VANTAGEM COMPETITIVA ATRAVÉS DO FORNECIMENTO DE CUSTOMER VALUE: INDICAÇÕES PARA UM JORNAL ON-LINE



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Transcrição:

VANTAGEM COMPETITIVA ATRAVÉS DO FORNECIMENTO DE CUSTOMER VALUE: INDICAÇÕES PARA UM JORNAL ON-LINE André Luiz M. de Souza Leão, Mestre Faculdade Boa Viagem (FBV) e PROPAD/UFPE Universidade Federal de Pernambuco (Núcleo de Pesquisas sobre Marketing e Tecnologia de Negócios) Rua Antônio Falcão, n.º 552, apto. 14A Boa Viagem Recife/PE CEP 51020-240 Sérgio C. Benício de Mello, Ph.D PROPAD/UFPE Universidade Federal de Pernambuco (Núcleo de Pesquisas sobre Marketing e Tecnologia de Negócios) Rua Setúbal, n.º 1700, apto. 1002 Boa Viagem Recife/PE CEP 51130-010 ABSTRACT Customer value has constantly been related to the possibility of product differentiation in search of competitive advantage. A model for reaching competitive advantage through customer value delivery served as base for this work. The theory of means-end chains is the way of thinking systematically in the representation of customer value. The method more thoroughly used to reach the means-end chains is laddering. Such method was tested in an innovative way on the Internet, with users of a mainstream on-line newspaper, via e-mails. This research presents the results and suggests actions based on the model for reaching competitive advantage. Key words: competitive advantage, customer value, e-marketing. Área temática: Estratégia e Organizações (7) Sub-área: Marketing Estratégico Industrial (7.5) 1. INTRODUÇÃO Cada vez mais o conceito de customer value parece estar sendo utilizado na literatura de estratégias de marketing como um constructo fundamental no ambiente competitivo dos negócios de hoje (Sinha e DeSarbo, 1998; Kotler, 1999). O tema constantemente é relacionado à possibilidade de diferenciação dos produtos das empresas em busca de vantagem competitiva sobre os concorrentes (Kotler, 1999; Lai, 1995; Woodruff, 1997). A proposta central do constructo é de que os consumidores valorizam o reconhecimento de seus valores pessoais em sua relação de uso de um produto (Woodruff e Gardial, 1996). Ou seja, consumidores traduzem atributos de produtos em benefícios (ou conseqüências de uso) que estes produzem. Por outro lado, benefícios são, em última instância, traduzidos na orientação de seus valores (Gengler e Reynolds, 1995). Esta abordagem mostra uma relação hierárquica, na qual as características de um produto (seus atributos) e os seus benefícios são tão somente o meio de fornecer valor para o consumidor (Rokeach, 1968; 1973; Woodruff e Gardial, 1996). A teoria de means-end chains é o meio de se pensar sistematicamente nessa representação hierárquica. A teoria propõe um modelo onde seis níveis de abstração se

