A criação de abelhas nativas em propriedades agroecológicas no Leste de Minas Gerais

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Transcrição:

12506 - A criação de abelhas nativas em propriedades agroecológicas no Leste de Minas Gerais The creation of native bees in agro-ecological properties in eastern Minas Gerais FERRARI, Fernando Godoy 1 1 Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativa, fernando@rede-mg.org.br Resumo: A Rede de Intercâmbio de Tecnologias (Rede), ONG que atua na construção e consolidação de experiências agroecológicas em cinco munícipios do Leste de Minas Gerais, adotou a estratégia de difusão e multiplicação da criação de abelhas nativas (meliponicultura) no início de 2010. Este trabalho foi direcionado para as famílias de agricultores(as) que fazem parte dos grupos formais e informais diretamente envolvidos nas atividades da Rede. A partir dos conhecimentos de um agricultor multiplicador, foram realizados cursos, mutirões para construção de caixas de abelhas nativas e acompanhamento técnico nas propriedades. Foram implementadas 62 caixas de abelhas nativas em 14 propriedades, inclusive na área de uma Escola Família Agrícola. As famílias relataram alguns benefícios da meliponicultura, tais como o consumo e venda do mel, pólen e própolis e o aumento da produtividade de algumas culturas, como o café e o abacate, proporcionada pela polinização das abelhas. Palavras-Chave: agroecologia, meliponicultura, agricultor multiplicador, Mata Atlântica. Contexto A região Leste de Minas Gerais compõe o Bioma Mata Atlântica, uma das reservas de biodiversidade mais ameaçadas do planeta. A vegetação original é caracterizada principalmente por floresta estacional semidecidual formada por latifoliadas. A agricultura familiar ocupa a maior parte do espaço rural, sendo a responsável pela base da economia da região. A introdução da cultura do café e da pecuária, fundamentadas em políticas e práticas convencionais, trouxeram uma série de impactos negativos para a região, como a devastação das florestas, a redução e extinção de espécies nativas, esgotamento de nascentes de água, a erosão dos solos, a contaminação das pessoas e do meio ambiente pelo uso excessivo e indevido de agrotóxicos, o endividamento e perda da autonomia das famílias de agricultores e agricultoras e o êxodo rural. Apesar do histórico de degradação, restam na região muitos fragmentos de matas, sendo os maiores deles considerados hoje áreas de proteção, A Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas (Rede), Organização Não Governamental (ONG), atua desde meados dos anos 90 na região Leste de Minas, nos municípios de Caratinga, Manhuaçu, Simonésia, São João do Manhuaçu e Conceição de Ipanema. O principal objetivo é a promoção do desenvolvimento sustentável através da construção e o apoio à consolidação de experiências agroecológicas da agricultura familiar. No início de 2010, a Rede começou um trabalho de incentivo e difusão da meliponicultura (criação de abelhas nativas), como parte do conjunto de estratégias e ações voltadas para Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 6, No. 2, Dez 2011 1

