Produtividade de grão e PH de dois cultivares de trigo duplo propósito Thyago Roberto Dias Rodrigues 1, Paulo Sérgio Rabello de Oliveira 2, Dermânio Tadeu Lima Ferreira 3, Francisco de Assis Franco 4, Geanderson Magno Golin 5 e João Ricardo Ramella 6 1 Eng. Agrôn., Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Marechal Cândido Rondon, PR. Email: rodriguestrd@hotmail.com. 2 Eng. Agrôn., professor da UNIOESTE, Marechal Cândido Rondon, PR. Email: paulorabelo@unioeste.br. 3 Eng. Agrôn., professor da Faculdade Assis Gurgacz (FAG), Cascavel, PR. Email: tadeu@fag.edu.br. 4 Eng. Agrôn., Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (Coodetec), Cascavel, PR. Email: franco@coodetec.com.br. 5 Graduando em Agronomia, FAG, Cascavel, PR. Email: gean_mgo@hotmail.com. 6 Eng. Agrôn., UNIOESTE, Marechal Cândido Rondon, PR. Email: joaoramella@hotmail.com. O trigo (Triticum aestivum L.) é uma Poaceae cultivado no mundo todo, globalmente ele está colocado na segunda posição de cereais mais cultivados, atrás do milho (FAOSTAT, 2010). É uma planta de ciclo anual, hermafrodita e autógama. O grão é consumido na forma de pão, massa alimentícia, bolo, biscoito e pode também, utilizar-se em rações animais, isto quando não atinge a qualidade exigida para o consumo humano. A produção de forragem serve tanto para a cobertura vegetal, auxiliando na conservação e incremento de nutrientes do solo, como também pode ser destinada a alimentação animal. As forrageiras anuais de inverno melhoram a distribuição de forragem e o valor nutritivo da dieta para ruminantes, podendo beneficiar sistemas de produção animal em regiões temperadas ou subtropicais a exemplo do obtido por Fontaneli et al. (1999) na Flórida, USA. No Brasil durante a estação fria do ano outono-inverno a disponibilidade de forragem com bom valor nutritivo é reduzido, pois a base forrageira da bovinocultura de corte é pastagem nativa, composta por espécies predominantemente estival primavera-verão (Fontaneli, 2007). Os cereais de inverno com ciclo apropriado podem favorecer a integração lavoura pecuária. Utilizando os mesmos para duplo propósito em sistema plantio direto, como alternativa à estabilização de oferta de forragem e de grãos para a propriedade agrícola durante o ano todo, porém pode apresentar como fator limitante a deficiência de nutrientes do solo (Bem et al., 1996). Tem-se necessidade de adubação de cobertura após o corte do trigo. Os cereais de inverno constituem importantes componentes na estabilidade de fluxo de caixa, na solidez de unidades agrícolas e também constituem base da alimentação humana e/ou animal. Essa produção concentra-se na região sul, que responde por aproximadamente 90% do volume produzido (Mori et al., 2007). Desde a década de 70, estão sendo desenvolvidos trabalhos com cereais de inverno os quais fornecem forragem verde e ainda produzem grãos. Observou-se que o trigo de duplo propósito após ser pastejado, produz rendimento de grãos semelhante ou mais elevado que aquele não pastejado, devido ao perfilhamento, emissão de novas folhas e porte menor, permitindo um maior aproveitamento da luz solar (Embrapa, 2009). O trigo de duplo propósito, que possui o subperíodo da emergência ao espigamento longo, deve ser semeado em época anterior à 1
