COMPOSIÇÃO ICTIOFAUNÍSTICA DO SISTEMA LACUSTRE DO VALE DO RIO DOCE (MG), BRASIL.

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Transcrição:

206 COMPOSIÇÃO ICTIOFAUNÍSTICA DO SISTEMA LACUSTRE DO VALE DO RIO DOCE (MG), BRASIL. Marcelo Grombone Vasconcellos 2 ; José Valdecir de Lucca 1 ; Odete Rocha 1 ; Nelsy Fenerich Verani 2 e José Roberto Verani 2 2 Departamento de Hidrobiologia/Ufscar groovasconcellos@yahoo.com.br 1 Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva/UFSCar: fjvlucca@ufscar.br RESUMO Neste trabalho foram efetuadas coletas de peixes em 22 lagoas do sistema lacustre do médio rio Doce-MG. No total foram coletadas 32 espécíes, das quais 11 são espécies introduzidas. Dentre estas, seis espécies não constavam das listas apresentadas nos trabalhos das décadas de 80 e 90, revelando serem introduções recentes, embora pelo menos cinco já se encontrem estabelecidas no sistema. Duas espécies alóctones, Cichla monoculus e Pygocentrus nattereri, introduzidas na década de 70, foram consideradas espécies acessórias na comunidade, com freqüência de ocorrência de 37% dos esforços enquanto que Hoplosternum litoralle, exótica ao sistema, foi registrada em 64% das amostras, sendo considerada como uma espécie constante. ABSTRACT In this work we analyzed the fish communities of 22 ponds belonging to the lacustrine system of the Middle rio Doce-MG. A total of 32 specíes were collected. Among these 11 were introduced. Six of the latter species did not appear in the works published in the 80 s and 90 s decades, indicating that they are recent introductions, despite the fact that at least five species are fully established in the system. Cichla monoculus and Pygocentrus nattereri, introduced in the decade of 70, were considered as accessory species in this work, with a frequency of occurrency of 37%, whereas Hoplosternum litoralle, exotic to the system, was recorded in 64% of the samples, being considered a constant species. INTRODUÇÃO Inserido na depressão interplanáltica do Vale do Rio Doce, o sistema lacustre do rio Doce, na região da Zona da Mata, é formado por uma rica rede de drenagem e por remanescentes de Mata Atlântica. Nessa região encontram-se aproximadamente 160 lagos não conectados com o Rio Doce formando um verdadeiro sistema lacustre natural (TUNDISI & SAIJO, 1997), com lagos nos mais variados estágios de evolução, formados a partir de complexos

207 processos geológicos. Originado há pelo menos 10.000 anos, o sistema lacustre do médio Rio Doce constitui o maior remanescente do bioma Mata Atlântica em Minas Gerais, totalizando 36.000 ha de florestas (5% do que havia originalmente na região), em sua maior parte secundárias. Estão inseridos no vale do médio rio Doce, em Minas Gerais, o Parque Estadual do Rio Doce (PERD) e a Estação Biológica de Caratinga (EBC), (19o 29' 24 19o 48' 18" S; 42o 28' 18 42o 38' 30" W) que juntos concentram uma rica biodiversidade (De Meis & Tundisi,1997). Levantamentos da década de 50 sobre a fauna ictiológica da bacia do rio Doce indicavam a ocorrência de cerca de 35 espécies (Godinho, 1996). Em trabalhos mais recentes, relacionados principalmente às lagoas do PERD e do entorno deste, foram registradas 28 espécies de peixes, sendo que destas, 3 seriam introduzidas: o tucunaré Cichla sp. a piranha Pygocentrus natereri e o apaiari ou cará amazonas, Astronotus ocellatus (Godinho, 1996). Segundo moradores da região, as primeiras introduções de Cichla e Pygocentrus, ocorreram na década de 70. Em trabalhos realizados já na década de 80, Sunaga & Verani (1997) constataram a presença de Cichla e Pygocentrus, além de outras espécies alóctones e a decadência de espécies nativas, principalmente as consideradas forrageiras. OBJETIVOS O presente trabalho teve como objetivo determinar a composição da ictiofauna do sistema lacustre do Rio Doce, avaliando a atual situação após mais de 30 anos com introduções de espécies alóctones e exóticas. MATERIAL E MÉTODOS Foram efetuadas coletas durante o período de 09 a 25 de setembro em 22 lagoas do vale do médio rio Doce, utilizando-se 619,5 m 2 de redes de espera das malhas 03, 06, 08, 10 e 12, deixadas em pernoite, totalizando 15 horas de amostragem em cada lago. As redes eram vistoriadas durante a noite para evitar o ataque de predadores oportunistas e a deterioração dos espécimes coletados. Após a coleta do material ictiológico, este era devidamente separado por espécies e computados em relação à abundância numérica das espécies, a cada esforço de pesca. Posteriormente os exemplares, fixados em formol 10% eram taxonomicamente identificados em laboratório, sendo posteriormente depositados, em sua totalidade, como material testemunho junto ao departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Federal de São Carlos. A constância das espécies foi determinada pela fórmula de Bodenheimer (1938): C= (P x 100) / N, onde: P= número de coletas contendo a espécie (total de amostras mensais) e N= número total de coletas realizadas. De acordo com os percentuais obtidos, as espécies foram separadas nas seguintes categorias: espécies constantes - presentes em mais de 50% das coletas; espécies acessórias - presentes em 25% a 50% das coletas e espécies raras - presentes em menos de 25% das coletas.

