PROTEÇÃO CONTRATUAL: UMA ANÁLISE DO CONTRATO DE ADESÃO* João Evangelista das Neves Araújo RESUMO



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Transcrição:

PROTEÇÃO CONTRATUAL: UMA ANÁLISE DO CONTRATO DE ADESÃO* João Evangelista das Neves Araújo Doutor em Letras com a tese Identidade Sociocultural e Práticas de Leitura Literária: O Processo de Construção Social do Leitor pela UFPE.Bacharel em Ciências Sociais (Sociologia, Política e Antropologia) pela UFPI; Licenciado em Pedagogia também pela UFPI; Licenciado em Letras pela UESPI; Graduando em Direito/ FAETE; Pós-graduado em Psicopedagogia (Escolar, Clínica, Hospitalar e Empresarial); Mestre em Educação pela UFPI. RESUMO O artigo proposto traz uma análise teórico- doutrinária sobre a proteção contratual, destacandose os aspectos relacionados ao contrato de adesão que, ainda vem revelando mutos problemas entre fornecedor e consumidor. O objetivo desta empreitada consiste em analisar e discutir os pontos de maior relevância determinados pelo CDC dentro das relações contratuais de compra e venda no ato da realização do negócio juridico. Assim objetivamos principalmente, contribuir com os conhecimentos dos consumidores, sobretudo os menos favorecidos da sociedade. Para tanto, recorremos a uma investigação bibliográfica especializada que trata sobre os artigos de aplicação e os princípios de orientação, regulamentação dos contratos de adesão. Os resultados da referida análise demonstram que a sociedade precisa avançar muito nessa área. Palavras- chaves: CDC. contrato. adesão. *Artigo produzido a partir da selação de um tópico da disciplina Direito do Consumidor no 3º período do curso de Direito da FAETE, ministrada pela professora Maria Laura Lopes Elias no 1º/ 2007

INTRODUÇÃO Ao olharmos as relações jurídico-comerciais entre fornecedor e consumidor no contexto mercadológico do Brasil atual, iremos perceber que a realidade do país ainda está longe do que se pode esperar de uma sociedade democrática de direitos. Pois, a idéia de que os cidadãos são livres e iguais para tutelar seus interesses financeiros, escolher o parceiro contratual e definir o conteúdo dos contratos, revela-se profundamente comprometida pelas relações de poder capitalista dos mais fortes sobre os mais fracos do ponto de vista econômico. que Conforme Bessa (2006 P.: 51) este fato pode ser comprovado na prática, uma vez Hoje é muito raro encontrar um contrato celebrado com consumidor que tenha sido elaborado a partir da discussão de cláusula por cláusula, de uma avaliação cuidadosa das conseqüências da assinatura do documento. A grande maioria dos contratos são de adesão, ou seja, já vêm prontos, elaborados unilateralmente pelo fornecedor. O consumidor não tem possibilidade real de alterar as condições apresentadas que são mais vantajosas para o fornecedor cabendo-lhe apenas assinar o documento. Além disso, por vezes, são utilizadas palavras complicadas, de difícil entendimento. Diante do fato acima exposto é que o Código de Defesa do Consumidor (CDC) no Brasil (a exemplo de outros países da Europa e Estados Unidos que a partir da segunda metade do século XX editam leis de Proteção ao Consumidor), através da Lei nº 8.078/90, dedica atenção especial ao CONTRATO DE COMPRA E VENDA de produtos e serviços entre fornecedor e consumidor. Mas o que venha a ser um contrato de compra e venda de bens e/ou serviços quando formalizado como negócio jurídico? Conforme Guimarães (2007 P. 211), contrato é acordo de vontades ajuste, convênios entre duas ou mais pessoas, sobre objeto lícito e possível pelo qual se adquirem, se criam, se modificam, se conservam ou se extinguem direitos. Ainda de acordo com o autor citado, os contratos têm os seguintes elementos: a) essenciais: são aqueles sem os quais não terá validade, como a capacidade do contratante, a coisa contratada, o preço e o consentimento; b) naturais: são aqueles que estão implícitos no ato, como a evicção e;

