Grande do Sul Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental Biologia Aplicada Aula 10

Marcadores Moleculares

5/9/2017 FACULDADE EDUCACIONAL DE MEDIANEIRA SISTEMA REPRODUTOR DOS INSETOS FUNÇÃO: Produzir descendentes férteis. SISTEMA REPRODUTOR DOS INSETOS

Uso de microarrays e RNA-seq para a medida de níveis relativos de transcrição

FLÁVIA VIRGINIO FONSECA MORFOMETRIA GEOMÉTRICA E BANCO DE DADOS NA INVESTIGAÇÃO DE PROBLEMAS BIOLÓGICOS EM CULICIDAE.

TRANSFERÊNCIA REINGRESSO MUDANÇA DE CURSO 2013

Geographical Distribution of Culicinae in Brazil - VI, State of Rio Grande do Norte (Diptera: Culicidae)

Determinação do sexo

Busca em banco de dados

MINISTÉRIO DA SAÚDE FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ INSTITUTO OSWALDO CRUZ. Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical - Mestrado

Reprodução e. Cuidado Parental. Louise M. Alissa.

Aspectos da bioecologiadoaedes aegyptie sua importância em Saúde Pública"

PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL DE UMA ESCOLA MUNICIPAL (ARARA-PB) SOBRE ALGUMAS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS (DENGUE, ZIKA, CHIKUNGUNYA)

METODOLOGIA DA PESQUISA E PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS

Aluna: Carina de Mattos Soares Orientadora: Dra Cídia Vasconcellos Supervisora: Dra Vânia Lucia Ribeiro da Matta

Estudo de microbiomas avícolas: como a metagenômica pode ajudar?

Bioinformática. João Varela Aula T7

Universidade de São Paulo Faculdade de Saúde Pública

MINISTÉRIO DA SAÚDE FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ INSTITUTO OSWALDO CRUZ. Mestrado em Programa de Pós-Graduação Biodiversidade e Saúde

DOI: ARTIGO. Ledayane Mayana Costa Barbosa 1 e Raimundo Nonato Picanço Souto 2

Taxonomia e Sistemática

Principais algoritmos de alinhamento de sequências genéticas. Alexandre dos Santos Cristino

Retrovírus Felinos. Fernando Finoketti

FERRAMENTAS DE SUPORTE LABORATORIAL AO CONTROLE BIOLÓGICO

Filogeografia e Demografia

e Mapeamento gênico em eucariotas

WHY. classification matters?

DANIÉLA CRISTINA CALADO. POLIMORFISMOS EM Anopheles cruzii Dyar & Knab, 1908 DETECTADOS ATRAVÉS DE

DNA recombinante. Nilce M. Martinez Rossi Depto de Genética

Programa Analítico de Disciplina ZOO465 Biotecnologia Aplicada ao Melhoramento Animal

1. (Acafe 2016) Cientistas identificam nova mutação genética relacionada à obesidade.

Aula Prática N 4. Gastrulação Protocolo da Aula 8 (08/05)

Universidade Estadual de Maringá - UEM

CLASSIFICAÇÃO BIOLÓGICA. Taxonomia ou Sistemática: Ciência de organizar, nomear e classificar organismos dentro de um sistema de classificação.

MARCADORES MOLECULARES

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO UNIDADE ACADÊMICA DE SERRA TALHADA PROGRAMA PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO VEGETAL

DESCRITORES: Anophelinae. Malária. Ecótopo. Tocantins. Endereço para correspondência: Welton Aires Andrade.