indicada para cultivares de ciclo precoce. Isso, por sua vez, é válido para os demais cereais de inverno de duplo propósito. Indica-se antecipar a semedura em 20 dias antes da época para cada município para cultivares de trigo semi-tardias, como a BRS Figueira, primeira cultivar ofertada no mercado brasileiro pela Embrapa Trigo e BRS Umbu, enquanto as cultivares tardias como BRS Tarumã e BRS Guatambu deve-se antecipar em 40 dias da época indicada para as cultivares precoces, indicadas exclusivamente para a colheita de grãos (RCSBPT, 2005). O trigo com duplo propósito, tem sido usado em diversos países como: Estados Unidos, Austrália, Uruguai e Argentina, com excelentes retornos financeiros aos agricultores (Fontaneli, 2007). Este trabalho teve como objetivo avaliar a produtividade e o peso hectolítrico dos grãos dos cultivares de trigo de duplo propósito BRS Tarumã e BRS 277 de acordo com o número de cortes realizados na fase de perfilhamento do trigo. O experimento foi realizado a campo, no CEDETEC (Centro de Desenvolvimento e Difusão de Tecnologias), da Faculdade Assis Gurgacz - FAG localizado no município de Cascavel Paraná, cuja latitude 24º56 09 S, longitude 53º30 01 W e altitude de 712 metros. O clima da cidade é subtropical mesotérmico com temperatura média anual em torno de 20 ºC enfatizam Amorim et al. (2002) e precipitação pluvial média anual de 2000 mm afirmam Silva et al. (2007). O solo do local é um Latossolo Vermelho Distroférrico típico (Embrapa, 2006a). A semeadura foi realizada no dia 20 de abril de 2010, na quantidade de 360 sementes aptas por m², com espaçamento de 16 centímetros entre linhas e 3 centímetros de profundidade. Na adubação foram utilizados fertilizantes, conforme necessidade identificada na análise de solo 60 dias do plantio, seguindo as recomendações da RCBPTT (2010). A adubação de nitrogênio foi realizada na semeadura junto com fósforo e potássio e em cobertura na forma de uréia, aplicando-se a lanço manualmente na fase de perfilhamento do trigo. A dessecação foi realizada 10 dias anteriormente ao plantio. O plantio foi realizado em sistema de semeadura direta com semeadora de fluxo contínuo SDA³ TATU / Marchesan. Foi utilizado o delineamento em blocos casualizados, em parcelas subdivididas, com esquema fatorial 3x2, com 4 repetições sendo que o primeiro fator refere-se ao manejo de cortes, 1: submetido a um corte, 2: submetido a dois cortes e 0: sem corte e o segundo fator refere-se as cultivares V1: BRS Tarumã e V2: BRS 277. A área experimental usada foi de 1200 m², sendo que cada parcela ocupou a área de 16m², compostas por 15 linhas com espaçamento de 0,16 m entre linhas. O primeiro corte foi realizado dia 24/06/10 com a utilização de uma roçadeira costal, quando as plantas atingiram, em média 32 cm de altura, ou seja, época de intenso afilhamento. O segundo corte realizado dia 30/07/10 onde as plantas apresentavam em média de 35 cm de altura. A altura de resíduo foi de 5 a 8 cm acima da superfície do solo, para que as plantas rebrotassem com vigor e ainda produzissem grãos. O peso hectolítrico (PH) foi determinado em balança hectolítrica com capacidade de um quarto de litro. Utilizam-se tabelas de conversão (BRASIL, 2009). Para determinação da produtividade foi colhido os grãos de uma área de 6,4 m² por parcela, então foi calculado e transformado para kg ha -1. 2
