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Transcrição:

A ARTE POPULAR QUE BRINCA Cyrce Andrade A primeira visita à Caruaru é inesquecível. Ela aconteceu no final da década de 70. A feira ocupava as ruas do centro, seu encanto estava na mistura de tudo o que há no mundo, nela tem para se vender, como anunciava o querido Gonzagão: sapatos, carnes, potes de barro, artigos de pecuária, cestos de palha. Muitas e muitas coisas feitas à mão: moldadas, costuradas, trançadas, pintadas. Tramas lindas das possibilidades das mãos humanas.

Uma camionete Rural levava e trazia pessoas e coisas do Alto do Moura, bairro distante e conhecido reduto de ceramistas, terra de Vitalino e Zé Caboclo, com suas figuras que passam de geração a geração. Há representações de cenas do cotidiano, algumas singelas como cozinhar ou tomar banho. As crianças, sempre com um barrinho na mão, vão aprendendo o ofício. Os jovens vão buscando dar identidade ao seu trabalho, procuram seu traço nessa arte familiar e coletiva. Trinta anos depois, o trajeto é velho conhecido, foram muitas as viagens a Caruaru e outras tantas ao Alto do Moura. A Feira hoje é setorizada: alimentos de um lado, artesanato do outro. Entre elas, os consertadores de bicicletas e eletrodomésticos, os vendedores de panela, a funilaria e o seu imensurável estoque de artefatos de zinco. Na caminhada de seis horas é impossível ver tudo! Ao lado da barraca de artigos de couro há uma mesinha. Nela trabalha tranquilamente a manicure, a feira é apenas o cenário desta arte figurativa a quatro mãos. Um pouco adiante a mãe protege o seu filhinho em um engradado de mercadoria. Pelos corredores, sacos são transportados em carrinhos, na cabeça, nos ombros, um fascinante trança- trança de produtos e um, não menos fascinante, desfile de meios de transporte. A matéria não era sobre brinquedos? Ela é. Mas era preciso que o leitor chegasse á feira. Daqui em diante, seguimos juntos. Vamos chegar pelas frutas, carnes, legumes, queijos de cabra, cereais, utensílios de cozinha. Entre as panelas, as cuscuzeiras de formas diversas, servem ao preparo do prático típico do café da manhã. Na prateleira vizinha, panelas esmaltadas, frigideiras, que parecem gigantescas ao lado da imensa variedade de panelinhas de alumínio: pipoqueira, caçarola, leiteira, escorredor de macarrão e a pequena cuscuzeira para as grandes cozinheiras das casinhas imaginárias.

Chegamos às rendas, filés e labirintos da área de artesanato. Aqui as cores dançam entre as barracas. Misturados aos tapetes, aos bordados e a tantas e tantas coisas, as cestas de brinquedos piscam para quem passa, trazendo a alegria que são sempre capazes de causar. O mané-gostoso se equilibra na frágil madeira de cores fortes.

O rói-rói gira que gira entre a corda e o papelão. As bonecas, de todos os tamanhos, tecidas com agulhas do real nas mãos da fantasia (Gilberto Gil) se abraçam na cesta repleta, o burrico, desaba nas suas quatro patas quando sente o aperto.

Não há adulto que passe indiferente, não há criança que não os aponte com o dedo. Em vez de cavalinhos, são os bodes que aguardam a montaria, tão cuidadosamente feitos que quase berram. São todos eles brinquedos para os meninos e meninas de hoje. Para aqueles de outros tempos, há imensa riqueza na arte local, há xilogravuras que retratam as brincadeiras das crianças nordestinas, há meninas pernambucanas e sua casinha sob a árvore na linda peça de Marliete Rodrigues, conhecida por suas cenas miniaturizadas. Nesta, uma dupla homenagem: às irmãs adultas, artistas únicas na arte do barro, e às pequenas Socorro e Carmélia, num reviver das mãezinhas que foram no seu tempo de faz-de-conta. Essas três grandes meninas herdaram a arte do pai Zé Caboclo e a alma brincante da mãe e sua delicada produção de panelinhas coloridas. Panelinhas presentes na obra da filha e na vida de tanta gente, gerações e gerações de crianças.

Em mais de oitenta anos de vida e arte, as cores paneleiras de Dona Celestina já se esparramaram que só! Como sinto não as ter conhecido quando ainda brincava... Caruaru, sua feira, seus artistas, despertam alguma nostalgia. Interessante porque é uma nostalgia do presente, daquilo que as nossas mãos poderão sempre fazer. Já os dedinhos das crianças, eles também vão continuar apontando as engenhocas fascinantes em meio a legumes e sapatos. O desafio, a deliciosa provocação é botar a infância nas mãos e acolhê-la de maneira simples e afetuosa, como nos acolhe o Alto do Moura, por anos a fio, enquanto durar o nosso encanto. Obrigada à Marliete e sua família por terem me mostrado que cada visita à Caruaru é inesquecível. Dessas memórias de viagem, arte e brinquedos, fica um convite: você tem uma história para contar?