relacionam hierarquicamente. Nos primeiros níveis estão os atributos, que definem o produto através de suas características, seus componentes, suas partes etc. (Reynolds e Gutman, 1984; Woodruff e Gardial, 1996). São o que está no produto real que produz conseqüências (Valette-Florence e Rapacchi, 1991). Consumidores também irão ver produtos como pacotes de benefícios (Levitt, 1980; Peter e Olson, 1999), onde estes devem ser entendidos como conseqüências. Estão nos níveis intermediários da cadeia e são resultantes das considerações mais subjetivas de um consumidor acerca do uso de um produto e os resultados oferecidos (sejam positivos ou negativos, desejados ou não) (Reynolds e Gutman, 1984; Woodruff e Gardial, 1996). No topo da cadeia estão os valores, que provêm a direção global do modelo e representam os objetivos e propostas finais do consumidor (Valette-Florence e Rapacchi, 1991; Woodruff e Gardial, 1996). O método mais amplamente utilizado para se atingir as means-end chains é o laddering (Gengler e Reynolds, 1995; Grunert et al., 1995; Peter e Olson, 1999; Woodruff e Gardial, 1996), uma técnica utilizada para descrever a estrutura cognitiva de indivíduos ou grupos (Gengler e Reynolds, 1995; Peelen, 1993; Reynolds e Gutman, 1988), através de uma entrevista pessoal individual. Woodruff e Gardial (1996) acreditam que se pensar que vantagem competitiva existe apenas no que se pode oferecer de único para os consumidores seja uma visão limitada. Apesar da importância de se oferecer o que o concorrente não oferece, existe um meio complementar de se atingir vantagem competitiva: o fornecimento de valor (Jensen, 1996; Woodruff et al., 1993; Woodruff e Gardial, 1996; Woodruff, 1997); Woodruff et al., (1993) afirmam que cada vez mais as organizações estão enfrentando o ambiente competitivo e alcançando vantagem competitiva através da criação e fornecimento de customer value. Tal fornecimento torna-se também um meio de satisfazer seus clientes (Naumann, 1994; Woodruff e Gardial, 1996). Para isso, Woodruff e Gardial (1996) desenvolveram um modelo para atingimento de vantagem competitiva através do fornecimento de customer value, que serviu como base para este trabalho. Leão (2001) realizou uma pesquisa dentro dessa proposta, sobre os usuários de um jornal on-line, com a utilização de e-mails para a realização das entrevistas. O presente trabalho apresenta os resultados dessa pesquisa e sugere ações baseadas no modelo acima referido. 2. MODELO PARA ATINGIMENTO DE VANTAGEM COMPETITIVA ATRAVÉS DO FORNECIMENTO DE CUSTOMER VALUE Para o atingimento de vantagem competitiva através do fornecimento de customer value, uma organização deve desenvolver uma habilidade de delinear e implementar processos internos para conhecer seus clientes através do seu customer value e fornecer seus valores de volta para estes clientes (Woodruff e Gardial, 1996). Um processo de se fornecer customer value é proposto por Woodruff e Gardial (1996) (ver Figura 1). O primeiro passo seria a identificação dos valores, seguido da escolha dos valores centrais. Esses dois passos formam a primeira parte do modelo e são previstos na metodologia de pesquisa de means-end chains. O terceiro passo indicado é a provimento do valor, ou seja, identificar meios de se traduzir o customer value em características de produtos e serviços, serviços de suporte, qualidade no atendimento, entre outros. Contudo, os clientes não irão perceber o fornecimento de valor imediatamente. Parte disso a importância da comunicação do valor. Evidentemente que deve estar em concordância com a própria linguagem profissional da comunicação, ou seja, mostrando, através de campanhas publicitárias, como os consumidores podem aprender sobre o valor do produto (mostrando uma pessoa atlética consumindo uma dada comida, por exemplo). Estes dois últimos passos dizem respeito a como uma organização terá a habilidade necessária para

selecionar mercados e estratégias e implementá-las. Por fim, o último passo é a avaliação do valor, através do monitoramento de como o fornecimento de valor está sendo implementado e quais os resultados oferecidos, resultado este entendido na representação da satisfação do consumidor. Identificação do valor Escolha do valor Provimento do valor Comunicação do valor Avaliação do valor Figura 1 Processo de planejamento de estratégias de fornecimento de customer value Fonte: Adaptação de Woodruff e Gardial (1996). Neste sentido, o processo de conhecimento dos consumidores através do seu customer value deve ser contínuo, integrando pesquisas de satisfação a partir do fornecimento de valor. Este processo possibilita que possíveis problemas de fornecimento de valor sejam corrigidos em seus cursos de ações (Woodruff e Gardial, 1996). Parasuraman (1997) indica que seja desenvolvido um modelo de monitoramento específico deste último processo. 3. METODOLOGIA DA PESQUISA A pesquisa feita com usuários de um jornal on-line foi realizada durante 75 dias, no período de 2 de setembro a 15 de novembro de 1999. A amostra de respondentes foi determinada através de um grupo de usuários que haviam participado de enquetes do jornal on-line e que se colocaram à disposição para participar de outras pesquisas. Estes usuários deixaram sua identificação no jornal apenas através de seus e-mails, os quais foram repassados para os pesquisadores. Ao todo, 98 entrevistas foram realizadas. Conforme mencionado, a técnica utilizada foi o laddering. Tradicionalmente realizada, além de individual, também pessoalmente (Reynolds e Gutman, 1988; Mason, 1995), nessa pesquisa a entrevista foi individual, no entanto, realizada através de uma série de trocas de e-mails (não pessoal), nos quais o pesquisador mandou uma nova pergunta para cada resposta. A série terminou quando se dispunha dos dados necessários. Normalmente esta técnica é utilizada para estudos de classes de produtos, para distinguir-se marcas de produtos de uma dada classe, ou seja, pede-se que o consumidor, comparando duas marcas de um mesmo tipo de produto, identifique as principais características (atributos) de sua marca favorita (Gengler e Reynolds, 1995; Mason, 1995; Reynolds e Gutman, 1988; Valette-Florence e Rapacchi, 1991; Woodruff e Gardial, 1996). A pesquisa não teve a proposta de ser um estudo sobre o segmento de jornais on-line, tampouco o de uma comparação entre o jornal que serviu como objeto de pesquisa e seus concorrentes, mas sim de um maior conhecimento de seus usuários. Portanto, optou-se por

