O PAPEL DAS CONDIÇÕES GEOGRÁFICAS NA CIDADE: CONSIDERAÇÕES INICIAIS

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Transcrição:

O PAPEL DAS CONDIÇÕES GEOGRÁFICAS NA CIDADE: CONSIDERAÇÕES INICIAIS Gustavo Ferreira de Azevedo (Graduando em Geografia/ Bolsista FAPERJ/Uerj) Este trabalho é o resultado de uma pesquisa em andamento onde se pretende compreender como a condição geográfica de um indivíduo interferirá nas suas relações sociais e, dialeticamente, como as relações sociais deste indivíduo podem proporcionar a uma nova/outra condição geográfica. Com isto, apresentam-se algumas primeiras observações e notas de campo. Ainda a respeito das condições geográficas, para este trabalho utilizaremos a população de sem-teto que apresenta uma condição geográfica peculiar, não ter moradia digna. Esta condição geográfica, consequentemente, apresentará uma relação social distinta de indivíduos que não pertencem a esta mesma situação. Esta condição implicará ao acesso à cidadania, por exemplo, luz, água encanada, saneamento, acesso a Carteira de Trabalho e Previdência Social, conta bancária, etc. Compreende-se que as condições geográficas condicionam as relações sociais, em uma perspectiva dialética. Em vista disso, considera-se que as relações sociais do indivíduo que se encontra nesta determinada circunstância poderão proporcionar uma nova/outra condição geográfica. O que nos interessa neste trabalho é a relação deste indivíduo com as mobilizações sociais, especificamente com os movimentos sociais urbanos, entendendo que estes movimentos podem modificar as condições geográficas. AS CONDIÇÕES GEOGRÁFICAS Para a compreensão das condições geográficas utilizou-se diversos autores da Geografia e ciências afins que trabalham não propriamente com este conceito, mas na perspectiva de que o indivíduo apresenta uma condição no mundo e isto interferirá nas suas relações sociais e, concomitantemente, no espaço. Harvey (1980) coloca que o espaço, o lugar e o território influenciam na biografia de cada indivíduo assim como nas relações entre os grupos sociais e as instituições. Isto possibilita compreender as relações sociais a partir do espaço. Ainda nesta perspectiva Carlos (2009), esclarece que: 1

Nessa direção, a análise do espaço apresenta-se como revelador das relações sociais, tanto no que se refere à sua produção quanto ao caminho de sua reprodução. Desta forma, se esclarece o caminho que conduz a construção da definição do espaço como condição/meio e produto da reprodução social. (CARLOS, 2009, p78). Segundo Gomes (2006), o espaço constitui um elemento ativo na organização social, contudo o espaço tem um modo concomitante de agente e paciente nesta dinâmica. Não obstante, Gomes alerta para o cuidado de se trabalhar estas combinações numa visão dialética na pesquisa geográfica. A contribuição de Soja (1993) para esta pesquisa é a respeito da dialética sócio-espacial, quando compreende que as relações sociais e espaciais estão conectadas dialeticamente. Na mesma obra, Soja remete-se a Lefebvre: O espaço e a organização política do espaço expressam as relações sociais, mas também reagem contra elas (SOJA, 1993, p,103). Os autores que não estão sob o signo da Geografia serviram para uma visão mais abrangente da dialética, da condição e do processo histórico. São eles Arendt, Marx e Plekhanov. A partir da leitura e reflexão a respeito das análises feitas acima, compreendemos que a condição geográfica é a situação do indivíduo no espaço. Esta condição relaciona infinitas possibilidades de elementos do espaço geográfico interferir na biografia, nas relações sociais e espaciais deste indivíduo. MOVIMENTOS SOCIAIS URBANOS Os movimentos sociais são historicamente instrumentos de reivindicação de melhores condições de vida na cidade. Verifica-se que os movimentos sociais urbanos que pelejam habitação possibilitam a modificação da condição geográfica do indivíduo dentro da cidade ou no seu entorno. Entende-se que estes movimentos são constituídos de indivíduos que apresentam uma reivindicação em comum: moradia digna. Além de compreender que também fazem parte de uma 2

