PONTIFÍCIA COMISSÃO BIBLICA. A interpretação da Bíblia na Igreja. 7.ed. São Paulo: Paulinas, 1994.

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Introdução Geral a Bíblia Charles Jáder G. da Silva PONTIFÍCIA COMISSÃO BIBLICA. A interpretação da Bíblia na Igreja. 7.ed. São Paulo: Paulinas, 1994. O documento A interpretação da Bíblia na Igreja foi aprovado pelo Papa João Paulo II, no dia 25 de abril de 1993, apresentado pela Pontifícia Comissão Bíblica, por ocasião do centenário da Encíclica de Leão XIII Providentíssimus Deus e do cinqüentenário da Divino affante Spiritu de Pio XII. O documento é fruto da importância fundamental da Bíblia para a fé cristã, para a vida da Igreja e para as relações dos cristãos com os fiéis das outras religiões. 1 Esta é a finalidade deste documento. A Pontifícia Comissão Bíblica deseja indicar os caminhos que convém tomar para chegar a uma interpretação da Bíblia que seja tão fiel quanto possível a seu caráter ao mesmo tempo humano e divino. Ela não pretende tomar aqui posição sobre todas as questões que são feitas a respeito da Bíblia, como por exemplo, a teologia da inspiração. O que ela quer é examinar os métodos suscetíveis de contribuírem com eficácia a valorizar todas as riquezas contidas nos textos bíblicos, a fim de que a Palavra de Deus possa tornar-se sempre mais o alimento espiritual dos membros de seu povo, a fonte para eles de uma vida de fé, de esperança e de amor, assim como uma luz para toda a humanidade (cf Dei Verbum, 21). 2 O documento está dividido em quatro capítulos, a saber: 1) Métodos e abordagens para a interpretação; 2) Questões de hermenêutica; 3) Dimensões características da interpretação católica; 4) Interpretação da Bíblia na vida da Igreja. O primeiro capítulo intitulado Métodos e abordagens para a interpretação, está subdividido em seis partes: a) Método histórico-crítico; b) Novos métodos de análise literária; c) Abordagens baseadas na tradição; d) Abordagens através das ciências humanas; e) Abordagens contextuais; f) Leitura fundamentalista. A Pontifícia 1 PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA, A interpretação da Bíblia na Igreja, 1994, pág. 35. 2 Idem, p. 35-36.

Comissão Bíblica apresenta o método histórico-crítico, bem como a história do método; a descrição e a avaliação. 3 O método histórico-crítico é o método indispensável para o estudo científico do sentido dos textos antigos. Como a Santa Escritura, enquanto Palavra de Deus em linguagem humana, foi composta por autores humanos em todas as suas partes e todas as suas fontes, sua justa compreensão não só admite como legítimo, mas pede a utilização deste método. 4 Os novos métodos de análise literária são métodos desenvolvidos recentemente, diante dos progressos através dos estudos linguísticos e literários. Neste método, destaca-se: 1) a análise retórica; 2) a análise narrativa; 3) a análise semiótica. A análise retórica: não é em si um método novo, mas é nova a sua utilização sistemática para a interpretação da Bíblia e o surgimento de uma nova retórica. A análise narrativa: está ligada a um novo paradigma diante da maneira de apreciar o alcance dos textos. Possui um aspecto informativo do relato, ou seja, insiste-se na necessidade de contar a salvação e um aspecto de desempenho, que é, de contar em vista a salvação. Ela corresponde à natureza narrativa de um grande número de textos bíblicos e tem o objetivo de esforçar-se em corresponder à sua especificidade. 5 A análise semiótica: está entre os métodos sincrônicos. Este método, chamado estruturalismo, pode propor como descendente do linguista suíço Ferdinand de Saussure que no início do século XX elaborou a teoria segundo a qual toda língua é um sistema de relações que obedece a regras determinadas. A semiótica pousa sobre três princípios: de imanência, de estrutura do sentido e da gramática do texto. Ela pode ser utilizada para o estudo da Bíblia quando é separada de certos pressupostos desenvolvidos na Filosofia Estruturalista. 6 As Abordagens baseadas na Tradição, esta é dividida em: 1) Abordagem canônica; 2) Abordagem com recurso às tradições judaicas de interpretação; 3) Abordagem através da história dos efeitos do texto. A abordagem canônica: nasceu nos EUA há 20 anos. Tem como tarefa teológica de interpretação que parte do quadro específico da fé: a Bíblia em seu conjunto. Interpreta os textos bíblicos à luz do 3 Marcos PAULO, A interpretação da Bíblia na Igreja, 2009, disponível em < recantodasletras.com.br/resenhadelivros/1629964>, acesso em, 27 de Março de 2015. 4 PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA, A interpretação da Bíblia na Igreja, 1994, pág. 37. 5 Marcos PAULO, op. cit. 2009. 6 Idem.

