PRODUÇÃO DE GRÃOS E DECOMPOSIÇÃO DOS RESÍDUOS CULTURAIS DE MILHO E SOJA EM FUNÇÃO DAS PLANTAS DE COBERTURA RODRIGUES JÚNIOR, D.J. 1 ; TORRES, J.L.R 2.; PEREIRA 3, M.G.; FABIAN 4, A.J. 1 Graduando do 5º período do curso de zootecnia, bolsista FAPEMIG/PIBIC do Instituto Federal de Educação e Tecnologia Triângulo Mineiro (IFTM) Campus Uberaba MG- Rua João Batista Ribeiro, 4000 Bairro Mercês, Fone: (34) 3319 6000, e-mail: dilsonjrzoot@hotmail.com 2 Professor Doutor em Produção Vegetal do IFTM-Uberaba-MG, e-mail: jlrtorres@iftriangulo.edu.br 3 Professor Doutor em Ciência do Solo do Deptº de Solo da UFRRJ, e-mail: gervasio@ufrrj.br 4 Professor Doutor em Produção Vegetal do IFTM-Uberaba-MG, e-mail: ajfabian@iftriangulo.edu.br Resumo- A produção de fitomassa e decomposição dos resíduos culturais são atributos importantes no estudo da ciclagem de nutrientes e estão diretamente relacionados às condições climáticas locais. Diante disso, neste estudo avaliou-se a taxa de decomposição dos resíduos culturais de milho e soja sobre cinco coberturas de solo. Utilizou-se um delineamento em blocos ao acaso e quatro repetições em parcelas de 10,0 x 18,0 m, onde a decomposição dos resíduos culturais do milho e da soja foi avaliada sobre cinco tipos de cobertura, no período outono/inverno: braquiária, crotalária juncea, milheto, pousio (vegetação espontânea) e sem cobertura (plantio convencional). Utilizaram-se sacolas de nylon para avaliar a decomposição dos resíduos culturais. A produção de fitomassa do milho não foi influenciada pelas coberturas do solo, enquanto que para soja, a área sobre plantio convencional apresentou produção de fitomassa superior às outras coberturas; a decomposição dos resíduos culturais do milho é mais lenta quando comparada aos da soja, em decorrência da sua maior relação C/N, heterogeneidade de material e quantidade de resíduos. A decomposição dos resíduos de milho e soja foi influenciada pelas condições climáticas desfavoráveis do período. Não ocorreram diferenças significativas com relação à produtividade do milho e soja sobre as coberturas avaliadas. Palavras-Chave: gramínea, leguminosa, precipitação, plantio direto INTRODUÇÃO Estudos têm mostrado que algumas coberturas de solo, dentre elas, braquiária, milheto, crotalária e pousio são coberturas vegetais com boa adaptação ao cerrado e que produzem resíduos vegetais em quantidade e qualidade adequada para ocorrer à cobertura do solo (TORRES et al., 2008; FABIAN, 2009). Entretanto, a manutenção destes resíduos sobre o solo e sua posterior decomposição tem sido uma variável importante na ciclagem de nutrientes, que tem contribuído para aumentar a produtividade do milho (LARA CABEZAS et al., 2004) e da soja (CARVALHO et al., 2004) ou manter as produtividades destas culturas. Contudo, poucos estudos têm
mostrado qual a participação dos resíduos culturais deixados pelo milho e soja, após a colheita, neste processo normalmente a velocidade da decomposição dos resíduos é controlada principalmente pela relação C/N e teor de lignina, pelo manejo que define o tamanho dos fragmentos e pela ação do clima, principalmente temperatura do ar e precipitação (FABIAN, 2009). Estudando a decomposição da palha de milho e de aveiapreta, Wisniewski & Holtz (1997) observaram que houve uma redução média de 49% e 71 % do peso da palha destas culturas, respectivamente, no período de 149 dias. Atribuíram à decomposição mais lenta da palha do milho, a temperatura do ar e do solo que são menos favoráveis à decomposição no inverno, a maior relação C/N (43:1), a maior proporção de material lignificado (colmos e sabugos) e à maior quantidade de material adicionado inicialmente. Enquanto que para soja, não foram encontrados registros com relação a sua taxa de decomposição. Diante deste contexto, neste estudo avaliou-se a produção de fitomassa e a taxa de decomposição dos resíduos culturais de milho e soja, sobre diferentes coberturas de solo. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi desenvolvido na área experimental do IFTM-Uberaba-MG, no município de Uberaba-MG, localizado a 19º39 19 S e 47º57 27 W, numa altitude de 795 metros. As médias mensais de temperatura e precipitação nos últimos três anos são apresentadas na Figura 1 (UBERABA, 2007). O clima da região é classificado como Aw, tropical quente, segundo Köppen, apresentando inverno frio e seco. O solo da área foi classificado como Latossolo Vermelho distrófico (EMBRAPA, 2006) de textura franco-argilo-arenosa, ph CaCl 2 5,5; 76 mg dm -3 de P (resina); 2 mmol c dm -3 de K; 22 mmol c dm -3 de Ca 2+ ; 10 mmol c dm -3 de Mg 2+ ; 17 mmol c dm -3 de H+Al e 19 g dm -3 de MO. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, no esquema em faixas, com quatro repetições. Os tratamentos utilizados foram cinco coberturas do solo: T1 = braquiária (Brachiaria brizantha), T2 = crotalária juncea (Crotalaria juncea), T3 = milheto (Pennisetum americanum sin. tiphoydes), T4 = pousio (vegetação espontânea) e T5 = sem cobertura (plantio convencional), com duas culturas de verão: soja e milho, totalizando 10 parcelas por bloco experimental. Na área de pousio observou-se o predomínio de gramíneas. As plantas de cobertura foram semeadas na primeira semana de abril de 2007 e manejadas com uso de roçadora quando atingiram pleno florescimento no final de junho (T2 e T3), enquanto que as parcelas contendo a braquiária e o pousio continuaram seu desenvolvimento. No final de outubro dessecou-
se a área total. Após a dessecação das coberturas, as parcelas foram subdivididas ao meio, em subparcelas de 5 x 18 m (90 m 2 ), sendo semeados milho e soja em faixas, sobre estes resíduos culturais, na primeira semana de novembro. A avaliação da produção de fitomassa seca (FS) e produtividade de milho e soja foram realizadas para uma população de 55.000 e 220.000, respectivamente. A amostragem foi realizada no ponto de máximo florescimento das culturas, em dois pontos ao acaso em cada parcela, numa área de 1,0 m 2, de forma aleatória. Todo o material vegetal foi levado ao laboratório, colocado em estufa de circulação forçada a 65ºC por 72 horas, sendo posteriormente pesado e os resultados expressos em kg ha -1. Este material seco foi picado em pedaços (0,05 m), homogeneizados e armazenados em local adequado. Após a colheita das culturas anuais (milho e soja) em março de 2008, o material picado e seco foi utilizado para determinação da taxa de decomposição. Para a avaliação desta decomposição foi empregado o método das sacolas de nylon (litter bags) conforme detalhado por Torres et al. (2008). Os resultados foram submetidos à análise de variância, teste F para significância. Quando significativo, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey (p<0,05). Foram elaboradas equações matemáticas que representam à decomposição de FS remanescente, usando o software Sigmaplot 8.0. RESULTADOS E DISCUSSÃO Durante a colheita das culturas de verão, grande parte dos resíduos culturais é distribuída sobre a superfície do solo, principalmente na cultura do milho que são compostos por colmos, sabugos e folhas secas, enquanto na soja a quantidade é inferior e composta principalmente por ramos e vagens secas. Com relação à produção de FS de milho sobre as coberturas de solo, observou-se que não ocorreram diferenças significativas (Tukey 5%) entre crotalária (9,8 Mg ha -1 ), milheto (9,8 Mg ha -1 ), sem cobertura (plantio convencional) (9,5 Mg ha -1 ) e pousio (9,2 Mg ha -1 ), enquanto para a soja, a maior quantidade de resíduos foi observada na área sem cobertura (7,7 Mg ha -1 ), que diferiu significativamente da crotalária (6,1 Mg ha -1 ), milheto (4,8 Mg ha -1 ), pousio (4,5 Mg ha -1 ) e braquiária (4,5 Mg ha -1 ). Os valores observados para produção de fitomassa estão próximos aos 9,8 Mg ha -1 de palha obtidos para o milho e superiores aos 1,2 Mg ha -1 quantificados para soja por Wisniewski & Holtz (1997). Avaliando a taxa de decomposição dos resíduos vegetais de milho e soja sobre os cinco tipos de cobertura de solo, pode-se observar que a decomposição foi lenta para todas as coberturas e que os
resíduos da soja decompuseram mais rapidamente quando comparados aos do milho (Figura 2A, B, C, D e E). Fabian (2009) observou que nas áreas cultivadas com milho, quando comparadas à soja, ocorre maior teor de matéria orgânica na camada superficial do solo, devido à maior produção de FS e decomposição mais lenta. A decomposição dos resíduos culturais de milho e soja na área sobre plantio convencional foi idêntica ao longo de todo o período estudado (Figura 2E), sendo que ao final de 240 dias ainda restavam 75,6 e 75% de FS remanescente. As maiores diferenças observadas com relação à FS remanescente ocorreram na área sobre crotalária (Figura 2B), que ao final de 240 dias ainda apresentava 80,7 e 63,0% de FS, respectivamente. Enquanto que na área sobre pousio a