o fortalecimento das experiências agroecológicas da região. Entre os objetivos para a adoção desta estratégia estão a preservação do bioma Mata Atlântica; o aumento da população de algumas espécies de abelhas nativas que se encontram em risco de extinção; a maior segurança alimentar das famílias pelo consumo de mel e pólen; a saúde das famílias pelo uso medicinal do pólen, própolis e mel; a geração de renda pela venda do mel, própolis e pólen; o baixo custo da atividade; o fácil manejo que pode ser realizado por toda a família e o aumento da produtividade de algumas culturas agrícolas promovida pela polinização das abelhas nativas. Descrição da experiência Esta experiência começou a partir da identificação do José Antônio de Abreu Neto, um agricultor que cria abelhas nativas no município de Simonésia. José Antônio dedicou muitos anos na transição agroecológica de sua propriedade. Atualmente, a propriedade é sustentável, diversificada e produtiva, sem o uso de adubos químicos e agrotóxicos. A idéia de criar abelhas nativas surgiu durante esse processo por iniciativa própria de José Antônio, que buscou diferentes formas de capacitação, como cursos, leituras, observação e identificação das abelhas nativas existentes na região. Com isto, conseguiu construir um meliponário (local de criação de abelhas nativas) que se tornou uma importante fonte de renda pela venda de mel e pólen no mercado informal (venda direta para os vizinhos e conhecidos), além de trazer benefícios para a propriedade e para a família A primeira estratégia adotada pela Rede foi de apoiar a experiência e tornar José Antônio um multiplicador desta tecnologia. Ele possui uma boa capacidade oral e consegue passar os conhecimentos técnicos em uma linguagem mais simples e acessível para os(as) agricultores(as). A Rede também promoveu atividades para melhorar a capacitação técnica de José Antônio, como sua participação em um Congresso de Apicultura e Meliponicultura realizado em 2010 no Mato Grosso. Esta difusão do seu conhecimento foi direcionada para os grupos formais e informais de agricultores(as) diretamente envolvidos com os trabalhos nos cinco municípios de atuação da Rede. Os grupos formais correspondem a duas associações em Caratinga, três associações em Simonésia, uma cooperativa em Manhuaçu, uma Escola Família Agrícola em Conceição de Ipanema e três associações em São João do Manhuaçu. Estes grupos foram escolhidos porque participaram, durante anos, de uma série de atividades promovidas pela Rede e as organizações locais com o objetivo de consolidar as experiências agroecológicas. Neste sentido, a tecnologia da criação de abelhas nativas entrou como um complemento no conjunto de práticas agroecológicas realizadas e implantadas nos agroecossistemas das propriedades. Além disto, a abertura destes grupos para adotar esta nova tecnologia é facilitada pela sensibilização com a Agroecologia e a confiança nos trabalhos da Rede. No primeiro momento foram realizados cursos, ministrados por José Antônio em cada uma destas comunidades. Para a realização destes cursos, a Rede apoiou metodologicamente José Antônio para garantir espaços participativos e a abordagem dos conteúdos essenciais. Os principais conteúdos abordados foram a ecologia das espécies de abelhas, identificação das abelhas, instalação do meliponário, manejo, construção das caixas das abelhas nativas, formas ecológicas de captura das abelhas, divisão de enxames, mercado, extração do mel, pólen e própolis e legislação. Os objetivos centrais destes cursos foram de mostrar a importância destas abelhas para a natureza, o fácil 2 Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 6, No. 2, Dez 2011

manejo e todos os benefícios que esta atividade pode trazer para a família. O próximo passo foi o incentivo e a promoção de mutirões para a construção de caixas de abelhas nativas nas comunidades onde foram realizados os cursos. Os mutirões foram realizados em propriedades que possuíam uma pequena serraria. A Rede forneceu as madeiras para a construção das caixas. Segundo os(as) agricultores(as), estes mutirões foram muito importantes para aprenderem sobre as medidas certas para a construção das caixas. Em média foram construídas 30 caixas por mutirão e cada agricultor levou sua caixa para casa. O objetivo central destes mutirões foi dar autonomia para os(as) agricultores(as) construírem suas próprias caixas e a motivação para iniciarem a atividade. Durante e após o período de realização dos cursos e mutirões, foram realizadas visitas de acompanhamento com a presença de José Antônio nas propriedades que solicitaram este apoio (visitas ainda em andamento). Estas visitas foram solicitadas feitas pelas famílias através do contato direto com a Rede ou pelas organizações locais. O objetivo central destes acompanhamentos foi o apoio técnico na captura ecológica de enxames, uma das etapas mais difíceis e críticas para o início da criação de abelhas nativas. Porém foram demandados outros apoios técnicos, tais como a divisão de enxames para multiplicação das abelhas e a manutenção de enxames nas caixas. Como apoio para todas estas atividades foi elaborada uma cartilha sobre o manejo de abelhas nativas, incorporando os conhecimentos locais com os conhecimentos científicos e de outras experiências. Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 6, No. 2, Dez 2011 3