PROGRAD / COSEAC Padrão de Respostas Biologia

Conceitos de espécie e especiação. Sergio Russo Matioli Departamento de Genética e Biologia evolutiva IB- USP

Impacto de alterações ambientais sobre doenças transmitidas por vectores

PRIMEIRO REGISTRO DA FAMÍLIA SCELEMBIIDAE (EMBIOPTERA) PARA O BRASIL. Cristiano Machado Teixeira 1 Mikael Bolke Araújo 2 Flávio Roberto Mello Garcia 3

MODELAGEM COMPUTACIONAL DE PROTEÍNAS ASSOCIADAS À RESISTÊNCIA A INSETICIDAS EM Anophelesdarlingi ENCONTRADO NA REGIÃO AMAZÔNICA

CLASSIFICAÇÃO DOS SERES VIVOS

POLIMORFISMO DO GENE MITOCONDRIAL MT-ATP SUBUNIDADE 6 (ATP6) NA ESPÉCIE ODONTESTHES HUMENSIS.

Regulação gênica em Eucariotos. Prof. Dr. Marcelo Ricardo Vicari

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA ANIMAL ESTRUTURA CURRICULAR

IMATUROS DE MOSQUITOS (DIPTERA, CULICIDAE) DE ÁREAS URBANA E RURAL NO NORTE DO ESTADO DO PARANÁ, BRASIL 1

Transcrição:

RESSALVA Alertamos para ausência das Páginas prétextuais não incluídas pelo(a) autor(a) no arquivo original. ODA, L.T.E; RIBOLLA, P.E.M. Evolução do Receptor do Peptídeo Sexual nos anofelinos Neotropicais. Instituto de Biociências de Botucatu, 2011. TCC

Evolução do Receptor do Peptídeo Sexual nos anofelinos Neotropicais Letícia T. E. Oda 1* Paulo E. M. Ribolla 1 1 Departamento de Parasitologia, Instituto de Biociências de Botucatu, Universidade Estadual Paulista, Distrito de Rubião Júnior, S/N, CEP 18618-970, Botucatu, São Paulo. * Oda, L.T.E. (letícia.e.o@gmail.com) 1

Resumo A evolução da hematofagia em mosquitos é sem dúvida a adaptação mais importante desse grupo de inseto em termos da miséria humana e dos patógenos transmitidos pelos vetores no mundo de hoje. Por outro lado, os mosquitos têm muito a oferecer à ciência básica, por exemplo, como indicadores da biodiversidade Neotropical. O peptídeo sexual é expresso nas glândulas acessórias dos machos e inseminado nas fêmeas durante a cópula. A ligação deste peptídeo com o seu receptor desencadeia uma vasta resposta comportamental nos mosquitos. Nessa Revisão discutiremos como o estudo do gene codificante do Receptor do Peptídeo Sexual pode auxiliar o estudo das espécies de anofelinos e as possíveis mudanças comportamentais após a alimentação sanguínea, que pode ter influência na epidemiologia da malária. Família Culicidae Atualmente são reconhecidas aproximadamente 3.500 espécies de Culicidae. [1] No entanto, estima-se que esse montante represente apenas um quarto ou, no máximo, metade de todas as espécies de mosquitos presentes na natureza. [2,3] A maioria das pesquisas sobre Culicidae envolve os grupos de maior importância médica e veterinária ou as espécies que são consideradas pragas urbana. Os mosquitos que: (1) não são atraídos pelo homem e/ou animais domésticos, (2) raramente ocorrem em elevada densidade porque eles se desenvolvem em habitats representados por coleções hídricas pequenas (fitotelmatas), ou (3) estão restritos aos habitats preservados e distantes da população humana, têm recebido menos atenção e por isso são pouco conhecidos. Paralelamente, muitos estudos taxonômicos envolvendo culicídeos foram direcionados para discriminar espécies e não para estabelecer grupos monofiléticos. São poucos os estudos filogenéticos que estimaram as relações evolutivas supra-específicas e entre grupos hierárquicos superiores. [4,5,6] 2

