MANEJO E INTERFERÊNCIA DAS PLANTAS DANINHAS EM SOJA: UMA REVISÃO INTERFERENCE AND MANAGEMENT OF WEEDS IN SOYBEAN: A REVIEW RESUMO

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MANEJO E INTERFERÊNCIA DAS PLANTAS DANINHAS EM SOJA: UMA REVISÃO INTERFERENCE AND MANAGEMENT OF WEEDS IN SOYBEAN: A REVIEW Fernanda Lopes Salvador 1 RESUMO As plantas daninhas são pioneiras em diversidade dos ecossistemas, estão em vários lugares e conseguem esta diversidade em função de sua agressividade, de sua rápida disseminação e grande capacidade de extrair nutrientes do solo, dentre outras qualidades. A soja é uma cultura que sofre com a presença das plantas daninhas, tendo sua produtividade reduzida, afetando a qualidade dos grãos e diminuindo a colheita. O manejo das plantas daninhas na cultura da soja deve ser realizado com base nas características biológicas da cultura e da planta daninha, determinando o período de interferência para que seja escolhido o método mais adequado de controle evitando as perdas na produção. A busca por produtividade e economia torna mais rígido o controle de plantas daninhas, fazendo dos métodos considerados eficientes, como os herbicidas, uma solução para todos os problemas. É nesse contexto que a cultura da soja está inserida, buscando a escolha do melhor herbicida para o controle de determinada planta daninha, visando a melhor produtividade. Palavras-chave: Glycine max, L., interferência, planta daninha. ABSTRACT The weed plants are pioneering in diversity of the ecosystems, they are in several places and they get this diversity in function of its aggressiveness, of its fast spread, great capacity to extract nutrients in the soil among other qualities. The soybean is a culture that suffers with the presence of weed plants, which causes losses in the harvest, besides to affect the quality of the grains and to reduce the amount of harvested grains. The soybean is a native culture of temperate climate, and it is a disadvantage to compete with the weeds, which are adapted to the tropical climate. The management of the weed plants in soybean should be 1 Engª Agrª Mestranda, Pós Graduação em Fitotecnia. ESALQ-USP, Piracicaba, SP. salvador@esalq.usp.br

59 Manejo e interferência... accomplished in the biological characteristics in the crop and in the own weed plant; to determine the interference period is the solution to the problems, because it is possible to choose the most appropriate method of control avoiding the losses in production. The productivity search and economy turns more rigid the control of weed plants, doing the methods that are considered efficient, as the herbicides, a solution for all of the problems. In this context the soybean culture is inserted, looking for the choice of the best herbicide to control weed plants, trying to get the best productivity. Key words: Glycine max (L.) Merrill, interference, weed plant. INTRODUÇÃO A soja [Glycine max (L.) Merrill] é a oleaginosa mais cultivada no mundo, originária do Extremo Oriente, é a base da alimentação dos povos da região da China, Japão e Indonésia (MATOS, 1987). Apesar de ser uma cultura muito explorada, a soja encontra alguns problemas de produtividade quando na presença de plantas daninhas, as quais reduzem lucros e aumentam custos, tornando o produto final menos competitivo no mercado. Segundo LORENZI (2000), as interferências causadas pelas plantas daninhas reduzem a produção agrícola em cerca de 30 a 40%. A competição com as plantas daninhas é um dos fatores que mais afeta a produtividade da cultura da soja, causando prejuízos não só na produção agropecuária, mas também ao homem, infestando diversas áreas industriais, margens de estradas, leitos de ferrovias, parques, jardins, entre outros lugares. O conhecimento das plantas daninhas infestantes da área é importante para os produtores, pois facilita a utilização de um manejo adequado destas plantas e principalmente um monitoramento constante de qualquer