Cânon das Escrituras, tem como objetivo atualizar a Escritura. Não substitui o método histórico-crítico mas complementa-o. 7 A abordagem canônica reage com razão contra a valorização exagerada daquilo que é supostamente original e primitivo, como se somente isso fosse autêntico. A Escritura inspirada é a Escritura tal como a Igreja a reconheceu como regra de sua fé. Pode-se insistir a esse respeito, seja sobre a forma final na qual se encontra atualmente cada um dos livros, seja sobre o conjunto que eles constituem como Cânon. Um livro torna-se bíblico somente à luz do Cânon inteiro. 8 Para se comunicar, a Palavra de Deus se enraizou na vida de grupos humanos (cf Eclo 24,12) e ela traçou a si mesma um caminho através dos condicionamentos psicológicos das diversas pessoas que compuseram os escritos bíblicos. Resulta disso que as ciências humanas em particular a sociologia, a antropologia e a psicologia podem contribuir a uma compreensão melhor de certos aspectos dos textos. Convém, no entanto, notar que existem várias escolas, com divergências notáveis sobre a própria natureza dessas ciências. Dito isto, um bom número de exegetas tirou recentemente proveito desse gênero de pesquisas. 9 As abordagens psicológicas e psicanalíticas: estas contribuem em um melhor entendimento dos textos bíblicos enquanto experiências de vida e regras de comportamento e levam em conta que a religião está em constante situação de conflito com o inconsciente. Elas abrem o caminho para uma compreensão pluridimensional da Escritura e contribuem também no decifrar a linguagem humana da revelação, além de darem nova compreensão do símbolo. 10 Sobre as Abordagens contextuais, é relevante destacar que a interpretação que os leitores fazem de um texto bíblico, de certa forma privilegiam certos aspectos e ignoram outros. Os movimentos de libertação e o feminismo retém particularmente a atenção. Abordagem da libertação: não se contenta somente com o texto bíblico, mas procura fazer uma leitura a partir da situação vivida pelo povo. Seus princípios apresentam um Deus que está presente na história e do lado dos pobres, portanto, a exegese deve buscar entrar em combate pela libertação dos oprimidos. Abordagem 7 Idem. 8 PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA, A interpretação da Bíblia na Igreja, 1994, pág. 59. 9 Idem. 10 Marcos PAULO, op. cit. 2009.

feminista: busca a libertação da mulher e a conquista de direitos iguais aos dos homens. Possui dois critérios de investigação: um feminista e um sociológico. 11 A leitura fundamentalista parte do princípio de que a Bíblia, sendo Palavra de Deus inspirada e isenta de erro, deve ser lida e interpretada literalmente em todos os seus detalhes. Mas por interpretação literal ela entende uma interpretação primária, literalista, isto é, excluindo todo esforço de compreensão da Bíblia que leve em conta seu crescimento histórico e seu desenvolvimento. Ela se opõe assim à utilização do método histórico-crítico, como de qualquer outro método científico, para a interpretação da Escritura. 12 O segundo capítulo do documento, intitulado como Questões de hermenêutica, apresenta dois pontos: a) Hermenêuticas filosóficas; b) Sentido da Escritura inspirada. Hermenêuticas filosóficas: destaca: 1) Perspectivas modernas; 2) Utilidade para a exegese. Perspectivas modernas: Bultmann, diante do que fale ao homem contemporâneo sobre a Escritura, insistiu na pré-compreensão necessária a toda compreensão e elaborou a teoria da interpretação existencial dos escritos do Novo Testamento. Como ele, Gadamer também sublinha a distância histórica entre o texto e seu intérprete, retoma e desenvolve o círculo hermenêutico. 13 Ricoeur retém-se primeiramente o relevo dado à função de distanciação como condição necessária a uma justa apropriação do texto. Primeiro sublinha uma distância entre o texto e seu autor, depois, uma outra distância entre o texto e seus leitores sucessivos. Utilidade para a exegese: esta é chamada a se completar por uma hermenêutica, no sentido recente do termo. É necessária uma interpretação atual da Bíblia na sua história, e nisso se faz uma reação sadia ao positivismo histórico e à tentação de aplicar ao estudo da Bíblia os critérios de objetividade utilizados nas ciências naturais. 14 O Sentido da Escritura inspirada: A exegese antiga atribuía a todo o texto da Escritura sentidos de vários níveis, fazendo uma distinção mais corrente entre sentido literal e espiritual. Com isto, a exegese histórico-crítica, adota a tese da unicidade de sentidos, buscando uma leitura com único significado e se esforça em definir o sentido preciso de um texto bíblico nas circunstâncias de sua produção. Esta tese 11 Idem. 12 PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA, A interpretação da Bíblia na Igreja, 1994, pág.82 13 Marcos PAULO, op. cit. 2009. 14 Idem.