c) acidentais: são as cláusulas acessórias expressamente mencionadas, como a forma de pagamento, os juros, a multa, etc. Assim, o contrato não pode ser qualquer documento escrito sem a observância do Código Civil atual nem do CDC, mas deve ser aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo (artigo 54). Partindo dos conceitos de contrato, bem como de seus elementos formais, podemos inferir que o mesmo é celebrado de duas maneiras: a) BILATERAL: quando as obrigações expressas no documento contratual são recíprocas, neste há diálogo direto e efetivo entre fornecedor e consumidor, durante o processo de elaboração e assimetria do documento; b) UNILATERAL: quando as obrigações dizem respeito a uma das partes apenas, no caso, o consumidor, cabendo ao fornecedor a determinação do documento em toda a sua extensão sem nenhuma participação do fornecedor. Nos dois modos de contrato as partes precisam ser capazes de negociar, dialogar, chegar a um consenso através do concurso de vontades que possam ser realizadas sem prejuízos para nenhuma dos dois lados. Todavia, essa prática entre fornecedores e consumidores ao formalizarem o acordo de compra e venda nos documentos contratuais, vem acontecendo de modo muito arbitrário no contexto sócio-econômico e cultural da realidade brasileira. Esse fato configura a modalidade unilateral dos contratos de adesão enquanto documento. Imposto aos consumidores no ato de concretização dos negócios jurídicos, uma vez que apresenta as seguintes características da referida modalidade contratual: a) uniformidade: representada pela invariabilidade dos conteúdos das condições em todas as relações contratuais estabelecidas pelas atividades comerciais; b) predeterminação: os fornecedores preestabelecem unilateralmente as cláusulas dos contratos a serem estipulados, sendo admitido também, as condições gerais constantes de regulamento administrativo;

c) rigidez: as cláusulas são rígidas porque são uniformes e fixas. É partindo dos conceitos fundamentais de contrato e das características fundamentais do mesmo, bem como de seus elementos básicos que destacaremos abaixo os seguintes traços típicos do contrato de adesão: a) preexistência das condições gerais do contrato: sendo estas aprovadas e regulamentadas por autoridades competentes, ou ainda definidas unilateralmente pelos fornecedores que dispõem sozinhos sobre o teor de tal documento; b) o consentimento do consumidor: aqui entendido como ADESÃO ao conteúdo pronto e empacotado tendo o consumidor, apenas que aceitá-lo aleatoriamente em todos os seus aspectos. Mediante esta breve síntese de introdução e caracterização do tema Proteção Contratual, fica evidenciado a necessidade de desenvolvimento da temática delimitando-a na direção do contrato de adesão, dado a grande importância de uma maior compreensão e divulgação dos problemas críticos vivenciados pelos consumidores e levantados neste preâmbulo textual. Portanto, é a proteção do contrato de adesão o nosso objeto específico de reflexão aqui colocado com o objetivo de discutir alguns pontos relevantes sobre a questão em foco e percebida como assunto de grande relevância social e de interesse da população. Diante disso, passaremos a apresentar a questão em pauta sem grandes pretensões teóricas ou de qualquer outra ordem doutrinária mas tão somente esperando que possa contribuir com os conhecimentos dos consumidores cidadãos, sobretudo daqueles menos favorecidos cultural e economicamente. ANÁLISE E DISCUSSÃO DAS RELAÇÕES DE COMPRA E VENDA NO CONTRATO DE ADESÃO A Lei nº 8.078/90 que dispõe sobre o Código de Defesa do Consumidor (CDC), destaca os aspectos formais do denominado contrato de adesão, isto a fim de torná-lo mais claro e transparente, de modo a proteger os consumidores. Por isso o referido código estabelece que no caso dos contratos de adesão torna-se obrigatório a aplicação das regras