tipo de mudança da flora daninha, tanto ao nível de espécies predominantes quanto de biótipos dentro de cada espécie (CHRISTOFFOLETI, 1998). As plantas daninhas apresentam, basicamente, as mesmas necessidades que as plantas cultivadas em termos de nutrientes. Entretanto, devido à sua maior habilidade em aproveitá-los, conseguem acumulá-los em seus tecidos em quantidades maiores que as plantas cultivadas (DEUBER, 1986). Os prejuízos na cultura da soja variam de acordo com as espécies infestantes existentes na cultura, com o tipo de cultivar e a intensidade de interferência que a cultura está sofrendo (VOLL et al., 2002). A utilização de técnicas de controle das infestações não são simples, pois já no ano de 1982 as perdas provocadas por

Salvador, F.L. 60 pragas, doenças e plantas daninhas, atingiram 35 bilhões de dólares. Só com o controle foram gastos 10 bilhões de dólares e 10% deste total era representado pelas perdas ocasionadas pelas plantas daninhas (SHAW, 1982). Em vista da competição que a cultura sofre há necessidade de um manejo irão interferir não só na produtividade mas também na operacionalização do sistema de produção empregado. As plantas daninhas são competitivas devido as características de sobrevivência que apresentam. Para tornarem-se mais competitivas, as daninhas desenvolveram inúmeros mecanismos de utilizando diferentes métodos de controle agressividade, como a capacidade de de plantas daninhas, visando minimizar ou mesmo extinguir a interferência causada na cultura da soja cultura. DEFINIÇÕES PLANTA DANINHA O conceito de planta daninha baseiase nos princípios da indesejabilidade em relação ao homem. Considera-se planta daninha uma planta que cresce onde não é desejada (SHAW, 1982; LORENZI, 1982). Planta daninha já foi um dia definida como uma erva estranha a uma cultura e que compete com ela por luz, umidade e nutrientes. Botanicamente não existe a palavra erva e nem mesmo erva má, mas são assim chamadas por invadirem as culturas, prejudicando seu desenvolvimento (SAAD, 1968). PITELLI (1985) conceitua as plantas daninhas como aquelas que, espontaneamente emergem nos ecossistemas agrícolas podendo causar uma série de fatores às plantas cultivadas que sobrevivência em condições adversas; grande produção de sementes, com grande facilidade de dispersão e longevidade; mecanismos de propagação eficientes como rizomas, tubérculos, que resistem no solo por longos períodos (LORENZI, 1982). INTERFERÊNCIA A interferência das plantas daninhas sobre culturas agrícolas constitui o conjunto de ações sofridas pela população da planta cultivada como conseqüência da presença de plantas daninhas no ambiente comum. A interferência pode ser direta, envolvendo a competição pelos recursos do meio, a alelopatia e o parasitismo; ou indireta envolvendo prejuízos à colheita e tratos culturais ou atuando como hospedeiras intermediárias de pragas, doenças e nematóides (PITELLI, 1985). Em relação à avaliação da interferência imposta pelas plantas daninhas às culturas, as estimativas de perdas podem ser calculadas pelos períodos de interferência daninha-cultura, sendo o

61 Manejo e interferência... Período Anterior à Interferência (PAI), o Período Crítico de Prevenção a Interferência (PCPI) e o Período Total de Prevenção de Interferência (PTPI). Quando PAI é menor que o PTPI encontramos o Período Crítico de Prevenção a Interferência (PCPI). O PCPI é, por definição, o período do ciclo durante o qual a convivência da cultura com as plantas daninhas resultam em prejuízo na produtividade da espécie de interesse econômico, corresponde aos limites máximos entre os dois períodos (PAI e PTPI). O PAI é o período em que, a partir da emergência ou semeadura da cultura, esta pode conviver com a comunidade infestante antes que sua produtividade ou outras características sejam afetadas negativamente. O PTPI é o período, a partir da emergência ou semeadura da cultura, em que esta deve ser mantida livre da presença da