pedir ao entrevistado para identificar as principais características do próprio jornal on-line em questão. Neste aspecto, Peter e Olson (1999) apontam como uma fase pré-laddering a identificação dos atributos de um produto que seja mais importante para cada consumidor quando este faz uma decisão de compra. Esta identificação não precisa ser através de uma escolha entre marcas, mas como justificativa do consumo de determinada marca ou produto. Tendo em vista que todos os entrevistados são usuários do jornal on-line pesquisado, já teriam optado por este produto. Para este que é o primeiro passo da entrevista, o de fazer com que o respondente identifique os principais atributos de um produto, os mesmos foram convidados a indicar as principais características que o fizeram optar pelo jornal on-line da pesquisa, sem pedir que ele comparasse esta decisão com um outro. Dessa forma, a primeira pergunta da entrevista ficou da seguinte maneira: Para você, quais as características mais importantes do... (o jornal on-line utilizado)? Aquelas que são cruciais na sua decisão de utilizar o serviço. Por quê? Uma vez identificadas estas características, a entrevista passa a ser completamente customizada, sendo considerada moderadamente estruturada apenas por ter sempre em vista a direção da pergunta básica por que isto é importante para você?. 4. ANÁLISE DOS DADOS A análise dos dados de uma pesquisa realizada sob o método laddering divide-se em uma série de quatro passos: análise de conteúdo dos dados presentes nas entrevistas e codificação dos elementos identificados; quantificação das relações existentes entre os elementos, resultando numa matriz chamada de implicação; construção do mapa de hierarquia de valor; e, finalmente, a determinação das orientações de percepção dominantes (Gengler e Reynolds, 1995; Reynolds e Gutman, 1988; Valette-Florence e Rapacchi, 1991). A análise de conteúdo no método laddering é feita em dois momentos. O primeiro, quebramento dos dados brutos, visa à separação de frases da entrevista que sirvam como elementos básicos para a análise. Envolve a releitura de cada entrevista para a identificação das passagens que melhor representam os conceitos expressos pelo entrevistado, sob a ótica da teoria de means-end (Gengler e Reynolds, 1995; Reynolds e Gutman, 1988; Woodruff e Gardial, 1996). Estas passagens são entendidas como elementos. Ao se identificar todos os elementos, há uma grande possibilidade de se atingir uma quantidade demasiada e, se isso ocorrer, muito dos seus significados podem ser perdidos. O segundo momento da análise de conteúdo, identificação e codificação dos elementos-chave, tem o objetivo de manter o foco nos significados centrais à proposta da pesquisa, sendo considerados apenas aqueles elementos que se mostrem representativos dentro da amostra, podendo, para isso, vários elementos de mesmo sentido serem sumarizados como um elemento maior, para que se tenha uma quantidade limitada de elementos representativos e não vários elementos com pouca representatividade e, portanto, pouco relevantes na análise dos seus significados (Reynolds e Gutman, 1988; Woodruff e Gardial, 1996). Uma vez que estes elementos sejam escolhidos, números crescentes, a partir dos atributos até os valores, devem ser utilizados para codificá-los. Esta codificação é utilizada para colocar cada elemento em um ladder, produzindo uma matriz com linhas que representem o ladder de cada entrevistado, podendo cada um apresentar várias linhas (ladders) com várias colunas (elementos) (Reynolds e Gutman, 1988). O segundo passo da análise é a construção de uma matriz, chamada de implicação, que representa o número de vezes que cada elemento leva a outro, ou seja, num ladder, que elemento de uma linha precede um outro (Reynolds e Gutman, 1988). Existem dois tipos possíveis de relações entre elementos: as diretas e as indiretas, sendo estes números