A família Culicidae consiste de duas subfamílias, Anophelinae e Culicinae, e está dividida em 11 tribos Aedeomyiini, Aedini, Culicini, Culisetini, Ficalbiini, Hodgesiini, Mansoniini, Orthopodomyiini, Sabethini, Toxorhynchitini, e Uranotaeniini. [5,7,8] Os especialistas em Culicidae contam com catálogos de mosquitos que incorporam a história taxonômica das espécies. [9,10,11,12,13] De acordo com os dados disponíveis nos catálogos, nota-se que foram descritas aproximadamente 5.100 espécies das quais 3.500 são aceitas como válidas. [1] Harbach [4] sugeriu que possam existir de três a cinco vezes mais espécies se considerarmos a presença de complexos de espécies crípticas. Nesse sentido, com base nas descobertas de espécies de Anopheles, usando combinação de taxonomia morfológica, citotaxonomia, comportamento e seqüências de DNA, acredita-se que existam aproximadamente 2.000 espécies para serem descobertas. Possivelmente, a maioria das ocorrências será registrada na Região Neotropical. Gênero Anopheles O gênero Anopheles tem recebido mais atenção do que qualquer outro grupo de mosquitos em relação aos aspectos de evolução e classificação [14,15,16,17,18,19]. A sistemática de Anophelinae atingiu o apogeu dos estudos morfológicos clássicos na década de 1980 e agora está dominada pelo uso de ferramentas moleculares tanto para o estabelecimento das relações evolutivas entre espécies como entre táxons supraespecíficos. A maioria dos estudos filogenéticos de Anopheles envolve níveis inferiores de classificação, principalmente grupos, subgrupos e complexos de espécies que participam do ciclo de transmissão da malária humana. Dessa maneira, o impacto na classificação interna de Anophelinae tem sido pequeno. [20] Vale assinalar, que os resultados de estudos moleculares corroboraram o monofiletismo de grupos definidos por caracteres 3

morfológicos, como é o caso dos subgêneros Nyssorhynchus Blanchard e Kerteszia Theobald. [17] A identificação das espécies do subgênero Nyssorhynchus é dificultada pela presença de polimorfismos e pela sobreposição dos caracteres morfológicos utilizados para a identificação das espécies. Marrelli [21] empregaram seqüências de bases nitrogenadas do ITS2 do DNA ribossômico para revisar o status taxonômico de An. oswaldoi. Dessa maneira, os autores sugeriram que An. oswaldoi compreende complexo de pelo menos quatro espécies crípticas, entre elas An. konderi Galvão e Damasceno. As duas espécies são morfologicamente semelhantes, mas podem ser separadas pela forma de porção apical do edeago da genitália masculina. Marrelli [22] observaram a existência de múltiplas seqüências de ITS2 que foram geradas e depositadas no GenBank a partir de indivíduos identificados de maneira, provavelmente, incorreta. Infelizmente, não existem espécimes testemunhas da maioria das seqüências depositada no GenBank. Obviamente, se existissem espécimes testemunhas, seria possível reavaliar se as seqüências foram geradas de indivíduos identificados incorretamente ou se são indicativas da existência de complexos de espécies crípticas A cópula Durante a cópula, uma grande quantidade de peptídeos e proteínas é inseminada nas fêmeas pelos machos. Dentre estes produtos, um peptídeo, denominado Peptídeo Sexual (PS), após ser inseminado, se liga a ao Receptor do Peptídeo Sexual (SPR) que promove diversas modificações comportamentais. Dentre estas modificações podemos destacar: indução da postura de ovos, aumento da longevidade, recusa da cópula com outros parceiros, aumento do consumo de alimento e mudança da escolha do alimento. [23] Algumas dessas modificações são dependentes apenas da ligação de SP em SPR, uma vez que experimentos com Drosophilas mutantes nulas para o receptor SPRnull 4