constantes nas disposições gerais, principalmente para interpretar as cláusulas abusivas e as seguintes regras especiais de proteção da modalidade contratual em foco: - os contratos de adesão serão redigidos de modo claro e com caracteres ostensivos e legíveis de modo a facilitar sua compreensão (art. 54 3 ). É de fundamental importância que a redação das condições gerais dos contratos seja claro e de fácil compreensão pelo consumidor de modo que ele tenha consciência das obrigações que irá assinar (art. 47). - o contrato de adesão deve ser apresentado em formulário impresso e quando necessário pode haver inserção ou acréscimo de novas cláusulas manuscritas ou datilografadas, desde que não modifique a natureza do contrato (art. 54 1 ). - o contrato de adesão admite cláusula resolutória quando esta não é prevista pelas partes, ou seja, não é escrita expressamente, mas definida tacitamente. Daí pode haver a incidência do disposto nos artigos 476 e 477 do código civil atual. Assim, o inadimplemento gera a resolução do contrato, não de modo automático, mas a pedido do prejudicado e pela via judicial solicitando o cumprimento do contrato ou a rescisão do mesmo com perdas e danos. Como seja expressa a cláusula resolutória o inadimplemento resulta na extinção automática do contrato por resolução, de pleno direito, sem a necessidade de se recorrer judicialmente. Nesse caso não existe para o consumidor, pelo menos em princípio, a opção de lutar pelo cumprimento do contrato. Por esse motivo o CDC enquanto lei específica altera esse regra geral, uma vez que estabelece em seu artigo 54 2º sendo lesado o consumidor, este poderá optar entre a rescisão contratual com perdas e danos e o cumprimento da obrigação. - as cláusulas que limitam os direitos do consumidor devem ser escritas e impressas com algum tipo de destaque, de modo que permita uma rápida percepção e compreensão (ver art. 54 2 ). Desse modo, a legislação impõe que as cláusulas restritivas sejam destacadas, a fim de que chamem atenção do consumidor, para que ele faça uma avaliação real e concreta, evitando erro e engano na contratação. - no contrato de adesão a nulidade de cláusula abusiva não invalida, a menos quando na ausência destas, decorrer ônus excessivo a qualquer uma das partes (art. 51 2 ).

A partir da vigência do CDC, o contrato passa a ter uma função social uma vez que ele não cuida de defender somente os interesses do fornecedor, mas também, e principalmente os cuidados com o consumidor. Nesse sentido, o referido código estabelece as seguintes mudanças nas relações entre fornecedor e consumidor no que se refere aos contratos: a) obrigatoriedade dos contratos admitindo, inclusive, modificações de cláusulas que estabelecem prestações desproporcionais (art. 6, V, 1ª parte); b) revisão de cláusulas em função de fatos supervenientes que têm como conseqüência a onerosidade excessiva (art. 6, V, 2ª parte); c) nulidade das cláusulas abusivas; d) a garantia do produto ou serviço passou a ser regulamentada e adequada pela lei (art. 50, parágrafo único), e tipificação penal (art. 74) Conforme o artigo 46 do CDC, os contratos não podem obrigar os clientes se os fornecedores não lhe derem oportunidade de conhecer previamente o conteúdo do mesmo ou se o referido documento estiver escrito de modo não compreensivo, isto é, sem clareza. Além da falta de clareza, transparência que podem anular um contrato, o CDC no seu artigo 51, IV, ainda considera como nulas, as cláusulas que estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou seja, incompatíveis com a boa-fé ou eqüidade. Nesse sentido é que Nunes (2006 p. 59) acrescenta: Mais do que isso, o CDC declara nulas as cláusulas contratuais que prejudiquem o consumidor, mesmo que ele tenha assinado o contrato consciente delas. Entre as cláusulas nulas estão as chamadas leoninas, isto é, aquelas que desequilibram o contrato, dando apenas direitos para o fornecedor e gerando só obrigações ao consumidor. Ainda com relação à nulidade de possíveis disposições contratuais, o CDC em muitos momentos chega a ser enfático como no artigo 51, I onde declara nulas as cláusulas que impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer

natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Sobre estes aspectos o disposto do inciso XI o mesmo artigo retira a validade jurídica dos contratos que autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor. Portanto, além das normas gerais de proteção contratual dos consumidores, que vão do artigo 46 ao 50, o CDC, também apresenta normas específicas relacionadas à intervenção do cliente no conteúdo dos contratos, conforme podemos conferir no artigo 51 em toda a sua extensão. Desse modo, o sancionamento das cláusulas abusivas tem o objetivo de anulação completa dos artigos, incisos e parágrafos de contratos que possam restringir a autonomia e direitos de atuação contratual apenas ao fornecedor sem considerar o lado do consumidor. Com isso, o artigo 51 do CDC obriga o fornecedor a observar as normas das condutas por ocasião da formalização dos acordos contratuais. Esse fato garantido pelo artigo 51 confere ao consumidor um maior respeito de seus direitos e de sua cidadania que se sustentam nos parâmetros da honestidade e da moralidade dos fornecedores. (cf. ALMEIDA, 2006) Conforme Almeida (2006), além dos princípios gerais que abrangem toda a natureza positiva de garantia dos contratos, o CDC estabelece, ainda, os seguintes princípios básicos de aplicação específica na área de contratos: a) PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA: representado pela informação clara e correta em relação ao produto a ser vendido e em relação ao contrato a ser firmado. Consiste na lealdade e no respeito nas relações entre fornecedor desde a fase pré-contratual até a fase de materialização dos contratos. Por este princípio o fornecedor tem o dever de informar no momento da oferta (artigo 30 do CDC) e no momento da formalização do contrato, conforme prescreve o artigo 46 do referido código. b) PRINCÍPIO DA BOA-FÉ: representado pela honestidade, firmeza de propósito e ausência de esperteza em ambas as partes durante todo o processo de negociação contratual. Em termos contratuais este princípio reflete na tutela civil do consumidor

tendo em vista que protege-o da publicidade enganosa e permite o arrependimento mesmo depois de efetivada a contratação (ver artigo 49 do CDC). A boa-fé é limitadora do direito subjetivo, flexibiliza a estrutura material do documento contratual e produz insegurança em relação ao conteúdo do referido documento. Porém, o objetivo principal deste princípio é a manutenção e conservação do vínculo entre fornecedor e consumidor que devem manter entre si a confiança, a lealdade, a honestidade e a verdade; c) PRINCÍPIO DA EQUIDADE: representado pelo equilíbrio de direitos e deveres entre fornecedor e consumidor de modo que possa haver justiça contratual. Nesse sentido é que o CDC proíbe as cláusulas abusivas (que proporcionem vantagens ao fornecedor). Ainda, a esse respeito o mencionado código prever a possibilidade de modificação de cláusulas e revisão de contratos por onerosidade excessiva superveniente (ver artigo 6 inc. VI). Os contratos são protegidos pelo CDC e podem ter cláusulas vetadas pelo referido código quando o documento contratual formalizado apresenta as seguintes condições abusivas destacadas no artigo 51 e comentadas por Almeida (2006): a) Cláusula de não indenizar em situações fatídicas ou de vício do produto ou serviço, renúncia ou ainda disposição de direitos (inc. I); b) Cláusula de impedimento de reembolso (inc. II) de quantia já paga (uma vez que a restituição é uma opção do consumidor e deve ser respeitada juridicamente) (inc. II); c) Cláusula de transparência de responsabilidade do fornecedor (em relação aos fatos e vícios dos produtos ou serviços) para terceiros infringindo as normas jurídicas, de proteção ao consumidor e dificultando ao ressarcimento (inc. III); d) Cláusulas iníquias (perversas, injustas cruéis, contrárias à equidade), abusivas (que desrespeitam valores éticos da sociedade) e exageradas (excessiva onerosidade ao consumidor enquanto contratante hipossuficiente em relação ao poderio econômico do fornecedor) (inc. IV);

e) Cláusula de inversão do ônus da prova em favor do fornecedor colocando o consumidor em prejuízo (uma vez que o artigo 6, VIII do processo civil assegura a inversão do ônus da prova em favor do consumidor, inclusive nas hipóteses de publicidade enganosa ou abusiva) (inc. VI); f) Cláusula da arbitragem obrigando o consumidor a submeter-se judicial ou extrajudicialmente ao julgamento (fato que deve ser facultado às partes) (inc. VII); g) Cláusula da imposição de representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico em nome do consumidor tornando-se vulnerável ao submeter-se ao poder econômico do representante imposto pelo fornecedor (inc. VIII); h) Cláusula da inversão de papéis em que deixem o fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor prejudicando-o portanto (inc. IX); i) Cláusulas de variação unilateral de preços determinados direta ou indiretamente pelo fornecedor e privilegiando a superioridade econômica deste em relação a hipossuficiência do consumidor (inc. X); j) Cláusula do cancelamento unilateral do contrato onde só o fornecedor dispõe da faculdade de cancelar o contrato sem dá o mesmo direito ao consumidor (quando na realidade tal faculdade deve ser outorgada a todos os contratantes) (inc. XI); k) Cláusula de ressarcimento de custos de cobrança da obrigação do consumidor, sem, contudo oferecer igual direito ao fornecedor (inc. XII); l) Cláusula de modificação unilateral do contrato por uma só das partes após sua celebração posto que para acontecer tal fato é preciso haver vontade e participação das partes (inc. XIII); m) Cláusulas de violação de normas ambientais por qualquer uma das partes que venha ferir a legislação que protege o meio ambiente (inc. XIX);

