PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL. Trata-se de ação Cautelar de Busca e Apreensão ajuizada Por em face de objetivando a busca e apreensão dos menores



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Transcrição:

PODER JUDICIÁRIO 23a Vara Federal Cível de São Paulo - SP - la Seção Judiciária Autos no. 2007.61.00.018633-4 - Ação Cautelar Autor (es): Réu (s): Sentença tipo A Vistos. Trata-se de ação Cautelar de Busca e Apreensão ajuizada Por em face de objetivando a busca e apreensão dos menores, filhos do casal, bem como de todos os seus documentos pessoais, no endereço da ré ou em qualquer outro lugar onde se encontrarem as crianças, com a entrega dos menores ao autor, para o fim específico de diligenciar o seu retorno aos Estados Unidos da América. Narra o autor, em sua petição inicial, que, em 15/11/1997, casou-se com a ré na Cidade de Puyallup, em Washington, nos Estados Unidos da América, sendo que a residência do casal foi fixada naquela mesma Cidade. Os filhos do casal,, nasceram, respectivamente, em 06/09/2001 e 07/11/2003, nos EUA. No ano de 2002, a ré obteve cidadania norte-americana. Afirma que, co funcionário da Boing Company, foi designado, em trabalho temporário, com previsão de 6 (seis) meses, Em razão do tempo de duração, alega que a empresa presença de sua família, custeando passagens aéreas autor, a ré e os filhos do casal. Aiitnc n 0 XXi7.61.00.018633-4 1

Em março de 2007, o autor retornou sozinho aos EUA para providenciar a regularização de seu visto de trabalho na Itália. Quando voltou a Itália, recebeu um telefonema da ré dizendo que estava no Brasil com as crianças, desde 25/03/2007, sem a intenção de retornar. Alega o autor que, após receber a notícia, veio ao Brasil, e aqui permaneceu durante 5 (cinco) semanas, para tentar uma solução consensual, mas não obteve êxito em convencer a ré a retornar voluntariamente com as crianças para a residência da família em Puyallup, nos EUA. Ao retornar aos EUA, o autor apresentou ao 'State Department" solicitação de retorno dos filhos a Washington, com base na Convenção Haia sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças. Sustenta o autor que a transferência das crianças para o Brasil e ilícita, nos termos do art. 30 da Convenção, pois viola o seu direito de guarda. Nesse contexto, afirma que legislação de Washington, local de residência habitual das crianças, atribuiu a pai e mãe, em condições idênticas, a guarda de seus filhos menores. manifestou as fls. 1151121. Houve pedido de liminar. Sobre o pedido de liminar, o Ministério Público Federal se Pela decisão de fls. 1231125, a liminar foi deferida em parte, para o fim de determinar a apreensão dos passaportes da ré e das crianças, bem como determinar que não alterem a residência até o julgamento final do processo. Determinou-se, ainda, a expedição de ofício a Autoridade Administrativa Central Brasileira. Regularmente citada (fl. 132vo), a ré apresentou contestação (fls. 1371156). Preliminarmente, alegou a incompetência absoluta do Juizo, o conteúdo meramente programático e não auto-executável da Convenção de Haia e a impossibilidade jurídica do pedido. estava infeliz no casamento, em razão das constantes ausên tratamento com Indiferença. Afirma que velo para o Brasi notícia de que a sua mãe iniciaria um tratamento e go sendo que chegando aqui no Brasil decidiu permanece residência e de seus filhos, a casa dos pais em São Paulo. Ao fi *..C-- - n ->nn-> r+ nn nioc99.r

JUSTiÇA FEDERAL extinção do processo sem julgamento de mérito ou pela improcedência do pedido, com a manutenção da guarda das crianças em seu favor. Réplica as fls. 1731207. Realizada audiência de justificação prévia, restou infrutífera a tentativa de acordo entre as parte. Autor e ré foram ouvidos em depoimento (fls. 2611265). 2811287). As partes apresentaram alegações finais (fls. 2671277 e O Ministério Público Federal, em seu parecer, opinou pelo retorno das crianças ao Estado de sua residência habitual, acompanhadas pela mãe se esta assim o desejar, requerendo, ainda, que conste expressamente que o requerente fica responsável pelas despesas de viagem e estadia da mãe junto com as crianças enquanto isto for necessário (fls. 2891295). A Embaixada dos Estados Unidos da América apresentou manifestação (fls. 2971298). Vieram os autos conclusos para sentença. É o relatório. Fundamento e decido. do Iuízo. Inicialmente, rejeito a alegação de incompetência absoluta Com efeito, não trata esta demanda de homologação de sentença estrangeira ou de concessão de exequatur às cartas rogatórias. Assim, inaplicável a regra de competência prevista no art. 105, inciso I, alínea 'i", da Constituição Federal. Como o objeto da presente ação versa sobre matéria tratada pela Convenção sobre os Aspectos Civis do Crianças, promulgada pelo Decreto n.0 3.413, competência para julgar é dos juizes federais, 111, da Constituição Federal, que dispõe:...l -..mm_ C. nn n.oc_)_) A "Art. 109. Aos juizes... 2