P es o hec tolitric o (kg hl -1 ) A análise estatística foi efetuada seguindo-se o modelo de análise variância, fazendo-se regressão para as variáveis quantitativas e para as qualitativas sendo realizado as comparações das médias pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro, utilizando-se o programa Sisvar (Ferreira, 2000). Os cultivares de trigo duplo propósito BRS Tarumã e BRS 277 se diferenciaram, tendo comportamentos opostos nos níveis de corte 0, 1 e 2 cortes para o PH (Figura 1). O genótipo BRS 277 teve comportamento quadrático apresentando os valores 75,5; 75,11 e; 70,56 kg hl -1 com 0; 1 e; 2 cortes, respectivamente, mostrando que quanto mais cortes menor o PH. Os valores deste trabalho estão entre os obtidos por Wendt et al (2007) em Pelotas/RS testando 20 genótipos tiveram variação de 66,00 a 82,60 kg hl -1 no PH. O trigo BRS Tarumã proporcionou uma equação linear, com as médias de 71,24; 72,49 e; 73,75 kg hl -1 com 0; 1 e; 2 cortes, respectivamente, comportando-se como trigo de duplo propósito, pois o PH aumenta com maior número de cortes. Isso é possível por este cultivar ter sido desenvolvido com a finalidade de alimentar os animais e posterior a isso ainda ser colhido grão. 76,00 75,00 75,50 75,11 74,00 73,75 73,00 72,00 71,00 70,00 71,24 72,49 Tarumã - Orig y= 71,2375+ 1,25625x R ²= 0,39* B R S 277 - orig y= 75,5+ 1,69375x-2,08125x² R ²= 0,89** 70,56 0 1 2 Número de c ortes Figura 1. Peso hectolitrico de trigo de duplo propósito submetido a cortes na fase de perfilhamento, Cascavel - PR, 2010. A produtividade foi significativa para corte (Figura 2), a equação de regressão linear feita para número de cortes teve coeficiente de determinação de 40 %. A média dos cultivares de duplo propósito sem corte foi de 2014,54 kg ha -1, com 1 corte o valor foi intermediário 1779,41 kg ha -1 e o rendimento de grãos com 2 cortes resultou na menor produção 888,85 kg ha -1. Tendo-se assim um comportamento decrescente em produtividade quando se aumenta os cortes. O potencial produtivo médio do BRS Tarumã é de 3.200 kg ha -1 (Fontaneli, 2007). As variedades para duplo propósito possuem alta capacidade de rebrote, suportando um ou mais pastoreios e posteriormente a estes, ainda atingem boa produtividade de grãos na colheita (Del Duca, 1997; Embrapa, 2006b). Não foi alcançado todo o potencial produtivo deste genótipo 3
P rodutividade (kg ha -1 ) devido a estes usadas no trabalho serem mais adaptados a regiões mais frias, ou seja, a Região 1 e Cascavel estando na Região 2 de acordo com (RCBPTT, 2010). E também podem ter sofrido influencia da baixa precipitação que ocorrera durante o ciclo dos cultivares. O manejo de cortes não influenciou na produtividade e no peso do hectolitro, mas interferiu significativamente no peso de mil grãos no trigo de duplo propósito BRS Tarumã em Cascavel (Rodrigues et al., 2010). 2300,00 2000,00 1700,00 2014,54 1779,41 1400,00 1100,00 800,00 500,00 888,85 P rod P rod - Orig y= 2123,777083-562,84375x R ²= 0,40** 0 1 2 Número de c ortes Figura 2. Produtividade de trigo de duplo propósito submetido a cortes na fase de perfilhamento. Cascavel-PR, 2010. Observa-se que ouve diferença significativa entre as cultivares (Tabela 1), a média das três formas de manejo de cortes para o trigo de duplo propósito BRS 277 foi de 2011,30 kg ha -1 muito superior ao BRS Tarumã com 1110,60 kg ha -1. Mostrando que a esta Região 2 o genótipo BRS 277 proporciona maior produtividade de grãos. Tabela 1: Produtividade de grãos das cultivares de trigo, com 0, 1 e 2 cortes na fase de perfilhamento, Cascavel, 2010. Cultivar Produtividade (kg ha -1 ) BRS Tarumã 1110,60 B BRS 277 2011,30 A Médias seguidas de mesma letra, não diferem entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro. Verifica-se que os cultivares de trigo de duplo propósito não atingem seu potencial máximo na Região 2, porém proporcionaram produtividade e peso hectolítrico que validam as suas utilizações, sendo que o BRS 277 teve valores superiores ao BRS Tarumã. 4
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