COMERCIALIZAÇÃO DE QUEIJO PRATO POR EMPRESAS PARANAENSES RESUMO

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Transcrição:

COMERCIALIZAÇÃO DE QUEIJO PRATO POR EMPRESAS PARANAENSES RESUMO Melissa Watanabe 1 José Roberto Canziani 2 Vania Di Addario Guimarães 3 Este artigo apresenta um retrato da comercialização de queijo prato por empresas paranaenses participantes do Conseleite Paraná (Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite do Estado do Paraná). São apresentados os principais destinos do produto paranaense segundo as unidades da federação, os preços médios ponderados de comercialização por empresa, por destino e por embalagem e a participação das empresas no volume total comercializado. São apresentadas ainda, as margens de comercialização do queijo prato para os mercados paranaense e paulista entre setembro de 2002 e março de 2004. Os resultados mostram que: (a) mais de três quartos do queijo prato é vendido para outros estados, especialmente para São Paulo, mesmo a preços menores (posto no comprador com impostos) do que o praticado no mercado paranaense; (b) a participação das empresas no mercado não se mostrou estável no período analisado; (c) a maior parte do mercado atacadista do queijo prato é atendido por produto comercializado em embalagens maiores (3 kg) para ser fatiado pelo varejista; (d) no Estado do Paraná a margem média do atacadista foi de 23,84% no período com desvio padrão de 4,31% (e coeficiente de variação de 18,1%), e a margem média do varejista foi de 39,94% com desvio padrão de 5,17% (e coeficiente de variação de 12,9%); (e) no Estado de São Paulo a margem média do atacadista foi de 16,37% com desvio padrão de 6,18% (e coeficiente de variação de 37,7%), e a margem média do varejista foi de 50,33% com desvio padrão de 5,66% (e coeficiente de variação de 11,2%); e (f) a margem de comercialização do atacado apresentou tendência decrescente entre setembro de 2002 a março de 2004, ao mesmo tempo em que a margem do varejista se ampliou, especialmente no mercado paulista. TERMOS PARA INDEXAÇÃO: Queijo prato; comercialização, margens de comercialização, preços. 1. Introdução O Conseleite-Paraná foi criado visando a geração de valores de referência para a comercialização da matéria-prima (leite) entre os produtores rurais e a indústria de laticínios, a partir de uma metodologia desenvolvida de forma paritária por produtores e indústrias reunidos em um Conselho. A metodologia consiste na formação de preços da matéria-prima a partir dos preços de venda de 14 derivados pelas empresas participantes do Conseleite. A Universidade Federal do Paraná UFPR participa como órgão técnico 1 Engenheira Agrônoma, MS, Técnica pesquisadora da Universidade Federal do Paraná 2 Professor Adjunto do Departamento de Economia Rural e Extensão da Universidade Federal do Paraná, Doutor em Economia Aplicada pela ESALQ/USP 3 Professora Adjunta do Departamento de Economia Rural e Extensão da Universidade Federal do Paraná, Doutora em Economia Aplicada pela ESALQ/USP 1