comunidade infestante para que sua produtividade não seja afetada negativamente (PITELLI & DURIGAN, 1984). Esses períodos de interferência têm sido o alvo de inúmeros trabalhos recentes de pesquisa em diferentes culturas (FREITAS et al., 2002; KOZLOWSKI et al., 2002; SALGADO et al., 2002; KUVA et al., 2003; SKÓRA NETO, 2003). PERÍODOS DE INTERFERÊNCIA Para o entendimento dos períodos de interferência, SPADOTTO et al. (1992), realizou um estudo com plantas de picãopreto (Bidens pilosa) na cultura da soja e verificaram que o período de interferência inicial, ou o período anterior a interferência (PAI), foi da emergência até 49 dias do ciclo da cultura. A partir dos 49 dias a planta daninha começou a interferir na cultura, reduzindo a produtividade de 2.355 kg.ha -1 (na ausência de plantas daninhas) para 2.131 kg.ha -1. O período de interferência de Euphorbia heterophylla (amendoim bravo, leiteiro) na cultura da soja foi estudado por MESCHEDE et al. (2002). O experimento objetivava avaliar os efeitos da interferência em baixa densidade de semeadura, utilizando 17 plantas por metro linear, com espaçamento de 0,45m entre linhas. O estande final era composto pela densidade de 12 plantas por metro linear. Constataram que o período total de prevenção à interferência (PTPI) foi de 44 dias e o período anterior a interferência foi de 17 dias, inferior a outros estudos. Os dados indicam uma suscetibilidade precoce da cultura à interferência imposta pelo amendoim bravo, sob condições de baixo estande da soja. Segundo a maioria dos trabalhos, o período anterior a interferência (PAI) em densidades normais de plantio,

Salvador, F.L. 62 situa-se entre 20 e 50 dias após a emergência (ROSSI, 1985; HARRIS & RITTER, 1987; VELINI, 1989), bem maior do que o período encontrado neste experimento. CARVALHO & VELINI (2001), estudaram os períodos de interferência das plantas daninhas na cultura da soja, cultivar IAC-11. Os tratamentos foram compostos de testemunhas capinadas e sem capina e de diferentes épocas de controle das plantas daninhas, onde a cultura foi mantida na presença ou na ausência das mesmas. Constataram que o período anterior a interferência (PAI) foi de 49 dias e o período total de prevenção a interferência (PTPI) como sendo de 20 dias. Deste modo, não houve período crítico de prevenção a interferência, pois o período anterior a interferência (49 dias) foi maior que o período total (PTPI). Como método de controle das daninhas neste caso, é recomendado um herbicida pós-emergente, cujo efeito residual vai de 20 dias até o término do PAI (49 dias) ou um préemergente que apresente um efeito residual que ultrapasse o PTPI (20 dias). Um outro estudo foi realizado para avaliar os períodos de interferência de plantas daninhas em soja, utilizando dois espaçamentos, 30 e 60 cm. Os tratamentos foram: ausência e presença de plantas daninhas por 0, 10, 20, 30, 40, 50 e 60 dias do ciclo da soja, contados a partir da emergência da mesma. Concluíram que o período anterior a interferência (PAI) foi de sete dias, o período crítico de prevenção da interferência (PCPI) localizou-se entre o sétimo e o 53 dia e o período total de prevenção da interferência (PTPI) foi de 53 dias, para o espaçamento de 30 cm. Para o espaçamento de 60 cm, o PAI foi de 18 dias, o PCPI de 14 a 47 dias e o PTPI de 47 dias. Assim, a soja plantada em espaçamento menor tem o PAI menor, ou seja, o controle deve ser realizado mais precocemente (MELO et al., 2001). QUANTIFICAÇÃO DAS PERDAS POR INTERFERÊNCIA Inúmeras são as perdas causadas pelas daninhas na cultura da soja. Segundo alguns dados, as perdas na região de Campinas, SP, chegaram a 90% em dois experimentos quando a competição ocorreu durante todo o ciclo da cultura (BLANCO, 1973). BRIDGES et al. (1992) verificaram que a cultura da soja apresenta reduções de produtividade de 30 a 50% quando há infestação do leiteiro (E. heterophylla), nas densidades de 12 e 32 plantas.m -2. Em trabalho com Euphorbia dentata, JUAN et al. (2003), constataram que a competição desta planta daninha com a cultura da soja