208 RESULTADOS E DISCUSSÃO NATIVOS NOME VULGAR CONSTÂNCIA Ord Clupeiformes Família Engraulidae Anchoviella sp. Lambari bocarra, manjuba acessória Ord. Characiformes Família Characidae Astyanax bimaculatus(limnaeus, 1758) Lambari constante Astyanax fasciatus (Cuvier,1819) Lambari rara Astyanax taeniatus (Jenyns, 1842) Lambari rara Moenkhausia doceana (Steindachner, 1877) Lambari chatinha acessória Olygosarcus solitarius Menezes, 1987 Bocarrão constante Subfamília Bryconinae Brycon devillei (Castelnau, 1855) Piabanha rara Família Anostomidae Leporinus steindachneri Eigenmann, 1907 Piau rara Leporinus copelandii Steindachner, 1875 Piau palhaço, Timburé acessória Família Curimatidae Cyphocharax gilbert (Quoy & Gaimard, 1824) Roncador acessória Família Erythrinidae Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) Traíra constante Hoplerythrinus unitaeniatus(agassiz, 1829) Traíra rara Ord. Siluriformes Família Auchenipteridae Tracheyiopterus striatulus(steindachner, 1877) Cumbaca constante Família loricariidae Loricariichthys castaneus (Castelnau, 1855) Cascudo rara Hypostomus sp. Cascudo rara Familia Heptapteridae Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard, 1824) Mandi rara Ord. Perciformes Familia Cichlidae Subfamilia Cichlasomatinae Australoheros facetus (Jenyns, 1842) Acará rara Subfamilia Geophaginae Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824) Cará constante Subfamília Cichlinae Crenicichla lacustris (Castelnau, 1855) Bastiana rara Crenicichla sp. Bastiana rara Família Sciaenidae Pachyurus adsperus Steindachner, 1879 Corvina Constante INTRODUZIDOS Ord Characiformes Família Characidae Subfamilia Serrasalminae Pygocentrus nattereri Kner, 1858 Piranha acessória Família Prochilodontidae Prochilodus vimboides Kner, 1859 Grumatã acessória

209 Prochilodus lineatus (Valenciennes, 1836) Grumatã rara Ord. Siluriformes Família Callichthyidae Subfamíla Callichthyinae Hoplosternum litoralle (Hancock, 1828) Peixe pedra constante Callichthys callichthys (Linnaeus, 1758) Peixe pedra rara Família Clariidae Clarias gariepinus (Burchell,1822) Bagre africano rara Ord. Gymnotiformes Família Gymnotidae Gymnotus carapo Linnaeus, 1758 Tuvira, sarapó acessória Ord. Cyprinodontiformes Família Poeciliidae Subfamilia Poeciliinae Poecilia reticulata Peters, 1859 Guarú rara Ord. Perciformes Família Cichlidae Subfamilia Cichlinae Cichla monoculus Spix & Agassiz, 1831. Tucunaré, catunaré acessória Subfamília Astronotinae Astronotus ocellatus (Agassiz, 1831) Apaiari rara Subfamilia Pseudocrenilabrinae Tilapia rendalli(boulenger, 1897) Tilapia rara Tabela 1- Espécies de peixes capturadas em 22 lagoas do vale do médio rio Doce de acordo com o proposto em Reis et al, 2003. Os resultados deste estudo indicam o estabelecimento das espécies exóticas Cichla monoculus e Pygocentrus nattereri, que em relação às 22 lagoas amostradas, foram, de acordo com os cálculos de constância, conceituadas como acessórias já que foram capturadas, ambas em 37% das amostragens realizadas (Tabela 1). Nos trabalhos realizados por Sunaga & Verani (1987) e Godinho (1996), não há registros da ocorrência do Siluriforme Hoplosternum litoralle, enquanto no presente trabalho constatou-se a o estabelecimento populacional desta espécie, que das onze seguramente introduzidas no sistema, foi a única considerada como constante já que foram capturados espécimes em 64% das amostragens. Por ser utilizada como isca para grandes piscívoros, os pescadores podem ter sido os responsáveis pela introdução na bacia do rio Doce, deste organismo, assim como de Gymnotus carapo, anteriormente não detectado até os trabalhos de Godinho em 1996. Ambas as espécies são de reconhecida rusticidade e capacidade de invasão. Neste trabalho foram capturados em cerca de 5% dos esforços de pesca, o peixe predador de origem africana Clarias gariepinus, espécie reconhecida por sua rusticidade e capacidade de rápida colonização de ambientes, assim como pela voracidade, sendo um dos maiores e mais eficazes piscívoros da bacia do rio Zambeze, na África (Winemiller & Winemiller, 1996). A espécie foi conceituada como rara, porém os apetrechos de pesca provavelmente não refletem a abundância observada informalmente no ecossistema. As espécies de Prochilodontidae alóctones Prochilodus vimboides e Prochilodus lineatus foram capturadas respectivamente em 32% e 10% dos esforços de coleta (tabela 1) tendo sua distribuição restringida neste sistema lacustre, principalmente pelo seu padrão reprodutivo que envolve migrações, o que é dificultado pelo contato intermitente dos lagos com os ribeirões.