independente e coleta, junto às empresas, um conjunto de informações sobre a comercialização destes derivados e gera, a partir deles, os valores de referência mensais que são submetidos ao Conselho para avaliação e aprovação. A partir destas informações e preservando o sigilo quanto aos dados individuais das empresas, foi elaborado este estudo. O queijo prato é o sexto produto mais importante no mix de comercialização das empresas participantes do Conseleite-Paraná, com participação média de 4,1% no mix em equivalente leite formado pelos 14 derivados acompanhados mensalmente. Ao lado do queijo mussarela é um produto importante para médios e pequenos laticínios, mas está presente também na linha de produtos de empresas de maior porte, permitindo as análises pretendidas. Não foi encontrada na literatura outra pesquisa sobre o tema desta análise. O objetivo do artigo é apresentar e analisar a comercialização de queijo prato pelas empresas participantes do Conseleite-Paraná em março de 2003 e março de 2004. Os objetivos específicos são: a) determinar os principais destinos da comercialização do queijo prato; b) determinar a participação das empresas no volume total comercializado; c) avaliar os preços médios de comercialização por empresa e por destino; d) comparar os preços por tipo de embalagem e; e) para o período de setembro de 2002 a março de 2004, calcular e analisar as margens de comercialização para as vendas realizadas no Estado do Paraná e para as vendas realizadas para o Estado de São Paulo. 2. Metodologia Os dados primários relacionados à comercialização do queijo prato foram obtidos pela Universidade Federal do Paraná UFPR - junto a controladoria das empresas participantes do Conseleite-Paraná. Os dados são coletados de forma censitária e representam a totalidade das vendas das empresas, com detalhamento dos destinos (por estado), das embalagens e dos volumes das negociações, permitindo o cálculo dos preços médios ponderados das empresas para cada situação. Com base neste conjunto de dados foi possível atingir os objetivos de (a) até (d). Foram selecionados dois meses específicos, março de 2003 e março de 2004 para estas análises, procurando avaliar se há grandes mudanças nestas variáveis nestes dois momentos. Esse tipo de análise econômica é inédita para o setor lácteo brasileiro, pois antes do Conseleite-Paraná (instituído em setembro/2002), nenhuma instituição, seja pública ou privada, tinha acesso a estes dados detalhados para um conjunto representativo de empresas. As margens de comercialização foram calculadas pelo método descrito, por exemplo, em Barros (1987). Para o mercado paranaense, os preços no varejo são aqueles levantados e divulgados pelo Departamento de Economia Rural da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (SEAB/DERAL) e se referem aos preços médios mensais pagos pelos consumidores pelo quilo do queijo prato no Estado. O preço de varejo na cidade de São Paulo utilizado no estudo é o preço médio mensal divulgado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA). O preço do leite ao produtor no Paraná utilizado nos cálculos é o preço médio mensal recebido pelos produtores divulgados pela SEAB/DERAL. Os preços no atacado, por sua vez, foram calculados a partir do levantamento primário da UFPR. Os preços de atacado coletados junto às empresas são preços posto no comprador e com impostos. Foi calculado, para cada mês do período, o preço médio ponderado (pelo 2

volume) de venda das empresas no mercado paranaense. Da mesma forma, foram calculados os valores médios mensais das vendas realizadas pelas empresas para o Estado de São Paulo. O rendimento industrial do queijo prato, utilizado no cálculo das margens é de 10,1553 litros de leite por quilo de queijo prato, de acordo com os parâmetros do Conseleite-Paraná. 3. Resultados 3.1 Participação das empresas nas vendas de queijo prato Os dados da tabela 1 mostram a participação das empresas paranaenses participantes do Conseleite-Paraná e que comercializam queijo prato nas vendas do produto em março de 2003 e março de 2004. Em 2003 eram seis empresas no mercado, reduzindose para três em 2004. TABELA 1 - PARTICIPAÇÃO DAS EMPRESAS NAS VENDAS DE QUEIJO PRATO SEGUNDO LEVANTAMENTO DO CONSELEITE- PARANÁ EM MARÇO/2003 E MARÇO/2004 Empresas mar/03 Mar/04 A 39,2 18,2 B 30,0 0,0 C 26,5 40,0 D 2,0 0,0 E 1,5 0,0 F 0,8 40,5 TOTAL 100,0 100,0 Fonte: Dados da pesquisa Os dados mostram que a participação das empresas nas vendas não é estável, mudando no tempo tanto o número de empresas que atuam no mercado de queijo prato, quanto à participação delas no volume comercializado. O setor lácteo tem a vantagem de poder alterar o mix de produção de acordo com os preços relativos dos diferentes derivados, sendo que essa flexibilidade de produção pode, em parte, ser a explicação para os resultados da Tabela 1. Neste aspecto, a empresa que possui um maior número de linhas de produtos tem mais alternativas de industrialização. No caso de queijos, especialmente prato e mussarela, diversos tipos de empresas participam do mercado, tanto aquelas com diversas linhas de produtos quanto aquelas especializadas em queijos. É extremamente comum encontrar empresas de queijo que produzem tanto queijo prato quanto mussarela. O mesmo foi observado por Barros et al (2001). 3.2 Principais destinos das vendas de queijo prato 3