entra em conflito com as conclusões das ciências da linguagem e com as hermenêuticas filosóficas, que afirmam a polissemia dos textos escritos. 15 Sentido literal: É não apenas legítimo mas indispensável procurar definir o sentido preciso dos textos tais como foram produzidos por seus autores, sentido chamado de literal. Já são Tomás de Aquino afirmava sua importância fundamental (S. Th., I, q.l, a. 10, ad. 1). 16 Sentido espiritual: Não é o caso, no entanto, de tomar heterogêneo em um sentido estrito, contrário a toda possibilidade de realização superior. O acontecimento pascal, morte e ressurreição de Jesus, deu origem a um contexto histórico radicalmente novo, que ilumina de maneira nova os textos antigos e os faz sofrer uma mutação de sentido. 17 O terceiro capítulo é intitulado como Dimensões características da interpretação católica. Essa exegese se situa conscientemente na tradição viva da Igreja e sua primeira preocupação é a fidelidade à revelação atestada pela Bíblia. Ela aborda os escritos bíblicos com uma pré-compreensão que une estreitamente a cultura moderna científica, mas deve-se levar em conta que esta pré-compreensão comporta, entretanto, seus perigos, principalmente quando se atribui a um texto, um sentido não correto. 18 Enquanto dadas à Igreja, as Escrituras são um tesouro comum do corpo completo formado pelos fiéis: A Santa Tradição e a Santa Escritura constituem um único depósito sagrado da Palavra de Deus, confiado à Igreja. Ligando-se a ele, todo o povo santo unido a seus pastores permanece assiduamente fiel ao ensinamento dos apóstolos... (Dei Verbum, 10; cf também 21). 19 A interpretação na Tradição bíblica: Releituras: as releituras são feitas a partir de um texto anterior ao que se escreve, para que sejam desenvolvidos novos aspectos de sentido; Relações entre o Novo Testamento e o Antigo Testamento: é formado por alusões do Antigo Testamento e por citações explícitas. Os autores do Novo Testamento reconhecem no AT, uma inspiração divina. Foi à luz dos acontecimentos da Páscoa que pôde ser feita uma releitura do AT. 20 15 Idem. 16 PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA, A interpretação da Bíblia na Igreja, 1994, p. 94. 17 Idem. 18 Marcos PAULO, op. cit. 2009. 19 PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA, op. cit., p. 119. 20 Marcos PAULO, op. cit. 2009.

Esta relação não deixa de ser complexa; Algumas conclusões: a Bíblia é efetivamente uma interpretação. É expressão válida das comunidades da Antiga Aliança e do tempo apostólico. A Sagrada Escritura está em diálogo com as comunidades dos fiéis, ela saiu de suas tradições de fé, ela dialoga com a geração presente. 21 A tarefa dos exegetas católicos comporta vários aspectos. E uma tarefa de Igreja, pois ela consiste em estudar e explicar a Santa Escritura de maneira a colocar todas as riquezas à disposição dos pastores e dos fiéis. Mas é ao mesmo tempo uma tarefa científica que coloca o exegeta católico em relação com seus colegas não católicos e com vários setores da pesquisa científica. De outro lado, esta tarefa compreende ao mesmo tempo o trabalho de pesquisa e aquele de ensinamento. Tanto um como outro concluem normalmente em publicações. 22 A tarefa do exegeta define algumas orientações: Orientações principais: o exegeta deve sublinhar o caráter histórico da Revelação, interpretar a Palavra de Deus, esclarecer o sentido do texto bíblico como Palavra atual de Deus, explicar o alcance cristológico e explicar a relação entre Bíblia e Igreja; Pesquisa: É necessária a formação de pessoas dentro da pesquisa em diferentes setores da ciência exegética. Mas, percebe-se uma ciência, que expõe a Igreja a graves inconvenientes, em relação da vida com a fé; Ensinamento: é necessário um ensinamento da exegese feito por homens e mulheres, buscar uma dimensão intelectual séria. 23 É também o múnus da ciência exegética mostrar aos estudantes o valor literário, histórico, social e teológico da escritura. Ela também mostra as raízes históricas dos escritos bíblicos, o aspecto deles enquanto Palavra do Pai aos filhos e o papel indispensável que existe no ministério pastoral; Publicações: nos dias atuais, a publicação da exegese passa por meios do rádio, da tv, das técnicas eletrônicas, além dos textos impressos. As publicações de nível cientifico são o instrumento principal de diálogo, de discussão e de cooperação entre os pesquisadores. 24 Sendo ela mesma uma disciplina teológica, fides quaerens intellectum, a exegese mantém relações estreitas e complexas com as outras disciplinas da teologia. 25 21 Marcos PAULO, op. cit. 2009. 22 PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA, op. cit., p. 124-125. 23 Marcos PAULO, op. cit. 2009. 24 Idem. 25 PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA, op. cit., p. 131-132.