n) Cláusulas de desconformidade com o sistema protetivo do consumidor (pois estas não podem ser derrogadas pela vontade de nenhuma das partes) (inc. XV); o) Cláusulas de benfeitorias necessárias que têm por objetivo conservar a coisa ou evitar que esta venha sofrer deterioração sem prever indenização do correspondente valor como estabelece o código civil atual no seu artigo 1,219 (inc. XIV); p) Cláusulas de multa de mora e liquidação antecipada que estabeleça valores superior ao previsto no código (2% do valor da prestação e que o consumidor deverá liquidar antecipadamente o débito com redução proporcional de juros e de outros acréscimos) (ver artigo 52 1 e 2 ) Todo esse conjunto de condições podem aparecer nos contratos de compra e venda de bens e serviços são considerados pelo CDC como cláusulas abusivas, estando portando protegidos por lei. Ainda no que se refere a proteção contratual a lei de defesa do consumidor destaca o direito do arrependimento (desistência do produto ou serviço adquirido) nas seguintes condições: para os contratos de compra e venda em que os fornecimentos são realizados no próprio estabelecimento comercial mediante a presença dos consumidores ou de seus legítimos representantes (que tomam conhecimento prévio das cláusulas contratuais refletindo-as suficientemente), deve ser aplicado o PRINCÍPIO PACTA SUNT SERVANDA. Nesse caso o consumidor cumprirá aquilo que assinou no contrato e deve assumir as conseqüências do pacto firmado. Por outro lado, se a contratação do produto ou serviço for realizada fora da empresa ou instituição comercial (através da internet, telefone, reembolso postal ou ainda em domicílio) sem que o consumidor tenha refletido suficientemente nem examinado o produto ou serviço, aí ele terá o direito de desistir do contrato, caso esteja arrependido (ver artigo 49), sendo que para tanto devemos observar as seguintes regras: a) a desistência ou arrependimento só terá validade se a contratação do produto ou serviço tiver sido realizada fora do estabelecimento comercial; b) para ser válido o arrependimento deverá ocorrer no prazo máximo de sete dias a contar da assinatura do contrato no domicílio do consumidor ou do ato de recebimento do produto ou serviço (via reembolso postal, telefone ou internet);