A tabela 2 apresenta os principais destinos (por unidade da federação), em percentual do volume total comercializado pelas empresas paranaenses participantes do Conseleite-Paraná de queijo prato. Observa-se que o mercado de São Paulo é o principal consumidor do produto paranaense (empresas com SIF) com cerca de um terço do total, superando inclusive as vendas dentro do Paraná. São Paulo é apontado como o principal mercado de queijos (mussarela e prato) do país e seria o centro formador de preços (Barros et al, 2001). Os dados da tabela 2 confirmam este fato. As vendas para o Paraná não chegam a um quarto das vendas totais, sendo o restante voltado para outros estados. Observa-se ainda a busca pelo mercado externo, apesar de volumes ainda reduzidos frente às vendas para o mercado interno. A estrutura do mercado brasileiro de queijo prato se caracteriza por um número elevado de empresas, com estrutura de mercado tendendo para a concorrência perfeita, com baixo nível tecnológico em termos de processo industrial, produto pouco diferenciado entre empresas e ausência de grandes barreiras à entrada. Dadas estas características, é provável que em outros estados as vendas sejam proporcionalmente maiores no comércio interestadual do que dentro dos estados, especialmente em regiões de maior produção e consumo interno relativamente baixo, como em Goiás. TABELA 2 DESTINOS DAS VENDAS DE QUEIJO PRATO POR UNIDADE DA FEDERAÇÃO SEGUNDO LEVANTAMENTO DO CONSELEITE-PARANÁ EM MARÇO/2003 E MARÇO/2004 U.F. mar/03 mar/04 SP 32,8 32,8 PR 17,1 23,9 SC 16,4 18,9 RJ 17,2 15,0 RS 4,3 5,2 Demais UF 4,6 4,0 Exportação 7,6 0,2 TOTAL 100,0 100,0 Fonte: Dados da pesquisa 3.3 Preços médios por destino, por empresa e por tamanho de embalagem. Os dados da Tabela 3 mostram diferenças significativas entre os preços de comercialização das empresas para o mesmo destino. As empresas representadas na tabela 3 diferem significativamente de tamanho (volume de produção) e de quantidade de produtos produzidos em suas plantas industriais. Há empresas especializadas em queijos e empresas com linhas amplas de produtos. As diferenças de preços entre empresas para um mesmo destino podem ser explicadas pelos segmentos de mercado consumidor atendido por cada empresa, pelo valor da marca da empresa e pela qualidade do produto. Este conjunto de características permite que a diferença de preço médio de venda num mesmo 4

destino, como por exemplo, São Paulo, seja de quase três reais por quilo (empresas B e F, em março de 2004) ou de mais de 60%. Exceto no caso da empresa C, as demais apresentam pequenas diferenças de preços de venda para diferentes destinos, especialmente em março de 2004. O mercado paulista, certamente por ser mais concorrencial, pois é abastecido pela produção de diversas regiões do país, pratica menores preços em relação a outras regiões. No mercado paulista os dados indicam que as empresas são tomadoras de preço, especialmente as empresas menores. Neste sentido, suas margens de lucro são menores no mercado paulista, pois os preços indicados são para o produto posto no cliente e com impostos. No caso do queijo prato a alíquota de ICMS é de 7% dentro do Estado do Paraná e de 12% para vendas interestaduais. 5