111 - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional; "... Afasto, ainda, a alegação no sentido de que a Convenção sobre os Aspectos Civis do Seqüestro Internacional de Crianças seria mera norma programática e insuficiente para ter eficácia e execução plena no território nacional. Isso porque a inexistência de disposições acerca das medidas judiciais, tais como, prazos, ritos e substituições processuais, não impede a aplicação do tratado, pois as normas processuais internas são suficientes para sua plena execução. que: Ademais, a própria Convenção em seu artigo 2 estabelece "Os Estados Contratantes deverão tomar todas as medidas apropriadas que visem assegurar, nos respectivos territórios, a concretização dos objetivos da Convenção. Para tal, deverão recorrer a procedimentos de urgência." Ora, se na legislação processual do país signatário já estão previstas medidas suficientes para a concretização dos objetivos da Convenção, no caso do Brasil o Código de Processo Civil, não há que se falar em insuficiência de normas para execução plena. Rejeito, também, a preliminar de impossibilidade jurídica do pedido, tendo em vista que o pedido de busca e apreensão formulado pelo autor está previsto no Código de Processo Civil e fundado na Convenção mencionada, a qual é plenamente executável. O fato de o direito de guarda ainda não ter sido atribuído separadamente a um dos pais não interfere na solução desta lide. Quanto A presença das autoridades centrais de cada um dos países, veriflco que, tal como bem observado pelo Ministério P Federal em seu parecer, o vício formal foi sanado com a e pelo Juizo, h autoridade central brasileira, que recebe oposição, e com a participação da Embaixada e do Co \

Unidos, que manifestaram ciência e concordância com pedido formulado pelo autor. Passo à análise do mérito. A questão em debate nesta ação Cautelar de Busca e Apreensão consiste em saber se os menores fato de a ré i., ou não, retornar aos Estados Unidos da América, pelo violado, nos termos do artigo 3 da Convenção sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças, o direito de guarda do autor, ao transferir as crianças para o Brasil. está descrito no artigo 1, que dispõe: De inicio, cumpre verificar o âmbito da Convenção, que "A presente Convenção tem por objetivo: a) assegurar o retomo imediato de crianças ilicitamente transferidas para qualquer Esiado Contratante ou nele retidas indevidamente; b) fazer respeitar de maneira efetiva nos outros Estados Contratantes os direitos de guarda e de visita existentes num Estado Contratante. " Conforme se verifica, a Convenção não estabelece regras para determinação do direito de guarda. Assim, a discussão sobre se o direito de guarda deve ser atribuído, com exclusividade ou não, a um dos pais não está abrangida pela Convenção. Consequentemente, tal discussão também não se coloca neste processo. Nos termos da Convenção, portanto, deve ser assegurado o retorno imediato de crianças ilicitamente transferidas para qualquer Estado Contratante. O artigo 3 da Convenção descreve a situação em que considera ilícita a transferência da criança. Confira-se: \ "A transferência ou a retenção considerada ilícita quando: a) tenha havido violaç3o a d/ pessoa ou a instituição ou a individual ou conjuntamente, pe criança tivesse sua residência h antes de sua transferêncla ou da sua -..L-- I. n 7-7 C* nn nroc-r.~ c

Convenção, que tem a seguinte redação: b) esse direito estivesse sendo exercido de maneira efetiva, individual ou conjuntamente, no momento da transferência ou da retenção, ou devesse está-io sendo se tais acontecimentos não tivessem ocorrido. O direito de guarda referldo na alínea a) pode resultar de uma atribuição de pleno direito, de uma decisão judicial ou administrativa ou de um acordo vigente segundo o direito desse Estado." Já o direito de guarda vem definido no artigo 5 da "Nos temos da presente Convenção: a) o "direito de guarda" compreenderá os direitos relativos aos cuidados com a pessoa da criança, e, em particular, o direito de decidir sobre o lugar da sua residência; b) o "direito de visita" compreenderá o direito de levar uma criança, por um período limitado de tempo, para um lugar diferente daquele onde ela habitualmente reside. " In casu, consta dos autos que o autor e a ré casaram-se em 15/11/1997, nos Estados Unidos, e fixaram a residência do casal na Cidade. de Puyallup, em Washington. Consta, ainda, que os filhos do casal ' e nasceram, respectivamente em 06/09/2001 e 07/11/2003, nos EUA, sendo que a residência da família sempre foi na Cidade de Puyallup. Assim, tem-se que a residência habitual das crianças imediatamente antes da transferência para o Brasil era na Cidade de Puyallup, em Washington, nos Estados Unidos da América. O fato de a família ter estado em Grottaglie, na Itália, de outubro de 2006 até março de 2007 - data da transferência das crianças para o Brasil - não alterou a fixação da residência habitual em Puyallup, nos EUA, tendo em vista que a estada em Grottaglie era temporária, em razão de designação de curto prazo para trabalho em Grottaglie, feita pela Boing 1 Company, empregadora do autor, conforme documento de fls. 45/46. Conforme o documento de fls. 45/46, o local permanente de em Seatlle, área de Washington, nos EUA. Fixada a residência habitual Estado de Washington, nos EUA, cabe verificar, local atribui a guarda das crianças.