mostram que não há a mudança de comportamento após a cópula. [24] Estes experimentos, realizados principalmente em Drosophila melanogaster demonstram o papel que estas proteínas (SP e SPR) podem ter no processo de especiação. Modificações, tanto no peptídeo como em seu receptor, podem representar barreiras no processo reprodutivo, gerando novas espécies. Em mosquitos, apesar das proteínas não estarem totalmente caracterizadas, este processo de mudança comportamental após a cópula também ocorre. [25,26] Especificamente em mosquitos vetores, esta mudança comportamental pode representar significativas mudanças epidemiológicas na transmissão de patógenos. Tomemos como exemplo, a mudança de preferência alimentar que ocorre em Drosophila melanogaster após a cópula. [23] O peptídeo encontrado no macho de Drosophila (SP, or Acp70A for Accessory gland protein cytological localization 70A) induz aproximadamente doze respostas na fase pós-cópula, juntamente com a proteína do ducto ejaculatório, localizado citologicamente 99B (DUP99B) elucidando o aumento da ovoposição e redução da receptibilidade.[23,28] (Figura 1.) Paralelamente, esta mudança em um mosquito vetor, representaria um aumento na probabilidade de obtenção de uma dieta protéica, ou seja, de um repasto sanguíneo em um hospedeiro vertebrado.. 5

Figura 1. Resposta pós-cópula pelo peptídeo sexual (SP) e DUP99B via receptor do peptídeos sexual (SPR) em D. melanogaster. SP induz resposta imune, síntese de hormônios juvenis que se ligam ao esperma [4]. As letras em vermelho o caminho da sinalização da escolha nutricional nas fêmeas de Drosophila; as linhas não pontilhadas caracterizam as interações diretas. Um estudo relacionado com ligantes ancestrais de SPR encontrou o MIP (Myoinhibitory Peptides) como sendo uma segunda família de ligantes conservados para o SPR além do SP. Os MIPs são fortes agonistas de Drosophila, Aedes de SPR in vitro, mas não são capazes de produzir respostas pós-cópula em vivo. [29]. Outros estudos como o da Proteína da Glândula Reprodutora de machos (mrgp) feito com Aedes aegypti que identificou várias proteínas derivadas do órgão reprodutor dos machos e que são transferidas para as fêmeas durante a cópula e sua interação nas fêmeas por algum receptor influência assim os comportamentos alterados após a cópula. [25] Método de discriminar as espécies Utilizando as ferramentas da biologia molecular atualmente podemos fazer uma análise mais específica para tentar diferenciar espécies umas das outras, ainda mais quando essa é caracterizada como espécie críptica, ou seja, morfologicamente idênticas. Muitos trabalhos utilizam as sequencias de ITS como marcadores moleculares para diferenciar espécies, como o estudo que conseguiu distinguir através de ITS2 as 6

espécies Aedes aegypti de Aedes albopictus obtendo diferentes pesos dos amplicons respectivamente. Essa região do ITS2 produziu dois fragmentos distintos com aproximadamente 330pb e 520pb para Aedes aegypti e Aedes albopictus respectivamente. [29] Outro estudo também utilizou o marcador ITS2 para diferenciação do gênero Culex, o qual possui uma complexa história taxonômica e uma dificuldade de diferenciar as espécies usando apenas os critérios de morfológicos tradicionais. A identificação morfológica desses mosquitos é difícil porque muitas espécies de Culex são morfologicamente similares. [30,31] No trabalho foram feitas amplificações da região ITS2 em várias espécies de Culex, seguida de clonagem para posterior seqüenciamento e alinhamento para análise. E apesar da heterogeneidade observada pela amplificação da região do ITS2, foi visto que indivíduos da mesma espécie foram agrupados, correlacionados e morfologicamente classificados, mostrando assim que o marcador utilizado é apropriado para diferenciação taxonômica dessa espécie.[32] Novo marcador Com todas as informações dadas e pensando no estudo dos anofelinos neotropicais os quais são importantes para a saúde pública, a criação de um marcador originado a partir do receptor do peptídeo sexual iria auxiliar na classificação taxonômica dos mosquitos do gênero Anopheles. Observando a presença desse receptor nas três principais espécies de mosquitos, Drosophila melanogaster, Aedes aegypti e Anopheles gambie, um possível alinhamento das sequencias desses receptores e a seleção das partes conservadas para o desenho de oligonucleotídeos seria um início do desenvolvimento. Pelas análises das reações de PCR a partir dos oligonucleotídeos e posteriormente sua clonagem e seqüenciamento, a análise das sequencias poderia nos fornecer positivos. 7