63 Manejo e interferência... causou redução de 40% no número de legumes por planta de soja. O processo de tomada de decisão de controle de plantas daninhas é baseado em níveis de danos econômicos, apoiados nos modelos existentes de previsão de perda. A partir desta constatação, SPADOTTO et al. (1992) estudaram os parâmetros para o monitoramento da interferência de plantas daninhas na cultura da soja. A cultura permaneceu na presença e na ausência da comunidade infestante de folhas largas desde a emergência até os 0, 10, 20, 30. 40, 50, e 60 dias de seu ciclo. Os autores observaram que o monitoramento do nível de dano econômico deve ser realizado tendo como referência o acúmulo total de matéria seca da comunidade infestante e os seguintes parâmetros de crescimento das plantas de soja: número de folhas trifolioladas, área da lâmina foliar, acúmulo de matéria seca de folhas e matéria seca total. KLINGAMAN & OLIVER (1994), conduziram campos experimentais separados de soja e algodão e avaliaram as datas de plantio como fator determinante da perda durante a colheita. A soja estava infestada com Ipomoea hederacea var. integriuscula (corda-de-viola) e Senna obtusifolia (fedegoso). As perdas no campo resultantes da interferência das plantas daninhas aumentam conforme o plantio atrasa do começo de Maio ao começo de Junho. As perdas no campo originadas de 1,7 daninhas.m -1 na linha foram de 10, 18 e 20% para soja plantada no começo de Maio, meio de Maio e começo de Junho, respectivamente. Para 6,7 daninhas.m -1 as perdas foram ainda maiores para as mesmas datas anteriormente citadas, 17, 31 e 35%. Para o algodão, com 1,7 daninhas.m -1 na linha, as perdas foram de 33 e 28% para início de Maio e de Junho e para 6,7 daninhas.m -1 as perdas chegaram a 50% em cada uma das datas anteriores. Concluíram que, para o algodão, a data de plantio não influiu nos níveis de interferência das daninhas pelo fato do estudo não ter sido suficiente para comprovar a interferência. Para a soja é necessário o estabelecimento de datas de plantio bem definidas, podendo assim, reduzir as perdas causadas pela interferência das daninhas. VOLL et al. (2002) estudaram a competição de espécies de plantas daninhas com dois cultivares de soja de ciclo precoce (Embrapa-48) e ciclo médio (Embrapa-62). O objetivo do trabalho foi avaliar a competição de E. heterophylla (amendoimbravo), Brachiaria plantaginea (capimmarmelada), Ipomoea grandifolia (cordade-viola) e S. obtusifolia (fedegoso) na redução da produtividade da soja. Segundo os resultados, o cultivar Embrapa-48 apresentou uma produtividade de 2.819

Salvador, F.L. 64 kg.ha -1 na ausência de plantas daninhas; quando na presença de amendoim bravo na densidade de 22,1 plantas.m -2 a produtividade da soja sofreu uma redução de 56%, apresentando uma produtividade de 1.689 kg.ha -1. Para o capim marmelada a redução foi de 20%, para a corda-de-viola foi de 33% e o fedegoso, 55%. Para o cultivar Embrapa-62, com produtividade de 2.565 kg.ha -1 houve uma redução de 60% com a presença de fedegoso. A quantificação de perdas ocasionadas pela planta daninha E. heterophylla na cultura da soja foi estudada em trabalho realizado no Paraná, onde esta planta daninha é uma das principais infestantes. Constataram que a presença da daninha proporcionou perdas diárias de produtividade de 5,15 kg.ha -1, enquanto que a ausência desta planta daninha representou ganho diário de produtividade de 7,27 kg.ha -1 (MESCHEDE et al., 2002). Avaliações de diferentes variáveis para o uso no modelo de previsão de perdas pela interferência de picão-preto em soja foi estudado por FLECK et al. (2002b). As densidades das plantas daninhas foram avaliadas aos 20 e 30 dias após a emergência da soja (DAE) e na précolheita. As características morfológicas das plantas de picão-preto, como densidade de folhas, área foliar e