Resultados Colocaremos dois indicadores como apoio para a apresentação, análise e discussão dos resultados: O primeiro indicador é a quantidade de caixas colonizadas por espécies de abelhas nativas e em quantas propriedades as mesmas estão instaladas. Consideramos o período em que esta experiência começou de forma concreta na região, que vai de fevereiro de 2010 até o momento presente. É um tempo relativamente curto para o desenvolvimento da meliponicultura, que acontece de forma processual. A Rede registrou 62 caixas colonizadas por espécies de abelhas nativas, principalmente Mandaçaia (Melipona quadrifaciata) e Jataí (Tetragonisca angustula), em 14 propriedades nos municípios de Simonésia, São João do Manhuaçu, Manhuaçu, Caratinga e na Escola Família Agrícola (EFA) em Conceição de Ipanema. A etapa inicial da implementação da meliponicultura, de acordo com a metodologia adotada pela Rede, está sendo um dos principais desafios, pois a captura de enxames é lenta e exige cuidados ambientais, como a não retirada de enxames localizados no caule e galhos de árvores vivas. Uma forma de amenizar esta dificuldade seria o financiamento para a compra de caixas colonizadas em meliponários regularizados. No entanto, a Rede não pretende mudar a estratégia adotada, pois pode haver algum impacto ambiental ao se trazer abelhas de outras regiões, mesmo sendo das mesmas espécies encontradas no Leste de Minas. Além disto, existe a expectativa de que a multiplicação dos enxames aumente muito a partir da divisão dos enxames das primeiras caixas instaladas. O segundo indicador é o impacto, percebido pelos(as) agricultores(as), das primeiras caixas colonizadas por abelhas nativas instaladas nas propriedades. Algumas famílias observaram o aumento da produtividade de algumas culturas, tais como abacate e as árvores de café, depois da instalação das caixas colonizadas nas propriedades. Em 4 Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 6, No. 2, Dez 2011

outras propriedades ainda não foram percebidos impactos diretos nas culturas agrícolas, provavelmente devido à pequena quantidade de caixas instaladas e ao pouco tempo de início da atividade nestas propriedades. No entanto, as famílias relataram que já utilizaram mel, pólen e própolis para o consumo, e algumas já chegaram utilizar o própolis para fins medicinais e a comercializar alguns potinhos de mel com os vizinhos. Diante deste quadro, alguns desafios foram apontados pela Rede e pelas famílias. A meliponicultura será incorporada pelas famílias no médio e longo prazo? A meliponicultura será difundida para outras propriedades sem a intervenção da Rede, ocorrendo de forma natural? Será possível a comercialização dos produtos (mel, pólen e propólis) das abelhas em mercados diferentes (feiras, comércios locais, entre outros) do mercado informal? Será possível a regularização da meliponicultura na região? A meliponicultura vai aumentar a produtividade de algumas culturas agrícolas através da polinização das abelhas? Em relação à difusão da meliponicultura, a Rede espera que estas primeiras experiências concretas sejam as principais multiplicadoras da atividade. Porém, ainda é necessário promover atividades de capacitação (cursos, acompanhamento, entre outros) e fomento da atividade com as primeiras famílias envolvidas. A partir de uma possível consolidação da produção foi apontada a necessidade de um apoio da Rede na regularização, beneficiamento dos produtos e na logística de entrega. Existem mercados criados na região para receber produtos agroecológicos das propriedades envolvidas, como as feiras de Caratinga e Simonésia. Estes mercados poderiam ser uma porta de entrada para a comercialização dos produtos da meliponicultura. Também foi apontada a necessidade de realizar pesquisas acadêmicas para avaliar os impactos da meliponicultura no aumento da produtividade de algumas culturas agrícolas. Neste sentido, a Rede buscará uma parceria com o departamento de meliponicultura da Universidade Federal de Viçosa. Agradecimentos Agradecemos as famílias de agricultores(as) que participaram deste processo, a equipe da Rede, a parceria do Re.Te (ONG) e ao Ministério Italiano (MAE) pelo financiamento do projeto. Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 6, No. 2, Dez 2011 5