Afirma o autor que a legislação vigente no Estado de Washington, ao tempo da transferência das crianças para o Brasil, atribui a pai e mãe, em condições idênticas, a guarda dos filhos menores. O art. 337 do Código de Processo Civil dispõe: "Art. 337. A parte, que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário, provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o determinar o juiz." Com o fim de comprovar o alegado, o autor apresentou declaração juramentada de advogado norte-americano especialista em Direito de Família, devidamente habilitado a prestar consultoria jurídica pela State Bar of Washington (fls. 78/83). Já a ré não apresentou prova contrária e sequer negou que o autor, juntamente com ela, tem a guarda das crianças, na condição de pai. Pelo contrário, o fato de a ré ter afirmado na contestação que teria formulado pedido de guarda das crianças na cidade do Rio de Janeiro demonstra que ela tinha ciência de que o autor também tem direito de guarda. Conclui-se, portanto, que ao autor foi atribuído. juntamente com a ré, o direito de guarda dos menores. Resta verificar, agora, se a ré transferiu ilicitamente as crianças para o Brasil, violando o direito de guarda do autor, nos termos do artigo 3 da Convenção sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças. Conforme consta dos autos, a ré no final de março de 2007, enquanto o autor estava nos EUA para retirar o visto de trabalho na Itália, embarcou da Itália para o Brasil, com a finalidade de visitar a mãe acometida de doença grave e decidiu permanecer aqui no Brasil definitivamente, fixando, como sua nova residência e de seus filhos, a casa d seus pais em São Paulo. A própria ré, em depoimento, afirmou que o au foi avisado de que ela estava no Brasil, com as crianças, chegada no Brasil (fl. 262). 7

f Assim, a autora veio para o Brasil com as crianças e fixou a residência delas em São Paulo sem o consentimento do autor, que sequer soube previamente da vinda da ré para o Brasil. Como o autor não consentiu na transferência das crianças para o Brasil, conclui-se que o seu direito de guarda foi violado. Nos termos do artigo 5, alínea 'a', da Convenção, o direito de guarda compreende o direito de decidir sobre o lugar de residência dos menores. Dessa forma, a autora não poderia, unilateralmente, decidir trazer as crianças para o Brasil e fixar a residência delas aqui. As alegações da autora, no sentido de que estava infeliz no casamento e de que o autor era um pai ausente e não dava atenção aos filhos, não justificam o comportamento adotado, não tornam licita a transferência das crianças sem o consentimento do pai. Por fim, a suposta adaptação das crianças a vida aqui no Brasil não constitui óbice ao retorno delas aos EUA, pols, nos termos do artigo 12 da Convenção, a prova de que a criança se encontra integrada ao meio só impede o retorno se já tiver decorrido o período de um ano entre a data da transferência indevida e a data do inicio do processo perante a autoridade judicial ou administrativa. Na presente hipótese, as crianças foram trazidas para o Brasil no final de março de 2007 e esta ação cautelar foi ajuizada em 15 de junho de 2007. Ademais, as crianças também estavam integradas ao meio no local de sua residência habitual (Puyallup) antes da transferência para o Brasil e não há prova nos autos de que, no retorno, ficariam sujeitas a perigo de ordem física ou psíquica, ou, de qualquer modo, numa situação intolerável. América. e Conclui-se, portanto, que os menores devem retornar aos Estados Unidos Posto isso, JULGO pedido Cautelar e dou por resolvido o inciso I, do Código de Processo Civil, menores e

da América, nos termos dos artigos 1, alínea 'a", 3, alínea 'a", e 5, alínea 'a", todos da Convenção sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças, promulgada pelo Decreto n.0 3.413, de 14 de abril de 2000. Para o cumprimento desta decisão de retorno das crianças, determino que dois oficiais de justiça acompanhem o check-in e 0 embarque no Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos, ocasião em que serão entregues ao autor, por um dos oficiais de justiça, os passaportes dos menores, que estão apreendidos e guardados em Secretaria. Autorizo que a mãe das crianças assim o desejar, acompanhe o retorno dos menores aos Estados Unidos da América, determinando que o autor com recursos próprios, a passagem aérea de aeronave em que viajarão as crianças. Determino, ainda, que o autor providencie, com recursos próprios, para se providencie,, na mesma a sua passagem de volta para o Brasil, na data em que ela, previamente, escolher. O passaporte da ré será entregue a ela, no Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos, por um dos oficiais de - justiça que acompanhará o embarque das crianças ou, caso ela não queira acompanhar as crianças até os Estados Unidos da América, o passaporte ficará liberado para retirada em Secretaria após a comprovação do embarque das crianças. Deixo de condenar a ré no pagamento das custas e dos honorários advocatícios, tendo em vista que ela 6 beneficlária da Justiça Gratuita. Publique-se. Registre-se. Intimem-se.