c) os valores eventualmente pagos durante o prazo de reflexão, serão devolvidos ao consumidor sendo essa devolução imediata e corrigida monetariamente. Desse modo, concluímos que no caso do direito de devolução por arrependimento, o consumidor não deverá sofrer nenhuma perda posto que as despesas e eventuais prejuízos que venham recair sobre o fornecedor devem ser entendidas e recebidas por este, como algo inerente àqueles que lidam com vendas externas muitas vezes de modo até mesmo agressivos. Sobre o controle das condições gerais dos contratos destacamos os seguintes mecanismos aplicados em muitos países: a) controle preventivo ou abstrato: feito por via administrativa antes de terminar a relação de consumo, normalmente é realizado por um órgão indicado para essa tarefa. No caso brasileiro, o Ministério Público através do inquérito civil pode efetuar um tipo de controle buscando ao mesmo tempo, tanto ajuste de conduta quanto ajuizamento de ação civil público. Sendo que não confere caráter geral em relação às cláusulas contratuais em questão; b) controle repressivo ou concreto: consiste naquele realizado após a conclusão da relação de consumo durante a ação judicial discutindo-se as possíveis abusividades de cláusulas contratuais. Este tipo de mecanismo de controle é o que predomina em nosso país. Através do referido modo de fazer controle de causas abusivas, os consumidores podem ir diretamente em juiz, pleitear a nulidade das cláusulas abusivas. Por outro lado, os consumidores também podem requerer um controle junto ao Ministério Público (ver artigo 51 4 ) Este é o controle concreto feito via judicial, sendo que o Ministério Público tem legitimidade ativa para propor ação visando a nulidade de cláusulas de contrato de adesão. Contudo, é preciso que haja consciência desse fato por parte dos consumidores contratantes para que possam lutar pelos seus direitos no momento de assinar as responsabilidades contratuais. Portanto, este é o desafio atual ainda a ser enfrentadonpor nossa sociedade sem visão de desenvolvimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir do CDC ocorre uma regulamentação dos contratos de compra e venda de bens e serviços e, sobretudo é regulamentado o contrato de adesão bem como, também, são estabelecidas as cláusulas consideradas abusivas dentro das relações jurídico-comerciais, conforme vimos no decorrer do corpo desse artigo. Fica evidenciado que a lei do referido código sob nº 8.078/90 outorga uma importante proteção aos contratos de compra e venda resguardando os direitos dos consumidores, principalmente daqueles pertencentes às classes populares que representam a grande massa da população brasileira. Esse grande segmento da população do país sofria e apesar do CDC, ainda vem sofrendo constantes abusos e prejuízos em decorrência de sua fragilidade tanto econômica quanto de formação escolar e informação dos seus direitos. Em relação à proteção dos contratos pela lei de defesa do consumidor, convém destacar que apesar da grande conquista dessa garantia legal, ela ainda vem se revelando insuficiente por não está regulamentado em termos precisos, mas apenas de modo bastante genérico deixando muitas brechas criadas pela natureza particular da especificidade de cada situação muito variada e dos tipos de produtos e serviços que fogem às determinações do código aqui analisado; portanto as cláusulas de proteção contratual, sobretudo no que se referem ao contrato de adesão tornam-se incapazes de manter o controle eficaz das relações contratuais entre fornecedores e consumidores. Ainda na perspectiva de destacar alguns pontos críticos em relação à proteção dos contratos de compra e venda, podemos perceber que essa proteção esta vinculada a uma garantia contratual não obrigatória, posto que varia de empresa para empresa, podendo até ser ignorada quando se trata de produtos que ainda serão produzidas no futuro. Sobre esta falta de padronização das normas de proteção contratual que pudesse alcançar o universo de todos os tipos de empresas e dos variados produtos, serviços e modalidades de produção dos mesmos, é que lembramos aqui das palavras de Almeida (2006 p. 125) quando diz:

Ideal seria a adição da lei fixando o prazo e a forma de garantia para cada categoria de produto. Tal medida tornaria mais efetiva a garantia legal e impediria manobras evasivas dos fornecedores, como retirar ou reduzir, para o futuro, a garantia contratual, o que, além de prejudicial ao consumidor, esvaziaria, de forma reflexa, a tipificação penal. Todas essas falhas no nosso CDC tornam problemática a situação contratual no Brasil, sobretudo os contratos de adesão, sendo por isso que os legisladores óptam pela possibilidade de novas construções doutrinárias e jurisprudenciais numa tentativa de estabelecer equilíbrio contratual, através da modificação de cláusulas ou de revisão de todo o documento mediante uma intervenção estatal. É nesse sentido que o atual Código Civil(2002) permite a negociação dos contratos quando a prestação de uma das partes se torna excessivamente onerosa. Para tanto, são criadas as figuras de lesão do estado de perigo quando por necessidade ou inexperiência, o sujeito assume uma obrigação excessivamente onerosa ou desproporcional. Sobre as possibilidades de renegociação dos contratos de adesão, o novo código civil ainda estabelece que a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social dos contratos (art. 421). Também obriga os contratantes a respeitar os princípios de probidade e da boa-fé durante todo o processo de condução e execução dos contratos. Desse modo, o longo caminho ainda a ser percorrido no campo contratual, apesar dos problemas aqui apresentados, já aponta para novas relações de compra e venda em nossa sociedade. ABSTRACT This proposed article brings a doctrinaire theoretical analyze about contractual protection, standing out aspects related to contract of adhesion that, it is still coming out many problems between supplier and consumer. The aim of this contract consists in analyze and discuss the points of greater relevance determined by CDC(Consumer Defense Code) among contractual relations of buying and selling in the act of achievement of legal business. Thus intending especially, it contributes with consumer s knowledge, above all the least helped of society. For this, it appeals an specialized bibliographic investigation that tells about the articles of application and principles of orientation, regulamentation of adhesion s contracts. The results of described analyze shows that the society needs to advance a lot in that area. KEYWORDS: CDC; contract; adhesion

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