A idéia de utilizar o SPR no estudo filogenético de anofelinos vem do fato desse gene poder ter papel importante na especiação, uma vez que ele participa de processos importantes que ocorrem após a cópula. Até o momento, não existem trabalhos utilizando esse marcador. Referências 1 Harbach, R.E., Howard, T.M. (2007) Index of current recognized mosquito species (Díptera: Culicidae). European Mosquito Bulletin. 23:1-6 2 Belkin, J.N.(1962) The Mosquitoes of the South Pacific (Diptera, Culicidae). Vols I & II. University of California Press, Berkeley & Los Angeles. 3 Zavortink, T.J.(1990) Classical taxonomy of mosquitoes. A memorial to John N. Belkin. J. Am. Mosq. Control Assoc. 6:596-99. 4 Harbach, R.E. (2007) The culicidae (Díptera): a review of taxonomy, classification and phylogeny, pp.591-688. In: Zhang, Z.-Q. & Shear, W.A (Eds), Linnaeus Tercentenary: Progress in Invertebrate Taxonomy. Zootaxa. 1669:1-766. 5 Rerdenbach, K.R., Cook, S., Bertone, M.A., Harbach, R.E.Wiegmann, B.M., Besansky, N.J. (2009) Phylogenetc analysis and temporal diversification of mosquitoes (Díptera: Culicidae) based on nuclear genes and morphology. BMC. Evol. Biol. 9:298. 6 Bourke, B.P., Forster, P.G., Bergo, E.S., Calado, D.C., Sallum, M.A. (2010) Phylogenetic relationships among species of Anopheles (Nyssorhynchus) (Diptera, Culicidae) based on nuclear and mitochondrial gene sequences. Acta Trop. 2010 May;114(2):88-96. 7 Harbach, R.E., Kitching, I.J.(1998) Phylogeny and classification of the Culicidae (Díptera). Syst. Entomol. 23:327-70 8

8 Harbach, R.E. (2007) The culicidae (Díptera): a review of taxonomy, classification and phylogeny, pp.591-688. In: Zhang, Z.-Q. & Shear, W.A (Eds), Linnaeus Tercentenary: Progress in Invertebrate Taxonomy. Zootaxa. 1669:1-766 9 Knight, K.L., Stone, A.(1977) A catalog of the mosquitoes of the world (Díptera: Culicidae). Second edition. Thomas Say Foundation. 6:1-611. 10 Knight, K.L.(1978) Supplement to a catalog of the mosquitoes of the world (Díptera: Culicidae). Thomas Say Foundation, Entomol. Soc. Am. Vol 6 (Suppl.), 107p. 11 Ward, R.A.(1984) Second supplement to andquot; A catalogo f the mosquitoes of the world (Díptera: Culicidae). Mosq.Syst. 16:277-270. 12 Ward, R.A. (1992)Third supplement to andquot; A catalog of the mosquitoes of the world (Díptera: Culicidae). Mosq. Syst. 24:177-230. 13 Guimarães, J.H.(1997)Systematic database of Díptera of the Americas South of the United States (Family Culicidae). São Paulo, Editora Plêiade/Fapesp. 286pp. 14 Foley, D.H., Bryan, J.H., Yeates, D., Saul, A.(1998) Evolution and systematic of Anopheles: insights from a molecular phylogeny of Australasian mosquitoes. Mol. Phylogenet Evol. 9:262-75 15 Krzywinski, J., Wilkerson, R.C., Besansky, N.J. (2001) Evolution of mitochondrial and ribosomal gene sequences in anophelinae (Díptera: Culicidae): implications for phylogeny reconstruction. Mol. Phylogenet. Evol. 18:479-87. 16 Sallum, M.A.M., Schultz, T.R., Wilkerson, R.C. (2000) Phylogeny of Anophelinae (Díptera: Culicindae) based on morphological characters. Ann. Entomol. Soc. Amer. 93:745-775. 17 Sallum, M.A.M., Schultz, T.R., Foster, P.G., Aronstein, K., Wirtz, R.A., Wilkerson, R.C. (2002)Phylogeny of Anophelinae (Díptera: Culicidae) based on nuclear ribosomal and mitochondrial DNA sequences. Syst. Entomol. 27:361-82. 9