cobertura foliar do solo foram avaliadas aos 20 DAE. Como resultados obtiveram que as melhores variáveis explicativas da previsão de perdas de rendimento de grãos de soja pela interferência de picão-preto foram as características morfológicas, como densidade de folhas e a área foliar. Deste modo, percebe-se a importância da quantificação de perdas e métodos de controle que evitem ou amenizem os danos causados pelas plantas daninhas na cultura da soja. OUTROS TIPOS DE INTERFERÊNCIA MEROTTO et al. (2002) estudaram os efeitos da competição artificial e da competição natural (própria planta daninha) na cultura da soja e do arroz. Foram realizados dois experimentos: o primeiro avaliando as fontes de luz artificiais e o segundo avaliando a variação da presença de daninhas na área total ou na entrelinha. Concluíram que as plantas daninhas até os 15 e 16 dias após a emergência diminuíram o crescimento da soja e do arroz. As plantas daninhas podem ser consideradas como fatores principais de alteração da quantidade de luz e interferência no desenvolvimento inicial das culturas, por sombreá-las. O condicionamento osmótico de sementes é uma técnica eficiente utilizada para melhorar a germinação e o vigor das

65 Manejo e interferência... sementes. Em experimento para avaliar essa técnica, dois cultivares de soja, Doko e UFV-5 foram testadas em diferentes temperaturas. As sementes desses cultivares foram submetidas ao condicionamento osmótico, utilizando o polietileno glicol 6000, uma solução que foi colocada nos papéis de germinação, no interior de alguns gerbox para a semente ser acondicionada nas câmaras de germinação. Concluíram que essa técnica é eficiente para melhorar o vigor das sementes e a qualidade de germinação (GIÚDICE et al., 1999). Baseado no experimento de GIÚDICE et al., (1999), NUNES et al. (2002) desenvolveram um experimento para verificar o efeito do condicionamento osmótico das sementes de soja na habilidade competitiva da cultura com as plantas daninhas. Quando as sementes são submetidas ao condicionamento osmótico, absorvem mais lentamente a água, permitindo que as membranas se reestruturem de forma ordenada, aumentando o vigor das sementes. Os experimentos avaliaram sementes colhidas no estádio fenológico R8 com e sem o condicionamento osmótico. Deste modo, observaram que os estandes iniciais e finais de plantas colhidas em R8 foram maiores quando utilizou-se o condicionamento osmótico, mas o número de sementes por planta não foi alterado pela utilização desta técnica. O efeito competitivo cultura-planta daninha foi verificado pelos menores valores de biomassa seca das daninhas nos tratamentos em que foram utilizadas as sementes colhidas no estádio R8 e condicionadas osmoticamente, concluindo que o condicionamento osmótico é uma técnica que permite a cultura ser mais competitiva. MÉTODOS DE MANEJO DE PLANTAS DANINHAS As etapas de controle utilizadas como manejo de plantas daninhas são: erradicação ou supressão, prevenção e controle propriamente dito. (CONSTANTIN, 2001). As medidas de erradicação visam a eliminação de determinadas plantas na área, sendo destruídas suas sementes ou qualquer outra forma de propagação. Nesta categoria o controle utilizado engloba produtos químicos que promovam a desinfecção do solo (BARARPOUR & OLIVER, 1998). As medidas de prevenção incluem métodos que dificultem a introdução e a disseminação de plantas daninhas em áreas onde elas ainda não foram introduzidas. As medidas de prevenção incluem o uso de sementes certificadas que sigam a legislação vigente, a limpeza de equipamentos de preparo do solo e colhedoras; utilização de mudas livres de