TABELA 3 PREÇOS MÉDIOS DE VENDA DE QUEIJO PRATO POR EMPRESAS E POR UNIDADES SELECIONADAS DA FEDERAÇÃO SEGUNDO LEVANTAMENTO DO CONSELEITE- PARANÁ EM MARÇO/2003 E MARÇO/2004 Empresas mar/03 mar/04 SP PR SC Preço Médio SP PR SC Preço Médio A 5,47 5,42 5,53 5,47 5,69 5,70 5,65 5,69 B 4,96 4,90 4,95 4,95 4,57 4,59 4,59 4,58 C 6,83 7,65 7,30 6,94 7,06 8,10 8,08 7,68 D 5,49 5,49 E 7,66 7,74 8,04 7,76 F 7,32 7,07 7,50 7,27 7,25 Preço Médio 5,58 6,39 5,48 5,75 5,41 5,31 6,36 5,63 Fonte: Dados da pesquisa TABELA 4 PREÇOS MÉDIOS DE VENDA E VOLUME COMERCIALIZADO DE QUEIJO PRATO POR TIPO DE EMBALAGEM SEGUNDO LEVANTAMENTO DO CONSELEITE-PARANÁ EM MARÇO/2003 E MARÇO/2004 Embalagem Participação % no volume Preço Médio mar/03 mar/04 mar/03 mar/04 500g 5,8 4,5 8,17 8,88 3kg 84,6 95,5 5,54 5,47 Outras 9,6 6,12 Total / Média 100,0 100,0 5,75 5,63 Fonte: Dados da pesquisa Quanto aos preços médios de venda segundo diferentes embalagens os resultados comprovam a hipótese de que embalagens menores permitem preços maiores por unidade. Nota-se que o maior volume comercializado é de queijo prato em embalagens grandes, especialmente de 3 quilos. Este queijo se destina especialmente ao fatiamento por supermercados, lanchonetes, padarias, pizzarias, e outras unidades de varejo em geral. 3.4 Margens de comercialização As Figuras 1 e 2 apresentam os preços médios mensais do queijo prato no atacado e no varejo entre setembro de 2002 a março de 2004, respectivamente, nos Estados do Paraná e de São Paulo. 6

FIGURA 1 EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DO QUEIJO PRATO NO ATACADO E NO VAREJO NO ESTADO DO PARANÁ, SET/02 A MAR/04. Fonte: SEAB/DERAL (varejo) e Conseleite-Paraná (atacado) FIGURA 2 EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DO QUEIJO PRATO NO ATACADO E NO VAREJO NO ESTADO DE SÃO PAULO, SET/02 A MAR/04. Fonte: IEA (varejo) e Conseleite-Paraná (atacado) A Figura 3 apresenta as margens médias mensais de comercialização do queijo prato no mercado paranaense, representado pelas empresas participantes do Conseleite- 7

Paraná que atuam neste mercado. São apresentadas a Margem total de comercialização (Mt), a margem do atacadista (Ma) e a margem do varejista (Mv). FIGURA 3 EVOLUÇÃO DAS MARGENS DE COMERCIALIZAÇÃO DE QUEIJO PRATO NO ESTADO DO PARANÁ, SET/02 A MAR/04. Fonte: dados da pesquisa A margem de comercialização do atacadista é a margem de comercialização das indústrias que vendem diretamente para o varejo. Observa-se que a margem total oscila entre 60 e 70% do preço pago pelo consumidor no Estado. A margem do atacado é decrescente no período em análise passando de pouco mais de 30% no segundo trimestre de 2002 para menos de 20% no primeiro trimestre de 2004. A margem média do atacadista foi de 23,84% no período com desvio padrão de 4,31% (e coeficiente de variação de 18,1%). A margem do varejista oscilou entre 30 e 50% no período com média de 39,94% e desvio padrão de 5,17% (coeficiente de variação de 12,9%). Os resultados mostram que a margem do varejista é superior à do atacadista apesar da diferença expressiva entre os serviços de comercialização adicionados ao produto pelos dois agentes. Além disso, a margem de comercialização do varejista é crescente no período enquanto a margem total é relativamente estável. Nos períodos de redução nos preços de atacado, como entre outubro de 2003 e janeiro de 2004, por exemplo, a margem do atacadista reduz enquanto a margem do varejista sobe e a margem total se mantém. Portanto, nesse período, o varejo não repassou integralmente a queda de preços para o consumidor, aumentando sua margem relativa. 8

