Projecto ADIRA lança campanha contra Casamentos Prematuros em Namarro i No âmbito do projecto Acelerando os Direitos da Rapariga à Educação- ADIRA liderado pela ActionAid e Movimento de Educação Para Todos (MEPT) em parceria com a Associacao Nacional de Amigos da Pastoral da Crianca (ANAPAC) lançou-se a campanha contra casamentos prematuros, na localidade de Lipali, distrito de Namarroi, província da Zambezia, que decorreu no dia 28 de Abril de 2016. Lançamento da campanha contra os casamentos prematuros Este evento juntou centenas de moradores daquela vila, desde líderes comunitários, religiosos, idosos, mulheres e homens, activistas, professores e crianças, que uniram-se para celebrar o momento que vai mudar o rosto de Namarroi, um distrito livre dos casamentos prematuros, devendo apenas o envolvimento e cometimento de todos os 1
intervenientes no combate a esta prática que apenas prejudica a rapariga e atrasa o desenvolvimento do distrito. A campanha contra os casamentos prematuros tem o objectivo de envolver toda a população de Lipali, sensibiliza-la e consciencializa-la para a não prática dos casamentos prematuros, visto que Namarroi é um dos distritos com mais casos registados com esta prática, onde as meninas casam cedo e abandonam a escola, facto que não traz nenhum beneficio nem para a rapariga nem para a comunidade. O futuro dessas raparigas é limitado e o seu direito à educação é violado. Não há garantia de um futuro próspero e brilhante sem educação. Varias são as razoes apontadas para que haja casamentos prematuros, as desistências escolares, algumas por faltas de condições financeiras, os ritos de iniciação, falta de informação. Embora algumas famílias justifiquem que o casamento prematuro é para acabar com a pobreza. Raparigas presentes no Lançamento da Campanha Contra os Casamentos Prematuros 2
Merciana Tivane, da ActionAid, disse durante a sua intervenção que o casamento prematuro não vence a pobreza, a única solução para vence-la é a educação (escola), por isso apela a colaboração de toda a comunidade (pais, encarregados de educação, lideres comunitários, religiosos, matronas) a apostarem na educação da rapariga. Os pais não devem sentir-se a perder ao educarem suas filhas. Ainda na linha da educação da rapariga, Armando Rafael, representante da ANAPAC, salienta que deve-se apostar numa educação igualitária, do mesmo modo que o rapaz vai à escola a menina também deve ir, é direito dela e que não deve ser violado. Devemos educar a rapariga e não permitir que ela case antes dos 18 anos, disse. O Governo local representado pelo Director da Educação, Juventude e Tecnologia Zeca Mapicha enalteceu a iniciativa do ADIRA e garante que é uma oportunidade para a comunidade, visto que o problema dos casamentos prematuros tem afectado negativamente a população e com a campanha irá sensibilizar-se e consciencializar-se para não praticarem este acto, mas sim a apostarem na educação. Embora haja desafios no sector como a falta de recursos financeiros para dar continuidade aos estudos, as longas distancias percorridas para chegar a escola, os ritos de iniciação, os intervenientes devem procurar mecanismos sustentáveis com vista a combater esta situação. Ainda no âmbito do lançamento da campanha, a equipa de partilha de informação ouviu histórias de vida de meninas que viram-se obrigadas a casar cedo e abandonar a escola. Hoje com bebe no colo e outro em mão, arrependem-se de terem abandonado a escola. Mas o sonho de um dia voltar a carteira não morreu. Meu filho não conhece o pai Ela é Elsa, tem 19 anos, vive em Lipali. Abandonou a escola na escola 5ª classe, quando tinha 14 anos. Abandonei a escola porque não tinha dinheiro para pagar matricula. Foi ai onde o sonho da Elsa começou a desflorar. Eu sonhava em ser enfermeira para salvar vidas. Enquanto Elsa não ia à escola, a machamba e outros deveres domésticos tomavam conta do seu quotidiano. Aos 16 anos conheceu o homem que veio a desflorar 3