Salvador, F.L. 66 plantas daninhas; cuidados com adubos orgânicos; cuidados com canais de irrigação e outras áreas próximas à propriedade que possam estar contaminadas por algum tipo de daninha; utilização de sistema adequado de manejo do solo na entressafra, como rotação de culturas (CONSTANTIN, 2001). Se as medidas preventivas não forem suficientes e as daninhas conseguirem disseminar-se, os focos iniciais de novas plantas daninhas também devem ser isolados, evitando o seu alastramento (GELMINI et al., 1994; VICTORIA FILHO, 2000). TIPOS DE CONTROLE O controle é o manejo propriamente dito que irá reduzir o número de plantas daninhas a fim de impedir que a interferência sobre as plantas cultivadas reduza a produção econômica, além de prevenir o aumento no número de propágulos (POOLE & GILL, 1987). O controle pode ser físico, cultural, biológico, mecânico ou químico. Controle físico Como medidas de controle físicas pode-se utilizar o calor, onde há a coagulação do protoplasma em células vegetais, provocando a morte da planta (BRYANT, 1989). A água, tanto na inundação quanto na drenagem também pode ser uma alternativa quando há a possibilidade de ser utilizada, pois um grande número de plantas daninhas não sobrevive quando uma área é inundada e as plantas são totalmente imersas (VICTORIA FILHO, 2000). Essa técnica não é muito utilizada. As coberturas plásticas para controlar daninhas, segundo GELMINI et al. (1994) podem ser utilizadas. Há relatos de sucesso desse recurso em algumas culturas como morango, videira e algumas frutíferas. Controle cultural A adoção de medidas de controle culturais envolvem métodos que permitam que a relação entre daninha-cultura seja favorecida, considerando que as raízes das plantas daninhas e das culturas cultivadas, ao se desenvolverem em um mesmo ambiente ocupam o mesmo espaço, competindo por água e nutrientes. Um bom manejo permite que a planta cultivada ganhe no aspecto competitivo, em relação as daninhas (VICTORIA FILHO, 2000). A escolha de cultivares é determinante no sucesso do controle de plantas daninhas. Especial atenção deve ser dada as cultivares que tenham fechamento mais rápido, controlando melhor as daninhas (LIEBAMN et al., 2001). O período de controle deve ser respeitado, não só visando a interferência das plantas daninhas sobre a produção da

67 Manejo e interferência... cultura como também o controle até a colheita (CARVALHO & VELINI, 2001). REGNIER & JANKE (1990) incluem no controle cultural: utilização de cobertura morta e rotação de culturas, a utilização de cultivares competitivos e/ou alelopáticos e a utilização de diferentes espaçamentos e épocas de semeadura. A rotação de culturas visa modificar a população de plantas daninhas predominantes, propiciando a diversificação dos métodos de controle, pois quando diferentes culturas exploram uma mesma área, a intensidade de competição e os efeitos alelopáticos são modificados, possibilitando a oportunidade de utilização de herbicidas com mecanismos de ação diferenciados, realizando uma rotação de herbicidas e de métodos de controle (GRAVENA et al., 2004). A rotação de culturas é um manejo cultural importante, pois além dos benefícios de melhor uso e enriquecimento do solo, há uma redução de dissemínulos de espécies que vegetam na área. Além disso, a rotação de cultura com o plantio direto tem sido cada vez mais eficaz, principalmente na cultura da soja (DEUBER, 1997). A cobertura do solo influencia diretamente na germinação das plantas daninhas, uma fez que há alterações nas comunidades infestantes e a cobertura funciona como uma barreira física, dificultando ou mesmo impedindo a germinação das daninhas (VELINI & NEGRISOLI, 2000). A eficiência do manejo pela palhada da cultura, utilizada como cobertura morta, pode ser constatada pela dificuldade dos processos de germinação dos propágulos e pela presença de dormência, pois a palha atua na incidência da luz, na temperatura e na umidade, funcionando como uma barreira física de impedimento à emergência das plântulas das infestantes anuais, tendo um efeito alelopático muitas vezes (CORREIA & DURIGAN, 2004). A alelopatia é considerada como um método de manejo ou controle aleloquímico de daninhas não manipulável pelo homem, estando ligada a vários estresses ambientais, incluindo temperaturas extremas, deficiências de nutrientes e de umidade, incidência de luz, insetos, doenças e herbicidas (EINHELLIG, 1996). Essas condições de estresse freqüentemente aumentam a produção de aleloquímicos, aumentando o potencial de interferência alelopática (EINHELLIG, 1995), o que contribui para o controle de plantas daninhas na cultura da soja. Quimicamente, a palhada atua com seu efeito alelopático, pois a cobertura libera substâncias no meio que diminuem a germinação e o desenvolvimento das