apresentados de forma fracional, onde as relações diretas aparecem à esquerda do ponto e as relações indiretas à direita. As relações diretas referem-se àquelas entre elementos adjacentes; as relações indiretas, por outro lado, referem-se a elementos que, apesar de se relacionarem, contam com outros entre eles. Se a construção da matriz de implicação é o passo mais trabalhoso da análise, a construção do mapa hierárquico o terceiro passo é o mais complexo. Isto ocorre porque algumas relações que terminam por aparecerem no mapa muitas vezes não estão inicialmente aptas para tal, se considerado seu ponto de corte (nessa pesquisa, 3 relações, diretas ou indiretas). Muitas relações predominantemente diretas na matriz de implicação se tornam indiretas no mapa devido a elementos se justificarem entre outros. Além disso, fazer um mapa visualmente fácil de se interpretar e que evite linhas cruzadas também não é uma tarefa fácil. Mas é quando o mapa hierárquico de valor fica pronto que todos os dados coletados e analisados começam a fazer sentido. O objetivo de se mapear estas relações hierárquicas é interconectar todas as cadeias significativas de forma fácil de ler e interpretar, preferencialmente sem linhas cruzadas. Após todas as relações estarem plotadas, é desejável se avaliar todos os elementos do mapa, considerando os números de relações diretas e indiretas com os outros elementos, tanto em termos daqueles que se relacionaram a eles, quanto as suas relações para outros, o que possibilita entender as cadeias construídas mais fortemente (Reynolds e Gutman, 1988). Após a construção do mapa hierárquico de valor, o último passo da análise é identificar as orientações de valor dominantes, ou seja, quais cadeias foram as mais importantes do mapa, considerando as relações de sua base (A) até seu topo (V), para se compreender quais foram as que mais contribuíram para o resultado. Ao todo, o mapa resultante desta pesquisa chegou a 100 cadeias. Para a identificação de quais destas são dominantes, o passo é se construir, para cada cadeia, uma matriz que analise as relações entre os elementos dentro de cada uma destas, gerando um número total de relações diretas e indiretas de cada cadeia. Dentre as 100 cadeias, foram identificadas 35 dominantes. Contudo, as 35 cadeias não representaram a mesma quantidade em termos de orientações de percepção, que ficaram em 19. Isso é explicado pelo fato de que uma mesma relação da base ao topo pode ser feita por mais de uma cadeia, percorrendo caminhos diferentes (sobretudo através de conseqüências) para relacionar um mesmo atributo a um mesmo valor. 5. PRINCIPAIS CUSTOMER VALUES IDENTIFICADOS Ao todo, sete customer values foram identificados como os mais importantes na pesquisa, conforme se segue: Diversão e Prazer Além desses próprios termos diversão e prazer em si, foi entendido como parte do elemento tudo o que se relacionasse a uma vida mais prazerosa e divertida, como: aliviar stress, ter lazer, conforto, relaxar e excitação. Foi o valor mais forte. Apesar de não estar relacionado à maior quantidade de cadeias, foi o que apresentou maior quantidade de relações levando a ele, além de, dentre as orientações dominantes, aparecer relacionado a 5 dos 7 atributos que formaram a base do mapa. Segurança Como Segurança, entendeu-se tudo o que possa trazer segurança a si e a próximos, como segurança financeira, cuidar da família, um mundo em paz e poder sustentar-

se. Segundo valor mais importante da pesquisa, foi o que teve maior quantidade de cadeias levando a ele dentre as dominantes, provavelmente por ter três caminhos finais que guiam até ele. Contudo, apenas três atributos da base geraram orientações dominantes no sentido deste valor. Sentimento de inclusão Este elemento foi identificado através de citações como fazer parte de um grupo ou ter uma vida social. Foi o terceiro grande valor identificado. Sentimento de apego O elemento sentimento de apego foi assim chamado por sumarizar certos valores relativos à paixão ou ao amor não interpessoal. Fazem parte desse elemento paixão ao meu time, amor à minha terra, pernambucanidade, entre outros. Auto-realização Entendeu-se para a definição deste elemento, o que faz o indivíduo ter satisfação e realização pessoal. Foram citações deste item: realizar projetos pessoais, ser bem sucedido, ter sucesso, entre outros. Igualdade Refere-se a um senso de irmandade, de iguais oportunidades para todos. Fizeram parte desse elemento, além do próprio termo igualdade, bem comum e um mundo melhor, por exemplo. Este valor não teve nenhuma orientação dominante na análise final. Prestatividade Refere-se à forma como pode-se ser útil a terceiros através do fornecimento de informações e serviços relevantes. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Numa conclusão geral, pôde-se perceber que os usuários demonstraram que a grande maioria de seus objetivos são pessoais, seja individualmente ou em sociedade, apesar de demonstrarem preocupações sociais que normalmente não seriam de se esperar do ponto de vista do comportamento do consumidor. Estes objetivos pessoais parecem se dividir em duas categorias: uma mais relacionada ao posicionamento do indivíduo com a coletividade e outra de foro mais íntimo. Da primeira fazem parte: segurança e autorealização ; da segunda, diversão e prazer, sentimento de inclusão e sentimento de apego. Do ponto de vista social, aparecem prestatividade e igualdade. Apesar de não estarem entre os valores mais importantes, a simples indicação deles demonstra uma peculiaridade que parece ocorrer muito em função da característica interativa da Internet. A rede tem se mostrado muito importante na democratização das informações e na proliferação dos direitos humanos e cuidados ambientais. Estas características têm de ser analisadas muito atentamente sob este prisma. Do ponto de vista da estratégia de marketing, esses resultados podem servir de indicações para cada passo do modelo proposto por Woodruff e Gardial (1996). A identificação dos customer values, o primeiro passo para a vantagem competitiva nesta