210 A principal característica observada nas lagoas em que se registra a presença de Cichla monoculus e de Pygocentrus nattereri é a depleção das espécies forrageiras como Astyanax bimaculatus, Astyanax fasciatus, Moenkhausia doceana, Anchoviella sp e Cyphocharax gilbert e dos carnívoros como Olygosarcus solitarius, embora H. malabaricus, ainda seja uma espécie constante. Um fenômeno semelhante foi registrado por Santos et al., (1994) que estudaram dois reservatórios do estado de Minas Gerais com estabelecimento de espécies alóctones piscívoras: Furnas (com a presença de Cichla ocellaris) e Marimbondo (com a presença de Cichla ocellaris e Plagioscion squamosissimus) e encontraram marcante diminuição nas populações de peixes forrageiros e alterações na estrutura da comunidade zooplânctonica. Em muitas lagoas amostradas informalmente, apesar da não detecção de espécies invasoras piscívoras, a comunidade nativa se encontra estruturalmente alterada e prejudicada, pois espécies alóctones iliófagas ou omnívoras como H. litoralle e G. carapo são capturadas em quantidades que comprovam o desequilíbrio. CONCLUSÃO As espécies exóticas piscívoras Cichla monoculus e Pygocentrus nattereri encontramse bem estabelecidas no sistema de lagos do Vale do Médio rio Doce. O predador de topo, nativo, Hoplias malabaricus ainda é uma espécie constante no ecossistema, apesar da introdução de potenciais competidores. Das onze espécies introduzidas no sistema, pelo menos cinco já se encontram atualmente estabelecidas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BODENHEIMER, F.S. 1938. Problems of animal ecology. Oxford. Univ. Press, 179p. DE MEIS, M. R. M. & TUNDISI, J. G., 1997. Geomorphological and limnological processes as a basis for lake typology. The middle rio Doce lake system, In: TUNDISI, J. G & YATSUKA, S. Eds. 1997. Limnological studies on the Rio Doce Valley Lakes, Brazil. Acad. Bras. Cienc/ Univ. São Paulo, São Carlos, 528p. GODINHO, A. L. 1996, Peixes do Parque Estadual do Rio Doce, Belo Horizonte: Instituto Estadual de Florestas/UFMG. 48p. REIS, R. E.; KULLANDER, S. O. & FERRARIS-JR, C. J. 2003. Checklist of the freshwater fishes of South and Central America. Porto Alegre. EDIPUCRS, 742p. SANTOS, G.B; MAIA-BARBOSA, P.M; VIEIRA, F. & LÓPEZ, C. M. 1994. Fish and zooplankton community structure in reservoirs of southeastern Brazil: effects of the introduction of exotic predatory fish. In: Ecology and Human Impact on Lakes and Reservoirs in Minas Gerais. 193 p.

211 SUNAGA, T. & VERANI, J. R. 1997. The Fish Communities of Four Lakes, pp. 360-369 In: Tundisi, J. G & Yatsuka, S. Eds. 1997. Limnological studies on the Rio Doce Valley Lakes, Brazil. ACAD. BRAS. CIENC/ UNIV. SÃO PAULO, SÃO CARLOS, 528p. TUNDISI, J. G. & SAIJO, Y. (1997). Limnological studies on the Rio Doce Valley Lakes, Brazil, 528p. WINEMILLER, K. O. & KELSO-WINEMILLER, L. C. 1996. Comparative ecology of catfishes of the Upper Zambezi River floodplain. Journal of Fish Biology 49, 1043 1061. ZARET, T. M. & PAINE, R. T. 1973, Species introduction in a tropical lake. Science, v. 182, pp. 449-455.