Salvador, F.L. 68 plantas daninhas. A Crotalaria juncea é uma leguminosa anual que, segundo CALEGARI et al. (1993), tem efeito alelopático e/ou supressor de invasoras bastante expressivo, sendo utilizada muitas vezes como cobertura morta para o plantio da soja. Os efeitos alelopáticos nem sempre são benéficos para a cultura. Em estudo com os efeitos alelopáticos e de competição da invasora capim-marmelada (B. plantaginea) na soja, ALMEIDA (1991) observou que houve alterações na soja após 45 dias da semeadura. A soja foi semeada e logo após, os vasos foram irrigados com extratos aquosos da parte aérea do capimmarmelada nas concentrações de 0, 1, 5, 10 e 13,3%. A produção de matéria seca das raízes da soja foi reduzida nas concentrações de 10 e 13,3% e também a da parte aérea e a altura das plantas, na concentração de 13,3%. O número total de nódulos e o peso unitário dos mesmos reduziram-se gradativamente até atingirem as concentrações de 10 e 13,3%, quando inibiram completamente a sua formação. Concluíram que existe um efeito alelopático do extrato aquoso do capim-marmelada, que não é benéfico à soja. O planejamento do espaçamento é um outro tipo de controle cultural, onde temos que, quanto menor o espaçamento entre as linhas de plantio e maior a densidade de plantio da cultura na linha, mais precoce e efetivo é o fechamento da cultura, sendo então mais eficiente o controle das plantas daninhas (LIEBAMN et al., 2001). Em maiores espaçamentos, onde a soja não cobre totalmente o solo, a umidade existente no local também favorece as maiores infestações de plantas daninhas e tornam-se fatores limitantes de produção, principalmente quando a umidade é deficiente em estádios anteriores (DOUGHERTY, 1969). A época de semeadura da soja após a dessecação da cobetura vegetal é um outro fator que influi na produtividade da cultura. Um estudo foi realizado com o objetivo de determinar a época de semeadura e o controle de B. plantaginea, sobre a produtividade da soja. O experimento foi realizado em Eldorado do Sul, utilizando as coberturas vegetais de aveia-preta (Avena strigosa), naboforrageiro (Raphanus sativus) e ervilhaca (Vicia sativa). Os tratamentos das parcelas principais foram épocas de semeadura da soja (1 e 10 dias após aplicação de dessecante DAD) e das subparcelas as épocas de controle da B. plantaginea (11, 17, 24, 31, 38 e 45 dias após a emergência da soja DAE, em semeadura de 1 DAD; e 8, 15, 22, 29, 36 e 42 DAE na semeadura realizada aos 10 DAD). Constataram que o atraso na aplicação do controle da planta

69 Manejo e interferência... daninha causou reduções na estatura da soja e no rendimento de grãos, aos 10 DAD a perda aumentou 0,67% para cada dia de atraso no controle da daninha. Concluíram que a soja deve ser semeada próximo do momento da aplicação do dessecante, proporcionando um intervalo de aplicações de controle maior (FLECK et al., 2002a). Em outro estudo sobre os efeitos da época de semeadura da soja em relação a dessecação da cobertura vegetal sobre a produção de sementes de picão-preto (B. pilosa) e guanxuma (Sida rhombifolia) os autores verificaram que quanto mais cedo a soja for plantada, logo após a dessecação da cobertura vegetal, menor é a produção de sementes pelas plantas daninhas. A competição intraespecífica (competição entre a própria planta daninha) é aumentada quando a densidade de plantas daninhas aumenta, os recursos ficam mais escassos, o que resulta na diminuição