a sua vida. Ele me engravidou e me abandonou, nunca mais o vi, desde que lhe disse que estava gravida. Ouvi dizer que está em Maputo. Elsa engravidou aos 17 anos e hoje sente-se arrependida por ter ficado gravida precocemente. Casar cedo não é bom. Como vês eu não trabalho, não tenho condições para sustentar meu filho, dependo dos meus pais, que também não têm nada. Embora o sonho esteja ofuscado, Elsa não perdeu a esperança na vida sonho um dia voltar a estudar para dar uma vida melhor a mim e ao meu filho. Se tivesse continuado a estudar não estaria a sofrer Esta é a Angelina, de 19 anos de idade, tem dois filhos, o primeiro tem dois anos e o segundo tem apenas meses de vida. Estudou apenas até 3ª classe, tem dificuldades na leitura e escrita. Aos 15 anos começou a namorar e ficou grávida, Conheci meu marido enquanto passeava, depois eu fiquei grávida e minha família mandou-me para casa dele, pouco tempo depois fiquei grávida novamente. 4
Mesmo nova, Angelina enfrentou o lar, vivendo uma vida de adulta, mãe de família. Mas não terminou bem meu marido me fugiu logo que este (filho mais novo) nasceu, dizem que está em Quelimane, a família dele mandou-me embora, agora estou a viver em casa dos meus pais, eles é que sustentam a mim e aos filhos porque eu nem trabalho. Questionada sobre a escola, Angelina com semblante cheio de arrependimento, disse que se tivesse estudado estaria já a trabalhar e a viver uma vida boa. Angelina a esquerda Angelina não deixou a escola por escolha. Somos cinco filhos, eu sou a terceira, os dois mais velhos são rapazes. Quando chegava a hora de ir à escola eu sempre atrasava porque tinha que fazer todas as tarefas domésticas sozinha e a escola era longe de casa, as vezes eu chegava cansada. Os meus pais diziam que meus irmãos não deviam fazer trabalhos domésticos, essa era minha tarefa como menina e tinha que aprender a ser mulher para ir ao lar. 5
Providenciados serviços de registo civil e planeamento familiar Um dos problemas que o distrito enfrenta é o baixo índice de registos de nascimento e acesso ao planeamento familiar. Desse modo o projecto ADIRA providenciou uma feira com a disponibilização destes serviços básicos à população. As filas para o registo eram longas, a maioria das mães adolescentes e jovens que não faz o registo de nascimento dos filhos o motivo é quase uniforme para todas, ausência dos pais dos bebés, ou seja, abandonaram as esposas e fugiram. Ouvi na rádio que durante o lançamento da campanha, haveria registo, por isso aproveitei e trouxe os meus dois filhos para regista-los, porque se for a esperar pelo pai, não consigo nunca fazer isso, porque desde que ele sumiu nunca mais tive notícias dele e não sei se ele volta, disse Mussania, de 20 anos de idade. Serviços de registo de crianças Não só as mães abandonadas aderiram ao serviço, estiveram presentes mulheres adultas, homens e até idosos, uns perderam seus documentos outros nunca foram registados. 6
A mesa dos serviços de planeamento familiar, de princípio a aderência era tímida, porque as mulheres e homens não sabiam da importância do planeamento familiar e outros nem sabiam o que é planeamento familiar. Serviços de Planeamento Familiar Após o trabalho de sensibilização e consciencialização para o uso dos métodos contraceptivos, a mesa começou a encher. Homens procurando preservativos e mulheres pílulas e injecções, ao cuidado da enfermeira, que explicava passo a passo como usar e quais as vantagens em usa-los e os benefícios em planear. Através do projecto ADIRA a população tirou o medo e a vergonha e aderiu aos serviços básicos de extrema importância para o desenvolvimento da população. 7