classe social que foi desapropriada na produção e reprodução do espaço. Com isto, atuam questionando a organização do espaço imposto. Fernandes (2005) coloca que os movimentos sociais através das ocupações apresentam um processo socioespacial e político complexo compreendido como forma de luta popular. Para esta pesquisa selecionamos duas maneiras imediatas dos movimentos sociais urbanos de possibilitarem a transformação da condição geográfica do indivíduo que estabelece relações sociais dentro destes movimentos: o primeiro é através de ocupações de edifícios decadentes que servem de especulação imobiliária, destinando-o para moradia; o segundo surge com a possibilidade do movimento solicitar projetos de financiamento para produção de moradia digna através do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS). Os dois exemplos não são excludentes, pois o FNHIS tem, prioritariamente, o objetivo de possibilitar a construção de moradias dignas e adequação de moradias decadentes como o exemplo de ocupações de edifícios precários. Apesar da infinidade de indivíduos que os movimentos sociais urbanos apresentam, pode-se definir que, majoritariamente, são compostos por dois tipos os que não possuem nenhum tipo moradia, caracterizando-os como sem-teto ou moradores de rua. O outro grupo dentro dos movimentos sociais urbanos são os que não têm moradia digna que residem em favelas, cortiços e moradias precárias em geral. O MOVIEMNTO NACIONAL DE LUTA PELA MORADIA O Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) constitui-se como movimento social urbano de reivindicação fundamental a moradia digna entre outras reivindicações. Foi criado em julho de 1990, no I Encontro Nacional dos Movimentos de Moradia, com representação de 13 estados. Resultado das grandes mobilizações a respeito da questão habitacional no Brasil na década de 1980. Na época de fundação do MNLM recebeu apoio de diversas entidades como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Cáritas, Central de Movimentos Populares. Atualmente tem parceria com a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e vínculo com o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST). 3

Entre as 16 representações nos estados da federação, encontra-se o Rio de Janeiro. O caso do Rio de Janeiro será o exemplo de nossa pesquisa, pois foi o local de acesso para a pesquisa empírica. No município do Rio de janeiro o MNLM está presente desde 2008 através de uma ocupação no centro da cidade, no bairro da Cinelândia. A ocupação ocorre no edifício do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que estava a mais de 10 anos vazio. A partir da ocupação e a mobilização dos indivíduos o MNLM conseguiu no final do ano de 2009 negociar com o INSS a compra do edifício financiado pelo FNHIS. Alem da compra o recurso servirá para reformar a parte externa e interna do prédio, possibilitando uma moradia digna para as famílias. Estas reformas são necessárias devido aos problemas que o edifício tem apresentado por estar desativado a mais de uma década. As pessoas que atualmente residem na Ocupação Manoel Congo estão inseridas no mercado de trabalho de diversas maneiras, majoritariamente a população masculina atua como trabalhador informal, terceirizado e serviços temporários. A população feminina é comum estar responsável pela casa, porém há casos de mulheres que trabalham como diaristas. A origem dos moradores é diversa. Dois tipos se destacam: moradores dos municípios e bairros periféricos do Rio de Janeiro, que residiam em locais degradantes como favelas ou em moradias precárias. O outro tipo de morador é o migrante, comumente do nordeste e norte do Brasil que tem algum parente já residente da ocupação o que facilita a sua inserção no movimento social urbano. CONSIDERAÇÕES FINAIS Após o estudo da origem dos indivíduos que residem na ocupação observa-se que há uma significativa mudança na sua condição geográfica, pois após a conquista da moradia os indivíduos que outrora residiam em moradias precárias acabam tendo acesso às residências dignas ou que caminham para isto. Entende-se neste trabalho que a importância do papel das condições geográficas dos indivíduos na cidade é fundamental para o estabelecimento das suas relações sociais. Nesta perspectiva as relações sociais podem possibilitar outra condição geográfica ao indivíduo a partir da conscientização da sua situação no espaço. 4

É válido ressaltar que os movimentos sociais urbanos são os instrumentos que possibilitam através das relações sociais dos indivíduos conquistas constitucionais no âmbito da política urbana. A Lei n o 10.257, conhecida também como Estatuto da Cidade possibilita que os movimentos sociais urbanos sejam subsidiados para a gestão democrática da cidade e reivindicações que estão constitucionalmente garantidas. Referências CARLOS, A.F.A. Da geografia abstrata à geografia concreta. In: Mendonça, Francisco;Lowen-Sahr,Cicilian Luiza; Silva, Márcia da.. (Org.). Espaço e Tempo. Complexidade e desafios do pensar e fazer geográfico. 1a ed. Curitiba-PR: Ademadan, 2009, v. 1, p. 73-90 CATALÃO, I. A propósito da dialética socioespacial e dos movimentos sociais. Revista Perspectiva Geográfica, Paraná, n 4, p. 27-40, 2008. FERNANDES, B.M; MARTIN, J.Y. Movimento socioterritorial e globalização : algumas reflexões a partir do caso do MST. Disponível em:. http://www.pucsp.br/neils/downloads/v11_12_mancano_jeanyves.pdf. acesso em 10/06/2010. GOMES, C.C.P. A condição urbana: ensaios de geopolítica da cidade. 2 ed. Rio de Janeiro-RJ: Bertrand Brasil, 2006. HARVEY, David. A justiça social e a cidade. São Paulo: Hucitec, 1980. JUNIOR, Orlando A.S. O Fórum Nacional de Reforma Urbana: incidência e exigibilidade pelo direito à cidade. Rio de Janeiro: FASE, 2009. SOJA, E.W. Geografia pós-modernas:a reafirmação do espaço na teoria social crítica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1993. 5