da produção de sementes das daninhas e diminuição da competição com a soja (FLECK et al., 2003). Controle biológico De acordo com VICTORIA FILHO (2000), o controle biológico das plantas daninhas pode ser definido como a ação de parasitas, predadores ou patógenos na manutenção de uma população de planta daninha em uma densidade menor a àquela que ocorre naturalmente, e que não cause dano econômico. O equilíbrio entre a população do agente biológico e a população da planta daninha ocorre em um nível abaixo do dano econômico e não há erradicação da planta daninha. Controle mecânico O controle mecânico conta com técnicas de eliminação de daninhas mecanicamente. Um outro tipo de controle envolve o controle manual de daninhas, que é feito através do arranquio manual das plantas daninhas. É um método muito eficiente, porém lento e de difícil execução; sendo uma prática que evita que uma nova planta daninha venha a ser um problema sério no futuro (CONSTANTIN, 2001). A utilização de um cultivador motomecanizado é uma boa alternativa e as plantas daninhas perenes são facilmente controladas por ele. A aração rotacional pode ser uma alternativa viável de controle mecânico, pois a flora das plantas daninhas é modificada de uma maneira ampla, permitindo o seu controle (CUSSAN & MOSS, 1982). Controle químico O controle químico consiste na utilização de herbicidas, produtos que interferem nos processos bioquímicos e fisiológicos, podendo matar ou retardar significativamente o crescimento das plantas daninhas. Podem ser utilizados

Salvador, F.L. 70 herbicidas seletivos ou não à cultura e que podem ser aplicados no manejo antes do plantio, em pré-plantio incorporado (PPI), em pré-emergência (Pré) da cultura e das plantas daninhas e em pós-emergência (Pós) da cultura e das plantas daninhas (DEUBER, 1997). Segundo SHAW (1982) a utilização de herbicidas oferece algumas vantagens, tais como disponibilidade no mercado a preços acessíveis, no caso de alguns produtos; ação rápida e eficiente em densas populações de daninhas, disponibilidade de equipamentos, seletividade de alguns produtos. Para VICTORIA FILHO (1982) o controle químico deve ser bem monitorado, observando alguns parâmetros como atingir o alvo ao qual é dirigido, apresentar retenção do produto pela folha, absorção e translocação pela planta e aplicação no solo. Para GELMINI et al. (1994) há algumas desvantagens na aplicação de herbicidas, pois é necessário mão-de-obra especializada e responsável, orientação técnica, grau de controle variável em função de inúmeros fatores como tipo de solo, distribuição das chuvas; possibilidade de residual no solo, prejudicando a sucessão ou rotação de culturas e favorecendo o aparecimento de outras daninhas devido à quebra do equilíbrio ecológico. CONSIDERAÇÕES FINAIS As plantas daninhas infestantes da soja estão representadas por espécies que se desenvolvem de acordo com as condições agroecológicas da cultura, sendo importante que os produtores de soja conheçam as principais áreas infestadas para fazer o monitoramento adequado. As plantas daninhas são um sério problema pois hospedam pragas e doenças, transmitindoas para as culturas, contribuindo cada vez mais para a diminuição da produção. O manejo das plantas daninhas é um componente muito importante para que a sustentabilidade na agricultura seja atingida, ou melhor, o manejo adequado dos recursos naturais, mantendo um ambiente desfavorável a elas mediante o emprego de métodos preventivos, culturais, mecânicos, biológicos e químicos. Deste modo, é evidente a importância econômica do controle das plantas daninhas na cultura da soja na fase inicial, para evitar a competição pelos fatores de produção, evitando a queda na produtividade na fase final do ciclo da cultura. REFERÊNCIAS ALMEIDA, F.S. Efeitos alelopáticos de resíduos vegetais. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 26, n. 2, p. 221-236, 1991.

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