abordagem, foi propiciado por esta pesquisa. Como segundo passo, a escolha dos valores mais importantes, diversão e prazer, segurança e sentimento de inclusão são fatalmente os indicadas, por terem sido os mais representativos. O fornecimento dos valores aos consumidores, acompanhado de uma comunicação correta, seriam os passos seguintes. Para o primeiro, vale uma análise para o produto em si. Apesar de todas as potencialidades do meio e possibilidades de diversificação do serviço, o que o usuário de fato preza ainda é o conteúdo informativo. Contudo, ele espera que o meio lhe forneça este conteúdo de uma forma mais dinâmica, interativa e inovadora. Tendo em vista os valores centrais identificados, algumas sugestões podem ser feitas: Programação de Cultura e Lazer, trazendo recursos interativos possíveis na Internet, como links de informações complementares, eventos similares, calendário programado para os meses adiante, mapas de localização da cidade, venda de ingressos para espetáculos e casas de eventos, roteiros de viagens enriquecido de detalhes, com possibilidade de reserva para empresas de transporte, hotéis, restaurantes, teatros, cinema etc.; Programação de Negócios, tendo em vista a importância dada pelos usuários à informação que colabora com o aspecto profissional, podendo ser atrelado ao serviço anterior, trazendo, além das características facilitadoras de programação, informações mais detalhadas dos vários setores de negócios, números importantes da economia brasileira e mundial; Seção de Carreira Profissional, uma seção do tipo guia, que falasse mais detalhadamente das várias profissões, como oferta de postos de trabalho, salários praticados, qualificação necessária, perfil dos profissionais, tendências do mercado etc. Para o segundo, o conhecimento do customer value dos usuários será de importância fundamental para as decisões de comunicação. A propaganda poderia estar alinhada com os valores dos usuários e, em se fazendo a segmentação orientada acima, diferentes tipos de anúncios poderiam ser trabalhados para objetivos de comunicação diferentes, com publicos-alvo distintos. Além disso, a Internet permite com mais facilidade um recurso difícil no mundo físico, que é o pré-teste de anúncios publicitários. Ao conhecer os clientes, poder-se-ia acessar grupos homogêneos por tipos de customer value para o pré-teste da comunicação, o que resultaria na possibilidade de acertos para se atingir a mensagem correta. A própria maneira verbal como os usuários se referem a como um dado atributo o leva a alcançar seus objetivos poderia ser adaptado para a mensagem publicitária. Por fim, a avaliação do valor se torna importante. Pesquisas de satisfação alinhadas à abordagem de customer value são entendidas como a ferramenta mais eficaz. No entanto, a satisfação mede apenas o resultado pós-consumo. É importante que o jornal on-line pesquisado tenha em vista meios de antecipar novas maneiras pelas quais estes valores podem ser satisfeitos, bem como se novos valores estão se tornando mais importantes. Quanto ao primeiro ponto, parece de fundamental importância que as novas tendências sejam sempre avaliadas como possibilidade de se tornarem meios para os objetivos finais dos usuários. Alguns novos serviços também podem se utilizar de segmentos de usuários como mercados-teste para se ter uma visão prévia de seu êxito ou necessidade de ajustes. Quanto à predição de novos valores, é importante que o customer value seja periodicamente reavaliado, para se identificar se a importância deles continuam no mesmo patamar. Apesar de valores serem tidos como relativamente estáveis (Rokeach, 1968), é bem possível que um valor identificado atualmente, mas tido como menos importante, aumente sua representatividade em médio prazo. Inicialmente, novas pesquisas anuais parecem ser o mais indicado. Se depois de algum tempo os valores se tornarem estáveis, estas pesquisas poderiam passar a ser feitas apenas a cada dois ou três anos, de acordo com a tendência de dinâmica do customer value.

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