FIGURA 4 EVOLUÇÃO DAS MARGENS DE COMERCIALIZAÇÃO DE QUEIJO PRATO NO ESTADO DE SÃO PAULO, SET/02 A MAR/04. Fonte: dados da pesquisa As margens totais de comercialização em São Paulo (apresentadas na Figura 4), para o produto adquirido das indústrias paranaenses pelas unidades de varejo naquele Estado são semelhantes às margens totais no Paraná, entre 60 e 70%. No entanto, a margem do atacadista é significativamente menor do que nas vendas para o mercado paranaense. A margem média do atacadista (indústria paranaense) oscilou entre 7 e 26% com tendência decrescente no período. A margem média do atacadista foi de 16,37% com desvio padrão de 6,18% e coeficiente de variação de 37,7%. Portanto, para as empresas paranaenses a venda para São Paulo ocorre a preços mais baixos (como demonstrado nos itens anteriores) e sua participação no preço pago pelo consumidor paulista é significativamente menor do que no mercado paranaense e também mais instável. A margem média do varejista no mercado do Estado de São Paulo é superior à do mercado paranaense, com média de 50,33% e desvio padrão de 5,66% (coeficiente de variação de 11,2%). Como São Paulo é o principal mercado consumidor, suprido pela produção de diversos estados, inclusive pelo Paraná, a estrutura de mercado mais concorrencial em nível de atacado e mais concentrada em nível de varejo pode ser a explicação para este comportamento das margens. Por outro lado, cerca de 58% dos gastos das famílias na aquisição de queijo prato na região metropolitana de São Paulo são realizados nos supermercados que, segundo diversas fontes, tais como em Barros et al (2001), têm se tornado mais concentrado com o passar do tempo. A diferença entre as estruturas de mercado do lado vendedor e comprador pode influenciar este comportamento. 9

TABELA 5 - LOCAIS DE COMPRA DE QUEIJO PRATO PELAS FAMÍLIAS PARA ALIMENTAÇÃO NO DOMICÍLIO, NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO, 1987 E 96. Em percentual (*) ESTABELECIMENTOS 1987 1996 % Armazém 6,0 3,7-38,3 Estabelecimento especializado 20,0 20,4 1,8 Feira 6,0 - -100,0 Mercado e sacolão - 14,8 - Mercado 2,0 - -100,0 Supermercado 64,0 58,3-7,4 Vendedor ambulante - 1,9 - Outros - 0,9 - Fonte: IBGE. (*) Percentual da despesa média mensal das famílias com estes produtos, gasta em cada tipo de estabelecimento. 4. Conclusão Mais de três quartos do queijo prato comercializado pelas empresas participantes do Conseleite-Paraná são para outros estados, especialmente para São Paulo, mesmo a preços menores (posto no comprador com impostos) do que o praticado no mercado paranaense. As empresas com maior participação no volume comercializado são aquelas dedicadas especialmente à produção de queijos enquanto as empresas com linha de produto mais diversificada têm menor relevância neste mercado. As empresas onde o queijo é o principal produto, tendem a comercializar a preços mais baixos do que as empresas mais diversificadas, inclusive porque vendem principalmente em embalagens maiores, de 3 quilos, enquanto as empresas maiores procuram comercializar em embalagens menores, com marca e preços relativamente mais altos. O maior mercado para o queijo prato, a partir dos resultados, é para o produto em embalagens maiores, para ser fatiado pelo varejista. As margens de comercialização do atacado apresentaram tendência decrescente entre setembro de 2002 a março de 2004, ao mesmo tempo em que as margens do varejista se ampliaram. A margem total variou relativamente pouco no período analisado, tanto no mercado paranaense quanto no paulista. Nesse período, o varejo não repassou integralmente ao consumidor as reduções de preços obtidas na compra do produto junto às indústrias, ampliando-se, assim, a margem de comercialização do varejista. Referências bibliográficas BARROS, G.S.A.C. Economia da comercialização Agrícola. Piracicaba: Fealq, 1987. 306p. BARROS, G.S.A.C.; GALAN, V. B.; GUIMARÃES, V.D.A.; BACCHI, M. R. P. Sistema agroindustrial do leite no Brasil. Brasília: Embrapa, 2002. 170 p. CONSELEITE PARANÁ. Manual do Conseleite-Paraná. Curitiba: FAEP, 2003. 110p. 10

CONSELEITE-PARANÁ. Resoluções. www.faep.com.br e www.fiepr.com.br IBGE. Pesquisa de Orçamentos Familiares. www.sidra.ibge.gov.br SEAB/DERAL. Acompanhamento da situação agropecuária no Paraná. www.pr.gov.br/seab INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Banco de dados do IEA. www.iea.sp.gov.br 11