decomposição foi acentuada para os resíduos da soja, entretanto ao final do período em estudo, a porcentagem de FS remanescente era praticamente a mesma, na ordem de 63,5 e 64,0%, respectivamente (Figura 2D). De uma maneira geral para as coberturas de solo cultivadas nesta área experimental (braquiária, crotalária, milheto e pousio), Fabian (2009) observou que a relação C/N do milheto, braquiária e pousio na época do pleno florescimento variou de 21:1 a 30:1 e da crotalária de 14:1. Estes valores estão abaixo dos 40:1 e 20:1 descrito para gramíneas e leguminosas, respectivamente. Entretanto, sabe-se que a relação C/N para milho e soja pode atingir valores na faixa de 60 e 30:1, respectivamente, em algumas situações (WISNIEWSKI & HOLTZ, 1997), com isso, para milho e soja tem-se observado taxas de decomposição iniciais menores, quando comparadas às outras coberturas de solo cultivadas na mesma área. Com relação à produtividade do milho sobre as coberturas vegetais avaliadas, verificaram-se produções elevadas sobre braquiária (8,3 Mg ha -1 ), plantio convencional (7,8 Mg ha -1 ), crotalária (7,4 Mg ha -1 ), milheto (7,3 Mg ha -1 ) e pousio (6,9 Mg ha -1 ). Para a soja, os maiores valores observados para produtividade ocorreram sobre crotalária (4,6 Mg ha -1 ), seguido de plantio convencional (3,9 Mg ha -1 ), milheto (3,7 Mg ha -1 ), pousio e braquiária (3,2 Mg ha -1 ), entretanto, em ambas as culturas não ocorreram diferenças significativas entre elas, mesmo assim, as produtividades verificadas para milho e soja foram superiores, quando comparadas às médias registradas para a região do Triângulo Mineiro, estimada em 6,0 Mg ha -1 e 3,0 Mg ha -1 pela CONAB (2008) citado por Fabian (2009), para estas culturas, respectivamente. CONCLUSÕES
A produção de fitomassa do milho não foi influenciada pelas plantas de cobertura, enquanto para soja, a área sobre plantio convencional apresentou produção de fitomassa superior às outras coberturas; a decomposição dos resíduos culturais do milho foi mais lenta quando comparada a da soja, em decorrência da sua maior relação C/N, heterogeneidade de material e quantidade de resíduos; A decomposição dos resíduos de milho e soja foi influenciada pelas condições climáticas desfavoráveis do período. Não ocorreram diferenças significativas em relação à produtividade de milho e soja sobre as coberturas avaliadas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARVALHO, M. A. C.; ATHAYDE, M. L. F.; SORATTO, R. P.; SÁ, M. E.; ARF, O. Soja em sucessão a adubos verdes no sistema de semeadura direta e convencional em solo de Cerrado. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.39, n.11, p.1141-1148, 2004b. EMBRAPA. Sistema brasileiro de classificação de solos. 2ed. Rio de Janeiro: Embrapa-Solos, 2006. 306p. FABIAN, A.J. 2009. Plantas de cobertura: efeito nos atributos do solo e na produtividade de milho e soja em rotação. Tese de Doutorado, Curso de Pós- Graduação em Produção Vegetal, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal-SP LARA CABEZAS, W. A. R.; ALVES, B.J.R.; CABALLERO, S. S. U. & SANTANA, D. G. Influência da cultura antecessora e da adubação nitrogenada na produtividade de milho em sistema semeadura direta e solo preparado. Ciência Rural, Santa Maria, v.34, n.4, p.1005-1013, jul-ago, 2004. TORRES, J.L.R.; PEREIRA, M.G. & FABIAN, A.J. Produção de fitomassa por plantas de cobertura e mineralização de seus resíduos em plantio direto. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.43, p.421-428, 2008.
WISNIEWSKI, C & HOLTZ, G.P. Decomposição da palhada e liberação de nitrogênio e fósforo numa rotação aveia-soja sob plantio direto. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 32, p. 1191-1197, 1997. UBERABA EM DADOS, Prefeitura Municipal de Uberaba. Edição 2007, 23 p. Disponível em: HTTP://www.uberaba.mg.gov.br/sedet/uberaba_em_dados_2007>. Acesso: 10. jul.2007. 450,0 25,0 400,0 350,0 20,0 Precipitação (mm) 300,0 250,0 200,0 150,0 15,0 10,0 Temperatura (ºC) 100,0 5,0 50,0 0,0 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez 0,0 2005 2006 2007 2005 2006 2007 Figura 1. Valores médios de temperatura e precipitação pluviométrica mensal nos últimos três (2005/07). Fonte: Uberaba em dados (2007).
Figura 2. FS remanescente dos resíduos culturais de milho e soja, cultivados sobre cinco tipos de coberturas vegetais na área experimental da Unidade I do IFTM- Uberaba-MG, de março a dezembro de 2008.