O documento cita também as relações com as outras disciplinas teológicas: Teologia e pré-compreensão dos textos bíblicos: na exegese católica, essa précompreensão é baseada nas certezas da fé: a Bíblia é um texto inspirado por Deus e confiado à Igreja para suscitar a fé e guiar a vida cristã; Exegese e teologia dogmática: o trabalho do exegeta é fundamental nos estudos teológicos, porque é necessário dar uma atenção particular ao conteúdo religioso dos escritos bíblicos. Os exegetas ajudam os dogmáticos a evitar o dualismo e o fundamentalismo. 26 Exegese e teologia moral: os mandamentos, as interdições, as exortações, as prescrições jurídicas, as invectivas proféticas e os conselhos sábios são condutas que devem ser mantidas. Com isso, os exegetas preparam o trabalho dos moralistas. Os moralistas são convocados a apresentar aos exegetas questões importantes que estimularão suas pesquisas. Pontos de vista diferentes e interação necessária: os pontos de vista são efetivamente diferentes. É tarefa da exegese, discernir o sentido do texto bíblico em seu contexto, depois evidenciar o sentido teológico dos textos. Desse modo, é proporcionada uma relação de continuidade, feita entre a exegese e a reflexão teológica seguinte. 27 No quarto e último capítulo, é trabalhada a questão da interpretação da Bíblia na vida da Igreja. Certa do dinamismo do conhecimento vivo da Igreja, ela ilumina problemas atuais admite importâncias humanitárias. Para impedir irregularidades, a atualização parte de uma justa interpretação do texto, feita sob a orientação da Tradição eclesiástica. O que consente a fertilidade bíblica no transcurso do tempo é também um empenho de inculturação. Incide em traduzir o texto subjugando os limites e as barreiras culturais, interpretar, conforme a época e realidade local e formar também, uma cultura cristã. 28 A liturgia é o lugar excepcional para a relação e atualização dos textos bíblicos, a liturgia da Palavra é o meio categórico na celebração de todos os sacramentos da Igreja. É destacado também no documento, o cuidado de se praticar uma leitura satisfatória individual ou até mesmo comunitária, como a lectio divina. 29 No ministério pastoral, o emprego da Bíblia abrange três situações: catequese, pregação e apostolado bíblico. Na catequese, as leituras devem gerar um encontro com Cristo; a pregação teve tirar dos textos antigos alimento espiritual adaptado às 26 Marcos PAULO, op. cit. 2009. 27 Idem. 28 Idem. 29 Idem

necessidades atuais da comunidade cristã e o apostolado bíblico tem como objetivo fazer conhecer a Bíblia como Palavra de Deus e fonte de vida. 30 O ímpeto ecumênico de unidade está arraigado na Escritura. Há dificuldade quanto às diferentes interpretações, organização dos livros canônicos e jurisdições, o que muitas vezes revela experiências complementares e enriquecedoras. A adoção de métodos hermenêuticos análogos é causa de convergência de interpretações, o que promove com um testemunho autêntico e vivo à realização da unidade na diversidade. 31 Todavia quero acenar com bastante ênfase a importância na diligência do estudo desse documento da Igreja no âmbito clerical, mas também de forma muito especial entre os cristãos leigos. No mundo contemporâneo marcado pelo fundamentalismo religioso e pela prática de uma Fé fideísta, faz-se necessário a atualização desse documento em nosso ambiente cristão como forma salvaguardar o depósito da Fé. Sem contar os perigos das ideologias modernas que buscam fazer da Santa Escritura objeto de estudo exclusivamente racional, deixando de lado a Fé e sendo contra aquilo que ensina a Santa Mãe Igreja aos seus filhos. 30 Idem. 31 Marcos PAULO, op. cit. 2009.

Referências Bibliográficas PONTIFÍCIA COMISSÃO BIBLICA. A interpretação da Bíblia na Igreja. 7.ed. São Paulo: Paulinas, 1994. Marcos, PAULO. A interpretação da Bíblia na Igreja, 2009. Disponível em <http://www.recantodasletras.com.br/resenhasdelivros/1629964>. Acesso em: 27 de Março de 2015.