18 Collucci, E., Sallum, M.A.M. (2003) Phylogenetic analysis of the subgenus Kertezia of Anopheles (Diptera: Culicidae: Anophelinae) based on morphological characters. Insect Syst Evol 34:361-72. 19 Harbach, R.E., Kitching, I.J.(2005) Reconsideration of anopheline phylogeny (Díptera: Culicidae: Anophelinae) based on morphological data. Syst. Biodiversity. 3:345-74. 20 Harbach, R.E. (2004) The classification of genus Anopheles (Díptera: Culicidae): a working hypothesis of phylogenetic relationships. Bull. Entomol. Res. 94:537-53. 21 Marrelli, M.T., Malafronte, R.S., Flores-Mendoza, C., Lourenço-de- Oliverira, R., Kloetzel, J.K., Marinotti, O.(1999) Sequence analysis of the second internal transcribed spacer of ribosomal DNA in Anopheles aswaldoi (Díptera: Culicidae). J. Med. Entomol. 36:679-84. 22 Marrelli, M.T., Sallum, M.A., Marinotti, O. (2006) The second internal transcribed space of nuclear ribosomal DNA as a tool for Latin American anopheline taxonomy- a critical review. Mem. Inst. Oswaldo Cruz. 101:817-32. 23 Kubli, E. (2010) Sexual Behavior: Dietary Food Switch Induced by Sex. Current Biology. Vol. 20, No 11. 24 Ribeiro, C., Dickson, B.J.(2010) Sex peptide receptor and neuronal TOR/S6K signalling modulate nutrient balancing in Drosophila. Curr. Biol. 20, 1000-1005. 25 Sirot, L.K., Poulson, R.L., Mckenna, M.C., Girnary, H.,Wolfner, M.F., HarringtonN, L.C. (2008) Identity and transfer of male reproductive gland proteins of the dengue vector mosquito, Aedes aegypti: potential tools for control of female feeding and reproduction. Insect Biochem. Mol. Biol. 38:176-189. 26 Dottorini, T., Nicolaides, L., Ranson, H., Rogers, D.W., Crisant, A., Catteruccia, A. F.(2007) A genome-wide analysis in Anopheles gambiae mosquitoes reveals 46 male accessory gland genes, possible modulators of female behavior. PNA. vol. 104. no. 41:16215 16220. 10

27 Kubli, E. (2007) Sexual behaviour: A receptorfor sex control in Drosophila females. Curr. Biol. 18, R210 R212. 28 Kim, Y-J., Bartalska, K., Audsley, N., Yamanaka, N., Yapici, N., Lee, J-Y., Kim, Y-C., Markovic, M., Issac, E., Tanaka, Y., Dickson, B. J.(2010) MIPs are ancestral ligands for the sex peptide receptor. Proc Natl Acad Sci 107(14): 6520 6525. 29 Dhananjeyan, K.J., Paramasivan, R.,Tewari, S.C., Rajendran, R., Thenmozhi, V., Victor J. L.S., Venkatsh, A., Tyagi, B.K. (2010) Tropical Biomedicine 27(1): 47 53. 30 BRAM, R.A. (1967) Classification of Culex subgenus Culex in the New World (Diptera, Culicidae). Proc US Nat Hist Mus 120: 1-122. 31 Williams, M.R., Savage, H.M. (2009) Identification of Culex (Melanoconion) species of the United States using female cibarial armature (Diptera: Culicidae). J Med Entomol 46: 745-752. 32 Vesgueiro, F. T., Silva-Demari, B., Malafronte, S. S., Sallum, M. A. M., Marelli, M. T. (2011) Mem Inst Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Vol. 106(1): 1-8. 11